Capítulo 83 - "Meu paraíso e meu inferno"
Era quase hora do almoço quando a cerimônia terminou, então o feliz casal recebeu os convidados com um banquete farto regado à vinho e muita música. Receberam mais de uma centena de congratulações e não conseguiam parar de sorrir nem por cinco segundos, tão felizes que estavam. Salete se apressou à desprender a grandiosa capa do vestido de Cecilie para deixá-la perambular pela festa mais confortavelmente, e assim passaram algumas horas conversando e se divertindo. Obviamente Thomas preferiria arrastar a noiva até o quarto deles e fodê-la até perder os sentidos, mas a coroação seria em breve e não havia tempo pois ele queria se demorar ao fazer amor com sua esposa.
Esposa. Levou os olhos até Cecilie alguns metros à sua frente, observando-a conversar animadamente com o irmão. Christopher estava muito melhor do que esteve desde que a verdade sobre Zaya foi revelada, o treinamento do sacerdócio o estava fazendo muito bem. A princesa jogou a cabeça para trás numa gargalhada suave enquanto o irmão corava fortemente. O coração do duque quase parou ao ver aquele sorriso solto. Mal podia acreditar que tamanha felicidade fosse real, mas se fosse um sonho preferiria nunca acordar.
-- Pode me dar licença, senhora Crowfort? -- pediu à idosa baronesa, que logo acenou em afirmação.
Encarou o relógio na parede notando que faltavam cerca de meia hora para o próximo evento, então seguiu até a esposa para avisá-la. Por isso e porque já estava longe dela há pelo menos dez minutos, tempo demais em sua opinião. A alcançou e apoiou a mão na base de suas costas, completamente incapaz de evitar tocá-la.
-- Já está quase na hora. -- anunciou no ouvido dela e cumprimentou o cunhado -- Christopher.
-- Vossa graça. -- ele respondeu educadamente com um sorriso alegre.
A verdade é que Christopher era outra pessoa. Estava mais leve e feliz sem o peso da coroa sobre sua cabeça.
-- Vamos indo, então. Salete disse que vai querer retocar minha maquiagem e mudar meu cabelo. Até daqui a pouco, Christopher.
-- Até, irmã.
Thomas entrelacou os dedos ao da esposa - demoraria algum tempo até que ele passasse de suspirar ao chamar Cecilie assim - então seguiram até os aposentos dela. Os pertences dele já haviam sido levados até lá, que era onde ficariam até que os aposentos reais fossem reformados para o uso deles. O rei já havia se transferido para uma outra ala desocupada e as mudanças se iniciariam em breve. Quando estavam longe das vistas dos convidados e próximos de seu destino, o duque empurrou a amada contra a parede e avançou sobre a boca dela. Cecilie arquejou em surpresa, mas sequer cogitou afastá-lo. A verdade é que estava tão necessitada daquele beijo quanto seu marido, então mergulhou naquele carícia junto dele. Quando enfim se afastaram estavam ambos ofegantes e com os lábios inchados, os olhos brilhando com a realização de um sonho que nenhum deles sabia possuir.
-- Em que está pensando? -- perguntou a princesa ao acariciar a bochecha do marido.
-- Estou tentando criar uma nova palavra. -- ele beijou a ponta de seu nariz.
-- Para que precisa de uma nova palavra? As que já conhece não são suficientes?
-- Não, não são. Em minha opinião, a palavra amor é trivial demais para expressar o que eu sinto por você.
-- Você criaria uma palavra nova só para mim? -- a princesa riu deslumbrada.
-- Eu criaria um dialeto novo por você. -- Thomas deu-lhe um beijinho casto -- Mas farei isso em outro momento pois, agora, eu só consigo pensar que você é absolutamente tudo para mim. É meu paraíso e meu inferno. Minha paz e meu tormento. É minha cura e minha dor.
Cecilie o puxou pela nuca juntando seus lábios novamente num beijo que era pura reverência, e o gosto salgado das lágrimas de ambos invadiram suas línguas.
-- Eu não sou tão boa com as palavras quanto você, Thomas... -- ela começou timidamente após o fim do beijo -- Eu prefiro ações concretas, sabe? Eu provarei meu amor por você até a última batida do meu coração.
O duque juntou sua testa na da esposa enquanto a promessa entre eles se assentava em seus corações. Por fim a realidade se infiltrou na névoa intensa de sentimento que os envolveu por alguns instantes, então retomaram o caminho até os aposentos deles. Salete resmungou alguma coisa sobre alguns amassados no vestido de Cecilie, mas nenhum dos dois se importou. Ele aguardou pacientemente que a esposa se apontasse enquanto tomava um cálice de água parado à janela do quarto. Nem quinze minutos depois a mulher retornou ao quarto principal com a capa do vestido devidamente recolocada, o cabelo agora preso numa longa e espessa trança sem a tiara que usava antes e a leve maquiagem reaplicada.
-- Você já parece uma rainha para mim. -- anunciou ao seguir até ela.
-- Cortesia de Salete. -- apontou a amiga com a cabeça.
-- Lembre-me de enviar-lhe uma bonificação. -- disse à modista.
-- Vocês já estão montando um ateliê para mim, não quero bonificação. -- a mulher recusou veementemente.
-- Querido, use a voz de príncipe regente que treinamos ontem. -- sugeriu Cecilie com um brilho de malícia no olhar.
-- Oh, é verdade... -- o duque tossiu teatralmente e repetiu em voz grave e retumbante -- Você receberá uma bonificação. Ponto final.
Salete alternou o olhar um ao outro com uma expressão divertida enquanto a princesa murmurava um muito bem ao marido.
-- Vocês dois são impossíveis! -- ela riu, mas os olhos castanhos estavam marejados -- Devemos ir, atrasos não são nada elegantes numa cerimônia dessas.
O casal concordou e refizeram o caminho de ao volta ao salão principal do castelo, a modista mais uma vez às costas da princesa carregando a cauda. Thomas se despediu dela com um beijo na mão e seguiu ao seu lugar na primeira fila. Pela segunda vez naquele dia Cecilie encarou as portas duplas respirando profundamente, desta vez sem nenhuma flor em mãos e sem a companhia reconfortante de seu pai. Ela estava sozinha. Ela era o centro das. E aquela partezinha maldosa e egoísta dela ronronou e abriu os olhos, deliciando-se com a sensação de poder que estava experimentando naquele momento. Quando as portas duplas se abriram Cecilie caminhou em direção ao seu futuro de maneira séria, determinada e implacável, pronta para tomar posse daquilo que era seu.
Os convidados a encaravam mas a princesa não os cumprimentou dessa vez. Ela seguiu majestosa e confiante rumo ao altar, no mais profundo silêncio enquanto ignorava todos ao seu redor. Abenforth estava sentado em seu trono sentindo o coração disparar com a grandiosidade daquele momento. Thomas tinha os olhos pregados na mulher que deslizava sobre o veludo vermelho parecendo tão tranquila e concentrada. Lembrou-se de Nix, vestindo aquelas roupas puídas e cheias de sangue de outras pessoas e em todo o trajeto que a trouxe até aquele momento. Se alguém merecia aquele sangue era Cecilie, que já havia pago o preço com a própria alma. Por fim a mulher alcançou o altar e após o discreto aceno do Sacerdote, ajoelhou-se.
Abenforth se levantou de seu trono e desceu os poucos degraus, ajoelhando-se ao lado da princesa herdeira. O velho homem pronunciou algumas palavras numa língua antiga e inutilizada que pai e filha repetiram, então a grande coroa do rei foi retirada e posta numa caixa de madeira que foi imediatamente retirada do salão. O homem se levantou, retirou o longo manto de pele e veludo vermelho que usava e o depositou cuidadosamente sobre os ombros da princesa, seguindo depois até o espaço vazio ao lado de Thomas. Uma outra caixa de madeira foi trazida por Christopher, que parou ao lado do Sacerdote e a abriu. De lá o velho homem retirou uma coroa delicada e dourada, cheia de pontas que eram cravejadas em diamantes, e a segurou sobre o alto da cabeça da princesa.
-- Promete colocar nosso amado reino acima de seus próprios interesses? -- perguntou o Sacerdote.
-- O reino é meu único interesse. -- a voz da mulher foi alta e clara ao anunciar as palavras tradicionais da cerimônia.
-- Promete proteger cada homem, mulher ou criança que vive em nosso amado reino?
-- Com a minha vida se for necessário. -- a firmeza e convicção nas palavras de Cecilie arrepiaram todos os pêlos do corpo de Thomas.
-- Promete honrar nossas leis, costumes e antepassados?
-- Serei fiel às minhas raízes, agora e sempre.
-- Promete perpetuar a linhagem real que corre em suas veias, e renovar com seus descendentes a aliança firmada hoje para com seu povo?
-- A semente é forte e perdurará até o fim dos tempos.
Ao fim do discurso tradicional, o Sacerdote enfim coloca a coroa sobre a cabeça da mulher ajoelhada.
-- Você se ajoelhou diante de seu reino e nunca mais se curvará à ninguém. Você se ajoelhou como uma mulher e se levantará como a soberana de nossa nação.
A nova rainha se levantou de maneira imponente e virou-se de frente para seu povo, o olhar passando por todo o salão de maneira atenta e absoluta.
-- Saúdem a rainha Cecilie Mayser Strong de Longford Primeira.
Todos os presentes e soldados se ajoelharam e entoaram num potente coral de vozes.
-- Deus salve a rainha!
Thomas estava de joelhos e extasiado com a emoção que vibrava em seu interior. Percebeu pela tranquilidade de Cecilie que ela realmente nasceu para aquele momento, que toda sua dura vida foi uma preparação para aquela responsabilidade que assumiu ali diante de todos. Entretanto aquele não era o fim da cerimônia. A rainha seguiu ao seu trono e se sentou de maneira majestosa, a belíssima coroa brilhando com os movimentos fluídos. O coração do homem acelerou ainda mais com a iminência do que viria a seguir. Os convidados foram liberados a se levantar e o Sacerdote fez um aceno para ele, chamando-o até o altar. Thomas caminhou até lá escorçando-se para parecer calmo pois não queria envergonhar sua esposa. Seus olhos cruzaram com os dela por alguns segundos e ela o encarava sem nem piscar. Ajoelhou-se diante do Sacerdote, no mesmo lugar onde ela estivera segundos atrás, e ouviu Christopher retornar com uma outra caixa de madeira.
-- Promete dar à rainha a força se um dia ela precisar, a coragem caso esta falhar e o apoio em cada coisa quando a situação se apresentar? -- o homem anunciou as palavras segurando uma coroa de prata simples sobre sua cabeça.
-- Entrego tudo de mim, ao reino e à minha rainha.
Então ele sentiu o peso frio da coroa sendo colocada em sua cabeça, junto da responsabilidade eterna de trabalhar ao lado de Cecilie para cuidar e proteger seu povo.
-- Você se ajoelhou diante do reino e de agora em diante se curvará apenas às vontades de sua rainha. Você se ajoelhou como um homem e se levantará como o príncipe regente de nossa nação.
Thomas se levantou e se virou para o público, que logo se ajoelhou perante ele. Então seguiu para seu trono simples um degrau abaixo do de Cecilie e se sentou enquanto as pessoas se levantavam e formavam uma longa fila para cumprimentá-los um à um e jurar lealdade à rainha. Ele manteve-se calado, ainda nervoso pelo momento que jamais imaginou vivenciar, imerso em pensamentos até que uma pequena mão fria e suada tocou a dele. Virou-se para a rainha que tinha um discreto sorriso nos lábios, mas os olhos firmes à sua frente.
-- Sabe o que vem agora, meu príncipe? -- perguntou num murmúrio que apenas ele pôde ouvir.
Thomas apertou a mão dela e virou-se para frente, imitando sua postura majestosa.
-- Agora nós reinamos. -- anunciou com um meio sorriso divertido.
Depois dos cumprimentos e juras dos membros da corte, foram as vezes dos criados e guardas do castelo. Então a rainha e o príncipe regente seguiram ao pátio sul, onde haviam representantes de todo o exército do reino - já que todos os seus soldados não caberiam amontoados ali. Então um a um os homens se apresentaram junto de suas espadas perante sua nova governante, entregando sua profunda submissão. Ali mesmo Cecilie cumpriu sua promessa e tornou James o Primeito Comandante de seus exércitos, recebendo o olhar grato e admirado do homem. Ela ignorou o olhar travesso que o marido lhe lançou após a saída do homem e dispensou os soldados já se dirigindo até a carruagem sem teto que os esperavam. Depois de longas e intermináveis horas de juramentos, o casal faria sua primeira aparição nas ruas da Cidade Real para cumprimentar seu povo.
-- Como se sente, alteza? -- a rainha perguntou ao marido sobre o barulho das rodas da carruagem que esmagavam os pedregulhos no caminho até a saída do castelo.
-- Como se houvesse um mundo sobre a minha cabeça, majestade. -- ele levou a mão da esposa aos lábios.
-- Você vai se acostumar com o título, não se preocupe.
-- Não me refiro às minhas recém adquiridas responsabilidades. -- revirou os olhos -- Estou falando da coroa, ela pesa um bocado.
-- Bem, não ouse reclamar. -- ela o repreendeu com um meio sorriso -- A minha certamente pesa mais, e ainda tem o vestido e esse manto que é quente como o inferno Ainda bem que usaremos essas coisas esporadicamente.
-- Eu não reclamaria em vê-la mais vezes nesse vestido. -- o olhar de Thomas sobre ela foi completa e absolutamente indecente.
-- Prometo vesti-lo para você em todo aniversário de casamento. -- ela sorriu travessa.
-- Bem, talvez no próximo ele não lhe sirva. -- discretamente acariciou a barriga dela.
-- Eu já disse que ainda não. -- a rainha afastou a mão do marido.
-- Mas, Cecilie... -- insistiu persuaviso -- A pobrezinha já apareceu nos seus sonhos, ela está pronta para vir ao mundo!
-- Mas o mundo não está pronto para ela. Há muito a ser feito, Thomas.
Eles estavam atravessando os portões norte do castelo em direção ao centro da Cidad Real, e dali já podiam avistar a multidão que os aguardava.
-- Sempre haverá muito a ser feito. -- ele resmungou.
-- Vamos deixar as coisas acontecerem, está bem? -- segurou a mão dele para acalmá-lo -- Você sabe que certas coisas são maiores que nossos planos.
-- Certo, certo... -- ele remexeu no bolso da calça por um instante -- Estive tão dominado pelos acontecimentos do dia, que quase me esqueci de seu aniversário, amor. Desculpe meu lapso.
-- Vou ganhar um presente? -- ela perguntou animada ao perceber um brilho metálico nas mãos do marido.
Thomas estendeu-lhe o tal presente, que ela percebeu ser um colar com um pingente redondo com uns seis centímetros de diâmetro adornado com arabescos florais.
-- É um lindo colar! -- ela virou o objeto nas mãos, atenta aos detalhes da peça -- Obrigada, amor.
-- Não é só um colar. -- o príncipe regente tomou a peça das mãos da rainha e com um clique a abriu -- Chama-se relicário.
Cecilie levou a mão aos lábios para conter o suspiro que soltou. Dentro do pingente haviam duas pequenas pinturas feitas em tinta preta e Abenforth e Cassandra a olhavam com um sorriso eterno.
-- Onde... como você... -- estava sem palavras.
-- Eu pedi que o pintor visitasse a cripta de sua mãe, e reproduzisse a miniatura do relato dela. Não foi difícil pois eu chamei o mesmo que a fez, dezesseis anos atrás. Quanto ao do seu pai foi fácil, pois o homem já o desenhou uma penca de vezes. -- deu de ombros de maneira modesta, como se tudo houvesse sido simples demais.
-- Eu amei. -- ela o relicário, tendo o cuidado de não enroscá-lo mas pontas de sua coroa -- É o melhor presente que você poderia ter me dado. Obrigada, Thomas.
-- Tudo por você, Cecilie. -- beijou a mão dela mais uma vez -- Feliz aniversário.
Trocaram um sorriso feliz enquanto atravessaram os portões. A multidão imediatamente avançou sobre eles, sendo contida pelos soldados que os escoltavam. A rainha e o principe regente acenaram para seu povo sem cessar. Os homens gritavam o nome da rainha, as mulheres agitavam seus lenços coloridos, as crianças eram levantadas nos ombros para que pudessem vê-los passar. A aparição do casal real durou longas horas e eles regressaram à calmaria do castelo apenas ao anoitecer. Fizeram uma rápida refeição pois estavam fracos de tanta fome, e depois rumaram à um merecido banho. Para adiantar as coisas Thomas se limpou em seu antigo aposento enquanto Cecilie usava a própria banheira e, uma vez limpo e vestido, encaminhou-se para o aposento que agora compartilhavam. Cumprimentou os guardas à porta e entrou em seu quarto que estava mergulhado na penumbra com apenas a luz da lareira para iluminá-lo e estancou os passos ao vê-la.
Sua esposa estava sentada numa cadeira de frente para ele e os olhos de Thomas escureceram em desejo ao absorver os detalhes da cena diante de si. Cecilie tinha os cabelos soltos numa bagunça selvagem, a coroa brilhando no topo da cabeça, vestindo apenas o manto real apoiado nas costas de seu corpo nu. A mulher sorriu lasciva ao notar o arregalar de seus olhos dourados.
-- Aproxime-se. -- ordenou em voz baixa e rouca, o timbre reverberando na ereção que começava à ganhar vida.
Thomas fez o que ela disse sem hesitar. Parando à sua frente ele aguardou o próximo comando, totalmente entregue às vontades daquela mulher. Cecilie aumentou o sorriso desinibido e abriu as pernas revelando totalmente sua feminilidade já umedecida.
-- Agora ajoelhe-se perante sua rainha.
Amores,
vou deixar os acessórios que usei pra me inspirar pra cerimônia de
coroação 🖤
Coroa da Rainha Cecilie Mayser Strong de Longford I
Coroa do Príncipe Regente Thomas Longford II
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