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Capítulo 2 - parte 1

If that one star
Glowing in the dark
Could bring you back
Bring you back here

Holding out for the change
We came fixing the mess we made
Let em out if you wanna i'm standing in their way

Emily Rowed, "Glowing in the dark"

      Quando não estou num estúdio de balé, faço coisas que uma garota normal gosta. Eu não uso collant e sapatilhas 24 horas por dia. Gosto de rock, tenho um bom número de seguidores no YouTube e no Instagram, e um armário cheio de roupas, botas e coturnos.

      Tenho angústias e oscilações de humor como qualquer garota que está com TPM. Amo me sentir linda e adoro parar em frente a um espelho para me olhar, ver se minha maquiagem está legal, e fico indecisa entre deixar meu cabelo solto ou fazer um rabo de cavalo. Às vezes faço coque, só para mostrar minhas tatuagens de cisnes atrás da minha orelha.

      Faz uns cinco minutos que Nicole e Jordana foram para a sala nº 1. Não tenho pressa de entrar, já que eu sei que a Letícia ainda não chegou, e além disso, não estou com muito ânimo pra passar por aquela punheta coletiva de meninas com olhos vermelhos querendo ter um último momento comigo. Quero guardar o resto da minha cota de lágrimas para quando eu me deitar.

      Entrei na Letícia Ballet aos dez anos de idade, só algumas semanas depois de eu receber um transplante de medula. Eu estava magra e careca por causa da quimioterapia.

      Teoricamente, por eu viver no Brasil, minha pele devia ser bronzeada ou corada, mas ela é branca, quase translúcida, como a pele de uma vampira.

      Quanto à minha origem, sou catarinense de Joinville e o que se pode chamar de mestiça. Do lado do meu pai, romena de sangue puro. Da minha mãe, herdei traços de russa, italiana e índia.

      Nunca tive nenhum tipo de complexo com a minha aparência. Fui eleita pela Ballet Ilustrated como a bailarina júnior mais linda do mundo. Os critérios para essa escolha foram minha altura (tenho 1,78), meu alongamento, minha flexibilidade e meu en dehors. Além, é claro, de eu ter pernas compridas.

      Essa eleição aconteceu em Nova York, durante um festival de dança em que fiquei em primeiro lugar. Venci a Antonella Carrascosa, a bailarina número 3 do ranking .

      Muitas vezes me perguntam o que é en dehors. En dehor quer dizer para fora. Quando estou em pé e abro os pés para os lados, meus fêmures fazem uma rotação que me permite quase virar os pés para trás, como uma curupira. Só para resumir, sou a bailarina de proporções físicas perfeitas, com pernas compridas, braços igualmente compridos e pescoço longilíneo. Meu bumbum e meus seios são pequenos, meu corpo tem poucas curvas.

      Se para os padrões de beleza feminina sou só uma garota alta e magra, para os padrões do balé sou uma máquina que pode fazer coisas quase impossíveis para uma bailarina comum. Meus saltos são os mais altos. Minhas pirouettes, quase perfeitas.

      A única coisa que eu queria era ter um pouco mais de frieza para lidar com certos problemas e não ser tão emotiva.

      O assédio das outras companhias é uma coisa que me incomoda bastante. As pessoas não conseguem ver que eu tenho uma história de vida e que eu trabalhei muito para ser aprovada na audição do Ballet Imperial. Sei que não fazem por mal, mas é uma bosta ser chamada o tempo todo de filha da Françoise, filha do Cisne Branco, como se eu tivesse a obrigação de ser como ela e não pudesse errar.

      Só queria que as pessoas me vissem como a Danielle, a Danny, uma garota que escreve sua própria história e não depende de ninguém. Acho que não é pedir muito.

      Dou um suspiro, olho para o relógio. Tenho que ir para a aula, mas antes tiro meu pequeno ícone de bolso da Theotokos, me persignando com o sinal da cruz e fazendo uma pequena oração em silêncio.

      Fecho os olhos. Entro no grande corredor, contando cada passo que dou em direção à sala nº 1.

      Ao abrir a porta, vejo Jordana ensaiando com o Bruno um pas de deux de Pássaro Azul. Carol e Michele estão numa das barras fazendo detirés e Angel, saltando grand jetés numa das diagonais da sala.

      A alegria que sinto por ver que estão fazendo o que amam, a aplicação e concentração deles antes da aula, me fazem sentir orgulho por ter feito parte deste grupo incrível.

      Vivi os melhores anos da minha vida com todos eles. Conhecemos os pontos fortes e as fraquezas uns dos outros, sorrimos, choramos juntos. Eles sempre vão estar comigo.

      Ando sorrindo até meu lugar na barra. Angel vem até mim, me abraça.

      — Oi, amiga. Tudo bem?

      Dou de ombros.

      — Coração está batendo à mil. Mas tô bem.

      Meu partner segura meu rosto por entre suas mãos. Seu semblante é grave.

      — Não esquece de mim, tá? E faça um favor de usar um fio dental e queimar essa bundinha branca na praia.

      Concordo com um aceno de cabeça ao mesmo tempo que rio meio encabulada da espontaneidade do meu colega. Angel é assim; perde um amigo, mas a piada, nunca.

      — Pode deixar — respondo.

      Mantemos contato visual, e por fim, ganho um beijo na testa.

      — Te amo! — ele balbucia.

      — Eu também.

      Angel é uma das pessoas que sempre vai estar na minha memória. Foi meu primeiro e único partner na Letícia Ballet, por ser o único bailarino mais alto que eu, e é o que mais teve paciência com as minhas mudanças bruscas de humor nos ensaios.

      Uma vez ele me mostrou fotos dos pênis dos garotos com quem ele transou. Achei um absurdo da primeira vez, mas não demorou para eu aderir à moda com as minhas amigas e com o Odin.

      O olhar dele, terno, é o mesmo de quando dançamos pas de deux de Diana e Acteon em Barretos no ano passado. Olhos brilhantes, limpos, de um azul claro lindo. Só que o tipo de emoção é diferente. Tem um pouco de vazio.

      — Boa aula — ele diz abruptamente. — Quero tirar uma selfie com você no final da aula, tá?

      — Obrigada. Ok.

      Duas ou três garotas dizem quase as mesmas coisas que o Angel. Parece que todo mundo combinou o que falar, o que fortalece minha opinião de que, tirando o carinho das pessoas que você vai deixar de ver, tudo o que envolve despedidas é um saco.

      Me sento no chão e tiro minhas botinhas de aquecimento para me alongar um pouco, abrindo minhas pernas para os lados em segunda posição. Inspiro, afundo meu tronco para frente e toco meu rosto no chão.

      Em seguida fico em pé, pondo alternadamente minhas pernas na barra e me debruçando sobre elas, já sentindo os músculos posteriores das minhas coxas puxarem. Mas minha cabeça está muito concentrada para sentir o incomodo muscular.

      Termino de fazer o aquecimento com um detiré, tocando minha perna na orelha.

      — Metida até no seu último dia de aula.

      Me viro e vejo a Alice Chamowicz parada diante de mim. Ela é uma garota ruiva de cabelo curtinho, com uma franja caída nos olhos cor de avelã. Seu corpo tem lindas curvas, com um bonito realce graças ao collant. Pena que ela seja tão ranzinza.

      A ruiva tem uma mão apoiada na cintura e a outra ao longo do corpo, segurando algo. Seu braço esquerdo tem tatuado o número 12.425.

      — Danny sendo metida como sempre, né, Alice? Boa tarde pra você também — passo os dedos no cabelo.

      — Danny sendo Danny como sempre — ela corrige.

      Só não estou ainda irritada com a Alice porque até agora ela é a única que não mudou comigo. O que não quer dizer que tenho muita paciência para conversar com ela.

      — O que você quer? — tento encurtar o diálogo.

      Um sorriso travesso se forma nos lábios dela, e abrindo a mão que estava fechada, me mostra algo que faz meu rosto corar de vergonha e me faz querer que um buraco se abra para eu me esconder.

      Merda!

      — Isto aqui é seu? — ela balança minha calcinha branca da Calvin Klein balançar em seu dedo indicador.

      — Onde você pegou? — pergunto asperamente enquanto faço uma bolinha com a minha peça íntima, depois de tirar da Alice com um bote. — Resolveu roubar pra guardar de recordação?

      Alice cruza os braços, revira os olhos.

      — Se eu quisesse guardar de recordação, não estaria te devolvendo. E depois, por que eu ia querer uma calcinha sua? Tenho outras recordações — a ruiva sorri com malícia.

      Stefany me deu essa calcinha ousada no meu aniversário de quinze anos, pra eu usar na minha primeira vez com um garoto. Acabei usando com uma garota. Mas esta peça íntima é uma das minhas preferidas, por ser bem cavada e confortável .

      — Tá... Então, por que pegou?

      — Eu não peguei. É você que tem o costume de jogar suas calcinhas junto com as nossas roupas e se esquece de guardar depois da aula. Eu achei em casa, depois que tirei meu uniforme da mochila.

      Por eu não usar calcinha por baixo do collant, eu tenho o péssimo hábito de esquecê-las. E na noite passada, tive a infelicidade de deixar junto das roupas da Alice. Justo da garota mais desajustada do estúdio.

      — Ok. Obrigada por guardar pra mim — repito o gesto de alisar o cabelo.

      — Sabia que eu não deixei a empregada lavar?

      — Ah, é? Por quê? Queria sentir meu cheiro?

      Alice ri e balança a cabeça para os lados, num claro gesto de sarcasmo.

      — Você tem um cheiro muito gostoso, sabia? Mas não foi por isso. Achei desaforo mesmo.

      Corada de vergonha e com as faces queimando, soltei o ar por entre os dentes, atirando minha calcinha amassada no chão junto com a minha garrafa metálica com água gelada.

      — Já falou tudo o que tinha pra falar? — pergunto no mesmo tom ríspido.

      Ela hesita antes de responder.

      — Vou sentir sua falta.

      Minha boca semiabre em surpresa e não consigo pensar em nada.

      A ruiva sorri. Volta para seu lugar na barra, rebolando a bunda empinada, grande e bem feita, que sempre fez sucesso entre os garotos, além da tatuagem de borboleta em sua nuca. Ela é uma garota judia estilosa.

      Nicole salta uma sequência de grand jetés, quase saindo da sala. Põe a cabeça para fora, olhando para o corredor, se voltando para nós.

      — A Letícia chegou, gente.

      As meninas que estão com shorts largos e calças de aquecimento se despem rapidamente antes que nossa professora entre e as veja usando trapos. Ela é incisiva quanto ao nosso uniforme: nada além de collant preto, sapatilhas e meias calça cor de rosa. Se alguma garota traz por engano um collant de outra cor, ela simplesmente a manda ir para casa.

      Não aceito demonstrações de vaidade no meu estúdio, é uma de suas frases.

      Vocês são um corpo de baile. São um grupo, ninguém é melhor que ninguém, e meu estúdio não é lugar para vocês mostrarem quem tem o collant mais bonito.

      No começo tive um pouco de dificuldade em me adaptar ao seu rigor, e até achava estranho uma mulher com apenas vinte e cinco anos ter a postura de uma mestra de dança velha, como daquelas dos seriados de balé.

      Foi essa metodologia de ensino rígido, no entanto, que me fez amadurecer como pessoa e como bailarina.

      Todas nós estamos posicionadas ao lado da barra assim que Letícia entra. Duda ocupa seu lugar entre Carol e Fernanda, e ela evita me olhar.

      Nenhum sussurro, nenhum ruído, olhos todos voltados para nossa mestra, que nem precisa fazer esforço para ser notada. Sua aura de bailarina é intimidadora, parece ter poder de arrebatar nossas almas ao lançar um olhar panorâmico pela sala.

      — Boa tarde — a voz dela é enganosamente gentil.

      — Boa tarde — respondemos em uníssono, as vozes graves do Angel, do Bruno e do Maximiliano destoando das nossas.

      Letícia anda até o som, um meio sorriso se formando em seu rosto. Ela leva tão à sério as tradições e regras do balé que está usando um collant preto, com uma meia calça também preta (só que por cima do collant), meias e sapatilhas de meia ponta brancas. O cabelo está preso num rabo de cavalo.

       Ela me olha com afeto, sorri.

      — Danny, está ansiosa para estudar na sua nova escola? — me questiona.

      — Não sei — prefiro ser franca.

      — O começo vai ser difícil. Mas logo você se acostuma. Só não pense que vou aliviar pra você, tá? — há um prazer secreto por trás de suas palavras.

      — Lado à barra! — ela comanda.

      Mantenho firme a postura, com os braços em bra bas, pernas em primeira posição e cabeça olhando para fora. Começo a sentir aquele fio invisível, que puxa a gente para cima.

      Cinco. Seis. Sete. Oito. Meus braços fazem o port de bras inicial enquanto a introdução de uma canção clássica do pen drive é tocada.

      Não importa o quão bem preparada eu esteja fisicamente, sempre tem um músculo meu que está doendo. Minhas panturrilhas queimam logo no primeiro exercício da barra, quando faço dois demis e um grand plié, com meus calcanhares subindo. Sem falar da busca constante de manter meu en dehors e forçar minhas coxas para fora, além de manter meu tronco sempre ereto e buscando o alto. É um monte de coisa para se pensar em tão pouco tempo.

      Nenhum detalhe, por menor que seja, passa despercebido ao olhar atento de Letícia; ela parece prever quando vamos cometer um erro, e está sempre ali na nossa frente quando um pé arrastando no chão para sair em jeté não mostra tônus.

      — Linda como sempre, Danny. Só não tensione esse ombro — ela põe o indicador no meu ombro.

      Solto um gemido seco ao receber um tapa na minha barriga quando termino um exercício em atittude. Só não cai porque a outra mão dela apoiou minha cintura por trás e porque meu pé tem força, me manteve na ponta da sapatilha.

      — Força nessas costas — agora ela dá um tapa na minha bunda. — Suga esse umbigo.

      A panturrilha da minha perna de base está queimando. Fica difícil me equilibrar na ponta da sapatilha. Meu pé dói horrores, mas não vou dar à Letícia o gosto de me ver com cara de sofrimento.

      — Encaixe esse quadril, garota — desta vez ela segura minha cintura abaixo das costelas com a mão que só me apoiava. Sua outra mão segura minha perna que está levantada em derriere e a abre um pouco mais.

      — Se mantém encaixada até o fim da música — ordena.

      A contagem parece que não termina nunca. Meu músculo da panturrilha dói horrores, e suspiro aliviada ao descer.

      — Vou te poupar. Descanse — Letícia sorri.

      Flagro Duda me olhando com um semblante indecifrável. Não consigo imaginar o que esteja pensando. Mas o que pensam de mim não é da minha conta.

      Meu corpo está suando por todos os poros, praticamente sequei a garrafa com água em apenas quarenta minutos de aula de barra.

      E é só o começo. Na rotina de centro, faço diagonal justo com a Duda. Letícia não está nem aí para rivalidades entre suas alunas, quer que dancemos e pronto. Ficamos lado à lado defronte o espelho, olhando uma para a outra com desafio. Dou um sorriso malicioso.

      Consigo ficar mais tempo girando fouettés do que minha colega e sinto quase um orgasmo por ver no espelho sua cara de surpresa. Ela não consegue acreditar. Até metade do ano passado, ela é quem girava mais, ela é quem era a estrela em ascensão da Promoarte.

      Voltamos ao lado uma da outra para o fundo da sala, então Nicole e Alice avançam. Não olho para a Duda.

      É estranho que estejamos assim. Parece piada que duas garotas que tinham uma amizade tão bonita hoje estejam sem se falar, e pior, trocando olhares tortos e fugazes. É tão... infantil.

      Me lembro como se fosse hoje. Eu chorando num canto do vestiário porque as meninas não gostavam de mim, por me acharem muito patricinha. Ela se aproximou de mim, me deu um abraço, disse que podíamos ser amigas. E tivemos uma amizade forte.

      Não esperava que nossa relação um dia fôsse sofrer um abalo por causa de uma rivalidade idiota, para mostrar quem dança melhor. Eu não tive culpa dela ter quebrado o pé e ter ganhado seu papel em Lago dos Cisnes. A chance surgiu e simplesmente a peguei. Mas antes disso ela já estava diferente comigo, e não tenho a menor ideia do que fiz para perder uma amiga e ganhar uma rival.

      De repente, é até bom para ela que eu vá embora, porque vai ficar com o caminho livre para recuperar o papel de Cisne Branco e para brilhar sozinha.

      O que ela quer é pouco para mim. Me deixaram sonhar. Agora eu quero chegar até o céu e brincar com as estrelas.

      Tomo impulso num dos cantos, salto uma série de grand jetés. Por causa da força das minhas pernas e do meu impulso natural, meus saltos são os mais altos entre as meninas. Não só zero meu espacate no ar, como também consigo negativá-lo.

      Letícia não vai dar o braço a torcer porque não é seu estilo fazer elogios aos seus alunos, porém posso ver nos olhos dela um brilho de satisfação por eu ter aprendido tudo o que podia me ensinar.

      Nosso abraço após a reverance é o mais demorado. Não pude cumprir minha promessa de deixar para chorar quando eu voltasse para casa, minhas lágrimas caem ali mesmo, livremente. Letícia me aperta em seus braços, balançando meu corpo dolorido, e beija minha testa.

      — Vou sentir demais sua falta - ela diz enquanto soluça. — Tenho muito orgulho de ter sido sua professora, essa escola não vai ser a mesma sem você, Danny.

      — Obrigada. Também nunca vou me esquecer de tudo o que você fez por mim.

Continua...

Capítulo de 2,8k de palavras

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