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Capítulo Trinta e Nove

Lídia retornou algumas horas depois. Quando a senhora abriu a porta, Liza esperou pelo pior; homens armados prontos para prendê-los, ou até mesmo o próprio Vicenzo, mas a única coisa que acompanhava a idosa era uma cesta.

Engolindo em seco, a jovem reuniu coragem para questioná-la. "Onde você estava?"

"Na cidade, oras." Lídia respondeu como se fosse óbvio, depois pousou a cesta sobre a mesa. "Tive que comprar algumas coisas antes que os comércios fechassem por causa de toda a comemoração."

"Comemoração?"

Lídia fitou Hikari com um semblante desconfiado. "A véspera do aniversário de Vicenzo, é claro. Vocês por acaso são da ala sudoeste?"

O silêncio no cômodo foi quebrado por um murmúrio de Thomas, que estava no colo de Liza. Lucas, sentado no banco ao lado de Giovora, decidiu se pronunciar pelo grupo.

"Sim, nós somos."

"Ah, isso explica muita coisa." Lídia andou até Kyle e fez ele segurar a cesta, abrindo a geladeira em seguida. "Vocês se vestem estranho e não sabem das coisas, sem contar que se perdem na própria cidade. Tinham que ser de lá."

Liza não sabia o que era a ala sudoeste, mas achou que o disfarce caiu bem. "Não sabia que seria hoje, você pode nos informar onde vai ocorrer essa comemoração?"

"Vocês da ala sudoeste não sabem de nada mesmo." Lídia murmurou enquanto guardava algumas verduras no refrigerador. Kyle encarou a idosa sem qualquer expressão enquanto era usado. "No centro da cidade, é claro. Começa no final da tarde e dura até a madrugada, ou até todo mundo cair bêbado."

Hikari se animou. "Qualquer um pode participar?"

"Portanto que não faça baderna, pode." Lídia observou o grupo com um olhar de julgamento, depois voltou a atenção para as suas compras. "Pode ser bom para vocês, só não façam barulho quando voltarem"

Liza se animou com o evento, pois poderia ser a oportunidade perfeita para abordar Vicenzo. O medo de ele se recusar a ouvi-la, porém, a desencorajava, mas ela precisava tentar. Sentia que o tempo estava acabando, e a aliança do líder do clã DiCaselle era de extrema importância para que o plano funcionasse.

Quando o sol começou a dar indícios de que iria se ausentar, o nervosismo de Liza aumentou, e nem mesmo um banho quente a acalmou por completo. Lídia passou o resto da tarde tricotando, um passatempo que beneficiou o grupo quando o frio da noite se fez presente.

"Essas blusas são adoráveis, Lídia." Hikari disse com um sorriso, seus dedos alisando a malha azul ciano com delicadeza. "Você vende? São tão bem-feitas, aposto que são uma ótima renda."

"São para o meu neto."

A idosa estava sentada em uma poltrona na ampla sala, suas mãos ocupadas com as agulhas de tricô. Usava óculos e tinha um cobertor em seu colo, onde o gato branco repousava.

"Nossa," Liza começou, tocada. "Não precisava ter se incomodado, obrigada."

Lídia olhou para as duas com puro desinteresse. "Não há de quê, essas são as defeituosas, as boas eu dou pra ele."

Hikari encarou Liza, e ambas começaram a procurar discretamente pelas imperfeições nas peças de roupa. Giovora, sentada em um sofá, abafou uma risada ao assistir aquilo. A ômega vestia uma blusa similar, mas em uma cor perolada que destacava o marrom de sua pele.

Os exemplares eram parecidos, mas possuíam detalhes que os diferenciavam uns dos outros, assim como as diferentes colorações. Até mesmo Damien recebera um, e a animação era visível em seu rosto.

"Tem certeza de que não quer vir com a gente?"

A senhora balançou a cabeça ao ouvir a pergunta de Liza, seu foco estava nos fios de lã. "Não gosto dessas badernas, o som é muito alto, dá pra ouvir daqui."

E era verdade. Em completo silêncio, era possível ouvir uma melodia ao longe. Momentos depois, Kyle desceu as escadas e se juntou a eles. Thomas estava no colo do homem, de banho tomado e com os cabelos loiros penteados para trás. Liza sorriu ao olhar para os dois.

"Veja só, ficou bem em você." Lídia analisou o suéter azul marinho que Kyle vestia, seus olhos castanhos mais gentis. "Por sorte meu neto tem um amigo que tem aproximadamente a sua altura, os outros não iam caber."

Quando Ansel apareceu ali, porém, a senhora pegou uma blusa do mesmo modelo das demais, mas esta era consideravelmente maior. O tecido, surpreendentemente, tinha a mesma coloração da lã que Liza vestia.

Lídia sorriu ao estender o presente. "Essa aqui é a sua."

Ansel fitou a peça em silêncio, desviando a atenção para Liza em seguida. Kyle, quase impossível de se ignorar, possuía feições ameaçadoras.

"Não precisa se preocupar comigo, Lídia." Ansel estendeu o sobretudo que ele segurava, seu sorriso era cordial. "Ao contrário deles, eu vim preparado para o frio."

A senhora suspirou em rendição. "Que pena."

Lucas foi o próximo a ficar pronto, e parecia estar sonolento após o banho quente. Ele analisou brevemente os agasalhos ao adentrar a sala, pegando o primeiro que viu. Como de costume, a peça de cor marrom alaranjada lhe serviu perfeitamente.

Giovora e Hikari se levantaram no mesmo minuto, e a ômega se aproximou de Lucas para falar algo. Pela risada baixa que o rapaz deixou escapar, Liza adivinhou que ele tinha sido atualizado sobre a situação que havia acabado de acontecer. Ansel encarou o trio divertido com uma expressão nada contente, mas não hesitou em segui-lo. Damien foi atrás, mas manteve uma distância considerável do loiro.

Liza observou Kyle entregar Thomas para Lídia com receio, e a idosa notou aquilo. Ela aninhou o bebê, que já estava sonolento, diante do olhar dos dois.

"Você não pretende levar ele nesse frio, não é?" Lídia perguntou em um tom quase que severo, mas parecia compreendê-los. "Não precisa se preocupar, ele vai ficar bem. Não é como se existissem mafiosos traficando crianças por aqui."

A fala de Lídia fez Liza engolir em seco, e ela notou que o semblante de Kyle se fechou. Os dois então deixaram a residência e se juntaram com o restante do grupo. O vento gelado da noite que se aproximava fez com que os pelos no corpo de Liza se arrepiassem, mas a blusa confortável a aqueceu.

"Você ouviu o que ela disse?" Liza perguntou em um tom baixo para Kyle, ao lado dela. "É impressão minha ou ela insinuou que não somos daqui?"

Kyle a fitou enquanto caminhava. "Foi o que pareceu. Não podemos baixar a guarda, ela deve saber mais do que demonstra."

Liza estremeceu ao ouvir aquilo, mesmo já desconfiando da senhora há algum tempo. Se ela sabia que não eram residentes, por que ainda não havia entregado eles para Vicenzo? Elizabeth entendeu a frustração de Lucas naquele momento; era impossível dizer o que Lídia estava pensando.

O céu não estava totalmente escuro e, por aquela razão, a caminhada até Cesero foi tranquila. Liza achou que a floresta tinha um ar amigável quando tudo não estava tomado pela escuridão. A música gradualmente foi aumentando, assim como o ritmo das batidas do coração da jovem.

"Não se aproximem muito das pessoas," Ansel avisou, suas feições sérias enquanto ele caminhava. "Elas vivem aqui há muito tempo, vão perceber que nunca nos viram antes."

Lucas bocejou. "A festa nem começou e você já quer estragar."

Hikari ignorou o olhar severo que o irmão direcionou para Lucas e soltou uma risada alegre. "É uma cidade bem grande, é difícil dizer se todo mundo realmente se conhece."

"Só precisamos achar Vicenzo, de qualquer maneira." Giovora disse ao ajustar algo em sua cintura, provavelmente uma arma. "Quanto mais cedo conseguirmos, mais cedo poderemos voltar."

"Deveríamos aproveitar."

As palavras de Damien atraíram a atenção de todos ali. O homem arregalou os olhos ao notar aquilo, claramente arrependido por ter se pronunciado.

"Por que ele veio?"

"Boa pergunta, Kyle." Giovora tinha um sorriso irônico estampado em seu rosto, seus cachos estavam presos em um coque. "Mas a mãe do seu filho insistiu que não era recomendado deixar um capanga da Alpha solto em território desconhecido."

Liza se segurou para não revirar os olhos, mas sentiu as bochechas esquentarem. "Não podíamos deixar ele lá, Lídia iria fazer perguntas."

"Podemos deixar ele por aqui."

O tom sério de Ansel fez Liza franzir o cenho. "Ele vai acabar congelando."

Ansel inclinou parcialmente a cabeça na direção dela, mas aquilo foi o suficiente para a jovem perceber os lábios ligeiramente curvados do loiro.

"Não acho que ele vá sentir frio debaixo da terra."

Damien quase tropeçou nos próprios pés ao ouvir aquilo, totalmente amedrontado. Giovora, por outro lado, soltou uma gargalhada divertida.

"Droga, não acredito que estou começando a gostar de você, Lohmann." A ômega respirou fundo ao se recompor, soltando um longo suspiro. "Certo, vamos entrar, achar Vicenzo e sair. Sem distrações."

Mas quando as fileiras de árvores finalmente acabaram, a vista da cidade foi uma bela distração para Liza. De perto, as luzes amareladas conseguiam ser mais cativantes. A melodia chamativa estava mais alta, mas eles ainda não haviam chegado na fonte; onde Vicenzo provavelmente estaria.

As ruas estavam consideravelmente desertas; todos deveriam estar no local da celebração. Depois de uma caminhada considerável, eles conseguiram avistar a festa de longe. O grupo então decidiu se separar em duplas para evitar chamar atenção, e Liza adentrou o território desconhecido com Lucas.

Liza manteve a cabeça baixa, mas logo descobriu que as pessoas estavam muito animadas ou distraídas para notarem a presença deles. Não demorou para um misto de cheiros agradáveis fazer o estômago da jovem roncar, atraindo seu olhar para um amontoado de barracas decoradas.

"Vamos ver o que eles têm." Notando o olhar desaprovador de Liza, Lucas piscou de maneira inocente. "O quê? É para conseguirmos informações."

"E se elas perceberem que não somos daqui?"

"Então nós as convencemos de que somos os vizinhos que moram na esquina."

Liza apenas balançou a cabeça com um ar de rendição, se aproximando de uma das tendas. A visão tentadora de algumas pizzas dentro de uma vitrine impediu a jovem de notar uma pequena criança distraída vindo em sua direção. A menina recuou alguns passos após a colisão, piscando os olhos esverdeados, mas não demorou muito para ela se recompor e voltar a correr.

"Elena!" Uma voz desconhecida chamou, e uma mulher apareceu na frente de Liza. "Céus, perdoe minha filha, moça. Ela ficou a semana inteira ansiosa para acender essas estrelas."

Observando a outra, Liza notou que ela possuía olhos castanhos escuros, assim como o cabelo. A pele tinha um tom um pouco mais claro, que era levemente rosado. Ela aparentava ser jovem, e seus cachos crespos estavam presos em um penteado acima de sua cabeça.

Intrigada, Liza desviou o olhar para Elena, que se encontrava rodeada de amigos que aparentavam ter mesma idade que a dela. A menina balançava uma espécie de palito que soltava farpas brancas, sorrindo como se aquele fosse o melhor dia de sua vida. Ao ver a cena, os olhos de Elizabeth se iluminaram; ela nunca havia visto nada parecido com aquilo.

"Crianças, não é mesmo?" Lucas disse de maneira solidária ao seguir a estranha até a tenda, seu sorriso era acolhedor. "Não precisa se desculpar, acontece."

"Acendemos essas velas só quando bate meia-noite, vocês sabem da tradição. Mas esse é o primeiro ano em que deixamos a Elena acender, ela era muito pequena antes."

Lucas sorriu. "É mesmo? Quantos anos ela tem?"

"Ela acabou de fazer seis, acredita? Parece que foi ontem que nasceu, o tempo passa rápido." A mulher sorriu levemente ao observar a filha brincando ao longe, mas depois observou Lucas. "E você, tem filhos?"

"Ah, não. Mas, para a minha sorte, minha irmã me deu quatro sobrinhos."

Liza semicerrou os olhos quase que imperceptivelmente para Lucas, mas notou que ele tinha um brilho de afeição nos olhos ao mencionar as crianças, e aquilo aqueceu o coração dela. De repente, outra pessoa surgiu atrás do balcão improvisado.

"Elena já saiu?" A figura alta tinha o cabelo loiro escuro cortado na altura dos ombros, e seus olhos possuíam uma cor verde acinzentada. "Por que você não pediu para ela me esperar, Alice?"

"E por acaso alguém seria capaz de impedir aquele foguete humano?" Alice questionou com um sorriso, mas em seguida pareceu se lembrar de algo. "Nossa, quase me esqueço de perguntar qual sabor vocês vão querer."

"O quê?" Liza arregalou os olhos, acanhada. "Eu não..."

"Eu vi você olhando pra elas, escolhe um sabor. Você é a nossa primeira cliente, aceite como um presente."

Sentindo o rosto corar, Liza comprimiu os lábios. Ela se lembrou da última vez em que havia se deliciado com a iguaria italiana, alguns dias antes do massacre. Seus pais pareciam cansados, mas estavam felizes. Ian ainda vestia o uniforme da escola, e Lucas observava com uma careta Oliver ajudar Benjamin a se servir com uma fatia de seu sabor favorito.

"Brócolis."

"Boa escolha, mas não acho que tenho aqui." Alice se virou para a mulher loira, que sinalizou que iria buscar. "E o rapaz, vai querer qual?"

Lucas estava encarando a irmã. "Pode trazer a mesma coisa."

Alice então se dirigiu para os fundos, provavelmente indo avisar a companheira. Elizabeth suspirou e focalizou a visão na praça decorada onde a maioria das pessoas estavam reunidas, distraída com a festividade ao mesmo tempo em que procurava pelo restante do grupo.

"Eu faço isso com o chá." A fala de Lucas atraiu a atenção de Liza, e ela virou o rosto para fitar o jovem. "Penso nele quando eu bebo chá com Shiyo. Imito o jeito que ele inspirava o aroma devagar, como se aquele fosse o cheiro mais agradável do mundo. O gosto não deixa de ser horrível, ainda mais sem açúcar, mas fica mais aceitável quando faço isso."

Liza sentiu um aperto na garganta, mas um sorriso melancólico tomou forma em seus lábios. "Pensei que você fingia que gostava pra irritar o Ansel."

"Uma coisa não impede a outra, claro." Lucas disse ao erguer as sobrancelhas, depois fechou os olhos. "Mas eu sempre penso nele quando bebo, e depois de um tempo se tornou algo como um ritual."

Apesar das personalidades opostas, Liza sabia que Lucas e Benjamin eram apegados no passado. Eles tinham a mesma idade e, apesar de serem diferentes em quase tudo — com a exceção da aparência —, nunca ficavam muito tempo longe um do outro.

"Você lembra que ele fazia o suficiente pra todo mundo?"

"Lembro. Papai e Ian sempre bebiam tudo para ele não ficar triste."

Liza riu. "É verdade. Me arrependo de não ter bebido enquanto podia."

"Você ainda pode beber, tem uma nova família agora." Lucas disse ao se apoiar em uma das vitrines, e se divertiu com a expressão que tirou da irmã. "O quê? É sério que ainda não percebeu que você foi adotada?"

"Não é bem assim..." Liza começou, seu coração acelerado. "Quero dizer, não sei o que vai acontecer quando tudo isso acabar, quando não existir mais um plano."

Lucas ergueu os cantos dos lábios preguiçosamente. "Elizabeth, acha mesmo que consegue ficar longe deles depois de tudo isso? Acha que eles querem ficar longe de você?"

Antes que Liza pudesse formular uma resposta, Alice voltou com o pedido deles. "Ainda não tivemos tempo de montar as mesas, nos desculpem por isso,"

"Não tem problema," Liza disse ao pegar o prato que lhe foi entregue. "Pelo visto a festa acabou de começar, não é?"

Alice observou a outra mulher colocar algumas cadeiras em frente a tenda, depois as mesas. ""Sim, ainda vai chegar mais gente, vocês realmente foram os primeiros."

Liza ergueu as sobrancelhas enquanto mordia sua fatia e tentava não fazer uma careta, notando que Lucas comia sem qualquer expressão. Naquele momento, ela entendeu a indignação de Ansel quando via seu irmão bebendo chá com um sorriso.

"Está uma delícia, pretende ficar aqui até o final?"

A pergunta de Lucas fez Alice ponderar. "Depende da Monica, na verdade. Mas provavelmente sim, Elena não vai querer voltar antes de acender as estrelas."

"Ela deve estar animada para ver Vicenzo."

Alice encarou Liza com surpresa. "Ele vai aparecer dessa vez?"

Liza trocou um olhar com Lucas, que rapidamente foi ao auxílio da irmã. "Ouvimos alguns boatos, mas nada certo. Nossos vizinhos são fofoqueiros, de qualquer jeito. Sempre estão inventando coisas."

"Sei bem como é, mas duvido que Vicenzo apareça. Ninguém sabe onde ele passa a véspera do aniversário, ele geralmente só dá as caras mesmo no baile amanhã"

"Ouvi sobre isso," Lucas mentiu ao devolver o prato vazio para Alice. "Daria tudo para participar, parece bem elegante."

"Não parece, é!" A outra mulher, que Liza presumiu ser Monica, se juntou a eles. "Por isso só as famílias importantes participam."

"Pobre Vicenzo, tendo que entreter aquela gente fresca a noite toda."

"Não deve ser tão ruim, ele adora festas." Monica disse ao envolver a outra com os braços, a expressão em seu rosto era divertida. "Você fala isso, mas sei que adoraria participar também."

Alice corou ao ouvir aquilo, mas se escorou na loira. "É só uma formalidade cheia de extravagâncias. E eu já achei uma princesa, não preciso de baile nenhum."

Liza sorriu sem perceber ao observar as duas, mas não deixou de analisar as informações. Achou interessante descobrir a hierarquia própria de Cesero; o modo em que tratavam Vicenzo, que estava no topo, com afeição. Ela não estava acostumada com pessoas que gostavam de seus líderes, nem mesmo sabia que aquilo era possível.

Após acabar de comer e se despedir das mulheres, os dois irmãos voltaram a andar. O céu já estava escuro, e nele diversos pontos distantes e iluminados brilhavam com graciosidade. Liza suspirou audivelmente, decepcionada.

"Não foi uma perda de tempo vir aqui," Lucas disse ao perceber o desânimo da jovem. "Pelo menos conseguimos informações sobre onde Vicenzo vai estar amanhã."

"Em um baile impossível de se entrar."

"Estamos em uma cidade teoricamente impossível de se entrar."

Liza olhou para o irmão, e logo foi contagiada pelo sorriso astucioso deste. Eles tinham entrado em Cesero, a cidade protegida, o que seria invadir um baile da alta sociedade em comparação àquilo?

Minutos depois, ambos viram Hikari acenando de longe para eles. Ela estava sentada em algumas cadeiras perto de outras tendas, e parecia mais animada que o usual. Liza logo descobriu o motivo; algumas garrafas de bebida estavam sobre a mesa.

Giovora sorriu quando eles se aproximaram. "Vicenzo não vem."

"Nós ficamos sabendo." Liza disse ao se sentar com eles, notando Damien um pouco mais afastado. "Mas vocês não parecem tristes com a notícia."

Hikari riu. "Estávamos procurando vocês quando nos chamaram para sentar, as pessoas aqui são bem simpáticas, e por alguma razão não nos reconhecem."

"Para elas, a possibilidade de um estranho entrar aqui é nula." Lucas explicou enquanto se acomodava e pegava uma bebida para si, despreocupado. "Então se convencem de que já nos viram antes."

"Ou vai ver estão bêbadas demais."

A fala de Giovora fez Hikari rir, e Liza notou que Damien bebia em silêncio, mas a observava. Ela franziu o cenho e olhou em volta procurando por Kyle, mas apenas encontrou Ansel encarando-os ao longe, escorado de braços cruzados em uma coluna de uma casa. Pensativa, Liza se levantou e andou até ele.

"O que está achando?" Liza perguntou ao subir alguns degraus e se escorar nas grades de uma varanda. "É muito diferente da base Hattori?"

"É estranho, na verdade." Ansel murmurou ao estudar o ambiente, e Liza percebeu algumas pessoas dançando no centro da praça. "Quero dizer, não vivemos infelizes, mas sempre estamos alertas. Jasiel pode decidir a qualquer minuto que somos traidores, e sabemos bem o que acontece depois. Mas aqui ninguém precisa temer isso, é como se..."

"Como se eles fossem livres."

Ansel fitou a jovem. "Exatamente."

"É loucura acreditar que podemos ser assim algum dia?"

Os olhos avelãs de Ansel pousaram em Liza por alguns segundos, sua expressão indecifrável. Ele estava vestindo seu característico sobretudo preto, e a roupa lhe dava um ar misterioso.

"Você é um belo dilema, Elizabeth Hale."

Liza ergueu as sobrancelhas ao retribuir o olhar. "Como assim?"

"Você me faz querer confiar em você, por alguma razão."

"E por que você não confiaria em mim?" Liza indagou.

"Porque você é uma Jeong."

Ansel focalizou a visão em Lucas, ainda bebendo com os outros. Percebendo que estava sendo observado, o rapaz retribuiu o olhar e levantou os cantos dos lábios de maneira despreocupada, e aquilo fez o loiro trincar o maxilar.

Liza assistiu a interação dos dois. "Eu sei que pode não parecer, mas ele é confiável. E você não precisa confiar nele, Lucas só faz parte do plano."

"Esse é o problema, o plano é como um jogo de xadrez. Somos todos peões, alguns mais importantes do que outros, mas todos estamos atrás de um único objetivo. Mas não são os peões que controlam o tabuleiro, e sim quem está jogando."

A jovem refletiu sobre aquilo com feições enigmáticas. "Você não confia em Prevail, e o sentimento é recíproco, mas aqui, agora, não estamos todos no mesmo barco?"

"Isso é o que você diz, Jeong." O homem disse em um tom firme, mas suspirou em rendição ao ver o semblante confuso de Elizabeth. "Já estou me arrependendo de tomar essa decisão."

"Espera," Liza deixou de se escorar nas grades, suas feições incrédulas. "Você realmente não confiava na gente até agora?"

Ansel achou graça na reação dela. "Por que achou que eu não dormia e ficava vigiando?"

"Pra ficar de olho no Lucas, é claro!"

"Não só nele, quem me garantiria que isso tudo não era Prevail tentando cair nas graças da Alpha nos entregando como traidores?" Ansel esboçou uma leve careta ao notar os olhos arregalados da outra. "O que foi? Tenho mais do que motivos para desconfiar."

"Mas você me salvou dos capangas naquele dia na pousada, como pensou que eu podia estar envolvida com eles?!"

Ansel repousou a cabeça sobre a coluna. "Sim, eu vi você entrando naquele lugar suspeito e te segui. Pensei que minhas suspeitas estavam corretas quando os dois capangas apareceram, mas aí aqueles vermes te atacaram."

"E isso não foi o suficiente pra você acreditar que eu era inocente?!"

"Em teoria sim, mas você poderia ter armado tudo para me manipular a confiar em você. E não me olhe assim, você pediu para eu não matar o capanga, isso foi suspeito."

Liza estava abismada demais para explicar que sua consciência normal dizia que matar era errado. "Não acredito que você achou isso por tanto tempo."

"Se te consola, infelizmente não penso mais do mesmo jeito. Eu já paguei o preço de uma vida por confiar em quem não devia, espero não me arrepender dessa vez."

"Não vai, mas você está errado em outra coisa." Quando o homem ergueu levemente o queixo, Liza continuou. "Você falou como se os jogadores não precisassem dos peões para vencer a partida, mas não há um jogo sem nós."

Ansel ponderou sobre aquilo, depois estudou Elizabeth com o olhar por um tempo. "Há rumores de que ninguém é capaz de enganar um Jeong, espero estar do lado certo."

"Esse rumor está errado, lamento dizer." Liza curvou os cantos dos lábios quando sentiu o olhar do outro sobre ela. "Um Jeong pode enganar outro Jeong. Lucas já me enganou várias vezes."

"Ele é bom nisso." Ansel murmurou, depois voltou a encarar Lucas, que parecia estar se divertindo com a história que Hikari estava contando. "Vou confiar em vocês."

Liza observou o grupo de pessoas ao longe por um momento, notando novamente a ausência de Kyle. Quando ela virou o rosto e notou a expressão distraída e relaxada que Ansel tinha ao fitar Lucas, teve a certeza de que o homem não estava sendo enganado por ninguém além de si mesmo.

⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅

O clima estava gelado, mas aquilo não impedia as pessoas de continuarem dançando na praça central. Enquanto andava pela celebração, Liza não deixou de notar os sorrisos espontâneos, as risadas e o brilho no olhar dos residentes; eles estavam felizes, e aquilo era um tanto raro de se presenciar na realidade da jovem.

O local estava decorado com diversas luzes douradas; ao redor das árvores ou penduradas em telhados, elas traziam uma sensação mística, e Liza se pegou observando a beleza do local. Ainda estava vidrada quando sentiu uma mão tocar em seu ombro, mas ao ver as feições familiares de Kyle, ela sorriu.

"Onde você estava?"

"Só averiguando a situação, mas os únicos homens de Vicenzo que avistei não parecem estar nos procurando, por alguma razão. Só estão monitorando a festa."

Liza assentiu devagar. "Bem, é uma celebração. Não acho que eles queiram alertar os residentes, parece ser uma data importante."

"Onde estão os outros?"

Voltando os olhos para a mesa onde todos anteriormente estavam reunidos, Liza não encontrou ninguém. Até mesmo Ansel tinha desaparecido, e ela agradeceu internamente por pelo menos uma pessoa sóbria estar acompanhando o grupo.

"É uma boa pergunta, mas sinto que não quero saber."

Liza avistou ao longe crianças correndo com as velas estrelas, seus olhos voltando a brilhar por um momento. Quando ela voltou a atenção para Kyle, porém, viu que as íris azuladas estavam fixadas nela. Sentindo o rosto esquentar, ela se virou virou o rosto para algumas barracas e chamou o homem.

Restaurantes e lanchonetes foram ficando cada vez mais raros conforme o passar dos anos; a economia do país apenas decaía, e as pessoas procuravam economizar o máximo que podiam. Ao ver tantas iguarias diferentes e apetitosas, Liza não hesitou em querer provar todas por pura curiosidade. Kyle a acompanhou, e esboçava microexpressões ao experimentar os alimentos.

Ao longe, algumas pessoas em pequenos prédios assistiam o espetáculo de suas respectivas casas. Liza notou que a maioria das varandas estavam decoradas com as mesmas luzes douradas temáticas da festa, que a faziam recordar a decoração que sua família utilizava para enfeitar a casa quando o Natal se aproximava.

Distraída, Liza se assustou quando um dos residentes a puxou pela mão, a guiando para o centro da praça. Ela segurou o braço de Kyle como reflexo, mas acabou levando-o consigo. Por um momento, ela pensou que eles haviam sido descobertos, mas percebeu que os desconhecidos estavam os chamando para dançar, e assistiam eles com expectativa.

A melodia que um grupo de músicos produzia em um dos cantos da praça era aconchegante. Liza se virou para Kyle, já pronta para ter o pedido rejeitado, mas se surpreendeu ao ver uma mão estendida na direção dela. Ao levantar o rosto, Elizabeth notou que a expressão do homem era serena, mas ganhou sinais de divertimento ao perceber a surpresa dela.

Liza comprimiu os lábios ao envolver a palma do outro com os dedos, seu coração palpitando. As pessoas em volta soltaram gritos animados ao verem a cena, mais do que animados, o que fez as bochechas da jovem ficarem ainda mais vermelhas.

"Não sabia que você dançava."

"Eu não danço," Kyle murmurou ao franzir levemente o cenho e segurar a cintura dela. "Mas pelo visto todo mundo aqui dança, temos que seguir o papel."

O toque fez Liza se arrepiar por inteiro, e ela desviou o olhar. "É verdade. Mas não é difícil, só precisa entrar em sincronia com a música e os passos, e depois flui."

Kyle não parecia estar muito convencido daquilo, e Liza notou que seus ombros estavam tensos quando pousou as mãos neles. Se alguém tivesse dito, meses atrás, que os dois estariam dançando na praça da cidade mais reclusa do país, ela nunca teria acreditado.

"É só isso?"

Liza soltou uma risada baixa ao notar a expressão confusa de Kyle, como se ele tivesse acabado de desvendar um mistério. "Viu? Não é um bicho de sete cabeças."

Quando o homem a fitou, Liza retribuiu o gesto com um olhar complexo. Sabia que ele raramente relaxava, tampouco ela, e por aquela razão não tinha chegado a conhecer aquela versão de Kyle; a versão que não estava o tempo todo alerta, que podia se permitir esquecer a vingança que tanto desejava por um momento. Ela desejou poder ver mais aquele lado.

"Eu nunca pensei que um lugar assim pudesse existir nesse país," Liza disse após algum tempo. "Não deixo de pensar em como as crianças iam gostar daqui."

A expressão de Kyle suavizou. "Pensei nelas também. Aqui seria um bom lugar para elas crescerem. Não teriam medo de andar pelas ruas, e vi algumas escolas enquanto caminhava mais cedo."

"Lorenzo amaria ir pra escola."

Kyle foi contagiado pelo leve sorriso afetuoso de Liza, e aquilo fez com que o coração da jovem palpitasse com força. Ela desejou poder parar o tempo para emoldurar o sorriso do outro, tão raro de se ver. Queria que sua realidade fosse aquela; cercada de muros, protegida de Jasiel e de sua corporação.

Mas ela sabia que aquilo não duraria muito; queria conseguir o apoio de Vicenzo, mas se conseguissem, o plano estaria quase completo. Não gostava de ponderar sobre aquilo, mas o futuro a assustava. Ela não queria se separar de Kyle e das crianças, mas não haveria mais nada os ligando depois daquilo.

Liza retomou os sentidos quando a música parou, e tudo ficou em silêncio. Ao longe, um grande relógio analógico marcava a meia-noite, e as pessoas em sua volta começaram a comemorar, animadas. Quando ela voltou o rosto para Kyle, notou que ele segurava dois palitos escuros, e seus olhos logo se iluminaram.

Um desconhecido se aproximou e se ofereceu para ajudá-los, acendendo os objetos. Olhando em volta, Liza se emocionou com a visão mágica de tantas luzes na multidão, com a alegria daquelas pessoas. Sua vela então começou a brilhar, e a jovem observou as faíscas com um olhar vidrado.

Porém, quando ela observou o homem que estava à sua frente, se deu conta de que aquela visão a encantava mais. Não era seu aniversário, mas Liza ainda assim fez um desejo antes que a vela se apagasse.

⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅

[5000 palavras]

estou culpando o atraso na minha incapacidade de escrever capítulos sem desgraça, e pra piorar é o maior capítulo que já escrevi nesse livro, nunca passei por tanto sufoco na minha vida. eu tô revisando tudo ainda, mas vou tentar atualizar o mais rápido possível, dois personagens que eu AMO demais estão prestes a aparecer 💖

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