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𝖳𝖶𝖤𝖭𝖳𝖸 | 𝖼𝖺𝗌𝗌𝗂𝖾

Bato no meu despertador quando ele toca, na mesa de cabeceira da cama. Acordei mais tarde hoje, às dez, e isso me dá menos tempo para me arrumar.

Me sento na cama, e só então noto que estou completamente nua. Meu pijama está caído no chão ao lado da cama, junto com a minha calcinha.

E é claro que eu estou sozinha na cama. Por um segundo, pensei que seria diferente dessa vez. Mas moramos no mesmo lugar agora, ele não vai fugir de mim de novo.

Pego a minha toalha atrás da porta e saio do quarto, sentindo o cheiro de algum lanche. Sorrio fraco, imaginando se ele teria pedido tacos pra mim de novo, mas entro no banheiro, porque estou um pouco atrasada.

Tomo o banho mais rápido da minha vida. Coloco uma calça jeans, a camiseta do uniforme e um vans preto. Pego a minha bolsa, que tem os meus cadernos de anotação, dois livros e uma camiseta – não vou de uniforme para as aulas, óbvio.

Saio do quarto, mordendo os cantos da bochecha para tentar controlar o nervosismo de encarar Aaron depois do que fizemos de madrugada.

Mas, quando entro na sala... Não preciso dizer nada.

O cheiro que eu senti naquela hora não era de tacos. Um pacote do In-N-Out estava na mesa de centro, e duas caixinhas de hambúrguer meio abertas ao lado.

O pior? Aaron estava no sofá, meio adormecido, com uma ruiva deitada em seu colo como um bebê, com o rosto enterrado no pescoço dele.

Uau.

Sem querer, um pequeno riso escapou. Foi baixo, mas foi suficiente para acordá-lo. Ele levantou a cabeça, confuso, e quando me viu parada no meio da sala, vi o peito dele subir e descer mais rápido.

Te peguei, não foi?

─ Cass... ─ ele sussurra, para não acordar a ruiva. ─ Não é isso. Ela é minha amiga.

Amiga ou não, não me importo. Eu não deveria ter cedido, de qualquer maneira. Dessa vez, tenho raiva de mim, não dele.

─ Ok. ─ sorrio para ele, e saio.

Fecho a porta em silêncio e entro no elevador.

Erro três mesas no trabalho, e meu chefe me deu uma bronca do caralho. Mas me fez acordar, então tudo bem.

Não prestei muita atenção nas aulas, mas consegui terminar um trabalho manuscrito – como, eu não sei, mas consegui.

Eu nem estava brava. Não tinha motivos, dessa vez. Aaron não correu pra longe e nem ficou com ninguém na minha frente de propósito. Mas ainda dói.

Foi a mesma coisa. Sozinha na cama. Alguém com ele.

Será que ele gosta de me fazer pensar que eu não sou o suficiente?

Acredito nele, sei que a ruiva é amiga dele, mas... Porra.

Eu deveria ter continuado no hotel. Mas já não tem mais volta. Daqui uns dias vamos em mais um evento, e apesar de tudo, me sentiria uma bruxa se deixasse ele na mão.

Demoro mais para voltar pra casa no fim do dia, com medo de enfrentar a situação. Então, sendo a covarde que sou, aperto o botão cinco ao invés do nove, e em quinze minutos estou ajudando Sasha a estourar pipoca e fazer algum doce para vermos algum filme.

─ Cassie.

─ Oi?

─ Aconteceu alguma coisa? ─ Sasha pergunta.

Demoro um pouco pra responder.

─ Não. Nada. ─ dou de ombros. ─ Só precisava desestressar um pouco.

─ Jura?

─ Uhum.

Ela não acredita nem um pouco. Mas também não me força a falar nada.

─ Ok.

Assistimos dois filmes de terror. Me perguntei onde Josh estava, mas não perguntei à Sasha. Josh tem a incrível habilidade de arrancar a verdade de mim só olhando nos meus olhos.

Ao fim do segundo filme, me lavando do sofá com muito pesar. São quase onze da noite; eu já estaria dormindo se tivesse ido direto para o apartamento de Aaron.

Me despeço de Sasha e entro no elevador. O apartamento está escuro e silencioso quando entro, e tranco a porta. Penso em tomar um banho, mas não quero denunciar minha chegada, porque sei que Aaron vai querer falar comigo.

Abro a porta do meu quarto devagar e deixo a bolsa no chão. Fecho a porta e acendo a luz.

Quase grito quando vejo alguém sentado na minha cama. É Aaron, com os cotovelos nas coxas e encarando a parede.

─ Você pode me dar licença? Eu preciso dormir. ─ falo, pegando o meu pijama no guarda-roupas. Já que ele está aqui e já me viu, vou para o banheiro e tomo um banho rápido. Ele ainda está lá quando eu volto. ─ Aaron.

─ Eu não estou te impedindo. ─ ele aponta para o outro lado da cama, mas não me mexo.

─ Voltamos para a implicância, então? Ótimo. ─ dou um sorriso falso e apago a luz. Deito na cama, longe dele.

É claro que ele se deita ao meu lado.

─ Aaron, vai pro seu quarto.

─ Raven tá dormindo lá.

Isso deveria ajudar?

─ Então vai dormir no sofá. Não me importo onde, só sai daqui.

─ O apartamento é meu, eu durmo onde eu quiser.

Fico sem palavras por um momento.

─ Quem é você, Aaron? De verdade? ─ me levanto, indo até a porta do quarto, mas ele pega minha mão no meio do corredor.

Ele me puxa, e eu esbarro nele. Ele me aperta, me abraçando, e coloca a bochecha na minha testa.

─ Eu não quis dizer desse jeito. Me desculpa. ─ ele diz, baixinho. ─ E também não quis repetir o que rolou daquela vez. A Ren foi demitida e veio pra cá, eu estava consolando ela e ela dormiu no meu colo. Foi isso, eu juro.

─ Ok. ─ respondo, indiferente, e me afasto. ─ Posso dormir agora?

─ Cassie...

─ Tá tudo bem, Aaron. O apartamento é seu, você traz quem quiser. ─ sorrio. ─ Boa noite.

Fecho a porta do quarto e apoio a testa nela.

E lá vamos nós de novo.

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