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Capítulo 4 - parte 1

I put my make up on saturday night
I try to make it happen
Try to make it alright
I know I make mistakes
I'm living life day to day
It's never really easy
But it's ok

Hillary Duff, Wake Up

      Lara anda graciosamente à frente do garoto ruivo, olhando para o chão com um semblante triste. Mesmo eu sabendo que ela não está triste de verdade, parece tão real que meu coração consegue sentir. 

      Deve ser porque nós, bailarinas, temos um tipo de conexão, que eu não consigo explicar. A dança se expressa com o corpo, não com palavras. A gente consegue captar o que a outra sente enquanto ela dança, a gente se conhece, se admira, sente inveja uma da outra e consegue se decifrar. Só uma bailarina conhece a outra em sua essência nua e crua.

      Eu posso sentir o que ela sente.

      Os gestos de braços daquela garota passam um sentimento de solidão que corta, e que nem a tentativa de aproximação do bailarino consegue mudar. Se eu não soubesse que são bailarinos, diria que são dois jovens apaixonados que se machucaram.

      É tão lindo.

      Tão sublime.

      Tão triste.

      O garoto põe uma das mãos no próprio peito, puxando Lara pelo braço, que o olha meneando a cabeça em negação, mas se deixa, só por um breve instante, ser tocada por ele no rosto. Ela dá um meio sorriso, põe as mãos nos ombros dele e o empurra.

      Desesperado, o bailarino a segura pela cintura fina, a faz girar três pirouettes e a arrasta no chão depois de derrubá-la.

      Parece um relacionamento tóxico, tipo Coringa e Harlequina. Lara se levanta e tenta fugir para longe, manter-se o mais distante possível daquele cara. 

      Essa parte me faz lembrar do espetáculo que eu estava dançando pela Promoarte, o Ato 2 de Lago dos Cisnes. Como a Lara, eu também queria fugir do príncipe, só que com a diferença que eu, enquanto Odette, sentia medo de me entregar a uma paixão que poderia me fazer feliz ou me destruir.

      Os passos da garota fluem para passos de dança sensuais. Suas pernas se enroscam na cintura do parceiro, o instigando, alimentando sua libido. Ela é quem dá as cartas agora. Ela é quem o domina. 

      O que me deixa em choque é que o bailarino ruivo é muito jovem, e tem uma maturidade artística incrível, além de ser inumanamente lindo. Lara foi feita sobre medida para ele. Tudo parece fluir entre os dois, é muito natural. Espontâneo.

      Sem fingimento.

      Semiabro os lábios ao ver Lara de repente ser levantada no alto pela lombar, só com um dos braços do garoto. Ele nem faz esforço para mantê-la no alto.

      — Como ele consegue? — pergunto.

      — O Yuri é muito forte — Luna responde. — Ele é o mais dedicado da turma dele.

      — E muito gato também — uma moça com sombra nos olhos que nunca deve ter ouvido a expressão menos é mais diz com desdém. — Pena que ele não gosta de xoxota.

      Ui. Isso foi bem indelicado, não?

      — A gente não sabe se ele é gay ou não — Luna se interpõe. E se for, é problema dele.

      Alheia à questão quanto a sexualidade do bailarino ruivo, o vejo tocando a maçã do rosto da Lara e os dos acentuam o contato visual, se desejando. Eles querem mais do que simples toques. Ela suspira intensamente, e por fim, o casal se abraça, com a música sendo desligada.

      — Os dois são lindos juntos — sorrio emocionada.

      — A Lara é a bailarina top daqui — Luna pontua a palavra top, como se achasse que eu tivesse visto o bastante. — E o Yuri Chuchukov é o bailarino que toda garota queria ter como parceiro.

      — Ele é russo? — olho para minha nova amiga.

      — Sim. Ele e a irmã gêmea dele, a Nastia, são órfãos e foram adotados aos cinco anos pelo diretor do orfanato. 

      Assim que me inscrevi para a pré audição do Ballet Imperial de Petrópolis, pesquisei na internet sobre a história da instituição e descobri coisas interessantes. Uma delas é que a escola, fundada na cidade de Petrópolis em 1885, mantém até hoje um orfanato que acolhe crianças russas sem pai ou mãe e lhes ensina a dançar balé.

      Só de pensar que o garoto e a irmã não têm família me deixa triste. Eu sei o que é não ter mãe. Quanto mais o tempo passa, mais a saudade dela dói, mas eu ainda tenho um pai, e do nosso jeito, somos felizes.

      A dança tem o poder de nos mudar, nos transforma e preenche lacunas. Onde há tristeza, ela deposita esperança e nos faz acreditar que sempre é possível ir além das nossas forças.

      Se antes de começar a ensaiar com a Lara Machado ele parecia tão blindado, agora seus lábios delineiam um esboço de sorriso e seus olhos têm um brilho de pureza.

      São olhos de um garoto que sabe o que quer da vida.

      — Mas se ele é um nível 5, então tem a nossa idade — deduzo. — Por que ele está ensaiando com uma bailarina profissional?

      — O diretor tem planos pra ele — Luna põe uma mecha do cabelo atrás da orelha —, quer promovê-lo logo a solista da companhia. E pra ganhar experiência, o que é melhor do que dançar com a bailarina fodidaça do Ballet Imperial de Petrópolis? — ela faz um gesto de ombros muito despojado.

      Volto a olhar para a dupla de bailarinos, que agora ouvem com atenção às correções do professor que acompanhara quieto ao ensaio. Os dois nada dizem. Se limitam a breves acenos de cabeça enquanto o mestre de dança gesticula. Do nada, ele empurra a garota pelo peito, fazendo-a recuar um passo. Pelo visto, além de enérgico, o cara é bem rude.

      — Pra que isso? — questiono, muito mais para mim mesmo do que para ser ouvida.

      — É o jeito russo de ensinar — Luna diz. — Melhor você se acostumar, gata. Tapas na bunda, esse tipo de empurrão e frases ríspidas são comuns aqui. Se nem a Lara é poupada, que dirá a gente.

      O exigente professor continua a orientar a bailarina, pondo a palma da mão abaixo do queixo dela e orientando-a quanto sua postura, e pede que o garoto ruivo a segure na linha abaixo das costelas. 

      Acho que já vi o bastante para me convencer que é isso que quero para mim: ter a graça e a leveza da Lara Machado.

      Mas sei que vou ter que suar muito o collant para executar aqueles passos tão graciosos dela, parecidos com os de uma fada. 

      — É melhor a gente ir pra sala de aula. É quase hora da aula de Matemática.

      Luna assente e as outras meninas nos seguem pelo corredor de paredes brancas. 

      — Você veio de que cidade? — a garota que disse que o Yuri não gosta de boceta pergunta.

      — Sou de São Paulo.

      Enquanto andamos, as meninas me enchem de perguntas, às quais dou respostas secas. As pessoas têm uma mania estranha de querer saber tudo da sua vida em apenas trinta segundos e eu não tenho paciência pra ficar respondendo. Pôxa, me deixem em paz.

      Tento não parecer antipática, e esse esforço é tremendo. Falo que nasci em Santa Catarina, sou bissexual, tenho um namorado que é modelo e que danço balé desde que tinha dois anos de idade.

      Só não conto que sou filha da Françoise Shushunova. Não quero ser centro das atenções logo no primeiro dia.

      Desse grupo, só a Luna mora na mesma república que eu. Para ser sincera, estou curiosa para conhecer minhas outras colegas, principalmente a garota que chutou minha cuia de mate e soltou um palavrão. Dá vontade de rir só de lembrar.

      — Bom — Luna faz de brincadeira uma reverência me mostrando a porta aberta da sala da turma C. — Bem vinda à selva, gata.

      Por cautela própria dos meus hábitos esquivos (e com medo de tomar um aviãozinho de papel na testa ou um balde de tinta verde), estico meu pescoço comprido bem devagarinho para dentro da classe. Vejo que o professor, um senhor com cabelo só na altura das orelhas de abano, está sentado à mesa e com o cotovelo apoiado no tampo branco, me olhando com um cara tipo vai entrar ou não?

      — Com licença — me adianto.

      — Por favor — ele responde sem emoção alguma.

      E como numa cena de filme adolescente, todo mundo para de conversar para reparar em mim, a garota de sardas, pele translúcida e aparelho de dente.

      Uma das garotas, que estava conversando com uma colega, se vira subitamente para mim. Ela tem pele bronzeada, com cabelo preto e liso, caído até os ombros. Seus olhos se estreitam me examinando da cabeça aos pés com um ar de superioridade, e se vira de novo para trás num gesto afrontoso.

      — Aquela é a Dominique — Luna diz ao meu ouvido. — Ela é a Primeira Bailarina Estadual Júnior pela Promoarte RJ. E dança muito.

      — Pelo jeito, ela não gostou de mim — atenuo a impressão que tenho.

      — Ela é bem complicada. E é a queridinha da escola, por ganhar competições importantes no exterior. 

      — Que bom pra ela.

      Ando em direção ao fundo da sala. Me sento numa das duas carteiras vazias, atrás da Luna e na frente de um garoto negro de cabeça raspada.

      Quando me viro instintivamente para trás, meus olhos se abrem em espanto.

      — Não acredito. Você?

      — Oi, gata — Guilherme sorri.

      Dou uma olhada fugaz para frente, para me certificar que o professor não está me olhando com cara feia. Ele está folheando seu livro e completamente absorto em outras preocupações.

      — Por que não me disse que é bailarino? — pergunto à meia voz ao virar meu pescoço.

      O garoto dá de ombros.

      — Esqueci. E você não perguntou.

      Mordo o lábio inferior, balanço a cabeça negativamente. Muito engraçado.

      Me repreendo por não ter tido a curiosidade de perguntar ao meu colega de vôo o que ele fazia. De certa forma, foi uma atitude bem indiferente a minha.

    Volto a olhar para frente e agora o professor me fita. Engulo em seco, já prevendo uma comida de rabo logo no meu primeiro dia de aula.

      Espero que ele não peça para eu me apresentar.

      — Você — ele estende a palma da mão para mim, me fazendo cair de uma altura de duzentos metros —, por favor, se apresente.

      Será eu sou a única caloura desta sala? Onde estão as garotas com quem prestei o exame há dez dias?

      Tirando a Dominique, todo mundo me olha como se eu fosse a atração principal de um picadeiro de circo. Sem escolha, fico em pé.

      — Me chamo Danielle. Sou de São Paulo, mas nasci em Joinville.

      — Hum… — o professor fez. — A Cidade da Dança. Em qual escola de balé você estudava em São Paulo?

      Fecho os olhos, suspirando tediosamente.

      — Letícia Ballet.

      Noto com o canto do olho a garota morena abaixar a cabeça e abrir um livro. Agora que estou perto o suficiente para reparar em suas feições, consigo ver que é muito gata, com dois lindos olhos verdes.

      — Seja bem vinda, Danielle. Sou o professor Natanael. Pode se sentar.

      — Obrigada.

      Antes de me sentar, olho discretamente para a cadeira, para me certificar se alguém pôs ou não um chiclete mastigado para eu ficar colada.

      Dominique não faz questão alguma de notar que eu existo. Durante a interminável aula sobre funções trigonométricas, ela só olha para frente, e de vez em quando para trás, só para sussurrar algo com uma garota de pele parda e que parece ser sua confidente. Mas em momento algum se virou para me olhar.

      Por alguma razão, aquele ar de empáfia combina com ela. Sua postura é impecável e cada um dos seus gestos é elegante, minimamente fluídos como um port de bras de oito tempos.

      Do outro lado da fila onde estou sentada, uma das carteiras permanece vazia. Tenho vontade de perguntar a Luna quem se senta ali, porém me calo. De qualquer forma, amanhã vou saber.

      Fico calada a aula inteira, como é do meu hábito, e vibro por dentro assim que o professor diz que por hoje é só.

      — Aula de Educação Física — Luna comemora enquanto a gente anda em direção ao vestiário.

      — Eu amo — tiro a blusa de moletom.

      Quase esbarro numa moça que vem em sentido contrário e que usa um collant verde esmeralda com uma saia branca, meia calça e sapatilhas. Antes que eu pergunte, Luna diz que ela é uma das bailarinas da Companhia Principal.

      O que me deixa surpresa é que essas bailarinas profissionais, mulheres já de vinte anos, não usam o uniforme que foi exigido de nós, adolescentes. Quando pergunto porque, minha amiga responde que não existe um uniforme obrigatório para elas.

      Mais alguns passos e outra bailarina adulta vem. Ela é alta, linda igual a uma modelo, tem cabelo louro-escuro e um coque perfeito. Em volta de sua cabeça, uma faixa cor de rosa, igual à que eu usava quando fazia aula de baby class.

      Além de ser muito linda, a garota está usando um maiô asa delta cor de rosa, super cavado, o que expõe suas curvas sexys. Pra complementar seu estilo atrevido, um par de polainas pretas cobre suas pernas e parte de suas sapatilhas de ponta.

      Num primeiro contato visual, me parece que ela tem paixão por essa cor, toda patricinha. Mas não consigo não achá-la ousada demais, apesar do maiô dela não ser tão super cavado como o body que eu uso pra gravar vídeos de dança.

      — Oi — ela diz animada ao passar por nós, e posso ver que ela usa aparelho de dente de pedrinhas cor de rosa.

      Que bom que não sou a única boca de metálica, penso feliz.

      Eu a olho por sobre o ombro, só para ver aquela bunda toda à mostra, engolindo o maiô cavado como um fio-dental, aquelas pernas compridas sem meia-calça. Sinto meu rosto translúcido se tingir de rubor pela ousadia da garota, expondo sem pudor seus quadris. E me pergunto como é possível que a deixem fazer aula assim.

      Não que eu não esteja gostando de vê-la desfilar graciosamente. 

      Me dirijo à uma mulher de óculos enfiada num conjunto de moletom com o logotipo do Ballet Imperial de Petrópolis, que eu imagino ser a professora de Educação Física.

      — Oi — digo com um sorriso. — Sou nova na escola e queria saber que uniforme uso na aula.

      — Como se chama? — ela olha para o relógio enquanto pergunta.

      — Danielle.

      — Primeiro tem que fazer sua pesagem. Me acompanhe.

      Dou tchau com os dedos para Luna, saio atrás da mulher, que anda bem rápido.

      A sala que ela me conduz parece ser bem grande, já que só há uma mesa, uma balança e uma cama de hospital; uma moça de camiseta branca escreve alguma coisa num bloco de notas.

      — Aluna nova — a professora diz. Ela sai e me deixa com a moça.

      — Ok. Na balança, por favor.

      Tiro a blusa de moletom e os tênis brancos, mas antes que eu ponha o pé na balança, a médica chama minha atenção.

      — Você tem que tirar toda a roupa. Só de calcinha e sutiã.

      Fico sem reação. Um tremor corre por meu corpo.

      — E aí? — a mulher cruza os braços, me encarando em expectativa.

     Os lábios dela tem linhas duras e seus olhos são frios. Claro que ela viu muita menina pelada sem mover um único músculo do rosto, afinal faz parte de sua profissão; só que eu nunca fiquei assim na frente de uma estranha.

      Continua...

Capítulo de 2,5k de palavras

     

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