7: Impulsos do Coração 🍉
Eduardo recebeu uma mensagem de Marcela no fim da tarde, dizendo que estaria o esperando por volta das sete da noite no barzinho em frente à republica. Ele estranhou, pois minutos atrás havia a deixado na porta do alojamento e ela não disse nada.
Talvez houvesse resolvido de última hora conhecer o lugar e era melhor mesmo que não fizesse isso sozinha, já que estava cercada por lobos.
Então respondeu positivamente e foi logo se arrumar, pois estava quase na hora. Chegando ao local marcado, sentou diante do balcão para esperar, com certeza ela havia se atrasado, pois para estar ali, bastava atravessar a rua.
Giovana surgiu ao lado dele como um fantasma e o beijou no rosto, deixando-o constrangido pelo tamanho do decote e o tamanho da mini saia.
— Posso sentar aqui? - perguntou, já puxando uma banqueta.
— Estou esperando minha namorada.
— Eu saio assim que ela chegar.
— Bom, então saio eu.
Eduardo fez menção em levantar, quando sem que ele percebesse, Giovana bateu a mão em um copo de suco, derramando propositalmente todo o conteúdo nele.
— Ai, desculpa, desculpa! - pedia, enquanto Eduardo se limpava, em pé, de costas para o balcão. Então voltou-se para o garçom: — Por favor, traz outro suco pra ele.
— Não precisa - Ele ainda passava um guardanapo de papel sobre o jeans da calça, quando o garçom trouxe o pedido e ela rapidamente despejou o pó que trazia no decote no copo de suco.
— Por favor, Du, aceita meu pedido de desculpas e saio daqui e te deixo em paz.
Eduardo arfou, bebeu o suco e sentou-se novamente na banqueta. Então piscou duas vezes, meio atordoado e levou as mãos à cabeça, com vontade de debruçar sobre o balcão.
— Tudo bem? - Giovana perguntou, cinicamente.
— Tudo... só uma tontura.
— Hum, não parece que está tudo bem. Mas espera aí, vou te ajudar. - Ela chamou o garçom e fez o pedido sussurrando no ouvido dele, uma dose dupla de Everclear.
Quando o pedido chegou, Eduardo já estava debruçando sobre o balcão e mal conseguiu saber de onde vinha a voz que lhe disse: — Bebe, isso vai te ajudar.
Ele virou a dose e o transe foi instantâneo. Giovana deixou o dinheiro sobre o balcão e abraçando-o pelo ombro, dizia enquanto o ajudava a se levantar:
— Pobrezinho, vou chamar alguns rapazes para me ajudarem a te tirar daqui.
Enquanto isso, Marcela procurava desesperadamente por seu celular no alojamento, enquanto Ariane lia uma revista tranquilamente, deitada em sua cama.
— Tem certeza que não viu meu celular, Ariane? Foi só o tempo de eu ir tomar um banho e ele desapareceu!
— O problema é que quando você foi tomar banho, eu fui fumar lá fora e esqueci de trancar a porta. Alguém deve ter entrado aqui e pegado, infelizmente é algo comum. Foi mal, coleguinha.
— E agora? Preciso avisar o Du... Me empresta seu celular?
— O meu? Ah, é, é... ele... ele está descarregado, vou colocar pra carregar e mais tarde te empresto.
Ariane estava realmente empenhada em fazer parte do sonhado grupo de Jeniffer e suas amigas, as patricinhas metidas a rockeiras. Para ela não foi trabalho nenhum pegar o celular de Marcela enquanto tomava banho e levar para Jeniffer, que esperava do lado de fora da república e enviou a mensagem para Eduardo se passando pela namorada dele. Thaís, por sua vez, estava a postos para fotografar as poucas e boas que Giovana fez com um Eduardo completamente fora de si.
Mais tarde, Marcela ligou para ele usando o celular de Ariane, mas só chamava, caindo na caixa postal em seguida. Ligou para a casa dele e foi informada pelos pais de que havia saído desde o fim da tarde, o que a preocupou, porém, era melhor deixar para conversar no dia seguinte, que a propósito, era o aniversário de dezoito anos dela.
No dia seguinte, ele não apareceu para a aula da manhã, o celular ainda parecia desligado e os pais também não sabiam de seu paradeiro, passando a ficarem igualmente preocupados. Eduardo chegou em casa por volta de meio dia, com uma dor de cabeça terrível, dizendo que não se lembrava como havia ido parar no alojamento de Rodney, um dos garotos da república que era primo de Jeniffer e já havia sido seu amigo. Ele acordou lá sozinho e, com dificuldade, conseguiu chegar em casa sedento para colocar um fim na dor de cabeça insuportável.
Ligou para a secretaria da república já que Marcela avisou que havia sido roubada e informou que a encontraria no fim da tarde para explicar o que havia acontecido, apesar de também não estar entendendo nada, e acabou esquecendo-se que era aniversário dela, tamanha ressaca e mal estar. Eduardo deixou para falar com Rodney no dia seguinte, em uma tentativa de descobrir o que aconteceu.
No fim da tarde, Marcela saiu correndo do estágio na creche e foi logo para a república se preparar para seu encontro com Eduardo. Tudo aquilo só poderia significar uma coisa: ele estava preparando uma surpresa de aniversário e fingindo que havia esquecido a data, ela pensava com um sorriso no rosto, enquanto atravessava os corredores com livros e cadernos nas mãos.
Ao entrar no alojamento, viu Ariane deitada na cama com fones de ouvido escutando um rock tão alto e violento que ela também podia ouvir de longe. Viu um envelope em sua cama e com seu nome, talvez fosse um presente, sorrindo perguntou a Ariane quem havia deixado lá.
— Eu não sei - Ela respondeu, tirando os fones — Estava na porta quando cheguei, vi que tinha seu nome e coloquei na sua cama.
Marcela abriu com pressa e Ariane ficou assistindo à reação dela, onde o sorriso foi se desfazendo aos poucos e os olhos foram se enchendo de lágrimas volumosas.
— Problemas? - perguntou, sem peso na consciência, sabendo que o que Marcela via eram fotos de seu namorado ficando com Giovana em um alojamento masculino, em uma aparente intimidade que ela jamais havia tido com ele.
Marcela desabou na cama chorando e lançou as fotos no chão, que Ariane simplesmente olhou, dizendo:
— Ah, é isso? Bom, sinto muito, Marcela, mas todo mundo sabe que o Eduardo só te trouxe pra cá pra se divertir um pouco com uma mocinha do interior. - As falas dela já haviam sido bem treinadas por Jeniffer. — Ele ia enjoar cedo ou tarde. Sabe o que eu acho? Que você deveria ir à festa da república hoje comigo, espairecer, conhecer gente nova, tem muita gente aqui super afim de te conhecer, você é famosa. Esquece esse cara.
Dominada pela raiva e cega pelos próprios sentimentos que controlavam seus impulsos, Marcela pensou. Era seu aniversário, talvez devesse comemorar. E se vingar.
***
Quando Eduardo chegou ao alojamento e bateu na porta, não foi atendido por ninguém. Por ser sexta-feira, as festas começavam cedo e todos pareciam estar no salão que ficava nos fundos, no final dos corredores. Mas e Marcela, onde estaria, já que não frequentava aquele ambiente? Ele ficou ali perdido, com o buquê de rosas brancas em mãos e sem saber o que fazer.
Um grupo de rapazes passava neste momento, pelo jeito estavam na festa, haviam saído para buscar mais álcool e estavam retornando.
— Está procurando aquela gatinha que você chama de namorada? Ela é uma perdição, hein, amigão? - disse um deles, cambaleando.
— Cala a boca, pudim de vodca.
Eles se foram gargalhando e Eduardo sentia frio na barriga, como um mal pressentimento. Enquanto isso, Jeniffer, Thaís e Giovana estavam na festa e notaram que Ariane já estava por lá com Marcela. Jeniffer procurou por seu primo Rodney e, ao encontrá-lo, apontou para Marcela, que parecia meio deslocada em meio à bagunça, sentada ao lado de Ariane que bebia, procurando por Jeniffer e as outras com os olhos.
— Agora é a hora da sua recompensa, Rod. Aquela é a garota.
Rodney era bonito e forte, capitão do time de basquete e muito disputado entre as garotas. Ao ver a ingenuidade manifestada na expressão de pavor que Marcela trazia no rosto, considerou que a experiência seria a mais divertida dos últimos tempos.
— Uau, até que ela dá um caldo. Aposto que é zerada, pela carinha dela.
— Tenho quase certeza que sim, vai lá. - Deu dois tapinhas nas costas dele, em incentivo, que partiu para o ataque, ao passo que Ariane veio ao encontro de Jeniffer, dizendo:
— Pronto, agora sou oficialmente do grupo, certo?
— Claro, amiga - respondeu Jeniffer, com cinismo — Vem ficar com a gente, a Gi e a Thaís estão bem ali. Você nunca mais estará sozinha.
Ariane seguiu Jeniffer com um sorriso de orelha a orelha, enquanto Marcela estava em desespero ao se ver sozinha. Porém, foi por pouco tempo, até Rodney aproximar-se e sentar ao seu lado com um olhar cheio de interesse. Ele era o cachorro de rua e ela o frango de padaria.
— Oi, você é a garota que veio do interior, não é?
— S... sou... - Ele era mesmo impressionante aos olhos dela, era bem maior e mais forte que Eduardo, tinha olhos que pareciam um mar paradisíaco.
Rodney começou a puxar papo, tinha lábia suficiente para fazer qualquer garota se soltar em instantes. Enquanto isso, Ariane percebia que talvez não houvesse feito um bom negócio, pois apesar de estar entre Jeniffer, Giovana e Thaís como sempre sonhou, era claramente ignorada nas conversas.
Foi então que Eduardo entrou no local, ainda com o buquê de rosas brancas em mãos, causando curiosidade e risos em muitos por ali. Ele começou a procurar por Marcela entre as pessoas sem prestar atenção nos risinhos e comentários, até que a encontrou sentada lado a lado com Rodney, em uma proximidade que o encheu de ciúmes e furor.
— Marcela! O que está fazendo aqui? E ainda com esse cara?
— Não é da sua conta.
Eduardo foi vaiado, Jeniffer e as amigas comemoravam o sucesso evidente do plano.
— Vem, vamos sair daqui.
— Não, eu não vou.
Ele respirou fundo, procurando a paciência perdida.
— Não vou falar duas vezes, Marcela.
— Nem eu, Eduardo.
— Cara, se manca, vaza! Não ouviu ela dizer que não vai? - Rodney disse com um risinho cheio de malícia.
— Quem tem que se mancar aqui é você, sou o namorado dela!
— Ex namorado, Eduardo. Se você acha que pode fazer comigo o que fizeram com você, se enganou.
— Do que está falando?
— Já aprendi as regras do jogo. Se é para ser assim, que seja.
Então Marcela se voltou para Rodney e o beijou, diante dos olhos de todos. Mesmo ele sendo descolado e experiente ficou impressionado com aquilo. Nem mesmo Jeniffer e as amigas esperavam e não sabiam se ficavam boquiabertas ou gargalhavam. Eduardo sentiu o sangue ferver e arrancou Rodney a força de Marcela para começar a brigar. A confusão generalizada se instaurou no local e as flores já estavam reduzidas a nada. Marcela aproveitou o tumulto e fugiu dali, refugiando-se no alojamento para chorar toda a torrente de lágrimas que lhe restava. Onde estava com a cabeça para fazer aquilo? Mas agora era tarde demais, estava feito.
***
Agir por impulso sempre dá ruim...
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