Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 1 - parte 1

I’m standing on the bridge
waiting on the dark
I throught that  you’d be here  
by now

There’s nothing but the rain
No footsteps on the ground
I’m listening but there’s no 
sound

Avril Lavigne, “I'm with you”

      Nunca fui de me arrepender por algo que fiz. Mas chegar para a Letícia e dizer que queria prestar a audição para o Ballet Imperial de Petrópolis foi uma das decisões mais difíceis que tomei.

      Eu sempre soube que cedo ou tarde esse dia iria chegar. Foi pra isso que ensaiei, treinei, durante anos, até alcançar o nível técnico e artístico que toda companhia deseja em suas bailarinas.

      Mesmo assim, é tão difícil encerrar um capítulo e começar outro… Deixar para trás as pessoas que eu amo, os amigos que fiz, o estúdio onde aprendi a dançar.

      Queria que esta fosse só mais uma manhã igual às outras, com meu cronograma definido: colégio de manhã, aula de balé à tarde. Eu assistindo ao ensaio de papai na Companhia Paulistana de Ballet, onde ele é Premier Danseur, e voltando pra casa na garupa de sua moto depois de comermos comida japonesa.

      Mas é meu último dia em São Paulo. O último dia de uma parte da minha vida, o fim de um capítulo de uma história em construção.

      Se eu tivesse mais alguns dias, faria muita coisa que não pude fazer por falta de tempo, devido aos ensaios que sempre terminam tarde, e por causa das apresentações do espetáculo Ato 2 de Lago dos Cisnes.

      A frase não posso, tenho ensaio, parece ter sido escrita especialmente para mim. Tanto tempo fazendo aulas, sessões intermináveis de alongamento até que meu corpo ficasse flexível e eu pudesse tocar minha perna na orelha quando a estendo em detiré, e alcançasse as proporções físicas perfeitas. Ensaios. Mais aulas.

      Foi um longo caminho, com certeza.

      Um suspiro foge por entre meus lábios carnudos, que parecem maiores por causa do aparelho de dente de pedrinhas azuis que uso há anos e que faz parte de mim. Ligo o botão do foda-se. Me entrego.

      Ando até o pequeno suporte parafusado na parede, faço os ajustes no iPhone e aciono o timer. Aponto a câmera para mim. Dou um meio sorriso enquanto ponho o pen drive no som. Aperto o play.

      Desfilo com graciosidade pelo piso flutuante com linóleo da sala de balé, em direção ao fundo. Apesar de serem só seis horas, posso ver através das paredes de vidro o vento balançando as copas das árvores e derrubando folhas, pronunciando uma manhã de chuva.

      Meu coração bate rápido de empolgação misturada com uma pontinha de tristeza enquanto espero a música tocar.

      Me olho no espelho. Meus olhos azuis irradiam um brilho límpido, carregado de sentimentos, e presto um momento de culto à minha vaidade de adolescente.

      Estou usando um body regata preto que abraça minhas curvas, expondo meus quadris e ombros, e revelando as três rosas tatuadas no meu braço direito. Como o body é super cavado nas costas, meu bumbum fica todo à mostra, o que me faz sentir um misto de desconforto e autoconsciência, embora eu tente ignorar isso e me concentrar na dança.

      As meias-calça arrastão pretas combinam perfeitamente com minhas polainas e botas de dança também pretas. Meu cabelo está preso em um coque de bailarina. Apesar de haver pessoas na rua e meu bumbum estar exposto, não me importo com nada.

      Aos poucos começo a ser invadida por aquele impulso que toda garota que nasceu para dançar tem dentro de si: o impulso de voar. Esse impulso se torna mais e mais forte à medida em que os segundos passam e a música esteja quase começando.

       Minha história não é igual a de tantas garotas de quinze anos. Ela é especial, como um conto de fadas. Não quero parecer arrogante, mas eu nasci bailarina; aos dois anos, usei um collant cor de rosa pela primeira vez, e aos dez, calcei um par de sapatilhas de ponta. Eu não fazia a menor ideia naquela época que era uma grande responsabilidade, algo ousado demais para uma garotinha que ainda tinha dentes de leite e estava aprendendo a girar suas primeiras piruetas, mas eu não estava nem aí pra isso. Eu só queria ser um cisne como minha mãe.

      Aos dez anos, dancei uma variação de Paysant. Apesar do nervosismo inicial, eu arrasei, e os aplausos intermináveis das pessoas que me assistiram me fizeram perceber que por mais que fosse árduo, por mais que eu sentisse dores e frustrações que às vezes me fariam voltar para casa chorando, a dança era a única coisa que me salvaria de uma vida comum e sem graça.

      Mônica Fontana, minha professora no New York City Ballet, disse aos meus pais, após minha primeira apresentação nas pontas, que eu era um prodígio, e Françoise respondeu, me abraçando, que sabia disso.

      Sempre que volto para casa triste por ter feito uma aula ruim, e me pergunto por que e como suporto tanta cobrança no estúdio, são as palavras de mamãe que me dão motivação para fazer melhor no outro dia. Eu nasci para brilhar. Eu nasci para ser primeira bailarina.

      Parece que ela está aqui comigo e que esse calorzinho que do nada sinto em volta do meu corpo é o abraço amoroso dela. E uma coisa muito forte dentro de mim diz que é ela, me dizendo que vai dar tudo certo, me pedindo para não ter medo.

      Dou um passo em direção ao grande espelho da sala. Dois. Três. Faço um chassé.

      A música começa a tocar.

      De repente o tempo, que causa medo em toda bailarina e a faz lembrar que seu reinado nos palcos um dia vai ser desfeito, deixa de existir. Meu corpo experimenta uma sensação de liberdade, de completude, e uma paixão quase selvagem.

      Num segundo, estou no chão como uma pessoa normal. No outro, minhas pernas estão estendidas no alto, abertas em espacate como um v. Não só o tempo, a gravidade também passa a não mais existir neste instante tão breve, tão fugaz...

      Tão meu.

      Só o que importa pra mim é viver este instante, ir além das minhas forças e ser capaz de fazer com que meu corpo se torne a mais perfeita máquina.

      Até que um dia a gravidade me castigue pelo meu atrevimento de tentar roubar o que pertence a ela, vou desafiá-la sempre e ir até onde não puder mais, saltar sempre mais alto.

      E mesmo que ir atrás dos meus objetivos signifique deixar minha vida para trás, mesmo que nos primeiros dias eu me sinta sozinha, eu sei que vai valer a pena.

      Dou um sorriso ao fim do meu ensaio e corro saltitando até o suporte, desligando o som e tirando o iPhone do suporte.

      — Espero que tenham gostado do vídeo — falo alegremente depois de fazer uma rápida edição e postar no Instagram. — Amo vocês.

      Fecho o celular, o ponho no suporte, dou uma volta pela sala com as mãos nos quadris nus. Nesse momento, vejo através da parede de vidro a porta de uma das casas se abrir e dois jovens da minha idade acenando para mim ao passarem em frente ao estúdio. Retribuo com uma reverance, e a seguir eles entram no carro do pai.

      Até hoje nunca soube os nomes deles, embora sejam nossos vizinhos e tantas vezes tenham me flagrado dançando, usando só este body.

      Parece bem louco, mas tenho vontade de sair assim como estou, pará-los e dizer oi, eu me chamo Danielle e vou me mudar para o Rio. Como vocês se chamam? Com certeza me achariam maluca.

      O ringtone da Canção da Fada Açucarada do meu celular toca. Só há uma pessoa que me liga tão cedo, já que sabe que tenho problema em dormir até mais tarde. Corro sorrindo até o suporte do som e vejo a foto do Odin na tela do iPhone.

      — Oi — falo enquanto apoio a perna na barra.

      — Bom dia. Tô sentindo sua falta — ele diz do outro lado da linha.

      — Eu também.

      — Adorei a foto que você me mandou essa noite.

      Mordo meu lábio inferior, feliz que meu namorado tenha gostado da foto que eu tirei no Festival em Garça, dançando como Paquita. Sempre trocamos fotos. Não é fácil viver em cidades diferentes, já que a gente sempre quer ficar junto, trocar beijos e fazer sexo.

      — Obrigada — agradeço, passando os dedos no meu cabelo preso com coque.

      — Quando você vem para o Rio?

      — Amanhã.

      Faz-se um breve silêncio do outro lado.

      — Não vejo a hora de você chegar — sinto malícia em suas palavras. Mas é uma malícia com uma pequena pitada de carinho.

      — Também quero te ver. Mas agora preciso desligar. Tenho que ir ao colégio e depois, fazer balé. Não fica bravo comigo, tá?

      — Ok. Pode ir, pintadinha. Beijo.

      — Beijo.

      Dou um suspiro, meu sorriso de adolescente apaixonada insistindo em ficar.

      Já está claro lá fora. A cidade está despertando, começando a pulsar como um coração.

      Meu pai está sentado na bancada da cozinha tomando uma xícara de café com leite. Me aproximo, tentando tirar o body invasivo do bumbum, fico de frente para ele. Seus olhos azuis, claros iguais aos meus, deixam transparecer por trás de sua aparente imparcialidade, um ar de tristeza que me machuca um pouco.

      Dou um sorriso e o abraço carinhosamente.

      — Bună dimineață, tată¹ — falo em nossa língua materna.

      — Bună dimineață — Ele responde com sua voz sempre neutra.

      — Não fica assim, pai — falo aninhando minha cabeça em seu peito.

      Sem nada dizer, ele põe atrás da minha orelha a mecha de cabelo que se desprendeu do meu coque. Beija minha testa, insinua um meio sorriso.

      Não somos muito de conversar. Preferimos mostrar amor um pelo outro não com palavras, mas com gestos sinceros. Ele é uma das pessoas de quem mais vou sentir falta e não consigo imaginar acordando e não vê-lo sorrindo, me pedindo para ensaiar com ele no estúdio de vidro.

      Antes que eu seja vencida pela emoção, subo os degraus que levam ao meu quarto e fico nua. Vou ao banheiro, abro o registro, deixando que a água quente do chuveiro tire a sujeira do meu corpo. Ao mesmo tempo em que meu corpo nu experimenta a sensação de relaxamento, pensamentos nada inocentes invadem minha mente.

      Várias vezes matei aula no colégio para Odin e eu transarmos aqui em casa. Depois que ficávamos suados, tomávamos banho juntos em meio a beijos e mais sexo, pra então eu ir ao balé. A única pessoa para quem contei foi a Stefany, pois confio nela. Ela me chamou de vaca.

      Enxugo meu corpo, saio pelada do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça como um turbante e passo um secador no cabelo, escovando-o a seguir, para então vestir meu conjunto de moletom do Colégio Santa Eudóxia. Esta é o que se pode chamar de escola de alto padrão de São Paulo, com alunos filhos de médicos e empresários, rapazes populares que praticam natação e garotas com egos do tamanho do mundo que se sentem sex simbols.

      Como não posso levar comigo o livro que emprestei da Jacque, tiro-o da estante e o coloco na mochila após escrever uma mensagem de agradecimento na parte interna da capa. Para ela não se esquecer de mim.

      Dizem que os professores russos do Ballet Imperial são exigentes e rudes, e conheci algumas alunas da escola por ocasião do último Curso de Verão da Promoarte. Elas disseram que muitas alunas não suportam mais do que um semestre de aula. Além disso, é comum algumas delas chorarem quando são cobradas.

      Se é verdade ou não, logo eles saberão que não tenho medo de cobranças, já que as recebo desde que eu era bailarina de baby class.

      Aguardo do lado de fora da casa com a minha mochila nas costas e segurando a do meu pai numa das mãos. Leva menos de um minuto para ele sair da garagem pilotando sua Hayabusa preta, a moto que ele ama como filha e que me fazia sentir ciúmes até meus catorze anos. Coisa de adolescente imatura.

      Tudo mudou quando fomos para nossa casa de veraneio em Ibiúna, e do nada, Daniel perguntou se eu queria aprender a pilotá-la. No começo achei bem difícil e deixei a moto morrer duas vezes, um erro comum de quem está aprendendo a pilotar. Mas peguei logo o jeito e criei tanta intimidade com a máquina, que prometi a mim mesma que vou ter uma assim que eu completar dezoito anos. 

      Ponho o capacete cinza com adesivos de flocos de neve e cisnes, escondendo o sorriso triste que se forma em meu rosto por lembrar que  este foi um presente de mamãe. Ela sempre me levava na garupa da sua moto. Podia ser que um dia passeássemos nós três juntos, como uma família, se ela não tivesse morrido tão jovem.

      Papai abaixa a viseira de seu capacete preto, põe sua mochila na frente do corpo e eu abaixo os apoios para os pés para então me acomodar na garupa e segurar nos apoios laterais para as mãos.

      Saímos sob uma fina garoa que engrossa gradativamente, motivo pelo qual pessoas andam com guarda chuvas para se protegerem dela e grossos moletons e jaquetas para não passarem frio. Os ônibus com faixas de cores verde e laranja passam levantando pequenos jatos de água.

      Nesse dia cinza, uma única pessoa destoa de todas as outras que vestem roupas pesadas. Ela continua ali, naquele mesmo cruzamento antes da Rua Caiowaá, encantando pedestres e motoristas com sua dança, tentando um trocado. Com certeza seu corpo sente frio, e gotas de àgua pingam de seu figurino branco de Princesa Aurora enquanto anda ao lado das fileiras de carros e motos pedindo ajuda.

      É uma garota loura, de olhos azuis iguais aos meus, e muito linda. Tem dias que ela usa um figurino de Paquita, noutros de Princesa Florine ou Fada Açucarada, e não importa o dia, está sempre sorrindo para todos. Mesmo quando não lhe dão uma moeda.

      Um dia ouvi se referirem a ela como Bailarina da Sinaleira, por causa de seu sotaque gaúcho. Não importa. É uma garota com sonhos, planos, e que merece bem mais do que umas poucas moedas.

      Antes que o sinal abra, puxo o zíper de um dos bolsinhos laterais da minha mochila e ponho uma nota amassada de dois reais com algumas moedas na cartola que a garota passa para os motoristas. O sorriso que ela me dá em gratidão faz com que um sentimento de paz me tome e tire um pouco da minha melancolia.

      — Obrigada — Ela diz, passando para o carro atrás de nós.

      O sinal fica verde e vejo sua silhueta diminuindo por um dos espelhos retrovisores, até ela sumir. Meu sorriso fica mesmo quando não posso mais vê-la.

      Mantenho meus pensamentos ocupados com outras coisas durante o resto do trajeto até o Colégio Santa Eudóxia. Normalmente sou mal humorada por causa da quantidade absurda de semáforos que não deixam a gente chegar logo aonde queremos. Hoje, não tô nem aí.

      Carros saem de frente do portão da escola logo que garotos e garotas usando uniformes parecidos com o meu descem, indo ao encontro de seus respectivos grupos. Uma dessas garotas se vira para poder ver meu pai, e ao perceber que faço cara feia, tenta disfarçar pondo a palma na mão diante da boca e pergunta algo à amiga.

      — Que saco! — solto o ar pela boca, tirando o capacete.

      — O que foi? — Daniel sorri. 

      — A Naiane está olhando pra você.

      — Está com ciúme do seu pai?

      Fuzilo papai com um olhar de irritação.

      — Não tenho culpa de ser charmoso — Ele bagunça meu cabelo.

      — Para com isso, pai — dou risada, segurando sua mão.

      Nos olhamos com atenção, no mais completo silêncio. Sorrimos um para o outro sem dizer uma palavra, só curtindo aquele momento de amor contemplativo que sempre tivemos em casa e que nunca vai se perder.

      Basta eu entrar em casa calada para meu pai saber que tive uma aula bem bosta, e que por isso, quero ficar sozinha no meu quarto para xingar a mim mesma de burra. E quando ele fica mais calado que o habitual, sei que é porque discutiu com alguém na Companhia Paulistana de Ballet.

      A gente se entende melhor que muito pai e muita filha que conversam bastante, brincam, mas que no fundo não se conhecem, porque nunca se permitiram se olhar nos olhos um do outro, como Daniel e eu fazemos.

      — Tchau — Ele beija minha testa.

      Sorrio com uma pequena sombra de melancolia enquanto o abraço.

      — Te amo, pai.

      Ando em direção ao corredor dando oi para as garotas com quem tenho amizade.

      Num colégio particular onde estudam meninas que sempre tiveram tudo o que quiseram dos pais, a coisa mais normal é se sentir especial e apontar o dedo para as outras pessoas. O que me deixa puta é que algumas dessas garotas dizem que eu me acho a gostosa do colégio por eu ser filha da Shushunova.

      Será que elas mudaram de opinião a meu respeito, agora que estou dizendo adeus?

      Continua...

      Capítulo de 2,8k de palavras

________________________________________

¹Bom dia, papai, em romeno.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro