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Capítulo 7 - parte 1

I think it's 'cause I'm clumsy
I try not to talk too loud
Maybe it's because i'm crazy
I try not to act too proud
They only hit until you cry
And after that you don't ask why

Suzanne Vega, My name is Luka

      A porta se abre e um homem magro entra com uma pasta preta debaixo do braço. Sua mão direita segura uma garrafa d'água. Por toda a extensão das barras há dessas garrafinhas, ao lado de botas de aquecimento, faixas elásticas enroladas e shorts, que as bailarinas tiraram assim que o relógio marcou 13 horas. 

      Meu corpo está transpirando antes mesmo de eu fazer meu primeiro plié. Pelo menos tenho outro collant para musculação, que será logo depois da aula.

      Luna sai de seu lugar da barra, corre para perto de uma cadeira ao lado do piano (onde o instrumentista mexe em uma pilha instável de partituras), e tomando o controle remoto, liga o ar condicionado, voltando apressadamente para seu lugar ao lado de uma garota de olhos puxados.

      Como a professora Olga ainda não entrou, continuo meus exercícios de aquecimento. Estico minha perna direita para o lado. Nastia desce em grand plié fazendo port de bras e nossos olhos se encontram, o que me deixa um pouco desconfortável. 

      Todo mundo sabe que russos não são tímidos. Pior: são sinceros. A expressão meio-termo não existe para eles. A forma como a garota ruiva me olha é como estivesse me avaliando, ou melhor, como se tentasse ler meus pensamentos.

      Me pergunto qual é a dessa garota. Não gosto que me olhem assim. Será que ela não sabe que é falta de modos encarar as pessoas?

      Ao mesmo tempo em que ela está atenta a cada movimento que eu faço, sinto também uma grande distância entre nós duas. É como se ela fosse... inatingível. E quando menos espero, a russa desvia de mim seu olhar, voltando a se aquecer.

      Dou um suspiro. Mergulho meu tronco sobre minha perna esticada, colando a testa num ponto bem abaixo do joelho, evitando, dessa forma contato visual com a garota.

      Aos poucos sinto menos o incômodo muscular, graças a alternância entre aspirar ar limpo e soltar ar sujo, o que faz com que meu sangue circule melhor e meus músculos respondam ao que eu quero. Meu corpo cresce mais, parece que o estou sentindo mais leve.

      Nosso corpo nunca faz movimentos isolados no balé. Meu pé também se estica ao mesmo tempo em que estou debruçada sobre minha perna, para que ele se mantenha aquecido e menos suscetível à lesões. Quando se passa aproximadamente um minuto, puxo a ponta do meu pé em flex. Neste instante, minha panturrilha pega fogo. 

      Mas essa é uma dor boa. É o melhor feedback de que seu corpo está respondendo ao alongamento, ganhando força. Sem dor, sem ganho.

      Inspiro e expiro; levanto meu tronco aos poucos e troco de perna na barra. A esquerda é a que tem melhor alongamento; nem faço careta ao mergulhar sobre mim.

      O barulho repentino de sapatilhas de pontas se chocando contra o chão de linóleo e o silêncio que se instala põem meus instintos em alerta, fazendo com que eu arrume minha postura e fique em pé. Uma mulher baixa, de óculos e cabelos brancos e usando uma calça larga, sapatos de dança, entra na sala segurando um leque fechado.

      — Boa tarde — nos saúda com um tom de voz desprovido de emoção.

      Não só a voz. Os olhos da idosa não irradiam nenhum tipo de sentimento humano. Não acho que seja exagero dizer que essa senhora é como uma daquelas professoras de balé dos seriados americanos, que fazem suas alunas sentirem uma facada na autoestima todas as vezes em que são corrigidas.

      Uma bailarina atrás de mim toca com delicadeza meu ombro e instintivamente olho para ela.

      — Melhor você tirar — a garota sussurra, o medo transparecendo em seu tom de voz.

      — Não entendi — respondo.

      — As polainas — a garota aponta com o indicador para as minhas pernas. — Não pode usar nenhuma peça além de collant, meia-calça e sapatilha.

      Adivinhe quem é a primeira pessoa que Olga busca com seus olhos frios? A bailarina de sardas que faltou à aula ontem porque uma vaca a direcionou para a sala da companhia profissional.

      Apesar do olhar dela estar fixo em mim, me agacho de um jeito afrontoso e retiro as polainas, amassando-as numa bolinha disforme e jogando-as no chão, junto à parede.

      Não acho que ela vai me passar um sermão por eu ter faltado ontem. Essa coisa de professoras que marcam alunas parece coisa de seriado, na vida real é diferente. Tudo bem, a professora Tatiana pegou no pé da Mia a aula inteira ontem, mas isso não quer dizer que vai acontecer a mesma coisa comigo.

      Mesmo quando ela vem se aproximando cada vez mais de mim e eu posso sentir seu ar intimidador, não sei o que esperar de nosso primeiro contato.

      Os passos dados em minha direção são propositalmente lentos, quase teatrais. Meus lábios semiabrem e de súbito ela está a menos de um metro de mim, avaliando meu corpo. Estou em quinta posição de pernas, com os braços para trás e meus olhos fixos nos dela.

      O silêncio da sala é tão opressivo que posso ouvir meu coração batendo e o som da minha respiração.

      — Você é aluna nova? — não é propriamente uma pergunta que ela faz.

      — Sim — respondo.

      — Faltou ontem a seu primeiro dia de aula — essa observação põe fim à minha esperança de que não eu não tomaria um sermão. — Não é bom começo.

      — Eu posso explicar…

      Viro a cabeça para a barra onde Kauane e Isabella estão, e a expressão de medo que a garota índia tem em seu rosto faz com que eu me lembre que não sou capaz de entregar ninguém.

      — Então? — Olga empina seu queixo.

      Suspiro, inclinando a cabeça.

      — Não tenho o que dizer. Eu entrei na sala errada, só isso.

      A mestra de dança franze o cenho e os lábios murchos ao mesmo tempo.

      — Mas Tatiana Vladmirovna gostou da sua aula. Ela me contou que você tem força e leveza, e se impõe. Só tem hábito de empinar o bumbum como uma dançarina de aeróbica.

       Uma tímida alegria me invade com essa informação. Tenho vontade de sorrir, mas me mantenho impassível, sem mostrar emoções.

      — Quero ver se você é mesmo tudo isso que professora Tatiana disse. Ou se ela só foi gentil com você.

      Aceno em concordância com as palavras da professora, que continua me avaliando. Se ela acha que vai me intimidar, está enganada. Não sou só um rostinho bonito.

      Olga suspira de um jeito tedioso, dirigindo-se para perto do pianista. O músico tinha acabado de pôr suas partituras em ordem e agora está olhando para o centro da sala, esperando o comando da professora russa. Seu jeito de olhar é tão blasé quanto o de Berta.

      Olho à minha volta, notando que cada bailarina está com uma postura graciosa aguardando os primeiros acordes da música. Todas estão preparadas.

      Fecho os olhos por um instante, ao mesmo tempo em que um suspiro foge por entre meus lábios. O oxigênio se renova em meus pulmões. Se não fosse pelo cheiro tão agradável de Nastia, eu poderia me esquecer que estou dividindo a barra com alguém.

      Olga Fiodorovna e o pianista trocam entre si um meneio afirmativo de cabeça.

      —  Meninas, reverence! — ela orienta.

      Meus braços se posicionam em preparação diante do meu sexo, e quando os dedos do músico tocam o acorde inicial, começo a sentir minha alma ser preenchida por uma paz reconfortante que só consigo sentir quando estou dançando.

      Com as pernas em quinta posição e executando com os braços um petite port de bras, meu corpo se deixa ser possuído pela música singela, como quando uma garota é tocada por seu namorado. Executo um plié, meus olhos acompanhando os movimentos dos meus braços.

      Inclino a cabeça com graciosidade e leveza, sem jamais perder nenhuma nuance da música, sentindo a energia se renovar dentro de mim e me encorajando a me entregar por inteira à aula. Sem me esconder. Sem medo de desafiar a mim mesma.

      O espelho reflete meu sorriso metálico, um reflexo da excitação e audácia que cresce em mim. Estou pronta. Estou aqui, entre colegas novas e sonhos, ansiosa para dançar e explorar os limites do meu corpo.

      A aula se inicia, e o mundo se transforma em música e movimento. Consigo manter a concentração mesmo quando Olga passa estalando os dedos para que não saíamos do tempo da música. Ela não diz uma única palavra, mas sentimos sua presença forte. E se em algum momento meus grand pliés querem acelerar e fugir do compasso, é como se a professora russa estivesse atrás de mim, como uma força onipresente, me lembrando dos meus erros.

      Letícia dizia que a aura de uma bailarina não perde o brilho mesmo quando ela tem sua primeira morte – quando a idade ou uma lesão grave a tira dos palcos. Consigo sentir isso em Olga: essa aura pulsante que sobrevive ao tempo.

      Todas descemos em grand plié em quinta posição, elevando nosso corpo a seguir, e abaixamos o tronco em primeiro port de bras na ponta dos pés – tocando o chão com o dorso da mão – e o erguendo.

     No momento em que reteso minhas costas para trás, sinto um par de mãos fortes prenderem minha cintura.

      — Força nas costas. Assim — a russa me orienta com voz dura e neutra ao mesmo tempo.

      Uma vez mamãe me levou para assistir a uma apresentação do Ballet Hamburgo em Nova York. Eu tinha só sete anos de idade e estava já no grade 1 na minha escola de balé, mas já entendia muita coisa da dança. Ao ver aquela garota de 22 anos dançando como Fada Açucarada no Quebra Nozes, um sentimento de admiração me invadiu. Ela tinha força, brilho, beleza.

      Pouco depois ela se machucou e teve que deixar os palcos para sempre, mas as qualidades dela se mantiveram. Ela teve sua primeira morte, a mais dolorosa, mas se reergueu e continuou a viver da dança através de meninas como a Duda e eu. Ela sempre acreditou em nós.

      A música do piano nunca é interrompida, sempre passando de uma canção para outra de uma forma fluída e sutil. É como se ela tivesse vários andamentos, mas fosse uma única música. Mal terminamos o primeiro exercício, já estamos executando o seguinte, que é o battement tendu jeté.

      Como um cartão de visitas, Olga começa a mostrar seu rigor.

      — Vocês esqueceram como se fecha quinta posição de pernas? Acham que vão longe sendo tão moles? — ela bate as palmas das mãos, exigindo energia. — Vamos, meninas! Vocês podem fazer melhor que isso!

       Dou um meio sorriso sardônico. Em alguns momentos tenho que me conter pra não rir sem querer quando escuto Olga pronunciar tendiu ao invés da pronúncia francesa: tendu¹. Meu sorriso, no entanto, logo desaparece quando ela vem lá de trás e ergue a minha perna levantada em arabesque, mantendo-a alta e dando um tapa no meu bumbum.

      Como repeti o erro e a mestra de dança estava em cima de mim, ela ergueu a palma da mão, e sem olhar para o pianista, lhe ordenou que parasse de tocar.

      Meus lábios semiabrem. Estou apreensiva com a reprimenda que, com certeza, vou tomar. Odeio ser corrigida.

      Em que errei? Meu quadril balançou enquanto minha perna direita executou balançoire?

      — Você possui um desenvolvimento físico impressionante. Use isso a seu favor. Você é uma bailarina, não uma máquina sem inteligência.

      Dou a ela um olhar confuso, carregado de perguntas. Não entendo o porquê de me comparar com uma máquina sem inteligência. Segurando meu braço direito, a russa o puxa para o lado e eu começo a entender que ela quer que meus olhos acompanhem o movimento.

      — Os olhos de uma bailarina sempre estão conectados aos movimentos dos seus braços.

      Para que eu compreenda melhor seu ensinamento e a fim de que todas as bailarinas nunca esqueçam, Olga executa vários port de bras. Esses movimentos tão simples permitem que eu consiga captar sua alma de bailarina, sua essência.

      — Cada parte de seu corpo faz parte da dança, e eu quero que seu corpo se expresse não só com movimentos fortes, mas também transmita o que sua alma está sentindo. Eu quero que você mostre isso de um jeito espontâneo, não forçado.

      Balanço a cabeça, sem nada dizer. Uma boa bailarina nunca faz questionamentos, nunca desafia sua professora. Apenas aceita as orientações que lhe são feitas.

      — Muito bem — Olga suspira, voltando a se movimentar pela sala.

      Forço no chão o colo de pé, fazendo uma meia dobra com a perna, tentando me concentrar de novo. As palpitações do meu coração diminuem.

      — Danielle.

      Direciono o olhar para Olga. Pensei que ela já havia acabado.

      — Quero que você faça na sala de musculação um trabalho intensivo de fortalecimento de costas — a mulher determina.

      Minha boca semiabre em surpresa, porque sempre achei que tinha costas fortes. Mas me limito a um balanço sutil de cabeça, concordando com a ordem da russa.

      Do outro lado, cochichando com Nádia, Dominique solta um risinho. Kauane está evitando trocar olhares comigo, envergonhada pelo que fez ontem e talvez humilhada por eu ter livrado sua cara.

      Não estou ressentida com a garota índia. O que aconteceu é passado, tudo bem que o que ela fez comigo foi uma brincadeira de uma menina de dez anos, mas não sou de guardar raiva de ninguém por muito tempo.

      De qualquer forma, tenho que ficar esperta, já que trotes como o de ontem podem voltar a acontecer. E Dominique mostrou que está disposta a começar uma rivalidade idiota comigo.

      Fico imaginando quando a gente for daqui a pouco para os exercícios de centro. Sem a segurança que a barra de balé proporciona, não tenho outro caminho senão mostrar toda a minha ousadia.

      Mas eu não quero outro caminho. Quero mostrar o que sou capaz de fazer quando me sinto desafiada.
                            ...

      Olga encarna de uma forma sutil e gradativa o que sempre esperamos de uma mestra russa: voz alta, movimentos teatrais e dramáticos de braços, orientações secas quanto aos próximos exercícios.

      Não tem como eu não sentir neste instante um pouco de perda de talento diante de erros que eu não devia mais cometer. Será que sou só eu que me sinto assim?

       À medida em que os minutos passam e executamos os exercícios, começo a perceber coisas que me passaram em branco no começo da aula. O cuidado peculiar que Olga tem com Nastia é uma delas.

      Por algum motivo (e eu não tenho a menor ideia que motivo é esse), Olga sempre corrige a bailarina ruiva com amabilidade. É como se, a cada movimento executado diante da bailarina ruiva, estivesse cuidando de uma flor delicada.

      Mesmo esse cuidado me parecendo tão estranho, me faz começar a acreditar que, mesmo num ambiente competitivo, pessoas de semblante frio conseguem mostrar que têm um lado humano.

Continua...

Capítulo de 2,5k de palavras

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