Eu estava quase dormindo, com o rosto enterrado no travesseiro, quando ouvi o raspar de algo no chão.

Me sentei, assustada, imaginando se não era algum bicho ou sei lá.

Mas então liguei a lanterna no celular, com o coração um pouco acelerado, e tudo o que vejo de diferente é uma folha no chão, em frente a porta.

Não uma. Duas.

Duas folhas, com a caligrafia de Aaron. A letra dele não mudou um traço sequer desde a adolescência.

Não sei o que me faz pegar as folhas e me sentar para ler, mas é exatamente o que eu faço.

Eu nunca vi o amor como algo positivo. Meus pais são casados até hoje, mas o amor deles não foi o melhor exemplo pra mim quando criança; uma vez, uma psicóloga me disse que a minha visão de amor é deturpada e deprimente, porque, até onde eu sabia, amar alguém significava que era normal gritar com essa pessoa o dia inteiro, humilhar essa pessoa por erros ínfimos, ser agressivo com ela.

Graças a Deus, e a essa psicóloga, eu abandonei isso com o tempo, e entendi o que o amor realmente significa. Mas até isso acontecer, eu já estava muito fodido da cabeça para fazer alguma diferença. Então eu apenas me apaguei na única coisa que eu sabia que não teria poder sobre mim: desejo carnal.

Era tudo o que eu sentia por qualquer garota quando era adolescente. E com você, também. Pelo menos no começo.

Tudo começou com provocações ingênuas, porque aquele era o único jeito que eu sabia flertar. Mas você não caiu, você só me provocava de volta. E eu adorava isso, Cass, era o ponto alto dos meus dias. Eu até parei de prestar atenção nas outras. Era só você, Cassandra Jackson. A única que eu enxergava.

Eu me enganei por muito tempo, mentindo para mim mesmo sobre isso e dizendo que era coisa passageira, só uma atração e nada mais. Até aquele dia, quando fomos naquele Mc Donalds e tivemos a nossa primeira conversa como amigos (ou quase isso), e o que veio depois...

Naquela noite, quando você dormiu abraçada em mim depois do que fizemos na sua cama, eu tive certeza de que te amava.

Isso me assustou pra caralho, Cass.

Naquela época, eu já sabia que o amor não era aquela coisa obscura e triste da qual eu imaginava. Eu sabia que era uma coisa linda e muito, muito boa. Mas eu tinha certeza de que não sabia amar.

Quero dizer, eu sou filho do meu pai, certo? Se ele, que me criou desde o meu primeiro suspiro até meu primeiro dia de liberdade, não é capaz de fazer isso do jeito certo, quem disse que eu sou?

E eu não podia te prender nisso, Cass. Eu odiaria ver você se tornando uma versão mais jovem da minha mãe, presa com alguém que a arruina um pouco mais a cada dia, imaginando que cuida dela. Eu preferia cortar um braço fora a submeter você à essa situação.

Isso não justifica minhas atitudes babacas daquele dia em diante, não é isso que tô tentando dizer. Eu só quero que você entenda como a minha mente funcionava naquele tempo, ok?

É verdade, eu fiquei com a Debbie um dia depois de ter aquela noite com você, e mesmo reconhecendo que esse era o pior recurso de todos, eu imaginava, de alguma forma, que estava te protegendo.

E sim, também é verdade que eu continuei a vendo por mais um tempo. Mas não menti quanto a isso mais cedo, Cass. Foi insignificante, só um contato acessível pra quando eu estivesse no clima. Mas acabou há mais de um ano, eu juro.

Nunca foi minha intenção esconder isso de você, só não é pertinente o suficiente para sequer passar na minha mente. Sendo sincero, Debbie era a última coisa na minha mente há muito tempo.

Na nossa segunda noite, quando tentei resolver as coisas com você e acabamos na sua cama... Eu dormi com você, Cass. Você não percebeu, mas eu dormi. E acordei quando Raven tocou a campainha.

Ela estava desolada porque perdeu o emprego e estava com medo de precisar voltar para o país dela. Ela e meu melhor amigo estão tipo namorando, e ela nunca, nunca mesmo, foi nada além de uma amiga pra mim.

E, aproveitando o momento de sinceridade, ninguém jamais me fez sentir como você me fez. E não acho que ninguém jamais irá.

Tenho certeza de que a amo desde os 16 anos, Cassandra Jackson. Não me importo que não me ame de volta, ou que me odeie agora, eu só precisava que você soubesse disso.

Use essa informação como você quiser, mas, por favor, não vá embora.

Como, pelo amor de Deus, eu poderia ir embora depois disso?