Capítulo Nove
Noite do massacre
[⚠ GATILHO: violência ⚠]
Elizabeth estava agarrada ao pescoço de Benjamin como se nada mais importasse, mas levantou o rosto quando notou que seu irmão havia parado de correr. E então ela também ouviu os passos.
O som não estava perto, mas também não estava longe. Benjamin adorava assistir documentários sobre o reino animal, por isso estava ciente de que, no escuro, predadores localizavam a presa pela audição. Os dois irmãos se encararam na escuridão, a respiração de ambos silenciosa. De repente, os passos também cessaram. Benjamin segurou Liza com mais firmeza, recuando devagar e tentando fazer o mínimo de barulho possível.
Quando o desconhecido voltou a se fazer presente, seus passos estavam mais frenéticos, como se ele soubesse em qual direção estava seu objetivo. Ben se virou, correndo o mais rápido que podia na direção oposta ao som, mas mesmo dando o seu máximo, o garoto começou a perder velocidade após algum tempo; levava uma vida um tanto sedentária e, apesar de Liza ser tão leve quanto uma pena, ela estava começando a pesar. Não demoraria muito para que eles fossem alcançados.
"Liz," Benjamin parou de correr e colocou a menina no chão, ofegante. "Por favor, fique aqui, e não faça barulho."
Elizabeth mal conseguiu ficar de pé. Ela cambaleou e se segurou em uma parede úmida, sem voz. Recuperando o equilíbrio, ela cambaleou para perto do irmão, se segurando em suas roupas. Ben estava nervoso, precisava fazer Liza atravessar aquele túnel.
"Escuta, você precisa ficar quieta." O garoto se desvencilhou da mais nova, que voltou a se apoiar na parede do local. "Quando tudo ficar em silêncio, precisa continuar correndo."
A garotinha agarrou o braço dele, tremendo como nunca. Aquilo parecia uma despedida. Por que Benjamin estava a deixando também?
Ele olhou a menina como se quisesse falar alguma coisa, mas ambos sabiam que Benjamin Hale se expressava por gestos. Então ele lentamente encostou a testa na da irmã, como de costume. Eles ficaram daquela maneira por um momento, apenas ouvindo a respiração um do outro.
Ao notar que as passadas estavam ficando perigosamente próximas, Ben se afastou de Liza e saiu correndo. A menina engoliu em seco ao ver com dificuldade o irmão sumir em uma das passagens do túnel. Seus passos eram altos, como se ele quisesse chamar a atenção de quem quer que estivesse os perseguindo. O coração de Elizabeth estava disparado. Não deixaria Benjamin para trás, mesmo que ele implorasse.
Ela tateou as paredes tentando achar a direção em que o garoto havia ido, quase caindo no processo. Mal tinha saído do lugar quando uma mão vinda de trás a segurou pelo braço. Liza virou o rosto e avistou uma silhueta familiar na escuridão.
"Ben?"
O menino não respondeu, apenas a pegou no colo e voltou a correr como se nada tivesse acontecido. Elizabeth abriu a boca para perguntar como ele havia escapado, mas sua fala foi interrompida por um disparo ao longe. Seu irmão pareceu hesitar por um minuto, como se quisesse dar meia volta e ver o que tinha acontecido, mas logo voltou a correr quando ouviu passos apressados vindo atrás deles.
O ambiente ficou um pouco mais claro conforme eles se aproximavam da abertura. Quando estavam quase alcançando-a, outro tiro soou no ar, dessa vez mais perto. Em seguida, os dois caíram no chão, e Liza ouviu Benjamin murmurar de dor ao seu lado.
Liza se arrastou para o irmão em um piscar de olhos, cheia de preocupação. Benjamin estava agarrado ao pé esquerdo e soltava grunhidos doloridos quando tentava se mover. O cheiro de sangue se misturou com a umidade do túnel, e Elizabeth começou a tremer novamente, apavorada.
"Desculpem o transtorno, crianças." Uma voz grossa veio de cima, e Liza se assustou ao olhar para o homem alto que estava parado na frente deles. "Mas brincar de gato e rato uma hora cansa, vocês não acham?"
A menina se segurou em Benjamin com força conforme o estranho se aproximava. Seu irmão parecia não saber lidar com a dor que estava sentindo, e não ser capaz de fazer aquilo parar deixava a menina ainda pior.
Os passos lentos do perseguidor ecoavam pelo túnel com certa convicção, como um predador quando sabia que a presa já estava abatida.
"Eu sinto até pena," ele começou, parando na frente dos irmãos. "Se a mãe de vocês não fosse uma vagabunda, quem sabe... Talvez essa situação toda poderia ter sido evitada."
De repente, Liza sentiu dedos nada delicados agarrarem seu cabelo, e a menina foi levantada à força. Um clarão fez com que Liza fechasse os olhos para os proteger, a impedindo de ver o rosto da figura alta.
"O pai também não fica atrás no quesito de traição, vocês não acham?" O homem usou a outra mão para segurar o rosto da criança, a analisando com cautela. "Pessoalmente, você parece ainda mais com aquele merda, Elizabeth. Isso me dá vontade de te matar, sabia?"
Liza abriu os olhos, relutante. Ben tentou puxar a irmã de volta, mas um chute forte no pé machucado o fez recuar novamente. Ao ouvir o irmão murmurar com dor, uma fúria preencheu o peito da garota, e ela mordeu a mão que a segurava com tanta força que seus dentes doeram. O homem cambaleou para trás tentando se soltar, cuspindo diversos xingamentos no processo. Após alguns chutes, ele finalmente conseguiu empurrá-la para trás.
"Sua filha da..." O estranho estava ofegante, sua voz exalava ódio. "Tudo isso para proteger o irmãozinho? Ele não vai durar muito."
Mesmo tonta e com dor, Liza entendeu o que o homem estava querendo dizer, e prontamente se jogou sobre Benjamin quando a arma foi apontada para ele. Ele grunhiu com dor, mas ainda assim tentou virar a menina para protegê-la. Elizabeth, por sua vez, não cedeu, usando toda a energia que lhe restava para ficar por cima do outro.
Após observar o conflito por alguns segundos, o estranho focou a luz da lanterna no garoto, e ficou surpreso com o que viu.
"Espera, eu não já cuidei de você?"
Mas antes que ele pudesse chegar a uma conclusão, outro disparo soou pelo túnel. E os irmãos Hale não eram o alvo daquela vez.
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Oito anos após o massacre
[⚠ GATILHO: menção à depressão e alcoolismo ⚠]
"Então, foi isso o que aconteceu." Liza disse ao telefone com Kyle, que havia ligado para o celular de Lucas avisando que provavelmente iria demorar para voltar. "Sorte que ele não estava com a Alpha."
"Eu devia saber que Josiah estava seguindo a gente." Disse o homem do outro lado da linha, "Ele é um idiota paranoico."
"É, ele disse algumas coisas..." Liza murmurou baixo deslizando os dedos pelo balcão de madeira da cozinha. A cena de antes a deixara inquieta e cheia de perguntas.
"Todo mundo faz parte de uma organização secreta na mente daquele cara." Kyle disse com escárnio. Liza quase conseguia visualizar a expressão de desgosto dele ao responder. "Como estão as crianças?"
A jovem se inclinou no vão da porta da cozinha para espiar a sala. Lucca montava um jogo de tabuleiro que havia encontrado em um dos armários enquanto Ava fazia carinho em Amon-Rá, que dormira durante todo o drama anterior com Josiah. Lorenzo, sentado com eles, lia as regras do jogo, e tinha uma expressão animada no rosto. Liza sorriu sem perceber ao observá-los.
"Todo mundo sabe fazer isso." O homem resmungou após alguns segundos de silêncio.
Liza revirou os olhos secretamente. "Certo. Vocês vão demorar muito?"
"Chegamos na área residencial, agora só falta achar a gasolina." Kyle respondeu. "Espero que seja rápido, não aguento mais seu irmão fazendo essa coisa com a boca."
Ela franziu a testa ao ouvir alguns ruídos ao fundo da ligação. "Falar?"
"Sim."
Liza segurou uma risada, suspirando em seguida. Havia ficado intrigada após Josiah ter dito todas aquelas coisas sem sentido. Existia mesmo um esquema oculto? Kyle conhecera sua família? Aquelas e outras perguntas não deixavam sua mente, e não saber mais se podia ou não confiar no homem estava a deixando conturbada.
"Tudo bem?" Kyle rompeu o silêncio.
"Sim, estão todos bem."
O homem ficou quieto por um tempo. "Quis dizer se está tudo bem com você."
Liza se espantou com a pergunta, não esperava por aquilo. Aquela poderia muito bem ser a primeira vez que Kyle perguntava sobre o seu bem-estar.
"Estou bem, só um pouco cansada."
"Então dorme."
Liza ouviu alguém chamar seu nome, e no momento seguinte Lucca adentrou o cômodo animado, gesticulando para que ela fosse jogar com eles. "É, não vai dar. Os meninos acharam um jogo de tabuleiro aqui. Mas boa sorte com a gasolina."
Kyle emitiu um som que quase soou como uma meia risada antes de desligar. "Você é quem vai precisar de sorte."
Três horas depois, Liza entendeu o que o homem estava querendo dizer. Ela teve o azar de cair em uma das dezesseis propriedades de Lorenzo, e todas possuíam pelo menos três casas e um aluguel nada barato.
"É, agora eu fali."
"Hora de negociar," Lucca disse em um tom de suspense. "Que tal você me vender suas duas propriedades por trezentos?"
Lorenzo fitou Liza com um olhar cauteloso. "Não é recomendado negociar com alguém além do banco."
Ava, que tinha escolhido ser o banco no jogo, assentiu enquanto os assistia.
"Que nada, é mais legal! Então, o que vai ser, Liza?"
"Bom," Liza ajustou as mangas da blusa preta. "Tenho certeza de que as minhas propriedades valem mais do que isso."
Lucca comprimiu os lábios. "Trezentos e cinquenta?"
"Quinhentos." Liza arriscou.
"Mil!"
"Feito." Liza respondeu com um sorriso, se perguntando internamente se o garoto entendia o conceito de negociar. "Ótimo negócio, Lucca."
O menino sorriu com animação, entregando o dinheiro do jogo sem nenhuma relutância. Lorenzo ergueu levemente os cantos dos lábios ao presenciar aquilo.
"Kyle sempre fazia isso com ele quando jogava."
"Fazia o quê?" Lucca perguntou.
"Ele jogava esse jogo?" Liza perguntou enquanto alisava o cabelo de Lucca, que os olhava de cenho franzido. "Ele jogava qualquer jogo?"
"Sim." Lorenzo confirmou, parecendo achar graça na expressão dela. "Tínhamos um jogo parecido no trailer. Ele ficava guardando o dinheiro e nunca comprava nada, era o primeiro a falir. Depois do Lucca."
Lucca fez uma leve careta, mas não discordou. "É mesmo, quem sempre vencia era o Enzo. Mas ele jogou poucas vezes com a gente, isso foi antes da Thea... morrer. E ele já estava triste pela Amani, depois disso nunca mais jogamos."
As crianças ficaram em silêncio após aquela fala. Tudo o que podia-se ouvir na sala era o ronronar relaxado de Amon-Rá, que os observava do sofá.
"Quem é Amani?" Liza perguntou.
"Amani era..." Lorenzo hesitou, depois jogou os dados. Sua voz estava mais baixa do que o normal. "A namorada do Kyle. De qualquer maneira, nós não falamos sobre ela. Ainda é difícil para ele."
"Entendo," Liza suspirou. "Desculpa por perguntar, eu não sabia."
"Não tem problema, uma hora você ia descobrir, já que agora mora com a gente." Lucca fez menção de pegar os dados, mas parou com a mão no ar. "Espera, era a vez de quem mesmo?"
Naquele momento, eles ouviram um som vindo da cozinha. Liza fez sinal para eles ficarem onde estavam e foi até lá. Para o seu alívio, era apenas Kyle.
"Ah, vocês chegaram." Liza se aproximou enquanto ele colocava um galão quase cheio de gasolina na mesa junto de algumas sacolas. "E comprou frutas! Estou oficialmente impressionada."
Quando Kyle não respondeu, Liza levantou o rosto para olhar o homem, notando que este encarava a mesa com os olhos mais frios do que o normal. Ela abriu a boca para falar algo, mas o outro se pronunciou primeiro.
"Eu vou sair."
Liza ergueu as sobrancelhas ao ver ele pegar alguma coisa no balcão e se dirigir para a saída. "Para onde?"
Kyle não respondeu, esbarrando em Lucas ao deixar a casa. Lorenzo, um pouco mais atrás, assistiu a cena com uma expressão complexa no rosto.
"Credo, seu namorado não tem modos, Elizabeth."
A jovem empurrou Lucas levemente ao ir para a varanda, mas Kyle já havia sumido na escuridão da noite. Ela então foi atrás do irmão, inquieta.
"O que você fez com ele?"
"Como assim o que eu fiz?" Lucas perguntou ao tomar o celular de Lucca, que fez uma careta. "Ele estava resmungando perfeitamente até uns segundos atrás."
Liza se deu conta de que era tarde e mandou as crianças se prepararem para dormir, ainda aflita. Estava claro que Kyle não estava bem, e aquilo a afetava.
"Ele estava estranho, você não viu?" Liza insistiu, mas seu tom estava menos acusador. "Tem certeza que não falou nada? Conheço seus truques."
"O que eu falaria? Nem tem muita graça provocar ele, de qualquer forma. Provavelmente só quer esfriar a cabeça ou sei lá, dá um tempo e vê no que dá."
Liza seguiu Lucas pelas escadas até o andar de cima, ainda aflita. Ava já estava indo para a cama levando Amon-Rá junto, Lucca ainda escovava os dentes. Ao perceber um dos quartos com a porta entreaberta, a jovem adentrou o cômodo, notando Lorenzo acabando de trocar a fralda de Thomas, que brincava com um tubo de lenços umedecidos.
O menino sorriu levemente ao ver Liza, mas ela notou que seus olhos estavam pesados de sono. Ele terminou de vestir o bebê o pegou com cuidado.
"Eu vou dar comida para ele."
"Pode deixar que eu dou." Liza se aproximou, e Thomas estendeu os bracinhos para ela imediatamente. "Vai deitar com os outros, já passou da hora faz muito tempo."
Lorenzo coçou os olhos. "Tudo bem. Pode me acordar se precisar de algo."
"Eu preciso que você descanse." Liza fez carinho nos cachos dele com a mão livre, segurando Thomas com o outro braço. "E que não deixe o Lucca dormir na ponta da cama de novo, por favor."
Lorenzo soltou uma risada sonolenta, provavelmente se lembrando da queda de Lucca noites atrás. Ele assentiu e desejou uma boa noite para eles, se dirigindo para a porta. Segundos depois, porém, a voz do menino soou pelo quarto novamente.
"Liza, eu acho que mais cedo o Kyle nos ouviu falando sobre... aquele assunto."
"Como você sabe?" Liza perguntou, mas também havia pensado naquela probabilidade. "Também fiquei na dúvida, ele estava estranho."
"É que geralmente ele é bem silencioso quando quer, quando faz barulho significa que quer ser ouvido." Lorenzo explicou, parecia estar se sentindo culpado.
Liza assentiu, aquilo fazia muito sentido. Às vezes não se dava conta da presença de Kyle até ouvir sua voz. A jovem comprimiu os lábios ao entender a situação, preocupada com o estado do homem.
"Estou com medo."
O tom de voz preocupado e nada característico de Lorenzo fez Liza erguer as sobrancelhas e se aproximar do menino, acariciando novamente aqueles cachos tão bonitos.
"Tenho certeza de que ele vai ficar bem, Enzo."
"Ele tem depressão." O menino falou tão baixo que Liza mal conseguiu ouvir. "Eu já suspeitava porque li sobre os sintomas, e parecia muito. Mas uma noite, faz alguns meses, bem quando Ava e Thomas vieram morar com a gente, eu me levantei de noite para beber água e ele estava... segurando uma arma."
Liza abriu a boca, mas não conseguiu emitir som algum.
Lorenzo olhou para o chão. "Naquela semana, soubemos da morte de Althea, e aquilo o abalou muito. Tinha dias em que ele sumia, já em outros não levantava da cama. Quando se levantava, bebia bastante e não conversava com ninguém. Eu fiquei com medo, medo de que ele... fizesse alguma coisa."
Em um impulso, Liza se abaixou e abraçou o menino, que ficou estático por alguns segundos. Ele não era acostumado a ter contato físico, Liza notara, mas seu pai a ensinara que abraços eram calmantes naturais. E estava certo; segundo depois, Lorenzo soltou um longo suspiro e a envolveu com os braços.
Thomas pareceu entender que Liza estava tentando confortar Lorenzo, pois também se inclinou e agarrou o cabelo do garoto. Aquele devia ser o jeito do bebê de abraçar alguém.
"Os outros sabem?" Liza perguntou, alisando repetidamente as costas de Lorenzo.
"Não. Eu não contei para ninguém, exceto você."
Lorenzo fungou. "Eu li que existe tratamento para isso, mas Kyle é teimoso demais até para tomar remédios."
Liza suspirou com um sorriso fraco ao estender o braço e segurar uma das mãos do outro. "Ele realmente é. E você está certo em se preocupar, ele precisa de ajuda."
"Não quero que ele... Sem ele, nós estamos... sozinhos."
"Ele não vai. E vocês não vão ficar sozinhos, eu prometo." Liza falou decidida, e aquilo pareceu acalmar o menino. "Vou falar com ele sobre isso, eu prometo. Quando tudo isso acabar, ele pode conseguir ajuda."
Lorenzo assentiu devagar, seu olhar com um brilho de esperança. Seu rosto era repleto de pintas de diversos tamanhos, todas bem distribuídas. "Obrigado."
Mesmo depois que Lorenzo foi dormir, Liza continuou pensando sobre aquele assunto. Apesar de tudo, não havia cogitado a hipótese de Kyle ser uma pessoa depressiva. Não sabia muito sobre o homem, mas agora estava ciente de que ele havia perdido tanto a namorada quanto a irmã mais velha, e aquilo havia deixado sequelas.
Um murmúrio de Thomas a tirou de seu devaneio. "Ah, o seu jantar."
Thomas automaticamente sorriu. Já entendia muitas palavras, e "jantar", "almoço" ou qualquer outra coisa relacionada a comida o deixava alegre. Liza riu baixo e foi até a cozinha preparar algo, deixando o bebê sentado no chão de madeira. A sacola pousada sobre a mesa, porém, chamou sua atenção. Vendo o familiar recipiente que continha a papinha infantil, a jovem ficou surpresa.
"Não acredito que ele lembrou. Esqueci de avisar que elas tinham acabado."
Se perguntando onde estaria Kyle, Liza quase se desequilibrou quando sentiu algo segurar sua perna. Ao olhar para baixo, viu um Thomas risonho apoiado em uma das cadeiras, em pé.
"Olha só você!" Liza disse ao se abaixar, bastante orgulhosa por alguma razão. "As papinhas fizeram efeito, pelo visto. Espera só até o Kyle ver isso!"
O bebê murmurou algo em resposta, parecendo animado. Tentou se soltar da cadeira, mas acabou caindo sentado no chão, exibindo uma expressão chorosa.
"Um passo de cada vez," Liza sorriu ao pegar ele no colo, abrindo uma das misturas e indo para a sala. "Se um certo alguém estivesse aqui, veria que bebês que só 'comem leite' não andam tão cedo."
Thomas murmurou outra palavra esquisita em resposta, a observando com seus grandes olhos cor de avelã. Parecia mais interessado na comida do que na conversa.
"Não, eu não sei pra onde ele foi." Liza resmungou sentando o bebê no sofá enquanto ligava a televisão para iluminar o local. A luz do aparelho era discreta, e com sorte não chamaria a atenção de mais intrusos desnecessários. "E agora eu preciso conversar com ele sobre um assunto delicado. Nem mesmo sei se temos intimidade para isso, mas quero ajudar."
O menino abriu a boca quando Liza lhe ofereceu uma colher repleta da comida pastosa, fazendo uma leve careta ao prová-la.
"É, eu sei. Ele não é todo sorridente, mas pensei que talvez esse fosse o jeito dele. Talvez seja isso também. Eu não sei como ajudar quando as coisas estão tão conturbadas. E se ele ficar bravo se eu disser algo?"
Thomas encarou-a em silêncio, e Liza retribuiu o olhar como se o bebê pudesse falar a solução de seu dilema a qualquer momento. De repente, a tela do aparelho televisor escureceu, e um sinal apareceu ali: uma linha reta e um ômega em conjunto formavam a letra P.
Quando a imagem sumiu, segundos depois, Liza finalmente conseguiu respirar. Ela conhecia aquele símbolo, o via diariamente quando era pequena. Tatuado no pulso de seus pais.
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[3400 palavras]
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