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𝖳𝖤𝖭 | 𝖺𝖺𝗋𝗈𝗇

─ Muito curto.

─ Muito longo.

─ Muito enfeitado.

─ Muito desleixado.

─ Muito conservador.

─ Muito ousado.

Essas foram as palavras que eu mais ouvi nos últimos trinta minutos. Há trocentas lojas na Main Street, e duvido que teríamos passado da segunda se eu não tivesse falado nada.

Cassie é a pessoa mais indecisa da face da terra. Falando sério, eu já acompanhei minha mãe em lojas como essas mais de uma vez, e ela nunca demorou trinta minutos para escolher um vestido. É rídiculo.

─ Cassie. ─ a chamo, mas ela não me olha. ─ Cassandra, você tá demorando pra caralho! Dá pra acelerar um pouco?

─ Cala a boca. Fazer compras é um ritual sagrado, não dá pra acelerar nada─ ela me responde.

Balanço a cabeça e a pego pelo pulso mais uma vez. Sob suas reclamações, a carrego para fora da loja. Ela me encara brava.

─ Escolhe uma loja. Uma loja. E você não vai sair dela até achar um vestido.

Ela para, muito quieta de repente. Depois de quase dois minutos, ela aponta para uma loja. Nem leio o nome, e ando até lá com ela ao meu lado.

─ Eu vou te ajudar. ─ falo, e ela contesta. ─ Não foi uma sugestão, Cassie. Não tô a fim de ficar mais meia hora aqui, obrigada.

Começo a andar pela loja, sem ela ao meu lado. Pego um vestido de uma arara, e penduro no meu braço. Faço isso com mais dois, e quando reencontro Cassie, ela tem dois vestidos no braço.

─ Vai experimentar. ─ entrego os três vestidos para ela e a sigo até o corredor de provadores. Ela para bruscamente. 

─ Você não vai entrar comigo.

─ É claro que não. Vou esperar aqui. ─ me sento em uma das cadeiras em frente as portas dos provadores. ─ Uma pena pra você, né?

─ Aham. ─ ela ironiza e entra em uma cabine.

Tiro o celular do bolso, me mantendo ocupado enquanto ela não se troca. De repente, a porta se abre, e vejo Cassie dentro de um vestido; é um dos que ela escolheu, com decote quadrado, costas completas e até o joelho.

─ Não. ─ falo.

─ Não é você que vai escolher, idiota.

─ Sou eu que vou pagar. ─ dou de ombros. ─ E, se você não quer que eu diga nada, pra que abriu a porta? 

Ela se cala e fecha a porta na minha cara. Dou risada.

─ Eu ainda quero ver cada um deles. ─ quando ela não responde, acrescento: ─ Eu vou me arrastar por baixo se você não abrir a porta.

─ Você é um idiota insuportável, sabia?

─ Tô ciente disso, sim. Mas acho que você deveria escolher outro xingamento, coração. Idiota já tá bem ultrapassado.

─ Vai se foder.

─ Vou. Vem comigo? ─ Cassie fica mortalmente em silêncio, e eu também não falo nada depois disso.

O primeiro barulho depois disso vem do trinco da porta, e depois ela se abre. Vejo Cassie, no seu segundo vestido. É curto demais para um evento social, mas é perfeito para uma saída com amigos. Não é o que estamos procurando, e ela entende isso, porque fecha a porta e se troca mais uma vez.

─ Cassandra, pelo amor de... ─ me calo quando a porta abre.

Esse é um dos que eu escolhi; decote redondo, mas comportado, a barra um pouco acima dos joelhos, mas...

─ É muito aberto atrás. Não quero parecer uma piranha.

─ Onde é que tá o feminismo em vocês, mulheres? ─ brinco, e ela revira os olhos. Fecha a porta mais uma vez. ─ Isso tá muito demorado, Cass. Acho melhor eu te dar uma das minhas camisetas brancas, você põe um cinto e uma saia, e pronto.

─ Não seja um babaca.

─ Ah, olha só! Não mais idiota, parece?

─ Babaca e idiota. 

Sorrio, mas ela não vê.

A porta se abre mais uma vez, e ela parece muito satisfeita com esse vestido. Não tem um decote aberto, mas uma renda tão fina que é quase transparente faz o trabalho; é do mesmo comprimento que o anterior, mas com uma fenda na lateral que o deixa mais... quente, mas não ao ponto de atingir a indecência.

─ É esse. ─ para a minha surpresa, falamos juntos. 

Ela fecha a porta pela última vez, e sai com as roupas que estava antes: moletom e camiseta. Pego o vestido escolhido e ando na frente dela, até o caixa. Mas então paro.

─ Ai! ─ ela reclama, quando bate o nariz nas minhas costas. ─ O que foi? 

─ Você tem algum sapato que combine?

─ Tenho. ─ ela responde, mas não sinto firmeza. ─ Eu tenho!

─ Tem mesmo? Ou só não quer que eu compre um?

─ Os dois. ─ ela dá de ombros, e leva a mão até a nuca por um segundo. ─ Não preciso de sapatos novos. 

Volto até o caixa, e entrego o vestido para a mulher do outro lado, junto com um cartão de crédito.

Cassie pega a sacola, junto com a nota fiscal. Claramente, ela deixou os modos dentro do carro, porque ela praticamente grita a todo pulmões.

─ Mil e quinhentos dólares por um vestido? 

Quase dou risada, mas apenas sigo até o carro, com ela atrás.

─ Para de andar na minha frente assim! É rude e falta de educação.

Não respondo.

Entramos no carro e dou partida, e o assunto volta.

─ Eu vou te pagar de volta.

─ Não vai não.

─ Vou sim.

─ Cassandra, você não vai me pagar nada de volta. Foi um presente. ─ o que eu queria dizer era: você tá trabalhando em um maldito restaurante para continuar guardando dinheiro para a faculdade, então não vai me dar mil e quinhentos por nada. Mas não digo. ─ Só aceita. Em silêncio, de preferência.

Ela bufa, mas não retruca.

Quando chegamos no prédio, ela tenta sair correndo e pegar o elevador, mas como mais cedo, entro antes que a porta feche. O botão com o número cinco está aceso.

─ Você mentiu sobre os sapatos, não mentiu? ─ ela mexe os ombros, evitando meus olhos. ─ Eu sabia.

─ Não sabia nada.

─ Sabia sim. Você mexe na nuca quando mente.

─ Não mexo não! ─ e para confirmar, ela faz exatamente isso. ─ Ah, merda. Tá! Menti, e daí?

Dou de ombros.

─ O problema é seu. Por mim, você vai de all star. ─ ela revira os olhos, e o elevador abre. ─ Não demora, senão eu tranco a porta e você fica pra fora.

─ Faz isso. ─ ela pisca pra mim.

Ela sabe que eu não faria.

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