𝖳𝖶𝖤𝖭𝖳𝖸 𝖲𝖤𝖵𝖤𝖭 | 𝖼𝖺𝗌𝗌𝗂𝖾
Aaron confessou que me ama, em uma carta onde expôs tudo o que queria, mas nunca teve a chance – ou a coragem.
Não sei, exatamente, o que eu senti com aquela carta. Eu a li e reli mais de duas vezes, com certeza.
E soube que o meu problema não era com ele. Nunca foi. Meu problema era comigo mesma, com o reflexo da minha família dentro de mim.
Respirando fundo para impedir que as lágrimas caíam, me levanto da cama e vou em passos lentos até a porta.
Ele me ama desde os 16 anos.
Eu o odeio desde os 16 anos.
Acho que temos um impasse aqui.
Abro a porta, a escuridão do apartamento me recebendo. Aaron não está em lugar algum que eu possa ver, e só me resta o seu quarto para procurar.
Bato uma vez, suavemente, e abro a porta. Também é escuro aqui, apenas a luz da lua passando pela janela, e consigo ver perfeitamente a silhueta dele na cama.
Sei que ele não está dormindo, no entanto.
Me sento na ponta da cama, ao lado dele, e sinto que vou morrer se não ouvi-lo dizer.
─ Você me ama? ─ eu pergunto.
Aaron solta um exalo que parece conter alguma dor – não física, é claro. Ele se apoia nos cotovelos, mas não se aproxima de mim.
─ Com todo o meu coração. ─ ele me responde. Volto a respirar sem mesmo perceber que havia prendido o fôlego.
Fecho os olhos com força, esfregando o topo do nariz com as pontas dos dedos. Ouço ele rir baixinho, nervoso.
─ Eu te odeio, Aaron. ─ murmuro.
─ Eu sei, já tivemos essa conversa antes. ─ ele responde, parecendo decepcionado.
─ E te odeio duas vezes mais agora, por saber que você me ama. ─ continuo. ─ E te odeio três vezes mais porque quero te odiar.
Quase consigo vê-lo sorrindo.
─ Mas...?
─ Mas ─ eu concluo, brava. ─ eu também tenho certeza de que você foi a única pessoa que eu já amei.
Silêncio. Um silêncio mortal.
─ Eu realmente não sei se essa conversa vai acabar com você nos meus braços, ou com você indo embora.
Seguro a risada, junto com a vontade de dizer que não vou a lugar nenhum, se ele quiser que eu fique.
─ Tudo depende da sua resposta para uma simples pergunta. ─ ele pula na cama, se sentando. Ele estica a mão e acende a luz do abajur.
─ Manda.
Rejeito o sorriso que luta para aparecer nos meus lábios.
─ Estamos de acordo que Dominic é muito melhor que Ivan?
Dois segundos depois, Aaron explode em uma gargalhada e me puxa para ele. Acabo em seu colo, com as duas pernas na cama, sorrindo largo.
Como é que as coisas mudam tão rápido entre nós?
─ Eu sei que já vacilei muito com você, Cass. ─ ele diz, baixinho. ─ Já fiz muita cagada e já menti também. Mas eu tô de peito aberto agora, te mostrando que eu te amo e que é verdade.
─ Eu também te amo.
Por um minuto inteiro, Aaron apenas me encarou. Meus olhos, o resto do meu rosto, sem dizer uma só palavra.
─ Diz isso de novo, por favor. ─ ele pede. ─ Preciso saber que não tô imaginando coisas.
─ Eu te amo, Aaron Liebregts. ─ seguro os dois lados do rosto dele. ─ E, por mais que a ideia não traga muita tranquilidade ao meu corpo, eu quero aqueles quatro filhos com você.
─ Aiden, Dominic, Helene e Agnes. ─ ele sussurra.
─ O que você acha de começarmos a tentar o Aiden agora?
Não há tempo para rir quando ele bate a boca na minha, abraçando meu corpo como se quisesse impedir que eu escape.
Mas eu não vou a lugar algum.
Pela primeira vez, estamos na mesma página. Sem segredos, sem histórias do passado para nos atrapalhar, e nossos sentimentos, finalmente, expostos.
O tempo inteiro, enquanto Aaron tira a minha roupa e a dele, enquanto ele me toca e me beija, enquanto ele me abraça e me segura, ele diz que me ama. De novo e de novo.
Não existe mais meu pai, ou o pai dele. Nem Debbie. Nem qualquer outro problema. Apenas eu e Aaron.
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