8: De mal a pior 🍉
Eduardo chegou em casa com o lábio machucado e os pais perguntaram o que havia acontecido, perguntaram sobre Marcela, mas ele não quis dizer nada. Tomou um banho quente, colocou o pijama e se jogou na cama, olhando para o teto. Pela primeira vez estava sentindo na pele porque ela era chamada de trator e foi atropelado em cheio. Nunca havia conhecido alguém com tamanha intensidade em tudo, era como se ela fosse extremamente agridoce, uma mistura exótica e viciante. Tinha que conversar com ela no outro dia, de um jeito ou de outro. As coisas não poderiam terminar daquela forma e Eduardo queria entender o que Marcela quis dizer com "fazer com ela o mesmo que fizeram com ele" e que "já aprendeu as regras do jogo". Sentia cheiro de armações pelo ar.
No dia seguinte, ele procurou por Marcela no intervalo entre as aulas e o estágio, que era o horário de almoço. Perambulou pelo campus e a encontrou em um gramado onde muitos alunos se reuniam em grupos, porém, sentiu um soco forte no estômago ao ver que estava em companhia de Rodney, rindo de alguma piada sem graça dele.
Ainda assim, respirou fundo, tomou coragem e aproximou-se, dizendo:
— Marcela, a gente tem que conversar.
— Se manda, ela já disse que não quer falar com você, mané - disse Rodney, que tinha um corte no nariz.
— Marcela, mesmo que depois você não queira mais me ver, me dá só uma chance de me afastar com dignidade, então - Eduardo pediu, ignorando Rodney e fazendo com que ela sentisse pena, involuntariamente. Algo dentro dela gritava alertando que estava cometendo um erro, porém, o orgulho cego a fazia tapar os ouvidos para essa voz.
— Vou falar com ele, Rod. Já volto. - A frase fez Eduardo fechar os punhos reprimindo a raiva e os dois se afastaram, contudo, não para muito longe. — Sou toda ouvidos, Eduardo.
— Quer me explicar o que está acontecendo? Como que da noite para o dia você me troca por um tipo desses?
— Ah, olha só! Quer dizer que você pode ficar com outras garotas e eu não posso te trocar por outro? Você me traiu, Eduardo! Você é muito cara de pau! Como teve coragem de fazer isso depois de tudo?
— Peraí, que história é essa? Enlouqueceu? Eu nunca te traí! Você acha que depois de tudo o que passei iria fazer isso com alguém? Iria fazer isso com você?
— Acho! Acho sim! Porque ninguém me contou, eu vi! Você só me trouxe aqui pra me enrolar, mas eu não vou deixar! Se você quer que as coisas sejam assim, assim serão!
— Viu o quê? Quando? Como? Você só pode estar ficando louca.
— Para de me chamar de louca! Para de tentar colocar a culpa em mim! Eu vi claramente naquelas fotos que era você na cama com aquela garota!
— Peraí, fotos? - Ele ficou um tempo pensando e viu que suas suspeitas só podiam estar certas. — Marcela, você não percebe que estão armando contra nós? Quem iria tirar fotos minhas e te mandar? Se liga. E outra: você acha que eu faria isso em sã consciência?
— Olha, quer saber? Pra mim não importa mais. Eu não vou conseguir deletar da minha mente as imagens que vi, você me traiu e ponto final. Nossa história acabou, a gente não ia dar certo mesmo, somos mundos muito diferentes. Se bem que já aprendi como se sobrevive aqui e, bem vindo à selva, eu vou sobreviver.
— Você está cometendo um erro e eu vou te provar.
— Eu estou cometendo erros desde a primeira vez que subi na garupa da sua moto. Adeus, Eduardo. - Ela virou as costas, mas ficou parada ao ouvi-lo dizer:
— Duvido que tenha esquecido tudo o que a gente viveu. - Marcela o encarou novamente, abalada. — Só eu sei o que você sentia quando estava comigo, eu senti a sua entrega, a sua confiança em mim, Marcela.
— E o que ganhei confiando em você? Me diz, o quê? Me esquece.
Marcela novamente virou as costas e ele suprimiu as lágrimas quando a viu voltando para junto de Rodney. Porém, prometeu a si mesmo que descobriria a verdade e provaria sua inocência, ainda que não ficassem juntos.
No fim do dia, Marcela estava indo para a república quando deu de cara com Jeniffer em um dos corredores. Era a primeira vez que ficavam frente a frente e a maquiagem sombria que ela usava para tentar mascarar seu rosto com traços ainda infantis atemorizava Marcela.
— Então você é a nova ex do Du, prazer em conhecer. - Marcela não conseguiu responder. — Sabe, você fez bem em partir pra outra. Caras como ele costumam mesmo fazer isso, vão para o interior, pegam uma mocinha desavisada e trazem pra cá, onde estão fora de seus habitats naturais, desprotegidas, e geralmente se submetem a tudo o que eles aprontam. Sei que ele deve ter te contado historinhas sobre mim, que eu o traí e blablabla, mas agora você está vendo quem é o verdadeiro Eduardo. Quer um conselho? Seja como eu, mente aberta.
Jeniffer seguiu em frente e não ouviu Marcela dizer a si mesma:
— Tão mente aberta que deixou o cérebro cair em algum lugar por aí.
Marcela estava cheia de raiva, mágoa e decepção, porém, não tinha privacidade nem ao menos para chorar e desabafar, a não ser no chuveiro, durante o banho. Ariane estava sempre reinando no alojamento, ouvindo rocks perturbadores. Seu escape então passou a ser Rodney, com quem começou a sair quase todos os dias.
Eduardo estava empenhado em descobrir a verdade, porém, ao começar a ver os dois sempre juntos pelo campus, sentiu tamanha indignação e desânimo que tinha dúvidas se continuava sua busca ou não. Era doloroso vê-los se beijando, Rodney parecia querer devorá-la enquanto percorria o corpo esbelto dela com as mãos. A única coisa que Eduardo queria então, era que Julho chegasse logo para poder finalmente se formar.
Naqueles dias, ele começou a ligar os fatos e pensou em toda a trajetória que culminou no fim de seu namoro: o encontro com Giovana no barzinho, a ausência de Marcela lá, a estranha ressaca e o fato de ter ido parar no quarto de Rodney misteriosamente. Era claro que estavam todos juntos contra ele, mas como provar?
Jeniffer estava com Thaís, Giovana e Ariane na lanchonete do campus no horário de almoço e, furioso, ele foi até lá. Chegou diante da mesa em que conversavam animadamente e sua expressão séria as fez ficarem caladas. Apontou um dedo ameaçador para Jennifer e disse:
— Eu sei que tudo isso partiu de você e que todas essas suas subordinadas estão junto, principalmente você, Giovana. Não sei o que pretendiam, mas pode ter certeza de uma coisa, Jeniffer, eu nunca, nunca mais vou ficar com você, nem que fosse a última mulher na face da Terra. Posso até não ficar com a Marcela, mas a verdade vai aparecer, cedo ou tarde.
***
O tempo foi passando e Marcela se sentia suja toda vez que ficava com Rodney. Isso fez com que parasse de ligar para o pai e para Liliane, com o novo celular que havia adquirido com a renda do estágio remunerado, e fez com que não atendesse as ligações deles também. Entretanto, Eduardo contou para Júnior, em uma ligação, tudo o que estava acontecendo.
Certo dia, Rodney chamou Marcela para ir com ele até o estúdio de um amigo seu:
— Estúdio de quê? De música?
— Não. Vou fazer mais uma tatuagem e colocar um piercing no supercílio - disse, enquanto dirigia com ela ao lado, no banco do carona. — Aí, você não disse que queria se parecer mais com a gente, ter um estilo mais descolado? Por que não coloca um piercing e faz uma tatuagem também?
— Ah, não sei... Eu faço Pedagogia, não sei se...
— Nada a ver, gatinha, nada a ver. Acho que está na hora de enterrar essa garotinha medrosa do interior, não está? Ou você ainda se preocupa com a opinião do Eduardo?
Ela tentou disfarçar o incômodo. A simples menção do nome dele a deixava com vontade de chorar, tamanha saudade.
— Quem é Eduardo?
— Rá, gostei de ver! E então? Você quer enterrar esse passado ou não?
— É, tem razão. Chega de ser vista como a medrosa do interior.
***
Ver Marcela com o piercing no supercílio e a tatuagem no pulso foi a gota d'água para Eduardo. Como se não bastasse, ela descoloriu o cabelo e ficou tão loira quanto Jennifer. Ele já estava decepcionado o suficiente, sendo que nem tinha conhecimento da tatuagem nos glúteos. Estava cada vez menos motivado para tentar provar a verdade, sua vontade era deixar pra lá e que Marcela se explodisse junto com Rodney. Assim como ela, também estava magoado e decepcionado.
Julho chegou, Eduardo se formou e apenas os pais participaram de sua cerimônia na universidade. Ele estava livre daquele lugar, enquanto os demais estudantes estavam de férias e mesmo assim, Marcela não quis ir para sua terra natal.
Eduardo estava em casa organizando seu material de estudo e pesquisando sobre a abertura de sua loja de computadores em breve, com a ajuda do pai, que também tinha uma loja no ramo e apoiava que o filho abrisse uma filial. Foi durante essa organização que ele encontrou a carteira que há um ano atrás havia levado para Pracinha e a abriu, encontrando as pétalas e um pozinho seco, que eram os restos da margarida que havia ganhado de Marcela como pedido de desculpas. A saudade daquela garota que já não existia mais bateu forte e a singeleza do presente o fez se lembrar do quanto ela parecia ingênua e doce, doze meses antes.
Foi então que Eduardo lembrou que, há um ano, havia ido a Pracinha respirar novos ares, colocar a cabeça no lugar, e foi quando tudo aconteceu. Agora estava novamente precisando sair daquela confusão e se refugiar um pouco para conseguir pensar na vida. Não havia lugar melhor para ir e então tomou uma decisão: iria visitar os primos no interior.
***
E agora? Será que vai ser bom para o Eduardo visitar o interior?
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