
36 - Ameaça
"Tudo é tão frágil. A vida é tão frágil e breve demais. Mas bela demais!"
Scarcéus.
O vento parecia eriçar tanto as folhagens das árvores, como os cabelos dos que andavam pelas ruas.
Hector se aventurava pelas vielas imundas onde os bordéis se ladeavam, reinando a esbórnia.
E para piorar a situação, aqueles arredores começavam a lhe aparentar familiares.
Não porque gostasse dali e estivesse em meio à fruição dos prazeres desarrazoados. E nem porque se sentia incomodado, temendo a punição por um adultério, como a maioria que frequentava a perdição.
Ele estava ali por causa de Mariah.
Ele se incomodava não por ter que fazer aquilo por ela — faria qualquer coisa pela moça —, mas sim, por saber que ela passava por maus bocados, é que se obrigava a ter que fazer alguma coisa ali, naquele lado da cidade.
O que lhe incomodava era saber que Mariah sofria.
Alcançou o bordel de Naomi, se lembrando por alguns instantes, do momento em que havia se encontrado com Mariah, depois de ela ter sido exilada.
Era incrivelmente colérico o fato de que depois de ter sido abusada por vários soldados reais, a garota ainda se tornasse vítima de julgamento e fosse exposta ao ridículo.
Era terrível saber como a moça havia sido julgada e condenada pelo rei, como se ela andasse se oferecendo pelos arredores do reino, enquanto o suserano a admitira como empregada. Era hedionda aquela acusação, se podendo olhar dentro dos olhos de Mariah e enxergar a sua clareza; a sua pureza.
O pior era saber que a moça não tinha mais ninguém para contar, depois do seu exílio.
Era enraivecedor saber que os soldados que abusaram dela, que a machucaram, estiveram lá para assistir o seu julgamento e riram provavelmente, de sua sentença.
Parecia mandado… e Hector não duvidava que fosse.
Mas ele não conseguia compreender porque Kisla e Adofo haviam fugido, como duas lebres amedrontadas por tiro de espingarda; porque sinceramente ele não acreditava na desculpa que deram.
Eles nunca abandonariam a incumbência que vos tinha dado… a menos que alguma coisa houvesse acontecido!
Mas o quê?
Afinal, ele sabia que ambos estavam com Mariah, não somente pelas moedas que os pagava. Por mais que fingissem ser por isso, o rapaz sabia que eles se apegaram à menina.
Ainda mais Kisla.
Ele podia sentir.
E Hector ainda podia se lembrar de como ela havia feito de tudo para que Mariah não ficasse sem lugar, enquanto não sabiam para onde levá-la.
Naquela época Kisla já costumava fazer meros trabalhos para Hector, a troco de moedas.
Trabalhos bem mais simplificados, mas ela se mostrara fiel, quando ele lhe apresentou para Mariah, enquanto toda a cidade desejava apedrejar a pobre moça.
A jovem meretriz havia chegado a oferecer um serviço para a garota, ali mesmo no cabaré, mas Hector não podia permitir.
Mariah não poderia se sujeitar à vida.
Ela não merecia tal sofrimento. Ela era uma flor. Ela era a vítima. E ele daria a sua vida, se pudesse se certificar de que ela ficaria bem algum dia.
Ficou ali pensativo, tentando compreender todas as coisas que estavam acontecendo e beirando o precipício, que o levaria à loucura. Mas havia prometido que cuidaria de Mariah, antes até de pensar em si mesmo como uma pessoa, ele havia de cuidar dos interesses dela.
A felicidade daquela moça era o seu único interesse naquele instante. E ele queria ser rápido, pois sentia — de alguma forma —, que Mariah corria muito perigo.
No entanto, ao tentar entrar no bordel, as suas pernas o contrariaram, fazendo com que ele se mantivesse estático ali, como que por um encanto.
Não conseguia parar de pensar.
O quarto estava completamente imerso na penumbra. Kisla estava deitada nos grossos braços de Adofo.
O brutamonte ainda estava completamente sujo pelo próprio sangue, não conseguindo se recuperar da surra desumana que havia levado, ainda na madrugada.
Kisla também não conseguia se livrar da dor das ameaças, que andava sofrendo.
Ainda mais, quando o seu agressor estava ali, tão próximo dela.
Contudo, o grandalhão que a acompanhava em tudo, inclusive naquela cilada, abafava os seus suspiros, para que os dois homens no corredor, não a escutassem.
Ambos não sabiam exatamente a extensão do perigo, mas sabiam que aquele homem atrás de uma capa suja, ali em seu corredor, estava desesperado atrás de Mariah.
Sabia que aquele sujeito e o seu capanga — que era nada mais que um trabalhador de Naomi —, estavam dispostos até mesmo a matar, para saber o paradeiro da garota.
Os sujeitos nefastos, não sabiam exatamente se era ela que estava na condicional de Kisla e Adofo, mas suspeitavam que fosse exatamente dela, que eles cuidavam.
E então os havia emboscado e surrado Adofo, até ele quase não conseguir se mexer.
Mas o homem era uma fortaleza e se mantinha de pé, dignamente.
Todavia, o pior de tudo, era que sabiam que Hector estava envolvido naquele assunto.
Então Kisla decidiu que se afastar de Mariah, era a melhor opção. Protegê-la era tudo que queriam, porém, percebia que os dois sujeitos não estavam com a menor paciência para as suas jogadinhas de escapa.
A meretriz havia conseguido fugir durante uma semana, mas naquele dia, apanharia gravemente por aquilo.
Kisla lamentava chorosa, por ter sido tão descuidada ao ponto de ter sido seguida e não ter percebido.
A sorte da pobre menina Mariah, era que ela sempre estava enclausurada, junta às paredes daquele casarão escuro e abandonado.
Eles ainda não tinham certeza que era ela, pois aparentavam não querer fazer alarde.
Contudo, um fator estranhamente favorável e desfavorável ao mesmo tempo, é que o ser encapuzado parecia saber tanto da vida de Mariah, que aparentava conhecer o fato de que ela não contava o nome para quase ninguém.
Porém, em compensação, isso só dava margem para pensar, que outro alguém hediondamente louco, estivera próximo a ela e agora desejava vê-la bem mal.
Pois um ser que se escondia atrás de uma capa fazendo atrocidades, não era capaz de fazer nada mais que maldades.
Todavia, Kisla estava disposta a levar essa história em suas costas, afastando-se de Mariah, inventando desculpas, que levariam aqueles homens para bem distante de saber, como encontrar a garota.
Inventaria a mentira que fosse para afastá-los, nem que para isso, precisasse ser morta.
Ela sabia que a vida daquela garota valia à sua.
Não trairia a confiança daquela menina que amava. Já bastava ela levar o fardo em suas costas, enquanto os culpados pela sua solidão, se escondiam atrás de carapuças falsas de nobre sodomita e prostituta.
No entanto, Kisla sabia que aqueles genitores eram um pouco piores, que tudo que pudesse ter imaginado um dia.
Em um instante sentiu o seu coração congelar, pois no corredor que ligava o seu aposento ao cabaré de Naomi, estavam Jocka e o seu acompanhante, friamente encapuzado.
E na outra entrada, alguém tocava insistentemente na porta.
Jocka observou de uma pequena janela, que mais parecia uma entrada de ar. Sorriu para o seu mestre, ao desgrudar os olhos da vidraça imunda.
— Chegou quem faltava! — gargalhou malicioso, ao dizer.
O homem se encaminhou até Kisla, com apenas um aceno do sujeito misterioso em seu canto. Jocka a puxou pelo braço, como se fosse um saco cheio de excremento.
— Atenda a ele e aja normalmente! — Empurrou-a de encontro à porta. — Olhe o que vai fazer para não perder a cabeça!
Fizera um gesto típico de “cabeças vão rolar”.
Kisla abriu a porta trêmula, sabendo que em seu quarto, estavam um homem hediondo e o seu capanga. E que eles estavam dispostos a ferrar com qualquer um que estivesse no caminho deles para encontrar Mariah; ainda mais sabendo que a pessoa que estava ali fora, era o homem que mais sabia coisas da vida da garota também.
E também era quem mais a amava.
Não era justo o mal conseguir ludibriar o bem.
Nada daquilo era justo, mas ela precisava mentir para Hector.
Naquele instante era a única saída.
— Por que sumiu, Kisla? — Hector parecia irritado e estava. — Ela precisa de você! E eu contei contigo, enquanto não estava aqui e você a deixou sozinha! — Exaltava a voz, cada vez mais. — Ela não merece isso, não vê? Ela está correndo perigo e eu vou tirá-la de lá. Mas as coisas não precisariam ser assim se não a tivesse abandonado! — gritava naquele instante a alto e bom som, pois pensava que ninguém repararia.
Kisla o acalmou, colocando a mão em seus ombros. Ele parecia tão transtornado quanto ela. Parecia que algo mais acontecia, mas a mulher não se atreveria a perguntar.
Não naquele instante!
E talvez em nenhum, pois não confiava mais nem mesmo nas paredes.
Elas também poderiam estar a seguindo, ou simplesmente ter ouvidos e olhos.
— Eu estava em temporada… não tinha como sair. Naomi não estava permitindo — mentiu abertamente. — E eu, ainda por cima, adoeci. Peguei uma gripe horrenda e fiquei com medo de passar para ela. Como poderia levar a garota ao médico? — Encarou-o com seriedade. — Mas deixei alimentos. E eu já estava para voltar...
A desconfiança de Hector começava a ruir, diante da aparência destruída da mulher. Porém, era somente sofrimento e preocupação a sua doença.
Contudo, o rapaz acreditou, pois ela nunca lhe havia traído. Kisla nunca havia lhe faltado com a palavra… então devia falar a verdade naquele momento também.
— Tudo bem. — Ele abaixou a cabeça, deixando-se levar pelo cansaço. — Está tarde. Eu tenho que ir. Ainda tenho que me encontrar com a Zahra!
Virou-se, indo embora, enquanto Kisla suspirava aliviada, por ele não ter mencionado o nome de Mariah.
O que era uma desconfiança, poderia se tornar uma certeza, com apenas sete letras e três sílabas. No entanto, antes de virar a esquina e sumir, ele se virou.
— Te aviso quando encontrar outro lugar para ela! — Sorriu, meio tristonho. — Aquele lugar não está mais seguro!
Olhou para Kisla com os seus olhos negros, bastante lacrimosos, ao pensar no estado de Mariah.
Ao perceber que ele havia partido, ela respirou um pouco de ar puro, antes de entrar para o mausoléu em que se transformara o seu quarto.
Kisla sentia como se a morte pura, habitasse o seu aposento, só tendo esquecido o seu machado, para arrancar a sua cabeça.
Contudo, algo que lhe dera a mínima esperança, era o fato de que Hector havia endossado as suas mentiras para Jocka, mesmo sem conhecê-las.
Não havia mencionado o nome de Mariah, denotando ao menos um pouco, que ela conhecia somente fatores restritos sobre a garota.
Deixou a incerteza pairar no ar e ganhou tempo para bolar um plano, para salvar a moça, que também começava a ser a sua protegida.
Com a chegada da noite, muitas coisas começavam a acontecer na surdina das horas.
A noite era o auge para os acontecimentos em Epimoni. E como combinado implícito, Arabela, Bree e Íris se encontravam em um beco, não tão distante do centro do vilarejo.
Elas estavam dispostas a rondar a mata e até mesmo as ruas, atrás de pistas. Porém, sabiam que seria arriscado demais, pois as coisas pareciam começar a se estreitar ali em Epimoni.
No entanto, se esconderiam em um armazém abandonado, para poderem combinar detalhes, pois necessitavam de medidas paliativas, para prosseguir com aquela investigação, que já era corrosiva o bastante.
— Não podemos ficar rodando nas ruas como barata tonta ou como dementes a espera do manicômio — falou Íris, de modo agressivo. — Precisamos partir para algum lugar e não ficar serpenteando sem rumo!
Bree endossou o fato com um olhar firme.
— Poderemos ser detidas se ficarmos dando mole! — Bree apontou para as ruas. — Ficar dando uma de lerda na rua, é o mesmo que parar para fazer polichinelo no meio de uma praça cheia de debochados, ou seja, loucura!
Arabela suspirou, depois de tentar manter o silêncio como regra.
— Acho que vou precisar de umas boas sessões de acupuntura pra poder relaxar — reclamou Arabela.
— Está acontecendo mais alguma coisa? — Bree notou, ao encarar a amiga.
Arabela olhou para as duas meninas com cansaço, antes de iniciar o seu discurso sobre a visita ao profeta Adio.
— Mestre Ferdinand me incumbiu de ir visitar Adio e tentar extorquir informações… sabe?!
Encarou as amigas, procurando entendimento.
Elas assentiram com a cabeça.
— Ele me entregou profecias, mas ainda não consigo compreendê-las! — Respirou, com uma pesada sucção de ar. — Ainda não fui até nosso o mentor contar tudo. Estou entalada!
— Não conseguiu compreender nada? — Íris se mostrou interessada.
— Ele disse que precisamos aprender a interpretar as palavras, pois as mesmas palavras, podem nos levar a diversos caminhos e só nos basta escolher! — Encarou as duas e notou a atenção que exercia sobre elas. — Ele também falou sobre maldades e que a confiança já não é a base de mais nada. Pois se pais e mães são capazes de fazer coisas horrendas com os filhos, como acreditar em confiança? — Sentia-se atordoada por não compreender, fazendo pleonasmo com as suas frases caóticas.
Todavia, memorizara cada palavra em sua mente, como um gravador.
— São parábolas — concluiu Íris. — Talvez devesse mesmo deixar que o nosso mestre interprete por nós. Os profetas sempre falam de maneira parabólica e metafórica; o que na maioria das vezes, é muito elevado o nível alegórico, para o nosso raciocínio e domínio de conhecimento!
— Sim. Eu farei isso!
Era o melhor e todas as três sabiam disso.
— Voltando para a nossa missão detetive: — Bree chamou a atenção das amigas — deveríamos nos espalhar na mata e deixar a cidade mais para o final da madrugada. Isso iria ajudar a atrapalhar de sermos vistas como esquisitas, precisando de hospício. Apesar de que andar no mato de madrugada, também é uma atitude anômala, porém, lá é mais difícil de trombarmos com pessoas normais!
— Sim. E caso encontremos alguém, deveremos atuar muito bem. Montar uma peça de teatro, para encobrir as nossas investigações — endossou Íris.
— Sim. — Bree começou a puxar ambas pelos punhos. — Então vamos! Pois tempo é vida; e vida nos dá tempo!
— Chega de profecias e lições por hoje! — resmungou Arabela, já sentindo a mente latejar.
Saíram pelas ruas, divagando sobre tudo que deveriam fazer e tudo que deveriam evitar, porém, sem usar de palavras faladas, apenas deixando que a mente passeasse, decidindo a cadência de seus passos.
E enquanto todo o largo de Epimoni ia se tornando desértico com o passar das horas, Hector invadia o ermo arredor de onde havia deixado Mariah, em um casarão esquecido pelos anos e boatos.
Adentrava à construção com o coração borbulhando sangue, feito lava. Estava irado por conta do déspota do rei, achando que poderia manobrá-lo, como o seu fantoche.
“Mas não iria mesmo!”, pensou ele.
Contudo, estava disposto a disfarçar, para não amedrontar a sua protegida. Abriu então a porta de mansinho, como se fosse um gato domesticado. No entanto, sentiu o seu coração congelar, ao perceber que o local estava vazio, sem o menor sinal da moça.
Não podia gritar, mas desejava muito.
Não sabia o que fazer.
Estava desesperado.
Podia suportar tudo: ser comparado a um ser com atitudes andróginas, ser visto como tão estranho, que era capaz de possuir ventosas aos olhos de outros. Poderia morrer sozinho, dormindo em uma cama de pregos com ácido sulfúrico, mas jamais — nunca mesmo —, poderia suportar que machucassem, ou simplesmente magoassem Mariah novamente.
Saiu pelas ruas, se sentindo atordoado, olhando para todos os lados, procurando por ela, como se carregasse um pôster invisível, com a foto da moça estampada, para que alguém pudesse indicá-lo, aonde ela estava.
Enquanto andava sem rumo, começou a ladear a floresta escura e abandonada, relendo pensamentos, que em outrora já haviam surgido em sua mente nebulosa.
“Talvez ela tenha ficado tão deprimida e solitária, que preferiu sumir. Ou talvez, alguém simplesmente a tenha encontrado e queira a sua cabeça na bandeja, como recompensa”.
Hector imaginava tudo ao mesmo tempo, misturando-se na loucura de seus pensamentos, enquanto seus passos desajustados, cambaleavam pela mata.
Achou que morreria de um ataque cardíaco, pois aquilo era muito para tolerar, em um só dia.
Mas quando acreditou que surtaria, nunca mais podendo voltar à sã consciência, sentiu alguém lhe abraçar pelas costas, leve e carinhosamente, como um laço de veludo.
Virou a face, tentando compreender, porém, somente quando avistou o rosto de Mariah, dentro de uma parca suja e velha, é que pôde aterrissar novamente para a realidade.
Para uma realidade que ele aceitasse viver.
— Por que sumiu desse jeito? — Abraçou-a de volta, aninhando-a contra o seu peito. — Quase morri do coração!
— Eu tive que sair. Eu estava sendo observada. — Mariah o agarrou com a mesma veemência que ele à ela. — Não sei quem, mas alguém estava me espreitando.
— E sair assim era seguro?
Na verdade nada era seguro ali.
— Não sei… na verdade, não, mas eu precisava fazer isso! — Ela pegou nas grossas mãos de Hector, guiando-o pelas árvores. — Venha! Encontrei um novo lugar para eu brincar de pique-esconde. E eu lhe digo: é a sua vez de me encontrar!
Percebendo que ela estava bem, intacta e até com humor para brincar, ele resolveu não entrar em detalhes.
Todavia, achava muito perigoso continuar a manter Mariah sozinha em qualquer lugar, por mais encravado que fosse.
No entanto, se deixou guiar para dentro de uma caverna escondida por arbustos, lodos e pedras.
E naquele exato instante, as folhas secas ao chão faziam alarde, anunciando que Bree, Íris e Arabela já estavam prontas pra investigar cada canto daquela mata.
E com apenas um olhar lacrimoso, Bree anunciou que deveriam se dispersar, afastando-se e buscando qualquer resquício, que as levasse a solucionar os mistérios obscuros que a sua querida Epimoni, vinha enfrentando.
Arabela e Íris, apenas receberam aquele sinal, indo embora, afastando as folhagens eriçadas e encontrando uma rota distinta da outra amiga.
Poderiam não encontrar nenhum sinal naquela noite, mas tentariam de novo, até conseguirem descobrir o que se passava. Pois elas eram a única esperança para aquilo.
Eram as três mosqueteiras de Epimoni, prontas para qualquer batalha que tivessem que enfrentar.
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