Sana nunca gostou muito do natal, não quando morava com seus pais, quando tinha que passar aquele dia sozinha porque eles simplesmente queriam sair com os amigos ou como um casal, o que sim, japoneses solteiros era normal, mas com uma criança pequena? Sana pensava como eles tinham coragem de a deixar tão sozinha assim, inclusive em seu aniversário.

Mas agora...

Agora era casada com duas mulheres incríveis que nos últimos quase dez anos juntas, tinham feito de tudo para que Minatozaki se sentisse feliz naquele feriado, ficasse com a mesma animação para seu aniversário - que viria dias depois - que elas ficavam, mas trabalhando com o que trabalhavam, muitas vezes, tinham que estar no hospital no dia de seu aniversário ou natal.

Sana não gostava muito de pensar em como suas esposas sempre ficam decepcionadas nesse quesito, mesmo que elas também tenham escolhido profissões naquela área.

Faria de tudo para ver aquele sorriso nos rostos delas.

- Doutora Minatozaki. - Uma das enfermeiras a chamou enquanto Sana saia da última cirurgia do dia, exausta, só queria um banho. - A doutora Chou te mandou mensagem durante a cirurgia, ela pediu para que você a ligasse depois que acabasse.

- Obrigada. - Sorriu de leve, sua cabeça doía um pouco. - Você sabe se Jihyo está na preparação cirúrgica hoje?

- Eu acho que sim, eu tinha visto ela antes de entrarmos.

- Obrigada. Feliz natal!

- Feliz natal, doutora!

Podia muito bem ligar para a esposa, mas sabendo onde ela poderia estar, então decidiu tomar um banho rápido - mesmo que fosse tomar outro quando chegasse em casa por odiar deitar na cama sem estar limpa - para poder encontrar uma de suas mulheres estando cheirosa, mesmo que fosse tomar outro quando chegasse em casa por odiar deitar na cama sem estar limpa - para poder encontrar uma de suas mulheres estando cheirosa, mesmo que elas estivessem acostumadas, preferia sempre deixar suas esposas darem um cheirinho gostoso em seu pescoço sem acharem ruim.

Mandou uma mensagem rápida para a diretora do hospital para perguntar quando suas esposas iriam terminar seus plantões e quando seriam os próximos para ter certeza que poderia fazer o que tinha planejado.

Elas estavam tão cansadas nos últimos dias que conversavam sobre talvez não iriam fazer nada no natal, simplesmente porque não tinham energia de fazer absolutamente nada, mas Sana não poderia deixar um feriado que elas gostavam tanto passando em branco.

Além do mais... aquele ano era especial...

Limpa, cheirosa e com informações em mão, decidiu primeiro ir procurar Tzuyu por ela também já estar a esperando e também por saber que as duas provavelmente estariam pelo menos perto, afinal, as duas tinham a mesma especialidade.

E estava certa!

Assim que entrou na ala da pediatria, encontrou Tzuyu apoiada do lado de uma das máquinas de lanches com um sorriso largo nos lábios enquanto conversava com Jihyo.

- É fácil achar mulher bonita nesse hospital, não é? - Quase simultaneamente, suas esposas se viraram para ela com um risinho bobo nos lábios, sem se importar muito se estavam no trabalho ou não, Sana abraçou Jihyo por trás para beijar o rosto da Park. - Você estava me procurando, Tzu? Eu estava em cirurgia.

- Não era nada demais, amor, eu só queria saber quando você iria sair para te chamar para comer algo. - Estendeu a mão para fazer um carinho nos dedos branquinhos da Chou, essa que sorriu levemente. - Cansada demais?

- Consegui dormir um pouco entre uma cirurgia e outra, mas meu plantão acaba em meia hora, então quando eu chegar em casa eu durmo mais. Vocês vão ficar um pouco mais, hm? - Seu coração errou uma batida quando Jihyo se virou e passou levemente o nariz em sua bochecha, ainda se sentia a mesma bobona que começou a namorar elas na faculdade.

- A gente entrou seis horas depois de você, querida. - Jihyo mostrou sua latinha de energético, Sana suspirou. - Está tudo bem. Vai para casa, meu bem. Quando a gente estiver indo embora, te ligamos.

- Eu posso dormir na sala de plantão e ir embora com vocês...

- Nem faria sentido, meu bem, você veio em outro carro. Vá para casa.

Não poderia discutir, não com suas esposas a olhando de forma firme, simplesmente suspirou e assentiu.

- Tudo bem... eu amo vocês, sim? -

- A gente também ama você. Agora vai terminar o que você precisa fazer e vai para casa dormir!

***

Mesmo dizendo que iria dormir, Sana sabia bem que não conseguiria, muito menos tendo que fazer compras em pleno início de tarde do dia 24 de dezembro, não de presentes, claro, esses estavam escondidos em seu escritório desde o início do mês, mas para o que iria cozinhar na ceia.

Para sua sorte, não estava sozinha, tinha conseguido que Momo a acompanhasse para ter certeza que não iria esquecer nada.

- Por que você tinha que vir logo hoje?
- Resmungou coçando o rosto, já via o inferno que seria para passar no caixa.

- Porque eu acabei de ficar quarenta e oito horas no hospital? - Sana respondeu baixo, olhando fixamente para a lista em suas mãos.

- Justo. O que você quer fazer para comer? Minari disse que vai levar um doce, ela está fazendo ele lá em casa, mas não sei o que é.

- Se for torta de chocolate eu vou beijar a boca da sua esposa!

- Que porra é essa, Sana? - A cirurgiã não conseguiu conter a risada ao levar uma cotovelada, amava estressar Momo, ainda mais por ser fácil. - Suas esposas sabem que você está dando em cima da minha?

- Momo, se minhas esposas estivessem aqui, elas também estariam dando em cima da sua esposa.

- Vai tomar no cu!

Sana poderia jurar, às seis horas de diferença entre o horário que ela saiu do hospital e o horário que suas esposas iriam sair, foi todo passado em uma maldita fila de supermercado imensa, com toda certeza, passou mais tempo em pé ali do que andando pelo atacadão pegando coisas.

E não soube como, mas quando chegou em casa com Momo em seu encalço e café em mãos, suas esposas ainda não tinham chegado.

Ao menos não levaria esporro!

- Dahyun e Chaeyoung vão chegar em alguns minutos, elas só estão terminando de arrumar as crianças. Mina também chega daqui a pouco, Nayeon e Jeongyeon estão vindo com as Yeon, vão ficar de olho nas crianças.

- Ótimo! Avisa que coloquei uma senha temporária que eu coloquei na fechadura para elas, 2412. - Mais relaxada, Sana começou a tirar as compras da sacola, queria que tudo estivesse perfeito! - Você começa cortando os vegetais? Vou temperar o frango.

- Corto, mas você é brega viu?

- Eu não pensei em mais nada! Adianta, praga!

Aos poucos, a casa foi enchendo com suas amigas e os filhos delas, simplesmente adorava aquilo, nunca teve a casa cheia daquela forma sendo filha única de filhos únicos, agora, com seu grande círculo de amizade, era incrível.

Assim que as mais velhas do grupo chegaram com as mais novas, Nayeon abriu a porta do quintal para brincar de qualquer coisa que fosse ali com eles - e os vigiar para eles não se matarem na piscina - e deixou que as mães fossem ajudar Sana sem preocupação nenhuma, Mina chegou com seu bebê momentos após, e Jeongyeon já estava pronta, com uma roupa levinha para a japonesa a ajudar com o canguru e colocar o filho afivelado nele.

Enquanto cozinhava, Sana verificou rapidamente como suas esposas estavam, Jihyo não respondeu, o que a dizia que ela estava tirando um cochilo na sala de plantão e Tzuyu confirmou isso, dizendo que também estava acordando naquele momento, iria comprar um café e verificar um mini paciente.

Ao menos elas estariam um pouco descansadas quando chegarem... pensou preocupada.

Tinha que passar um café quando elas estivessem saindo.

Em algum momento durante a tarde, Dahyun conectou o celular no sistema de som da sala e cozinha, foi escolhida uma playlist que elas tinham feito algum tempo atrás, que era atualizada sempre que elas se encontravam na casa de alguma delas, já que assim, sempre teria alguma música que pelo menos uma delas gostasse.

Com a ajuda de quatro pessoas, as preparações foram feitas com mais rapidez do que Sana esperava, não era um jantar tradicional, para os olhos de Mina que cresceu nos EUA, para os olhos das coreanas ou de Sana, mas também não eram uma família tradicional. Desde que decidiram começar a passar o feriado juntas, as ceias haviam consistido de uma mistura de comidas que elas gostavam invés de uma tradição que muitas vezes as deixavam com fome quando eram crianças.

O jantar daquele ano que na maioria dos anos tinha alguma modificação - era peixe pronto para ser frito e grelhado, lasanha no forno, vegetais para ser grelhados,frango esperando o óleo esquentar, arroz cozinhando, macarrão com o molho pronto para ser finalizado e bifes no tempero esperando para serem grelhados.

Sana estava feliz!

Estava tudo praticamente pronto!

Pensando nisso, subiu para seu escritório para pegar os presentes que havia comprado, não só para suas esposas, mas para amigas e filhos dessas.

A árvore de natal cheia era uma visão que fazia o coração de Sana acelerar um pouco, nunca havia tido algo como aquilo na sua infância e saber que, agora, tinha uma família que realmente queria passar o feriado com ela, não que estava ali porque a primeira nevasca do ano impediu que saíssem.

Finalmente, depois de tanto tempo em seus pés, Sana conseguiu se sentar ao lado de Mina, sua amiga tinha pegado seu filho dos braços de Jeongyeon para o alimentar, era uma cena adorável, principalmente com Momo sentada ao seu lado com os olhos brilhando enquanto observava a esposa amamentando bebê delas.

- Minwoo está ficando com suas pintinhas, Mittang. - Comentou baixinho para não incomodar o sobrinho com o rosto tão pacifico e sonolento.

- Eu falo isso todos os dias. - Momo sorriu boba, seu dedo passando levemente no queixo do bebê. - Mas o nariz ainda é o meu!

- Você sonha, Momo! Ele é completamente a Mittang.

- Deixa ela, Sattang ou quando você tiver um, Momo não vai parar de te encher o saco, você sabe disso. - Tirou com cuidado a franja que crescia abaixo dos olhos do menino, pensava de onde havia saído o gene daquela rapidez para os cabelos dele crescerem.

- Eu sei! Mas até lá, eu vou continuar!

- Você é insuportável, sabia?

- E mesmo assim, vocês me fizeram madrinha do filho de vocês!

Com um sorriso leve, seus olhos passearam para a janela que dava para seu quintal, conseguia ver perfeitamente Dahyun sentada na grama com Seyoung em seu colo, claramente a pequena tinha pedido um novo penteado à mãe e ela estava ficando simplesmente adorável com as trancinhas, enquanto Chaeyoung observava de braços cruzados Jeongyeon e Nayeon correndo atrás de Dayeon para ter certeza que não iria acontecer nada.

Nossa...

Começava a escurecer quando recebeu uma ligação de Tzuyu dizendo que estavam voltando, a voz menos cansada do que imaginava que estaria, mas ainda assim, se pôs de pé no mesmo momento para passar um café fresquinho para suas esposas.

Será que apanharia?

***

Sim, com certeza

Jihyo e Tzuyu poderiam matar a esposa delas com as próprias mãos, ela tinha passado o maldito plantão inteiro, em pé, em cirurgia, mas quando chegaram em casa, haviam carros que conheciam muito bem do lado de fora e um cheiro delicioso de comida no ar.

Sana tinha feito a ceia para elas por saber que elas não poderiam.

Invés de tentar estrangular a mulher, apenas respiraram fundo e a abraçaram
com força.

- Obrigada, meu bem.

- Eu sabia que vocês precisavam disso, foi um ano... difícil. Vocês precisavam de um descanso.

- Obrigada... - Jihyo resmungou, o rosto contra o suéter da esposa.

- Tem roupas separadas para vocês na nossa cama, tomem um banho gostosinho, a gente vai terminar tudo aqui para jantarmos.

***

Havia um motivo para terem comprado uma casa tão grande, esse era: poder ter suas amigas ali sempre, principalmente depois delas terem filhos.

As únicas sentadas na sala além do trisal, eram apenas Nayeon e Jeongyeon, as duas estavam juntas em uma das poltronas tomando suas taças de vinho, mas Jeongyeon principalmente tinha uma sobrancelha arqueada, Jihyo e Tzuyu tinham suas bebidas em suas mãos - mesmo que Tzuyu bebesse muito raramente -, mas Sana... nada?

- Sattang... você não vai beber nada hoje? - Um sorriso cresceu nos lábios da médica, ela negou levemente, suas esposas a olhando sem entender. - Aconteceu algo? Você nunca nega um vinho, está tentando parar de beber?

- Não... não, é outra coisa na verdade. - Se levantou para procurar um dos presentes na árvore, os olhos de suas esposas sempre nela. - Eu iria esperar vocês irem deitar para eu mostrar, mas... já que me perguntaram... - Finalmente achou o que procurava, um pacote fino e colorido, Tzuyu jurou que era para um dos meninos. - Feliz natal, meus amores.

Foi Jihyo quem pegou o pacote sem entender, ela o abriu e puxou um envelope pardo lá de dentro, Tzuyu, já confusa, ficou ainda mais quando percebeu o logo do hospital onde trabalhavam no selo, o que é isso?

A Park puxou os documentos dali e passou os olhos rapidamente, Tzuyu lendo por cima dos ombros da esposa sem entender porque Sana tinha lhes dado um exame de sangue dela.

Até encontrar o betaHCG da esposa...

Alto demais para ela não estar grávida.

- Sana... - Chou chamou devagar, a Minatozaki tinha um sorriso largo no rosto, suas amigas sem entender nada.

- O ano foi difícil demais para a gente, eu sei disso. A gente tentou engravidar várias vezes, tivemos um aborto espontaneo, depois da última rodada a gente tinha decidido dar uma pausa em tentar, por isso eu não quis falar para vocês caso não desse certo quando fiz o primeiro exame, mas... - Jeongyeon finalmente entendeu, a Yoo deu um pulo de felicidade, quase derrubando seu vinho e o da esposa - chocada e com um sorriso - no processo. - Eu fiz exames de sangue nos últimos três meses, queria ter certeza que tudo daria certo dessa vez...

- Amor... a gente... a gente vai ser mãe?

- Sim, meus amores... nós vamos!

Sana não teve muito tempo de reagir, de repente, estava em um sanduíche com suas esposas a esmagando, as lágrimas de Tzuyu molhando seu peito enquanto a apertava contra ela, não conseguiu se conter, enterrou o rosto no ombro de Jihyo e deixou-se chorar enquanto a Park passava os dedos em seu cabelo.

Elas nem notaram enquanto Nayeon e Jeongyeon comemoravam aos gritos que teriam outro sobrinho.

🎁Fim🎁