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Capítulo 10

Apressei-me quando vi os ponteiros se aproximando das quatro e o dia ia diminuindo a intensidade de sua luz, como uma espécie de termostato. O céu exibindo apenas nuvens, sem lua, sem estrelas. Apenas vazio.

Essa noite ela segurava seu pesado casaco em uma das mãos, arrastando-o pela neve fofa uma vez que o frio não era tão intenso.

O scrip agora tinha ganho uma capa com desenhos que ela mesma fazia no caminho para a casa da criança a qual seria babá, parando e apoiando-se nas árvores e sentando no chão e nos bancos dos quintais das casas mais afastadas. Sujando suas roupas. Murmurando sobre os significados de cada símbolo, apagando e voltando a desenhar outros no lugar, mudando completamente o sentido e a figura. Eram sempre poucos e delicados traços.

Eu mal podia esperar para que ela começasse a falar e sua voz me enchesse de alegria, mais uma vez.

Mas, estranhamente, não houve voz.

Ela estava com o rosto fixo em seus pés, os cabelos todos presos com perfeição em um coque. Não usava gorro, nem punha o capuz de seu gracioso casaco com pedaços de lã. Seu pullover azul-céu-no-verão parece cobrir um pouco mais que só o dorso de suas mãos pálidas: eles escondem também seu tremular.

A observei andar em silêncio. O pequeno ponto azul no meio de todo o branco.

Ela parece triste, tão triste a ponto de eu querer me aproximar, quer dizer, bem mais do que queria antes. Está tão triste que chega a doer. E dói. Forte.

Seus ombros curvados, seu corpo magro e tenso... Por que? O que fizeram à ela? O que ela tem? Doença? Depressão? Tristeza? O que? Por que?

Respostas... É tudo o que eu quero. Mas não as tenho.

Ela suspirou alto e profundamente.

O que ela está fazendo? Ela está... Oh não, não, não! Mountain está chorando.

Mordi o lábio inferior para não tentar voar em direção a ela e fazê-la correr um grande risco enquanto eu a forçava a se abrir para mim.

Abraçando seu próprio corpo com os braços, as mãos subindo e descendo em seus antebraços. Um movimento tão debilmente triste e gracioso...

Eu senti sua lágrima, tão solitária quanto ela, tocar o chão e congelar depois de alguns minutos.

Baixei o rosto.

Por mais que eu quisesse continuar ali, observando a linda humana desconhecida e um pouco louca e deprimida, eu não poderia invadir sua privacidade daquele jeito.

Virei-me, vagarosamente, observando-a uma última vez.

Quando o silêncio se tornou explosivo e mortal, parei. O que estou fazendo? Olhei por sobre o ombro.

A garota não está lá, ela... Sumiu.

Voltei a olhar para onde a senhorita Mountain estava segundos atrás, piscando algumas vezes para assegurar-me de que não era coisa de minha cabeça. Decidi correr silenciosamente um pouco mais para perto, até sentir uma estranha companhia atrás de mim: o cheiro de primavera e chocolate, o coração batendo forte, a respiração ofegante e bêbada pela tristeza, sangue quente, humano, correndo, voando veloz como uma flecha nas tantas veias, medo, tristeza, desconfiança, timidez, mais medo... Ela.

– Por que você está me seguindo?

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