Capítulo Dezoito
Ethan Hale não gostava de confusão.
Apesar de ser o filho caçula, o rapaz nunca dera trabalho ao pai. Na verdade, Ethan não via os outros integrantes da família com frequência. Estavam sempre ocupados com a fonte da fortuna do clã: a fábrica de cerveja Hale. A marca era famosa por todo o país, conhecida principalmente pela qualidade e integridade do produto fornecido.
Saber todos os dados do negócio da família, porém, não ajudava Ethan em muita coisa. Jonathan, o primogênito e futuro líder, recebia toda a atenção do pai. Ethan entendia que o futuro cargo do irmão era de extrema importância, mas sentir que não tinha nenhuma utilidade ali não era confortante. Se sentia como uma última alternativa, uma garantia caso o plano principal não funcionasse.
Era como se ele estivesse em uma gaiola aberta; não estava preso, mas tampouco estava livre.
Por isso, quando Joseph o enviou temporariamente para os galpões onde a cerveja era produzida, Ethan se sentiu feliz como nunca. O pai finalmente havia lhe dado alguma tarefa, uma missão para que ele provasse o seu devido valor. Animado, ele fez diversos relatórios avaliando todos os setores de produção, e também criou um esquema sustentável e lucrativo para reciclar e reutilizar o material usado no processo. O caçula mal podia esperar para voltar para casa e mostrar os feitos para o pai, mas nem em mil anos poderia ter previsto o que viu quando retornou.
A mansão Hale estava reduzida à cinzas.
Um incêndio na madrugada havia sido a causa da morte dos empregados e também da pequena família de Ethan, tão repentino que ninguém fora capaz de chamar os bombeiros a tempo. Como a mansão ficava um pouco afastada, os vizinhos das residências mais próximas alegaram apenas terem percebido a tragédia quando o dia começou a clarear, e quando finalmente chamaram ajuda, já era tarde demais.
Parado em frente ao que um dia fora sua casa, Ethan apenas visualizou o que restara da mansão em que havia crescido. Passara 17 anos tentando impressionar a família, mas agora nada daquilo importava. Observando as cinzas dançarem ao vento, Ethan não sabia dizer ao certo o que estava sentindo.
De repente, uma mão tocou o ombro do rapaz. Um homem alto e robusto se pronunciou, alegando ser da Alpha. Ethan reconheceu aquele nome, sabia que o clã do pai havia formado uma parceria com eles. O estranho vestido em um terno caro prestou suas condolências, depois garantiu que a empresa seria bem cuidada nas mãos deles. Aos poucos, o único Hale restante foi entendendo o que tinha acontecido: com Joseph Hale falecido, a posse da empresa passava para Jonathan. Com o primogênito também morto, a fonte da renda iria para Ethan, mas ele ainda não havia completado 21 anos, então todo o dinheiro ia direto para Endo Hyeon.
Ethan nunca fizera questão do legado da família, mas por alguma razão se sentiu roubado. Não que ele soubesse administrar uma empresa, para começo de conversa. O homem de terno assegurou Ethan de que ele seria bem-vindo na Base, com direito a comida e moradia até que atingisse a maioridade e pudesse enfim assumir a empresa da família. Sem ter para onde ir, Ethan não tinha o privilégio de escolher, então seguiu o homem para as instalações da Alpha.
Havia algumas áreas residenciais na Base, e foi em uma delas que Ethan foi posicionado. No início teve que conversar com alguns advogados, mas não demorou muito para que fosse esquecido. Além das encaradas intensas quando ele passava, ninguém realmente notava a presença do garoto.
Tudo o que Ethan pôde fazer por um tempo foi observar a rotina do local. Ele percebeu que vários clãs moravam ali, mas também haviam os não fixos. Os integrantes dos clãs mais promissores visitavam com frequência a grande mansão Hyeon, que mais parecia um castelo de mármore negro. Apesar do lugar receber visitas a cada cinco segundos, ao mesmo tempo ele emanava um ar solitário.
Também existiam aqueles clãs não tão promissores, mas que se destacavam. Esses eram os que menos ficavam na Base, por alguma razão. Os clãs menores não chegavam nem perto da mansão, a vida deles era bem mais reservada. Eram pequenos investidores que escolhiam se juntar ao lado da força, mas havia um preço a pagar: a Alpha cobrava 35% do lucro dos clãs em troca de seu apoio.
Demorou um pouco para Ethan entender aquele conceito de máfia. Qualquer um podia criar um clã, contanto que o mesmo provesse uma renda para se manter. Mas apenas fazer parte de um não era suficiente, pois as vantagens vinham das parcerias. As organizações mais poderosas ofereciam serviços em troca de um acordo: clãs que comandavam hospitais ofereciam auxílio médico, clãs envolvidos com a produção agrícola forneciam alimentos. O que todos esses grupos tinham em comum?
Todos perdiam para a Alpha.
Em algum momento, a grande empresa passou a oferecer todo o tipo de auxílio aos parceiros, desde seguros até as coisas mais básicas. Os clãs menores não viram sentido em se juntarem com vários clãs quando apenas um fornecia tudo o que eles precisavam e um pouco mais. Quando os clãs medianos perderam a parceria dos menores, se juntaram ao lado ganhador, e os clãs promissores não demoraram para seguir o exemplo.
O auxílio do governo era terrível, então quando as pessoas comuns viram o benefício que a associação com a Alpha trazia, logo passaram a criar clãs apenas para aquele propósito, e a companhia foi crescendo cada vez mais. Logo, o país estava cheio de clãs, e as pessoas agiam como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Com aquela estratégia, Endo Hyeon havia remodelado a política do país ao seu favor, tomando todo o lucro para si.
Um verdadeiro monopólio.
Após intermináveis semanas, Ethan se cansou de não fazer nada e se prontificou para trabalhar como empregado. Quando fez o pedido, todos o olharam com estranheza; por que o herdeiro de um clã mediano e promissor estava se sujeitando àquilo? Mas Ethan não se importou, gostava da sensação de se sentir útil, e o trabalho não era tão ruim assim; ele basicamente andava pela Base levando informações de um clã para o outro.
Foi em um desses serviços que Ethan percebeu uma movimentação. Ao olhar para o lado, ele avistou um grupo cercando um garoto, cerca de oito rapazes. Quando se aproximou, viu que a pessoa atacada estava no chão, e que a lateral de sua cabeça sangrava. O menino assustado aparentava ter a mesma idade que ele, e parecia temer por sua vida naquele momento.
Ethan Hale não gostava de confusão, mas se tinha algo que ele não conseguia testemunhar era alguém indefeso em apuros.
"O que vocês estão fazendo?"
A fala atraiu toda a atenção do grupo. Um garoto deu um passo à frente, e pelo sangue em sua manga, Ethan deduziu que ele era o principal agressor. "O que você tem a ver com isso, empregado?"
De fato, as roupas de Ethan entregavam sua função: era um uniforme branco, com um pequeno número estampado na lateral direita, sua identificação. O fato de ser um empregado, porém, não o acanhava. "A não ser que ele tenha cometido algum crime, isso é ilegal."
O garoto com a blusa manchada encarou Ethan com um olhar nada agradável. O rapaz no chão fez o mesmo, mas sua expressão não era maldosa; ele parecia estar impressionado. De repente, outro menino do grupo pronunciou. Ele era da mesma altura que Ethan, o que significava que era mais baixo do que o agressor, mas aquilo não o deixava menos intimidante.
"E quem é você para ditar as regras?"
Ethan o encarou por alguns segundos, e notou que o estranho fazia o mesmo. Ele tinha traços asiáticos, e o cabelo escuro estava penteado para trás. Suas roupas eram do mesmo estilo dos outros rapazes, porém, mais elegantes. Os sentidos de Ethan deduziram que aquele garoto era importante, mas ele ignorou a observação.
"E você, por acaso é alguém?"
Quando os outros meninos ouviram aquelas palavras, ficaram estáticos. O garoto machucado no chão quase caiu para trás, e até mesmo o encrenqueiro pareceu ficar chocado por um momento. "Você sabe com quem está falando, empregado de merda?!"
O garoto de ar importante, porém, não se abalou com aquilo. "Deixe, Petrov. Não vamos perder nosso tempo, a aula já vai começar."
"Vai deixar mesmo isso passar?!" Petrov estava enfurecido. "Não viu como ele falou com você?"
Os outros garotos pareciam divididos entre o querer dos dois jovens. O que possuía traços asiáticos já tinha dado as costas, mas bastou uma frase autoritária para que ganhasse aquela pequena batalha verbal.
"Tobiah, deixe para lá."
Após aquilo, ele se afastou. O grupo logo o seguiu, sem dizer uma palavra. Tobiah encarou Ethan com feições letais, mas foi atrás aparente líder no mesmo minuto, esbarrando nele ao passar. A mensagem nos olhos enfurecidos do rapaz alto era clara: ainda não acabou. O garoto no chão ainda observava os agressores indo embora quando Ethan se aproximou.
"Ei, você está bem?"
O jovem levantou a cabeça, olhando para a mão estendida à sua frente sem dizer uma palavra. Ethan o observou por um segundo, depois indicou a ferida do garoto. "Você precisa tratar isso aí, parece um corte feio." Quando viu que não teria resposta, ele insistiu. "Vamos, vou te ajudar a levantar."
"Você... sabe quem era aquele?"
"O do olho azul?" Ethan perguntou, um pouco surpreso com a fala repentina.
"N-não, o coreano."
"Ah, não. Não sei quem é ele."
O menino negou com a cabeça, trêmulo. "Aquele era... o filho do dono desse lugar."
"Ah," foi tudo o que Ethan disse, não parecendo surpreso. Aquele garoto parecia mesmo ser influente, e ser filho de Endo Hyeon era uma ótima razão para se ter um grupo fiel de seguidores. "Entendi."
O menino finalmente aceitou a mão estendida em sua direção. Parecia desesperado e ansioso, mas ao se levantar pressionou a mão direita sobre a lateral direita da cabeça. "Vamos, precisamos cuidar disso." Ethan ajudou o jovem a andar. "Vou te levar para aquele prédio ali, é uma enfermaria. Quero dizer, mais parece um hospital, mas dizem ser uma enfermaria."
O garoto encarou Ethan como se ele fosse um alienígena, claramente confuso com aquela reação. Após voltar a si, ele negou com a cabeça diversas vezes. "Não posso ir lá." Ele disse baixo e sem levantar o olhar, estava tremendo.
"O que você quer dizer? Faz parte de algum clã, não faz?" Ethan perguntou. Já tinha reparado que as roupas do rapaz, agora rasgadas, eram similares as dos outros garotos encrenqueiros. Parecia uma espécie de uniforme cinza, e havia sempre uma imagem indicando o clã estampada na lateral direita. Apesar de saber aquele tanto, o Hale não conseguiu identificar o clã do garoto pela insígnia.
"Clã Deloria."
Ethan ergueu as sobrancelhas, se lembrando vagamente daquele nome. Quase todos os clãs usavam o nome da família como identificação, quando estava disponível. O clã Deloria era um tanto promissor, localizado entre o nível superior e mediano da escala de riqueza. O negócio da organização era o tabaco, e o líder era um residente da Base. Ethan não entendia; por que aqueles garotos estavam atacando o filho de um mafioso tão importante? Ele não demorou para transformar os pensamentos em palavras.
"Porque sou negro." Foi tudo o que o garoto respondeu. Seu olhar era cansado e ao mesmo tempo triste.
Ethan ficou sem reação por um segundo. "Ah... Eu sinto muito. Não sabia que as coisas aqui funcionavam assim, de verdade." O rapaz apenas assentiu, então Ethan continuou. "Qual o seu nome?"
"Me chamo Oliver."
"Prazer, meu nome é Ethan." Ele sorriu amigavelmente, porém Oliver desviou o olhar. Parecia cauteloso, como se a qualquer momento Ethan fosse se transformar em um daqueles garotos valentões e bater nele. Ethan odiou aquilo. "Escuta, Oliver, tem alguém ali que pode te atender, eu conheço o cara."
Oliver olhou para o prédio afastado com hesitação, depois voltou a atenção para Ethan. "Mesmo que me atendam, não posso entrar lá."
Ethan olhou para as roupas do rapaz, principalmente para a insígnia de um D maiúsculo envolto de vinhas estampada na lateral da camiseta. "Eu tenho uma ideia, mas vou precisar rasgar sua blusa."
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"Você foi assaltado? Aqui na Base?"
"Claro, não vê minhas roupas?" Ethan não estava sendo muito convincente para o atendente da enfermaria. Oliver, quem havia alegado que aquela ideia de trocar as vestimentas não daria certo centenas de vezes, apenas encarava a cena um pouco mais afastado.
"Desculpe, mas é difícil de acreditar."
Ethan não julgava aquele pensamento; quem seria capaz de assaltar alguém nos domínios da Alpha? Mas agora eles não podiam voltar atrás. "Como se não bastasse o assalto, ainda duvida da minha palavra? Bateram em meu empregado e o jogaram no chão, olhe para o estado dele! E se ele sofreu alguma ferida interna? Preciso que o examinem."
O homem olhou de Ethan para Oliver. "Sinto muito, mas não posso fazer nada quanto a isso." Ele disse fazendo uma careta e indicando Oliver como se o garoto fosse algum tipo de lixo. "Além do mais, não consigo ver a insígnia na sua roupa, e sem documento não tenho como comprovar que você pertence a algum clã."
Ver a atitude do atendente enfureceu Ethan, e notar que Oliver não parecia surpreso com o tratamento não ajudou. "Bom, sua decisão," ele disse em um tom ríspido, dando as costas. "Mas vamos ver o que meu pai, o líder do clã Petrov, vai fazer quando descobrir que perdemos um empregado por negligência sua."
Ao ouvir a palavra "Petrov", o homem quase caiu da cadeira. "E-espera! Seu pai é Vincent Petrov?!"
"Sim." Respondeu Ethan, ouvindo o nome do líder do clã Petrov pela primeira vez. Ele não sabia dizer quem estava com os olhos mais arregalados; aquele homem ou Oliver.
"Ah, mil perdões!" O atendente disse ao se levantar, suando frio. "Eu realmente não sabia. Por favor, me acompanhem, vou levá-lo até os melhores médi-"
"Soren."
O homem parou na metade do caminho. "Soren? O aprendiz?"
"Esse mesmo." Ethan falou de maneira autoritária, tirando proveito do falso status. Oliver, por outro lado, assistia tudo em silêncio, tão nervoso quanto o atendente. "Se não for ele, não quero atendimento algum."
"Ah, sim! Por favor, me siga."
Dois andares depois, eles estavam no andar onde Soren trabalhava. Quando o homem bateu na porta do consultório, Ethan suplicou aos céus para que o amigo não o desmascarasse quando o visse, e aparentemente suas preces foram ouvidas, porque o garoto pálido de cabelo loiro apenas assentiu quando o atendente os anunciou.
"Vou deixá-los por agora. Qualquer coisa chame por mim, senhor Petrov. E novamente peço desculpas."
Cinco segundos após a porta ser fechada, a voz de Soren ecoou pelo quarto. "Que porra foi essa, Ethan?"
Oliver se assustou, porém Ethan já havia se acostumado com o linguajar de Soren; o garoto suíço era o mestre dos palavrões. "Eu sei, eu sei. Uns meninos bateram no Oliver, e precisei fazer isso pra chegar aqui."
Soren então pareceu notar a presença do outro rapaz. "Espera, você quer dizer o grupinho do Jasiel?"
"Jasiel?" Ethan franziu o cenho.
"Ethan, você é tão lerdo que às vezes me dá vontade de te bater. Não sabe o nome do merda do herdeiro da Alpha? Pra quem mais aqueles seguranças viram a cara quando tem confusão?" Soren resmungou. "Sentem na maca enquanto preparo as coisas."
"Certo." Ethan disse. A Base realmente era repleta de homens armados e vigilantes, então por que ninguém havia socorrido Oliver, ou pelo menos parado a briga? E aquele nome... Ele já havia ouvido em algum lugar.
"Já parou pra pensar no que vai acontecer se aquele cara descobrir que você não é o puto do Tobiah Petrov?" Soren estava de costas para eles, concentrado. "Ou pior, se ele descrobrir que eu sabia e que te acobertei. Caralho, eu tô muito fodido."
"Calma, calma, não tem como ele descobrir. Acha mesmo que aquele riquinho ia colocar os pés aqui quando eles tem aquele hospital gigante na ala C?"
"Ala C" era como uma das áreas mais nobres da Base era conhecida, e onde vários serviços estavam localizados. As outras áreas iam descendo em ordem decadente, da mais proveniente até a mais insignificante, que era a de letra M. A mansão Hyeon estava obviamente alocada na área A, e ocupava todo o espaço da mesma.
Soren ficou mais calmo após aquilo. "Realmente, os desgraçados nunca pensariam em pisar o pé na ala H, não é mesmo?" Ele se virou ajustando as luvas, sua expressão neutra.
O suíço era um tanto carente no quesito de altura, o que lhe provia um ar dócil. Ou fora aquilo que Ethan achara na primeira vez em que o vira na cantina, minutos antes do loiro abrir a boca e xingar a mãe de todos os mafiosos existentes quando notou que haviam colocado cebola em seu prato. Naquele dia, Ethan aprendeu as duas coisas que Soren mais odiava, e após mais algumas palavras de baixo calão, os dois passaram a almoçar sempre juntos.
"Estou curioso pra saber como encontrou aqueles miseráveis. Eles não foram te visitar na ala E, não é?"
Ethan negou com a cabeça. O título de futuro líder do clã havia trago alguns benefícios, e um deles era o apartamento mediano naquela ala residencial que agora pertencia ao Hale. "Encontrei com eles na C, tive que entregar uns papéis para um clã de lá."
"Ah, deviam estar no caminho para aquela escola mafiosa de merda." Soren resmungou se aproximando de Oliver e começando a trabalhar. O garoto negro se transformou em uma estátua, obviamente com medo do baixinho. "Uma escola para aprender a ser um caralho de um líder de mafia, eles não tem mais o que inventar."
"Qual o seu clã?" Oliver perguntou de repente, sua voz tímida e cautelosa.
"Nenhum." Soren respondeu.
E era verdade. Também haviam aquelas pessoas que se recusavam a participar dos grupos, mas a maioria passava necessidade. Ethan sabia que Soren era um caso isolado; sua habilidade na medicina era tão boa que ele havia chamado a atenção do líder do clã que possuía aquela enfermaria, e este o tomou como aprendiz.
Oliver ficou em silêncio após aquilo, e Ethan apenas observou o amigo trabalhar. A ferida na cabeça do rapaz não era séria, mas ainda assim teve que receber alguns pontos. Após o procedimento, Oliver ficou de pé. "O-obrigado... mas preciso ir agora."
"Para onde?" Ethan perguntou.
"Não quero mais causar confusão para vocês, eu..." Oliver estava tendo dificuldades para falar. Parecia zonzo, e a anestesia que Soren havia lhe aplicado era provavelmente a culpada.
"Você não causou nada, está tudo bem." Ethan o acalmou, depois o ajudou a se sentar na maca novamente.
"M-mas..."
"Eu conheço você, Oliver Deloria." A voz de Soren era rígida, assim como sua expressão. "Sei que seu pai estéril de merda engravidou uma empregada e assumiu, mas descartou a possibilidade de você ser o herdeiro assim que viu sua cor."
Oliver ficou estático, completamente sem fala. Ethan limpou a garganta, surpreso pela descoberta mas ao mesmo tempo com receio do amigo. "Soren, o que..."
"Também sei que também por causa dela esses filhos da puta nunca te respeitaram, mas isso não vai me fazer sentir pena de você." O loiro avançou um passo e encarou o menino assustado nos olhos. "Não sei como é estar na sua pele, e não tenho nenhuma propriedade para falar sobre, mas de uma coisa eu sei," ele suspirou, passando uma das mãos pelo cabelo curto. "Renegados ficam juntos."
Demorou alguns minutos para Oliver perceber o que Soren estava impondo, perceber o que ambos os garotos ali estavam oferecendo: uma amizade. Lágrimas emocionadas ameaçaram cair, mas Oliver conseguiu se controlar. Aquela era a primeira vez que alguém ali lhe oferecia algo tão puro e genuíno, e ele estava disposto a aceitar.
"Ah, quando eu falei 'renegados', estava me referindo a mim e a você." Soren indicou Ethan. "Esse merdinha aí é herdeiro de não sei quanta grana, não passa de um playboyzinho."
"Então por que você vive no meu apartamento?" Ethan perguntou com deboche.
"Sou sincero, não trouxa."
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Três semanas depois, Oliver se mudou para o apartamento. A casa agora raramente ficava vazia, e Ethan finalmente deixara de se sentir sozinho. Estava pronto para colocar um filme quando escutou alguém bater à porta.
"Quem veio encher o saco agora?" Soren perguntou da cozinha. Por conta do trabalho, ele morava na ala H, mas não deixava de visitar a casa dos amigos nos finais de semana. "Não posso atender, a pipoca vai queimar."
"Eu atendo." Ethan disse indo abrir a porta, descobrindo dois seguranças no hall de entrada. Na realidade, ele não sabia bem como chamar aqueles homens; eram uma espécie de polícia da Alpha. "Boa noite, em que posso ajudar?"
Os policiais em questão pareciam estar com pressa. "Senhor Hale, certo? Sob ordens de cima, precisamos revistar sua casa."
Aquilo surpreendeu Ethan. "O que aconteceu?"
"Algo foi roubado." Um dos homens fardados disse ao entrar. "Com licença."
Como se alguém pudesse impedir vocês, pensou Ethan. Oliver e Soren se juntaram a ele na sala, o primeiro confuso, e o segundo irritado com a inconveniência. "Sera que nem na porra da minha folga esses caras deixam de encher o saco?"
"Soren..." Oliver sussurrou, assustado com a possibilidade dos homens ouvirem.
"Aparentemente está limpo." Um dos guardas se juntou a eles minutos depois. "Desculpe pelo incômodo."
"O que sumiu, pode nos contar?" Ethan perguntou. Nunca havia tido o apartamento revistado antes, então provavelmente era algo de extrema importância.
"Um objeto pessoal de Endo Hyeon, avaliado na quantia de mais de meio milhão." O guarda disse em um tom baixo, depois resmungou olhando para o corredor. "Jasper, vamos logo."
Jasper reapareceu segundos depois, seu rosto estava pálido. Quando o homem retornou para a sala, Ethan sentiu um peso enorme no peito, um horrível mau pressentimento que o sufocou. A princípio ele não entendeu o porquê de sentir aquilo, mas quando o segurança ergueu a mão e exibiu um relógio dourado, Ethan não teve dúvidas.
Aquilo pertencia a Endo Hyeon.
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