Primavere-se (Conto curto)
Eu a conheci em um dos piores dias da minha vida, talvez naquele momento eu acreditasse que nenhum dos meus dias tinham sido bons, de fato. Eu poderia dizer que foi o destino, mas eu não acredito nisto. Provavelmente foi a resposta para a primeira oração sincera que fiz.
Era o inverno mais quente que já havia visto na minha vida. Até meu sangue já havia fervido naquela estação. Quando o médico me disse que eu precisaria fazer um tratamento com apenas trinta por cento de chance de dar certo ou teria apenas mais um mês de vida, tudo o que eu conseguia pensar era: "Por que adiar por um mês algo que já acabou há muito tempo"? Órfã, sem irmãos, traída pelo namorado e pela melhor, e única, amiga. Desempregada, feia e magrela. Sem contar o fato de que eu era praticamente uma sem teto, já que preferi não dividir apartamento com a amiga traíra que andou dormindo com meu namorado. Ex!
Era revoltante não ter um lugar bonito para se matar nesta cidade. Nenhuma ponte maravilhosa ou prédio requintado em que eu pudesse subir e dramatizar a minha partida. Eu me apoiei na beira da ponte que considerei mais apropriada para a ocasião e me poupei de escrever uma carta, já que ninguém leria. Considerei se os dez metros seriam o suficiente. Com toda maré de azar que me envolvia provavelmente eu sobreviveria e teria que passar meu ultimo mês no hospital, enfaixada dos pés à cabeça.
— Posso saber o que está pensando em fazer e o porquê faria? — perguntou uma voz bela e envolvente.
Levei o maior susto porque até dois segundos antes não havia ninguém atrás de mim. Era madrugada e aquilo realmente me assustou, o que não deveria acontecer com alguém que queria morrer. Uma mulher muito bonita estava parada me observando. Ela ergueu as sobrancelhas como se aquilo repetisse a pergunta. Suas roupas eram totalmente coloridas e havia flores em seus longos cabelos.
— Estou me preparando para partir, se você pensa em me impedir eu aconselho que chame a polícia — respondi.
— Você quer ir embora? — ela perguntou.
— Mesmo se eu não quiser terei que partir em um mês. Que diferença faz para quem já está na merda? Mas é claro que uma beldade loira de olhos verdes como você nunca entenderia — eu disse com um tom mais amargo.
— Eu também não queria partir, mas tenho apenas um dia de vida. — Ela sorriu.
Por que alguém que vai morrer amanhã abriria um sorriso de orelha a orelha? Essa mulher deve ser doida. – pensei.
— Eu sinto muito — eu disse, mais perguntando do que afirmando. Ela não parecia triste.
— Oh! Não sinta querida flor! Eu esperei por esse dia por muito tempo e finalmente poderei vivê-lo. Estou muito feliz!
Maluca, com certeza era uma doida varrida.
— Mesmo que seja um único dia, torná-lo feliz só depende de mim, não é? — perguntou.
— Pode ser que sim, mas eu nunca consegui ter um único dia de paz ou felicidade. Então, eu sou a culpada? É isso que você quer dizer?
— Não! Você não pode controlar tudo o que acontece com você, assim como eu não posso escolher quantos dias ficar aqui, mas podemos escolher como vamos nos sentir a respeito disso. Eu escolhi aproveitar e ser feliz no meu único dia como ser humano! — ela explicou.
Eu realmente não conseguia entender aquela mulher. Que diabos ela estava dizendo?
— Como você se chama pequena flor? — perguntou.
Concluí que era melhor eu dizer para que ela parasse de me chamar de flor.
— Olívia — respondi.
Eu odiava meu nome. Talvez eu devesse tê-la deixado me chamar de flor por mais tempo.
— E você? — perguntei. Não que eu estivesse realmente interessada em saber, mas por educação.
— Eu sou a Primavera — ela respondeu contente.
Quem é que coloca o nome da filha de Primavera? Achei meio nada a ver, porém guardei pra mim. Olívia não era lá um nome do qual eu pudesse me gabar. Esse nome havia me rendido muitos apelidos.
— Ah! Eu agradeço seus conselhos, Primavera, mas estou decidida! Não acho que você irá conseguir me convencer a não desistir da vida hoje — afirmei confiante por fora e aflita por dentro.
— Seria muito se eu te pedisse para passar pelo menos esse dia comigo? Se no final você realmente tiver que ir, poderemos ir juntas — ela pediu.
......
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