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Capítulo 2 - parte 2

      Todos os alunos se aproximam de nós duas. Sou abraçada por eles, lágrimas descem por seus rostos em meio à sorrisos, porque apesar de eu não mais fazer aula a partir de amanhã, estão felizes por eu estar indo em busca do meu sonho.

      Amigos de verdade torcem para que você seja feliz.

      Nicole, a fadinha de olhos bicolores. Jordana. Carol. Angel. Bruno. Michelle... até Alice, a bailarina de humor ácido. Todos me cumprimentam e me desejam sorte na minha nova escola. Tiramos várias fotos juntos, igual de manhã no Santa Eudóxia. Com a diferença de que eu considero todos estes que estão comigo como uma parte de mim.

      Dou de cara com a Duda ao entrar no vestiário e ficamos constrangidas. Não queria ficar à sós com ela.

      Desta vez tomo o cuidado de guardar minha calcinha na mochila, junto com as sapatilhas de ponta e as polainas, ignorando a presença da primeira bailarina. Visto o uniforme do colégio, calço o par de tênis, ponho o capacete no braço.

      — Danny...

      Me viro com as sobrancelhas arqueadas e o queixo erguido em questionamento.

      — Boa sorte — Ela diz.

      Me surpreendo com o brilho nos olhos da Duda. É um brilho verdadeiro, e por mais que eu tente, não consigo enxergar o menor indício de falsidade.

      Ela está sentada no banco de madeira, ainda de collant e sapatilhas, com as mãos escondidas entre os joelhos. Não me lembro de tê-la visto assim. Tão nua, num sentido figurado. Sem máscara de arrogância.

      O canto esquerdo da minha boca esboça um sorriso.

      — Obrigada.

      Me viro de novo para sair, mas ela me faz parar ao dizer meu nome mais uma vez.

      — Por que nós terminamos assim? — Ela pergunta.

      Dou um suspiro, sustentando o olhar dela no meu. Para mim, Duda sempre foi a garota mais gata do estúdio. Seus olhos negros e grandes, sua boca carnuda, nariz levemente achado e sua pele negra, tão sensual. O sorriso branco.

     Ela foi a primeira garota com quem fiz sexo. Foi uma experiência incrível, mas eu não estava pronta para assumir um relacionamento lésbico. Sempre deixei claro para ela que o que aconteceu entre nós foi só uma brincadeira de garotas.

      Demorei muito para entender que nossa transa significou muito mais para ela, que encarou como algo além de um sexo casual.

      A única coisa de que me arrependo é de tê-la usado. Acho que esse é um termo apropriado. Mas nada que justifique ela ter tentado me desestabilizar na companhia.

      — É o que eu sempre me pergunto — respondo.

      — Nós sempre fomos muito mais do que amigas. Você e eu éramos como gêmeas siamesas, lembra? Usávamos as roupas uma da outra quando passeávamos no shopping, quando íamos à festas, quando íamos assistir jogos do Corinthians.

      Um suspiro foge por entre meus lábios.

      — Foram momentos muito legais.

      Duda sorri, se levanta do banco e vem em minha direção.

      — Eu não queria que isso se perdesse, Danny...

      — Duda — levanto as palmas das mãos como quem pede para parar —, chega, tá?

      — Deixa eu falar.

      — O que você tem pra falar?

      — Você não sabe o que eu estava sentindo por, de repente, minha amiga estar me ofuscando e ganhando mais atenção do que eu. Não sabe o que é perder o papel que você sonhou dançar faltando dois dias para a apresentação, e pior, perder para sua maior rival dentro do estúdio. Consegue imaginar como eu estava me sentindo?

      — Isso não é problema meu — respondo com aspereza. — Nada muda o fato de que você agiu feito criança. Você não sabe lidar com rivalidade. Não suporta uma competição.

      No mesmo instante julgo não haver necessidade de ser tão ríspida. Por mais estranho que seja, no fundo ainda tenho afeto por ela.

      — Duda — evito que ela me interrompa —, você sempre foi um exemplo pra mim. Sério. Eu sempre quis girar como você, ter a sua seriedade e profissionalismo. Em nenhum momento quis tomar seu lugar.

      — Eu sei — Ela reconhece, reprimindo um suspiro. — Você nunca ligou pra disputas internas. Nunca fez bico, nunca cobrou atenção da Letícia. Tudo o que você conquistou foi com muita disciplina e determinação, e com o seu talento incrível.

      — Duda...

      — Me deixa falar, por favor — a princesa negra põe o indicador entre meus lábios. — A coisa mais normal do mundo é uma bailarina ver a outra como adversária. Não me julgue por isso.

      — Eu não te julgo por isso. Eu...

      — Não fui eu quem fez aquela merda em Ribeirão Preto. Não fui eu quem tentei te sabotar na noite da sua apresentação. Eu juro.

      Me distancio dela. Por alguma razão, sinto que está dizendo a verdade.

      — Ah, isso... Eu já nem me lembrava. Afinal, tudo deu certo pra mim no final, e eu arrasei na minha apresentação como Cisne Branco.

      — Arrasou sim — um sorriso se forma na boca perfeita da primeira bailarina. — Eu estava na primeira fila com a Tânia, assistindo vocês. Pareciam namorados de verdade.

      Peço com um gesto para que ela não continue. Ouço uma buzina de moto lá fora, papai está me chamando.

      — Tchau, Duda. Seja feliz.

      Passo o dorso do indicador no rosto dela. A veia de seu pescoço pulsa, seus ombros estão tensionados e sua respiração, ofegante.

      Dou dois passos em direção à porta.

      — Você também erra, Danny.

      Paro no mesmo instante, sem entender por que Duda quer tornar tudo mais difícil.

      — Você tem um defeito — a bailarina de pele bombom vem caminhando em minha direção. — Não sei se você faz por maldade, e nem quero pensar que é capaz disso. Mas você tem um defeito que talvez nem saiba.

      — Que defeito? — arqueio a sobrancelha direita em desafio.

      Duda para quando fica a apenas dez centímetros de mim. O hálito dela é envolvente, e seu cheiro confunde meus sentidos.

      — Nunca percebeu? Você seduz as pessoas.

      Dou um sorriso irônico.

      — Sério? — sorrio.

      — Com seu jeitinho meigo, doce, você faz as meninas acharem que você está a fim delas e depois se afasta. Você não quer se comprometer. E isso é um capricho egoísta. Não, mais do que isso, é maldade.

      Começo a entender muita coisa. Por um instante fico sem reação, cada palavra da Duda batendo bem aqui dentro de mim.

      — Duda, não me diga que...

      — Eu sempre fui apaixonada por você, Danny — minha boca semiabre em surpresa.

      No fundo, eu sempre soube que a obsessão da Duda por mim ia além da nossas disputas nos palcos. Os olhares cheios de malícia dela, as brincadeiras de duplo sentido. As vezes em que tomávamos banho juntas no vestiário. Os pedidos dela para que eu mandasse nudes por whatsapp.

      — Por que deixou pra falar isso agora? — a questiono.

      — Ia mudar alguma coisa?

      Inclino a cabeça para o lado, sutilmente fugindo dos olhos negros e urgentes da garota.

      — Não...

      — Eu sabia.

      — Mas se você sempre foi apaixonada por mim, eu tinha que saber. Tudo isso que vem acontecendo desde Ribeirão Preto tem a ver com ciúme?

      — Eu estava puta porque a gente não saia de perto uma da outra. De repente, você conheceu aquele cara e ficou se agarrando com ele, na coxia, no corredor, no banheiro, e na frente de todo mundo, e aquilo me machucava muito, Danny, porque eu fui deixada de lado.

      — Eu nunca te deixei de lado — me defendo. — Mas eram coisas diferentes, eu...

       — Estava apaixonada por ele.

      Me calo, acenando que sim.

      — E olha no que deu — ela cruza os braços, ergue o queixo para poder me olhar bem dentro dos olhos.

      — Ah, Danny... Se você soubesse o quanto me machucou por ter dito que o gente fez no seu quarto não passou de uma brincadeira de meninas...

      — Eu não sabia. É, sério, eu não sabia. Mas eu não te obriguei a nada. Foi você quem deu em cima de mim, e eu topei. Foi você que fantasiou que a gente podia ficar juntas.

      Duda solta um suspiro entre os lábios comprimidos, fechando os olhos e abaixando a cabeça.

      — Sim, foi.

      — Não tenha ódio de mim, Duda. Eu nunca deixei de gostar de você. Teu lugar tá aqui — aponto com o indicador para meu seio esquerdo.

      Duda parece presa num súbito estado de torpor, sem conseguir dizer nada.

      — Me abrace — peço. — Volte a ser minha amiga — dou um sorriso.

      A garota meneia a cabeça para os lados. Posso ver seus lábios tremendo, sua respiração se intensificando como quando fazemos developés.

      — Boa viagem — Ela diz com voz embargada. — Seja feliz no Rio de Janeiro. E fica tranquila — um sorriso ressentido e malicioso se insinua em seu rosto enquanto ela me mostra seu celular —, os segredos que você, a Alice, a Nicole e eu temos vão ficar aqui.

      Assim dizendo, Duda me dá as costas e anda de cabeça baixa até o canto, encostando a cabeça na parede. Tenho a impressão de que está começando a chorar.

      Não tenho mais nada a fazer aqui. Tudo o que eu tinha para falar, já o fiz, e não sou obrigada a me defender, a dar satisfações das minhas escolhas. Eu tenho um mundo novo me esperando, mais dança, mais ensaios, aulas.

      Passo em frente ao vidro da sala nº 1, de onde sai há pouco. Letícia está ensaiando as meninas para uma coreografia contemporânea, e Nicole é a bailarina principal. O sorriso dela, seus olhos bicolores cheios de altivez, seu charme, junto com a paixão dos outros bailarinos que dançam em torno dela, me enchem de alegria. Fico feliz por ver que a rotina na Letícia Ballet não vai mudar mesmo eu indo embora.

      Mas também fico triste por não estar ali ensaiando com elas, por não fazer mais parte desse cronograma de ensaios.

      Dou um aceno com os dedos, sorrindo, mesmo sabendo que elas não estão me vendo.

      Saio com o capacete pendurado no cotovelo, dou um meio sorriso ao ver papai parado ao lado da moto, os braços cruzados, com o capacete no assento da Hayabusa.

      — Como foi? — pergunta, me segurando pelos ombros.

      Olho para trás. Para a escola que foi meu lar e que agora está se tornando uma lembrança. Posso ouvir a música tocando lá dentro, e fechando os olhos, parece que posso sentir a vibe de dança daquela sala.

      — Difícil — respondo.

      — Vamos. Você precisa dormir e acordar cedo.

      Concordo com um leve aceno.

      Dou uma última olhada para o estúdio de tijolos esmaltados, como quem se despede de um amigo. Fecho de novo os olhos, deixando que uma lágrima caia livremente pelo meu rosto sardento.

      Ponho um ponto nesse capítulo da minha vida, e mesmo sem saber se estou pronta para começar outro, decido dar mais um passo.

      — Vamos — subo na garupa da moto.

      Me acomodo na garupa da moto, colo meu corpo ao do meu pai e nós dois afivelamos nossos capacetes ao mesmo tempo.

      Já não estamos mais em Perdizes.

                               ...

      Não preciso levar tanta coisa ao Rio de Janeiro, posso comprar lá o que faltar. Uma mochila cargueira e uma pequena mala de mão são mais do que suficientes, e além disso, não acho que vou chegar ao Ballet Imperial de Petrópolis já dançando variações.

      Papai prometeu levar de carro meus figurinos e eu disse que contava com ele.

      Guardo meu violão na capa e o ponho em cima do armário, já que não vou poder tocá-lo tão cedo. Como parece que amanheci com Toc¹, abro a mochila cargueira mais uma vez para conferir se meus collants, grampos, meias calças, sapatilhas e polainas estão ali. Prometo a mim mesma que é a última vez que faço isso.

      — Danny, você está pronta? — papai bate na porta.

      — Já — respondo enquanto corro para perto do espelho.

      Penteio o cabelo com uma escova de cerdas macias, o sorriso insistindo em ficar no meu rosto depois que conferi as milhares de visualizações do vídeo que gravei hoje de manhã no estúdio de casa.

      Prendo o cabelo num rabo de cavalo alto, passo gloss labial sabor chocolate e faço o sinal da cruz em frente ao ícones de parede da Theotokos e de Jesus Pantokrator.

      — Olhem por mim — peço.

      Estou usando uma blusa cinza com estampa de bailarina, meia calça preta e botas de cano alto. Stefany, ao me ver descendo a escada, me dá um de seus sorrisos mais lindos e me cumprimenta com um beijo no rosto.

      — Você está muito gata, prima — ela segura minhas mãos, sustentando meu olhar no dela.

      — Obrigada — sorrio em gratidão. — E você, pai? Concorda com a Steffy?

      Daniel dá de ombros.

      — A bota combinou com a blusa — acho graça em sua resposta. — Agora vamos.

      Stefany e eu nos sentamos no banco de trás da Cross Fox prata e ouvimos The Cranberries até o aeroporto de Congonhas. Papai sorriu várias vezes ao nos espiar pelo retrovisor e ver que eu estava cantando com a minha prima as músicas da banda preferida da Françoise. Retribui sorrindo para ele e fazendo um coração com as mãos.

      O aeroporto está cheio de pessoas indo e vindo empurrando carrinhos com malas. Acho que sou a única que está com pouca bagagem. A vó Vitória está me esperando de braços abertos assim que entramos e me constrange ao protagonizar um gesto exagerado de carinho.

      —Minha neta cresceu e virou uma mulher linda — ela externa toda sua emoção enquanto me aperta.

      Para uma filha de russos, vovó é bem espontânea. Ela também estudou no Ballet Imperial, quando a companhia ainda tinha uma escola na cidade de Petrópolis.

      Por mais louco que pareça, eu conheci minha bisavó, Ludmila Shushunova. Ela era bem brava e séria. As quatro gerações de bailarinas de olhos azuis e sardas se reuniam alguns dias antes do Natal. Tomávamos chá no samovar² aceso com carvão. No Ano Novo montávamos a árvore na sala, com o Ded Moroz³ e a Snegurochka⁴. Eu era garotinha, mas me lembro dela dizendo à Françoise que nunca havia visto uma menina tão linda, se referindo a mim.

      Vovó Vitória parou de dançar profissionalmente aos trinta anos e passou a cuidar da carreira de mamãe. Mas ela não conseguiu se desligar totalmente da dança e faz balé à noite num pequeno estúdio do Ipiranga com uma turma de senhoras. Uma vez fui assisti-la e fiquei impressionada com sua desenvoltura. Ela é magra, alta, não tem a mesma flexibilidade dos vinte anos, mas ainda tem graciosidade.

      Nós quatro conversamos enquanto andamos pelo piso de cerâmica do aeroporto e a única coisa que quebra o clima festivo entre nós são os chiados dos autofalantes, pedindo para que nos dirijamos à plataforma de embarque com destino ao Rio.

      — Preciso ir — digo com aperto no peito.

      Dou um último abraço em cada um deles. Digo que os amo e que vou ligar sempre que possível.

      — Tchau, filha. Se cuide. E juízo.

      Posso me cuidar, mas não posso prometer que vou ter juízo morando na mesma cidade que o Odin.

      — Vou tentar — respondo.

      Ando em companhia dos outros passageiros, com minha mochila cargueira e minha mala com rodinhas. Olho mais uma vez para trás, dou um tchau com os dedos para meu pai, minha avó e minha prima. Meu rosto já está molhado de lágrimas.

      Aperto o passo, seguindo o fluxo de embarque.

      — Danny!

      Me viro rapidamente. Não acredito!

      Duda vem correndo até mim. Para à minha frente, chorando, me olha com gravidade.

      — Duda?

      — Posso te dar um abraço? — ela pede com urgência.

      Com um sorriso se formando na minha boca aos poucos, ponho minha mala ao lado e tiro a mochila cargueira, deixando-a num lugar ao lado onde não atrapalhe os passageiros.

      Abro os braços em cruz, me deixando ser apertada pela minha amiga, que chorando copiosamente, balança meu corpo.

      — Você me perdoa, Danny? Me perdoa por tudo o que eu fiz, tudo o que eu falei e te machucou?

      — Ah, Duda...! Claro que te perdôo.

      — Não esquece de mim, tá?

      — Nunca.

      Desfazemos o abraço, trocando um longo e caloroso olhar. Sorrisos surgem em nossas bocas e já não são mais necessárias palavras.

      Num movimento sutil, ela segura minha cintura, me puxando pra si. Fecho os olhos, aceito seu beijo em meus lábios. Nosso último beijo.

      Duda sempre vai ter um lugarzinho só dela dentro de mim, como todas as pessoas que passaram pela minha vida e que eu tenho na conta de especiais.

      A moça do auto falante pede mais uma vez que nos dirijamos a plataforma com destino ao Aeroporto Santos Dumont, e eu compreendo que meu tempo acabou.

      — Tchau — me despeço chorando.

      Minha amiga acena, enquanto me viro e atravesso a porta dupla de vidro, que se fecha atrás de mim.

Capítulo de 2,7k de palavras

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Transtorno Obsessivo Compulsório


²utensílio metálico, típico da Rússia, que armazena chá. Tem vários formatos, mas a de um bule é o mais comum. É acendido por carvão.

³Vovô Gelado, em russo. Na Rússia, onde o Natal é celebrado pelos ortodoxos dia 7 de janeiro, a figura ocidental do Papai Noel é substituída por um velhinho gordo e de barba branca, com um manto comprido (azul ou vermelho), e que entrega presentes com a ajuda de sua neta Snegurochka, percorrendo as vilas russas numa troika puxada por cavalos. A tradição surgiu na Era Soviética.

⁴Donzela das Neves, em russo. É a única figura feminina do Natal Russo. Trata-se de uma garota loura, com uma roupa azul com detalhes brancos, botas e luvas de pele, e que usa um gorro felpudo ou uma coroa.

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