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𝖳𝖧𝖱𝖤𝖤 | 𝖺𝖺𝗋𝗈𝗇

Você disse alagado?

─ Sim, eu disse! Três vezes! Você prefere que eu soletre pra você?

Velho idiota.

Ok, Sr. Liebregts. Vou mandar um especialista para o seu apartamento, ele deve chegar entre às oito da manhã e uma da tarde. ─ o locador encerra a ligação.

Porra, tá de brincadeira!

Quando acordei hoje, pareceria que seria apenas mais um dia normal. Mas não. Assim que pisei no banheiro, meus pés encharcaram, e isso é ruim. Ruim pra caralho.

Eu moro no nono andar. Se essa água toda vazar para o apartamento de baixo, vão me culpar. E eu não preciso de mais essa merda nas minhas costas, obrigada.

Não tive outra opção a não ser ficar de molho – quase literalmente – esperando pelo encanador ou o que quer que seja.

Felizmente, o cara chegou às nove da manhã. Ele demorou meia hora no banheiro para me dizer, sem brincadeira nenhuma, o óbvio: ─ Alagou.

Porra, jura?

─ Eu sei que alagou.

─ Vai precisar de uma reforma interna, com troca de encanamento, ou então metade do seu banheiro vai mofar. ─ ele diz.

─ Quanto tempo e quanto custa?

─ Uns três dias, no máximo. E o preço vai depender do nível do estrago dentro da parede. ─ o homem responde.

─ Três dias?

─ Sim, senhor. E não é aconselhável que você fique no apartamento enquanto reformamos. A menos que você use máscara enquanto estiver aqui.

Bufei.

─ Eu saio. ─ falo. ─ Você pode começar hoje?

─ Sim, senhor.

─ Ótimo. Volto em três dias, então.

Pego a minha maior mochila, a que usei apenas anos atrás, quando fui acampar, e coloquei algumas roupas, dois pares de tênis, meus produtos de higiene, meu notebook e mais algumas coisas.

Eu estava indo para a universidade, mas desviei do caminho. Eu poderia perder algumas aulas hoje.

Em quinze minutos, eu estava dentro do elevador em um prédio de luxo. Vinnie abriu a porta para mim e nós dois caímos no sofá na mesma hora.

─ Caralho, que sono. ─ ele resmunga, deitando a cabeça no sofá.

─ Eu odeio acordar cedo também. ─ falo, imitando sua posição. ─ Como andam as coisas na empresa?

Me lembro que, na semana passada, Raven chegou no meu apartamento, praticamente desesperada porque perdeu o emprego, depois de quebrar o nariz de um idiota – bem merecido –, e eu prometi ajudá-la. No fim, consegui que ela fosse encaixada como nova secretária na empresa do pai de Vinnie.

Percebo que ele não me respondeu, e dou risada.

─ Acorda, cara! ─ estalo os dedos em frente rosto dele ─ Tô aqui falando já faz cinco minutos e você aí, olhando pro nada. Tá chapado ou alguma coisa assim?

─ Bem que eu queria. Tenho que ir trabalhar hoje, não posso chegar lá chapado. ─ dou risada.

─ Tenho dó de você.

─ E eu de você. 

Nos encaramos antes de rir.

─ O que você tá fazendo aqui, Liebregts? Você quase não vem me visitar. ─ ele cruza os braços.

─ Estava de passagem por aqui e resolvi dar um oi, já que você é ocupado demais para responder minhas mensagens, bastardo idiota. ─ dou de ombros e ele revira os olhos. Não menciono que estou temporariamente desabrigado.

Eventualmente, olho para o seu braço tatuado, e quase sorrio, me lembrando da nossa época no ensino médio, quando nos rebelamos juntos contra nossos pais.

─ Meu pai tá muito no meu pé ultimamente. ─ ele resmunga.

─ Sei como é. O meu quer que eu comece um curso de Gestão Pública e Ciências Sociais no verão. Seis meses de cada. ─ bufei. Essa foi a condição por ele ter arrumado um emprego novo para Raven. O verão não vai começar em quase um ano, eu sei, mas mesmo assim... ─ Dá pra acreditar nessa merda? Eu. Na política. ─ balanço a cabeça.

─ Com todas essas tatuagens? Você teria zero credibilidade. ─ ele brinca.

─ Você já se olhou no espelho, filho da puta? ─ retruco. ─ Pelo que eu me lembro, a ideia de se rebelar contra nossas famílias e gastar quase dois mil em tatuagens foi unicamente sua.

─ E você aceitou na hora.

Não respondi, mas sorri.

─ Eu não vou entrar pra política. Nem fodendo. ─ murmuro, então me levanto do sofá. ─ Tenho aula em uma hora. Projetação de imagens. ─ esfrego as mãos. Posso ter perdido algumas aulas hoje, mas essa é a última do dia e eu odiaria perder.

─ Eca. ─ ele finge uma expressão de nojo e eu mando o dedo pra ele. ─ A gente se fala depois.

Ele me acompanha até a porta, e logo estou de volta ao meu carro.

Como planejado, assisti a última aula do dia, antes de começar a pensar onde caralhos eu ficaria nos próximos três dias.

Eu não poderia dormir no carro. Precisaria de um banheiro, pelo menos. Então o plano B: um hotel.

Depois de rodar por quase uma hora com o carro, encontrei um. A placa estava pendurada, e a luz não acendia; o sino da porta fez um barulho baixo quando entrei, e quem estava atrás do balcão velho era uma pequena senhora.

Pedi por um quarto, por uma noite. Dependendo do estado, eu poderia pedir por mais duas noites amanhã.

Com a minha bolsa no ombro, fui para o quarto.

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