Capítulo Trinta e Seis
Horas depois de deixarem o hotel de vez, a fome apertou o grupo. Kyle então estacionou em uma pequena cidade que possuía um ar do interior. Ao consultar uma espécie de mapa digital no celular de Lucas, Liza concluiu que eles estavam em uma das áreas rurais do país. Como Jasiel parecia prever os passos deles, Ansel havia formulado outra rota mais segura, porém mais demorada.
Cansada de comer comida enlatada, Hikari sugeriu que eles procurassem algum restaurante por ali enquanto Giovora tratava os pontos de Liza. Ansel não parecia interessado no passeio, mas se levantou no momento em que Lucas se ofereceu para acompanhar a jovem. Liza não se surpreendeu com aquilo; desde o início da missão, Ansel nunca tirava seu irmão de vista.
"Por que não vai com eles, hein?" Giovora sugeriu ao ver Kyle parado, franzindo o cenho quando o homem não se moveu. "Seria bom esfriar essa cabeça dura."
Kyle permaneceu imóvel enquanto segurava Thomas. "Não, vou ficar aqui."
Giovora estalou a língua. "Não precisa, pode ir."
"Não quero."
Liza olhava de um adulto para o outro em um dos bancos da parte de trás, sem entender bem a insistência da mulher. Levando a mão até uma das têmporas, Giovora pareceu perder a paciência com aquela discussão.
"Eu vou refazer os pontos dela," Giovora apontou para Liza. "Você quer ver ela sem blusa, é isso?"
Kyle encarou Giovora em silêncio, depois fixou o olhar em uma Liza corada. O silêncio que se formou dentro do veículo apenas serviu para deixar o rosto da jovem ainda mais vermelho. Após alguns intermináveis segundos, o homem desviou o olhar e se virou.
"Não vou estar longe."
Vendo a figura de Kyle se afastar, Liza engoliu em seco. Giovora esperou as vozes se distanciarem para enfim pegar a maleta que continha os materiais necessários para que os pontos fossem refeitos.
"Não se preocupa, a parte de tirar a blusa era brincadeira." Giovora se abaixou na frente de Liza, depois abriu a maleta. "Só queria que esse chato saísse logo, não sai da sua cola."
Liza riu. "Não tenho problema em tirar a blusa, se precisar só me fala."
Giovora ergueu a cabeça para ela, sua sobrancelha esquerda estava erguida. "Você entendeu o que eu te disse aquele dia, não entendeu?"
"Acho que sim."
"Você é uma hetero estranha, então." Quando Giovora notou o olhar questionador de Liza, ela continuou. "Quando alguma garota hetero descobre que eu gosto de mulher, na maior parte das vezes ela começa a ficar estranha comigo. Acha que eu vou me apaixonar ou algo do tipo, é quase padrão."
"Sério?" Liza perguntou enquanto Giovora colocava luvas descartáveis. Apesar de saber sobre a sexualidade da ômega, não havia cogitado em nenhum momento que a mulher tivesse qualquer interesse nela. "Deve ser chato."
"É mesmo." Giovora disse ao se sentar de frente para o banco, prendendo seu cabelo no processo. "O engraçado é que quando a gente realmente gosta da pessoa, ela entende que é só amizade."
Liza se deitou no banco. "Você gosta de alguém?"
Giovora olhou para ela antes de voltar a atenção para os materiais na maleta preta, seus cachos castanhos presos no alto de sua cabeça. "Pode ser."
A resposta dela fez Liza se apoiar no banco para a olhar. "Sério?"
Indicando para que ela se deitasse novamente, Giovora revirou os olhos. "É, mas não se anima, suspeito que ela seja hetero também."
"Como você sabe?"
Giovora ergueu os ombros. "É só um sentimento."
Liza voltou a fechar os olhos enquanto sentia Giovora retirar o que restara dos pontos abertos. "Você deveria conversar com ela sobre isso, abrir o coração. É melhor do que guardar sentimentos e no final não acontecer nada."
"Mas que ótimo conselho, obrigada." O tom de Giovora esbanjava ironia, mas ela continuou focada em sua função. "Por que não aproveita e segue ele, também?"
Sentindo o coração acelerar de repente, Liza engoliu em seco. Sempre que aqueles sentimentos desconhecidos vinham à tona, ela sempre tentava fingir que eles não estavam ali, o que nem sempre funcionava. Sabia que Giovora tinha razão; ela via sim Kyle de um jeito diferente, e por aquela razão se perdia toda vez que encarava aqueles olhos tão indecifráveis.
Sem sequer perceber, ela havia mapeado o rosto de Kyle em sua mente; o maxilar bem definido, as sobrancelhas que pareciam ter sido desenhadas, os lábios quase finos que aparentavam ser macios. Liza fazia o possível para abafar aqueles pensamentos, mas a verdade era que seus dedos ansiavam para tocar os fios negros e brilhosos do cabelo do homem, assim como sua boca ansiava para poder beijar aquela pequena marca escura de nascença que ele tinha no canto esquerdo do queixo, e também um pouco mais acima.
Percebendo o que fazia, Liza corou e cobriu o rosto com as mãos. Tinha receio daqueles sentimentos, mas tinha ainda mais medo que Kyle descobrisse sobre eles. Sabia sobre o passado do homem, sabia o que ele havia perdido. Sabia que amar em tempos de guerra era perigoso.
Giovora, vendo o estado em que Liza se encontrava, suspirou e ergueu os cantos dos lábios. "Escuta, eu conheci o Kyle há quatro anos, quando ele só tinha uns vinte e eu dezessete. Naquela época, mesmo depois de quatro anos após o massacre, ele ainda estava... devastado, eu acho. Não tinha vida nos olhos dele, e ele não se importava com nada além de se vingar."
Liza retirou as mãos do rosto devagar e fitou a ômega, o que a incentivou a continuar. "Depois Althea foi morta, e aquilo só piorou o estado dele. Conviver com as crianças fez bem pra ele, impediram que ele ficasse sozinho, mas ainda assim eu nunca o vi como agora. Ele parece vivo, com outra motivação além de matar. Alguma coisa mudou nele."
"O que mudou?" Liza perguntou, seu coração acelerado.
"Isso você vai ter que perguntar pra ele." Giovora continuou concentrada nos pontos, mas seu tom era sugestivo. "Mas tenho certeza que você sabe muito bem o que mudou."
Ambas ficaram em silêncio após aquilo, e não demorou muito para que Giovora finalizasse os novos pontos. Liza ainda estava pensativa sobre o assunto quando o resto do grupo retornou, todos insatisfeitos com a quantidade de estabelecimentos fechados nas ruas. Ela sentiu o coração voltar a acelerar quando viu Kyle, mas desviou o olhar logo em seguida. O homem pareceu achar a reação dela estranha, mas apenas verificou se ela estava bem com o olhar, colocou Thomas ao lado dela e foi se sentar no banco do motorista.
Hikari entrou no carro e se sentou ao lado de Giovora com uma sacola de papel em mãos. "Achamos esses salgados em um dos mercados, só tem isso aberto. Nem os restaurantes rendem alguma coisa aqui, é assustador."
"Bem diferente da base Hattori, não é?" Giovora sorriu levemente e aceitou a comida quando a outra ofereceu. "Aqui no interior a situação tá bem mais precária mesmo."
Lucas assentiu ao sentar no banco oposto ao delas. "Mas não vai demorar muito para o país todo ficar assim também. Me surpreende que alguns comércios ainda sobrevivam com todos aqueles impostos."
Observando Thomas comer com as duas mãozinhas, Liza soltou o ar pesadamente. Com o controle do governo, Jasiel também havia aumentado os impostos comuns. Mesmo sem qualquer envolvimento com clãs, as pessoas ainda tinham que se submeter a cobranças absurdas, e todo o dinheiro ia para a Alpha. Era aquela a razão dos líderes dos clãs criarem suas próprias bases; os residentes trabalhavam para o clã e recebiam todos a mesma quantia de suprimentos.
"Às vezes esqueço que o país ficou assim, é bem diferente lá em casa."
Liza olhou para Hikari e se perguntou como seria viver na base Hattori, livre de qualquer perigo de Jasi. "A situação vai melhorar quando a gente unir a Tríade e derrubar a Alpha."
"O que nos leva ao próximo alvo." Ansel entrou no veículo e se sentou no banco onde Lucas estava acomodado, mas manteve distância do jovem. "Clã DiCaselle, liderado por Vicenzo Theodore Milani, vinte e cinco anos."
Giovora o mirou. "Shiyo conseguiu as informações?"
Ansel apoiou as costas no banco. "Não, é difícil conseguir qualquer informação deles. Sabemos pouca coisa, mas já dá para termos uma base. Vicenzo assumiu a liderança do clã após a morte do pai, quando ele tinha apenas dezessete anos. O antigo líder, Theodore, morreu na noite do massacre na mansão Hale."
Liza já sabia da última parte; Theodore havia sido uma das vítimas do massacre. Naquela noite, seus pais estavam tentando fazer exatamente o que eles estavam fazendo naquele momento; unir a Tríade. Usami Hattori, na época comandando o clã japonês, também havia perdido a vida no ataque. O clã Noravich fora o único do trio que não perdera o líder, e aquilo só porque Yanek tinha mandado um representante para assinar os papéis em seu lugar.
Hikari também compartilhou seu conhecimento. "O clã ficava em Caselle Torinese, uma província de Turim, na Itália, mas veio para cá faz cerca de oitenta anos, antes mesmo da Alpha ganhar tanto poder."
"Eles tinham uma base sólida, ainda mais dinheiro que a própria Alpha." Ansel continuou, "Mas quando Jasiel praticamente forçou o clã a se aliar a ele, os impostos também vieram."
"Então eles perderam poder por causa da Alpha, igual Shiyo." Liza disse, seu tom esperançoso. "Talvez não seja tão difícil convencer Vicenzo."
"Talvez seja, já que o pai dele morreu no massacre." Lucas não desviou o olhar do celular ao falar, suas feições neutras. "Talvez eles culpem Prevail por isso."
Giovora cruzou os braços. "É, eles não aceitaram qualquer contato com a gente desde o massacre pelo que eu sei."
"Depois que Vicenzo assumiu, ele passou por momentos conturbados. Ele era muito jovem na época, não era nem mesmo maior de idade. Ouvi boatos de que alguém estava tentando tirar a vida dele, mas ele conseguiu sobreviver no final." Hikari substituiu o tom sério por um mais amigável antes de continuar. "Mas ninguém confirmou se isso é verdade ou não. Quem sabe, vai ver ele tem um jeito quieto e por isso não quis interagir com ninguém."
"Faz sentido," Lucas murmurou. "Estragamos a vida dele, mas ele só não nos responde porque é introvertido."
Liza temeu que Hikari se ofendesse com aquilo, mas ao notar o jeito que ela riu, soube que ela já estava acostumada com os comentários debochados de Lucas. Após discutirem mais alguns minutos sobre o clã de origem italiana, eles voltaram para a estrada. Liza passou boa parte da viagem conversando com as meninas, mas às vezes Lucas também participava do diálogo. Ela aprendeu que Hikari era apaixonada por qualquer tipo de arte, mas tinha um carinho imenso pela pintura. Se surpreendeu quando soube que ela tinha 23 anos, pois aparentava ser mais nova.
A jovem também contou sobre a relação boa que tinha com o pai, e que tinha uma irmã pequena. A mãe das duas infelizmente havia falecido no parto da caçula, mas aquilo tinha acontecido há seis anos. O nome da garotinha era Ayano, e Hikari não deixou de pontuar que ela era muito apegada com Ansel. Ambas o consideravam como um irmão mais velho, e ele realmente era um ano mais velho do que Hikari. Shiyo também o considerava como um filho, e a família vivia em harmonia desde que ele tinha sido adotado.
Se lembrando da trágica história da família Lohmann e de como Lenard tratava seus irmãos mais novos, Liza sentiu seu coração se aquecer quando soube que Ansel fora realmente acolhido no clã Hattori. Apesar de toda a rivalidade, ela gostava daquelas pessoas, e algo em seu interior dizia que elas eram confiáveis.
Quando a noite chegou, Kyle decidiu estacionar para que eles conseguissem dormir, pois o caminho que eles tinham tomado para evitar os capangas de Jasi possuía diversos buracos. Ansel desceu da moto e tomou seu lugar no banco do passageiro, mas Liza sabia que ele iria passar a noite acordado, provavelmente. Ela não sabia se o homem ficava de guarda para proteger eles da Alpha ou para vigiar Lucas. Talvez as duas coisas.
As noites no carro eram desconfortáveis, mas suportáveis. Hikari geralmente dormia em um dos bancos de trás com Giovora enquanto Lucas e Liza compartilhavam o outro. Lucas não podia se mover muito por culpa do curativo no pulso, mas ocasionalmente escorava a cabeça no ombro da irmã, como naquele momento. Quando ele se mexeu no banco, porém, Liza acordou, sonolenta. Ela observou a figura do jovem dormindo com Thomas em seu colo, e aquilo a fez sorrir sem que percebesse. Desde o dia anterior, o bebê insistia em grudar em Lucas na hora de dormir.
Liza coçou os olhos e observou o carro iluminado apenas pela luz da lua. Procurou pela figura de Kyle no banco do motorista, mas não encontrou. Ela então se levantou e andou até a frente do carro, encontrando apenas Ansel de olhos fechados e braços cruzados. Sabia que ele não estava dormindo, então tocou levemente o ombro dele.
"Você viu o Kyle?"
Ansel não abriu os olhos para responder. "Saiu faz alguns minutos, disse que ia verificar a área."
Olhando o cenário noturno pelo retrovisor, Liza mordeu o lábio. Não estava preocupada com Kyle; sabia que ele podia muito bem se defender, mas algo dentro dela ansiava para vê-lo naquele momento. O som de uma trava cessando a fez olhar novamente para Ansel, que permanecia no mesmo estado relaxado e ao mesmo tempo observador de antes.
"Vai pelos fundos e segue para a direita. Se encontrar algum perigo, grita."
Liza não perdeu tempo e saiu pelas portas traseiras do veículo, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Seu coração estava acelerado, e as palavras de Giovora estavam fixas em sua mente. Tinha que falar com Kyle, colocar para fora o que estava sentindo. Estaria mentindo se dissesse que não estava com medo da reação do homem, mas, naquele momento, ela estava disposta a correr riscos pelo que sentia.
Seguindo as instruções de Ansel, Liza caminhou um tanto que apressada pelas árvores. Além de seus passos, os únicos sons que ela conseguia ouvir eram os da noite. Adentrando uma parte da floresta em que as árvores não cobriam o céu estrelado, a jovem aproveitou aquele momento para reorganizar seus pensamentos. Não podia apenas jogar o que sentia em Kyle, tinha que encontrar as palavras certas.
Ela despertou de seu devaneio quando sentiu uma mão tocar em seu ombro, se alarmando por poucos segundos antes de perceber que se tratava de Kyle. Ao ver a figura do homem, Liza sentiu aquela mesma sensação familiar de calma e proteção que a invadia quando o via.
"O que você veio fazer aqui?" A voz levemente rouca de Kyle perguntou em um tom baixo, mas suave. "Andar agora deve fazer mal para os seus pontos."
A preocupação de Kyle apenas serviu para fazer o coração de Liza se aquecer e seu sangue correr mais rápido pelas veias. Ela se virou para ele, o rosto erguido e determinado. Iria abrir seu coração, mesmo que não achasse as palavras certas.
"Eu precisava falar com você."
Ele a fitou em silêncio, levantando o rosto para o céu em seguida. Liza seguiu o exemplo, maravilhada pela quantidade vasta de estrelas que os observavam. Ela então voltou a olhar para o homem, admirando os astros pelos olhos dele.
Kyle parecia cogitar alguma coisa enquanto observava o universo, e quando ele desviou o olhar para Liza, ela pôde jurar que suas írises brilharam ainda mais. "Eu também precisava falar com você."
Com o coração ainda mais acelerado, a jovem estava prestes a perguntar o que era, mas um barulho próximo na floresta chamou a atenção dos dois. As feições leves de Kyle se esvaíram, e ele tirou a arma da cintura enquanto varria os arredores com o olhar. Liza esticou o braço e tocou em sua faca, alarmada.
O homem permaneceu alerta ao indicar que Liza voltasse para o carro, seguindo logo atrás. Eles tinham pegado o caminho mais longo e difícil de ser rastreado para evitar capangas de Jasiel, mas aquilo não significava que eles estavam livres de ataques. Após levar Liza até o veículo, Kyle sinalizou que iria dar uma olhada sozinho.
Liza engoliu em seco ao ver ele se afastar, torcendo para que o barulho tivesse sido causado por algum tipo de animal. Quando se virou, porém, descobriu que aquele não tinha sido um caso. Um homem fardado veio por trás do carro a segurou, tapando sua boca antes que ela pudesse gritar por ajuda. Desesperada, Liza tentou se debater, mas o estranho era claramente mais forte do que ela.
"Ei, tá tudo bem." O homem falou baixo, e Liza não reconheceu sua voz. "Escuta, eu não vou te machucar, mas você precisa me ouvir."
Aquilo não acalmou Liza, mas fez com que ela olhasse para o desconhecido. Vendo uma cicatriz que ia da têmpora direita até a bochecha, ela soube que aquele era o capanga que tinha a ajudado na noite anterior. O observando mais de perto, ela notou que ele aparentava ser jovem.
"Vocês não podem ir para a base DiCaselle," o homem alertou. "É uma armadilha."
"Você tem três segundos pra soltar ela."
Notando Kyle logo atrás deles com um olhar ameaçador, Liza conseguiu respirar novamente. Ele segurava uma arma e apontava para a cabeça do capanga, que acabou se surpreendendo com a aparição silenciosa do outro homem. Ansel estava logo ao lado de Kyle, e também possuía uma aura assassina.
"Ei cara, eu não quero machucar ninguém." O estranho se aproximou estrategicamente de Liza, e apesar do tom de voz calmo, era notável que ele estava tenso com a situação.
Ao pressionar Liza contra a lataria do carro, o homem também havia prendido um dos braços da jovem, mas quando ele se moveu, ela se aproveitou daquele momento para pegar sua faca e investir contra ele. Ao ser pego desprevenido e ferido com a lâmina, o capanga gemeu de dor e recuou.
Kyle puxou Liza no segundo seguinte, ainda fuzilando o desconhecido com o olhar. Ansel verificou se o homem estava armado, mas não encontrou nada. Acordadas pelo barulho, as outras três pessoas que estavam no carro se juntaram a eles. Giovora franziu o cenho para a situação, Hikari pareceu ficar surpresa e Lucas, por sua vez, aparentava estar incomodado por terem atrapalhado seu sono.
"Por que você fez isso?" No chão, o estranho levantou o rosto e olhou para Liza, suas feições dolorosas. "Eu disse que não ia te machucar."
Liza ainda estava ofegante pelo susto. "Por que você me prendeu, então?"
O capanga tentou achar uma posição que amenizasse sua dor, sem muito sucesso. "Eu estava tentando te dizer uma coisa!"
Ao perceber que fora Liza quem tinha dado a facada, Giovora pareceu ficar orgulhosa. "Crescem tão rápido."
"Vamos acabar logo com isso." Ansel se aproximou do homem e se abaixou, "Quantos de vocês nos seguiram? Pense bem antes de mentir, posso te mostrar coisas bem piores do que a morte."
"Eu vim sozinho, é sério!" O desconhecido disse, visivelmente assustado. "Meu nome é Damien. É complicado, mas eu estou só infiltrado na Alpha para conseguir informações. Mas isso não importa agora, porque a Alpha tomou conta do clã DiCaselle. Estão de guarda na entrada da base dele, só esperando vocês chegarem."
"E você acha que vamos acreditar em um capanga?" Giovora riu com escárnio. "O clã DiCaselle é conhecido por ser fechado, por que do nada iam permitir que a Alpha tomasse conta dos portões deles?"
"Não sou um capanga." Damien grunhiu, mas suas roupas fardadas diziam o contrário. "E com todo esse poder, o que Jasi não pode fazer? Todo mundo sabe o que ele faz quando não fazem a vontade dele, inclusive o clã DiCaselle. Estou tentando ajudar vocês."
Ansel o analisou em silêncio por alguns segundos, depois se levantou e apontou a arma para ele. "Certo, vou retribuir o favor e só te matar então."
Damien arregalou os olhos, mas Liza segurou o braço de Ansel antes que ele apertasse o gatilho. "Espera, eu conheço ele."
Kyle desviou o olhar gélido para ela. "Como?"
"No porão daquele hotel tinham uns capangas, ele apagou eles pra mim."
Parecendo entender completamente o ocorrido daquela noite, Ansel assentiu. "Tocante. Agora, posso matar ele?"
Liza, por alguma razão, sentia que aquele homem não tinha más intenções. "Ele pode estar falando a verdade."
Kyle franziu o cenho. "É um capanga."
"Ele não parece estar mentindo."
Ansel olhou para Lucas com uma expressão complexa; provavelmente ele também entendia de expressões corporais, mas ainda se negava a acreditar que o capanga era inocente. "Eu voto em matar."
"Eu também." Kyle disse.
Liza cruzou os braços. "Eu voto contra."
"Acho que vale a pena nós verificarmos essa informação," Hikari interveio. "Depois podemos decidir o que fazer com ele, dependendo do que descobrirmos."
Giovora encarou o homem no chão com desgosto no olhar. "Por mim, ele pode morrer agora."
E então todos olharam para Lucas, inclusive Damien. O jovem segurava Thomas, que ainda dormia em um sono profundo, e não parecia muito interessado na situação.
"Eu voto contra."
Damien soltou um suspiro de alívio, mas Ansel se irritou com aquilo. "Você só fez isso pra fazer um empate e causar intriga."
Lucas olhou para Ansel e ergueu os cantos dos lábios com desdém, sem ao menos se defender. Enquanto o grupo voltava a discutir sobre o que fariam com o capanga, a mente de Liza se iluminou.
"Esperem, ele disse que a Alpha está de guarda nos esperando na base DiCaselle. Podemos fazer como a Hikari disse e verificar, é mais seguro." O tom de Liza era sugestivo, "Caso for verdade... temos nosso meio de entrada."
Giovora a olhou. "Como assim?"
Liza indicou a corrente que Damien tinha em seu pescoço. Um cartão com a insígnia da Alpha estava preso ali, e provavelmente continha os dados do homem na corporação mafiosa. E talvez, com sorte, também funcionaria como um passe de entrada. Ao entender o que a irmã estava insinuando, Lucas sorriu sem mostrar os dentes.
"Se eles estão mesmo esperando por nós, vamos até eles." Lucas observou Damien, focando a atenção em suas roupas. "É como diz aquele ditado, se não podemos vencer o inimigo, nos juntamos a ele."
As palavras de Lucas iluminaram os restantes, e todos demonstraram reações complicadas. A pior de todas, porém, foi a de Damien, que ainda estava no chão.
"Eu mudei de ideia, podem me matar."
⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅
[3800 palavras]
eu: se o bloqueio não me pegar atualizo toda semana
narrador: disse ela antes de ser pega pelo bloqueio e não conseguir escrever por semanas seguidas
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