Capítulo 43
– Não quer mesmo um pouco de chá? Ah, OK. OK. Nada de chá. Me disseram que o senhor estava triste. Está? Eu acho que está. Consigo ver seus olhos frios. Está triste, triste, triste... tão triste. Fala do Noah. Ah, agora é minha fala, que idiota. Não, essa é a fala da Marie – passa uma página. – Tudo bem Marília, nós estávamos... Conversando aqui. Fala da Marie. Ora, me desculpe senhor. Não queria invadir. Fala do Noah. Será assim para sempre se não se abrir com ninguém. Fala do Noah. Não é preciso grandes esforços para perceber que sua tristeza é maior que qualquer outra. Perder os pais, as estribeiras, o curso de todas as coisas... O mundo. O... O amor. Isso seria triste para qualquer um... – passa uma página. Para. Olha para o vazio, para a neve, para além da neve. Tão triste... – Fala do Noah. Queria tanto que você pudesse me ouvir. Há tanto tempo estou tentando lhe dizer isso... Senhor... Senhor... Ace. Queria tanto que você pudesse me ouvir. Ouça. Eu sinto tanto... Eu...
Brie fechou o script, lentamente e, calmamente, olhou para cima. Seu pescoço arqueado, transformou-a numa bela obra de arte, pousada entre as árvores. Um pequenino floco caiu sobre seu lábio inferior. Por alguns segundos, Brie parecia não entender o que estava fazendo. No entanto, ela sorriu. Sorriu. Mas, lá no fundo, estava chorando, chorando e chorando. Posso ver seus olhos meio perdidos, posso ver as lágrimas escondendo-se, ameaçando cair.
Com a ponta dos dedos, ela retirou o pequeno floco de sobre os lábios e logo se recompôs.
Seus olhos encararam algo além das árvores, algo invisível aos olhos de nós dois.
– Queria tanto que você soubesse... – ela não lia o script. – Um vampiro – sorriu, chorou; neste ponto, não sei mais o que está fazendo – um falso demônio.
Há uma porção de dor em suas palavras, uma porção robusta o suficiente para tornar difícil o simples pronunciamento das mesmas.
– Pensa Brie – sussurrou baixinho, receosa. – Ele é neve de mais para essa sua pequenina pá. Neve de mais para qualquer pá.
Eu poderia ir até lá... Eu poderia...
– Desista.
As casas se tornaram próximas e as pessoas, ainda mais. Senhorita Mountain calou-se e voltou a andar.
O som oco de seus passos, parece abrir buracos em meus peito.
Ela esta em silêncio, entrementes, posso ouvir algo dentro dela se partindo, algo que eu quebrei.
Ela sumiu, mais uma vez, dentre as paredes de sua casa.
Andei para o quão longe da civilização eu pude ir, mas sem sair da floresta. Todas essas vozes em minha cabeça estão pedindo para que eu volte, estão pedindo para não perder tempo, estão me dizendo o que eu quero fazer mas não posso... Se elas se calassem, ao menos por um minuto, eu poderia pensar direito.
Alinhei-me a uma árvore, seu tronco, mais gélido que o inverno, é uma massa cinza e rugosa que perfura a pele.
A neve está baixa, a noite não é tão fria quanto era duas semanas atrás. As nuvens ainda estão ali, encobrindo as estrelas no vasto céu, mas, estas não são mais escuras.
O inverno está se dissipando. Eu não posso deixar que ele vá, não posso deixar que o sol volte e queime todas as minhas possibilidades.
É preciso confirmar que não estou sendo nada cooperativo. Estou deixando o tempo passar, estou permitindo que ela escorra por entre meus dedos... Ela não pode se esvair assim!
Brie.
Seria mais fácil se ela nunca houvesse aparecido em meu caminho, muito mais fácil se ela não existisse...
Mas ela precisa existir, para que eu continue resistindo a esse impasse entre mim mesmo, ela tem que existir para que tudo o que sou agora sobreviva a esse mundo.
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