X - F i m
Hanna está na minha casa. Ela está aqui, conversando com a minha mãe e comendo os biscoitos coloridos e festivos que eu fiz ontem.
A parte mais bizarra e legal disso é que ela parece totalmente à vontade. Não vejo nenhum sinal de desconforto em seu rosto. É um Natal bastante diferente para nós dois, mas talvez ela esteja gostando.
Meu coração acelera no mesmo momento em que ela me encara e morde um biscoitinho em fomato de árvore.
Minha mãe comenta:
━É a primeira vez que Nate trás uma garota aqui em casa, Hanna.
Minhas bochechas ficam quentes e protesto:
━Mãe!
━Estou feliz que seja a Hanna. Era ela quem trazia os cadernos para você copiar, após o acidente, certo? Eu jamais esqueceria uma garota tão querida.
É a vez de Hanna ficar vermelha e sinto-me aliviado por não ser o único envergonhado na sala.
━Pensei que vocês fossem passar o Natal na biblioteca. A nevasca foi muito intensa.
Eu e Hanna nos olhamos e damos um sorriso cúmplice. Nem vimos o final da nevasca, já que estávamos ocupados cantando e nos beijando.
Seguro a mão dela por baixo da mesa e tomo coragem antes de falar:
━Posso mostrar meu quarto para a Hanna, mãe?
Minha mãe estreita os olhos, ajeita o óculos em cima do nariz e, finalmente, diz:
━Claro, Nate. Foi um prazer te ver novamente, Hanna.
━Igualmente, sra. Bosnell.
Subimos as escadas de mãos dadas, rindo sem motivo algum. Não quero soltar a mão dela nunca mais.
Quando Hanna entra no meu quarto preciso me sentar na cama para ter certeza de que isso é real. Ela repara em tudo, desde nos pôsteres de bandas até nos livros e action figures espalhados pela estante acima da mesa do computador.
Gostaria de conhecer o quarto dela também. O lugar onde ela lê, onde ela sonha, onde dorme...
Ainda com o olhar vagando pelo cômodo, ela senta ao meu lado com um sorrisinho misterioso.
━É esse o habitát do nerd moderno. Pensei que seria mais bagunçado.
Claro que não contenho o comentário engraçado:
━Admite que imaginou como seria o meu quarto?
━Não o seu quarto, espertinho, mas o de um nerd qualquer.
━Eu não sou um nerd qualquer, Hanna, digo, fingindo tristeza.
Ela começa a rir e o som é tão gostoso, tão próximo, tão íntimo, que inclino a cabeça e beijo-a na bochecha com carinho. Como é possível adquirir essa intimidade em tão pouco tempo?
Não quero esquecer esse momento nunca, porque as férias irão acabar e o que tivemos em um dia, em uma tarde na biblioteca, pode não durar.
Sei que nos conectamos lá, no meio da nevasca. Foi como se o tempo tivesse parado para que nós dois pudéssemos nos conhecer melhor, mas... E agora? E quando as aulas recomeçarem?
Suspiro alto demais e Hanna percebe minha inquietação, pois puxa uma das minhas mãos para o seu colo.
━No que está pensando?
━Em nós. No que o dia de hoje significou para mim e para você. No que seremos. Se seremos algo.
━Você se preocupa demais, Nate, ela diz e dá um sorriso reconfortante para mim.
━Desculpe, eu não sei como isso funciona, admito, sentindo minhas bochechas corarem.
━Você não leu Orgulho e Preconceito? Ela pergunta, para me provocar.
━Claro que eu li. Quer que eu seja o Mr. Darcy?
━Não, quero que seja você.
Ela levanta-se, vai até a minha estante e estreita os olhos ao ver algo. Meu coração acelera não de paixão, mas de medo.
Hanna abre um sorriso torto ao pegar uma coleção preta e bastante conhecida de livros.
━Crepúsculo, Nate?
As sobrancelhas dela estão arqueadas, esperando uma resposta. Eu engulo em seco e coço a minha nuca com nervosismo.
━Se eu tivesse uma irmã poderia dizer que é dela, mas você descobriu meu segredo. Outro segredo.
━Você também lê romances.
Levanto-me, pego a coleção das mãos dela e coloco-a no mesmo lugar de antes. Estou nervoso. Caramba, eu não sabia que eu conseguia fica tão nervoso assim! Claro, estou com uma garota (não qualquer garota, a Hanna) no meu quarto pela primeira vez, então tenho motivos de sobra para ficar agitado.
Minhas mãos estão suando. Droga.
Estou ansioso com as possibilidades, com o futuro que temos. Penso em algo para dizer, mas não consigo.
Sou pego de surpresa pelos braços dela, em volta do meu pescoço, o corpo cheio de curvas encostado ao meu, o cabelo com cheiro de chocolate caindo em meu ombro.
É difícil falar com ela assim.
━É o Natal mais feliz que eu tive em anos. Obrigada por isso, Nate.
Hanna sussurra a confissão em meu ouvido. Abraço-a pela cintura com carinho, fechando os olhos e alocando esse momento na memória para sempre.
━Podemos estender essa mágica um pouco? Pergunto.
Ela se afasta e me olha com confusão.
━Como assim?
━Queria que você ficasse feliz todos os dias, não apenas no Natal e... -mordo os lábios, sentindo o rosto inteiro arder de vergonha com o que vou dizer: acho que consigo te fazer feliz, se você deixar. Isso parece brega, eu sei, mas eu gostaria de tentar. De ter uma chance não apenas durante o Natal.
Suas sobrancelhas estão unidas e o cenho franzido. Fico tão nervoso que não consigo parar de falar:
━Sei que na escola pode ser diferente, mas ainda temos tempo até lá. Se quiser fingir que não me conhece quando as aulas voltarem, tudo bem também.
Ao final da frase sinto uma dor na garganta, de quem está prestes a chorar. Esperar uma reação dela é difícil e doloroso. Isso é tão complicado e injusto! Eu não tenho nenhuma experiência, o que eu devo falar? Não há um manual para isso.
Quando vejo sua expressão relaxar num sorriso tranquilo, fico aliviado.
Hanna entrelaça um braço no meu e me puxa para a cama. Deitamos lado a lado no colchão e não ouso mover um dedo. É o mais intimamente que eu já estive com uma garota. E é Hanna, a garota que eu sempre adorei de longe.
━Nate, ela começa, eu nunca tive um namorado que gostasse de ler.
Sua frase me pega de surpresa. Viro o rosto para encará-la.
━Isso foi um pedido de namoro? Pergunto baixinho, incrédulo.
━Acho que sim. E não quero um namorado apenas para o Natal. Mas tudo bem se não quiser aceitar meu pedido de namoro, podemos nos conhecer melhor...
━Não! Eu praticamente grito e ela dá uma risada alta. Quer dizer, sim, eu aceito. Não precisamos de tempo, eu estou pronto, preparadíssimo.
Hanna vira-se para mim, encosta o rosto no meu ombro e diz:
━Não planejo fingir que você não existe na escola. Vai ter que ir a todos os jogos nos quais eu me apresentar.
Sua expressão convencida e desafiadora é tão bonita que faz arrepios percorrerem meus braços. Viro-me para ela também e ajeito seu cabelo para trás.
Dormirei com o cheiro de chocolate dela no meu travesseiro hoje.
━Com o maior prazer, digo com convicção.
Passamos alguns minutos em silêncio apenas nos olhando. Ainda estou incrédulo com a realidade, mas tento não parecer tão chocado assim.
É Hanna quem quebra o silêncio:
━Você será meu parceiro de biblioteca.
Então complemento:
━Serei seu parceiro de Natal também. Muitos Natais, murmuro.
━Você transformou o meu Natal esse ano, Nate, ela suspira e fecha os olhos ao dizer isso.
━Acho que precisamos agradecer à nevasca.
Estamos próximos agora, minhas mãos em volta dela e as dela na minha cintura. Quero ficar assim por longos minutos, tranquilo, feliz e realizado.
━Minha mãe teria te adorado.
Ela sussurra a frase em meu ouvido e me abraça com força. Quando Hanna se afasta para me olhar, vejo o sorriso mais sincero e feliz que já vi em seu semblante. Seus olhos estão marejados, mas as lágrimas não caem.
Inclino-me e beijo-a gentilmente, sentindo o gosto dos biscoitos natalinos em seus lábios.
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