× t w o ×
henry.
— Oh, shit.
Foram as palavras que saíram da boca dela, e da minha também. O que ela estava fazendo no meu apartamento?
— O que você está fazendo aqui?
Falamos juntos, novamente.
— Foi esse endereço que o Connor me entregou. Ficarei hospedada aqui até isso tudo passar. — Demi respondeu como se estivesse certa.
— Não não. Esse é o apartamento que ele me indicou. — Respondi. — Você deve ter lido errado no papel. Ou talvez o GPS te mandou para o lugar errado.
Ela revirou os olhos.
— E como você tem a certeza que não é você que está no lugar errado?
Teimosa. Era isso o que ela era. Teimosa e mimada.
— Ligue para Connor. Pergunte onde você ficará. Te ajudo se precisar. Antes só preciso tomar meu banho.
— Porta errada. — Ela me alertou no momento que abri a porta, dando de cara com o céu azul da primavera.
Me virei sem agradecer e fui para outra porta. O banheiro parecia ser o lugar maior da casa. Se é que podemos chamar de casa.
Era tudo tão pequeno, não tinha divisórias, a não ser as paredes do banheiro. Para uma única pessoa, era um lugar bom. Passar alguns dias ali não seria sacrifício.
Tomei meu banho relaxado e rápido. Saí com a toalha amarrada na minha cintura e nada mais, esperando que aquela mimada já teria dado os pés dali.
Dei de cara com ela comendo tranquilamente na bancada da cozinha. Sugava o macarrão instantâneo enquanto olhava o celular.
— Por que não foi embora ainda?
🏙️
demi.
Olhei para Cavill, que tinha aquela voz levemente alterada.
E eu estava ferrada. Ferrada sim. Mais ferrada do que tinha estado na minha vida toda!
Ele estava com a toalha amarrada no quadril, e ela parecia querer se soltar, algumas gotas de água ainda insistiam em correr por seu tórax nu. E que tórax. Não sabia se olhava para o seu tórax, para sua toalha, ou para seus olhos.
Desviei o olhar mais rápido que pude. Não daria a ele a oportunidade de me sacanear por estar olhando para ele.
Dei de ombros. Eu tinha chego ali primeiro! Era meu por direito.
Fixei meu olhar no celular, sem realmente ver o Instagram. A tentação de olhá-lo nu era grande demais.
Com minha visão periférica observei ele ir até sua mochila que estava jogada no sofá. Poucos segundos e ele voltou ao banheiro.
Soltei a respiração, como era possível alguém tão horrendo por dentro ser tão lindo por fora?
Em minutos ele estava na cozinha, mexendo no armário.
— Essa compra dá para um mês todo! Como são exagerados. — Ele falou e eu fiquei quieta, fingindo não ter pensado exatamente a mesma coisa.
Escutei ele pegando algumas verduras e legumes. Lavou, descascou, cortou e cozinhou o que era necessário.
Eu estava com tanta fome que estava fazendo mais um macarrão instantâneo no micro-ondas. Ficou pronto no exato momento que Henry sentou com seu prato.
A bancada ali só tinha dois bancos, então fui obrigada a sentar ao lado dele. Comia tranquilamente quando ele me entregou um prato de salada.
— Pare de comer porcaria.
Foi a única coisa que ele disse. Terminei meu macarrão e ataquei a salada. Eu não tinha comido o dia todo.
Não sei que mágica Henry tinha feito ali, mas aquela era a salada mais saborosa que eu tinha comido em bastante tempo.
— Obrigada. — Disse de boca ainda cheia e ele só assentiu com a cabeça.
— O que o Connor disse sobre onde você vai ficar? — Ele me perguntou.
— Nada. Não liguei para ele.
— Você poderia ligar, por favor?! — Ouvi a sua voz quase que implorar.
— Por que tem tanta certeza que eu estou no lugar errado?
— Porque foi o próprio Connor que me trouxe.
— Então ligue você pra ele. Pergunte o porquê te deixou no lugar errado.
Continuei comendo. Eu não sairia dali.
Ele pegou o celular, discou algo, e deixou tocando no viva voz.
Connor atendeu no quarto toque.
— Oi, Henry. Algo errado?
— Por que Demi está no meu apartamento?
— O apartamento é para os dois.
— Como assim? — Perguntei de boca cheia.
— Era para termos feito reserva em um hotel, porém não sabíamos quem ia querer ficar em um apartamento e quem ficaria no hotel. Íamos perguntar quando tudo acabasse. E então veio o isolamento, e nenhum hotel está autorizado a hospedar. O que sobrou é apenas o apartamento para os dois.
— Então vou ter que dividir o apartamento com ela?
— É algum problema? Porque não sei como resolver no momento.
— Vamos nos virar. — Respondi.
Henry desligou mesmo sem se despedir.
Terminei de comer a salada e juntei tudo na pia. Já que teríamos que conviver, eu tentaria colaborar. Coisa que Henry não parecia querer fazer.
Sentei na cama e fiquei procurando algum e-book disponível e interessante para passar o tempo.
— Ah, Henry, quando terminar de comer, me avise por favor. Lavarei a louça.
— E princesa da Disney sabe fazer isso?
— Cinderella arrumava a casa todinha, Branca de Neve também era escravizada pela madrasta, Mérida ajudava os pais com os irmãos, Bella morava sozinha com o pai. Sim, princesas da Disney fazem serviços domésticos. E não me chame de princesa da Disney. Não é porque fiz sucesso quando estava lá que ainda sigo seus padrões e exigências.
Me desliguei dele. E fiquei pensando na nova música que estava compondo.
— Terminei. — Ele anunciou.
Lavei toda louça, guardei na geladeira o que havia sobrado e fiquei esperando ele sair da cama. Aquele trambolho humano não se manifestava.
— Henry, poderia ir para o sofá, por favor? Cheguei aqui primeiro. A cama é minha por direito e eu estou morrendo de sono.
— Não vou dormir no sofá nem a pau.
— Por favor. — Supliquei.
— Vamos fazer assim — ele se levantou e foi até o sofá, pegando algumas das almofadas que estavam ali — a cama é grande, cabe nós dois e uma barreira de almofadas.
🏙️
henry.
A cara que ela fazia era impagável. Ela estava indignada.
Eu não iria dormir naquele sofá, não havia espaço para isso. Ela dividiria a cama, ou dormiria em outro lugar.
Puxei a coberta, colocando as almofadas bem no meio da cama.
Ela saiu da cozinha, deitou na cama emburrada e se cobriu.
Deitei no lado que me sobrou, repassando o dia que tive. Não podia negar que Demetria me surpreendeu. Foi extremamente profissional, se preocupou em alertar a população, aquele vídeo tinha sido ideia dela.
Pensando em todo o meu dia, a cabeça de baixo quis dar as caras, fingi que não percebi isso. Parecia que eu tinha quatorze anos novamente, não podia ver uma mulher bonita e lá estava ele, todo pimpão querendo aparecer.
Custei a pegar no sono, mas quando adormeci, sonhei com curvas, um cabelo castanho e uma voz cantarolando.
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