Capítulo 5
"Dizem que uma amizade verdadeira é aquela que fica.
Amizade verdadeira é aquela que se cultiva, porque
qualquer pessoa pode ficar em sua vida."
VIOLET THOMPSON
Acordei dolorida por conta de ter deitado no chão. A minha cabeça latejante dizia o quanto dormi desconfortavelmente.
— Bom dia, princesa! — uma das agentes da penitenciária onde estou, cujo nome ainda me é oculto, diz sorrindo largamente do outro lado das grades.
— Dormiu bem? Tomara que não. — ela sorri ainda mais enquanto mantenho a minha cabeça baixa.
Pesadelos estão sendo frequentes.
— Fiquei sabendo que o seu julgamento acontecerá antes do final de semana. — agora a sua risada ecoava na minha mente conturbada. Eu poderia ter revidado e ter dito boas verdades, mas o que adiantaria as minhas palavras contra o poder do dinheiro?
— Não vai dizer nada? Além de rostinho bonitinho é uma muda inútil? — diz zombando, segurei firme as provocações, pois de nada valia bater de frente.
— Liane! Deixa ela em paz! — uma voz grave ecoou no ar do ambiente. A morena ria descontrolada e depois olhou o mesmo rapaz que cuidou dos meus registros se aproximar.
— O que é? Não vai me dizer que já usou essa daí.
— Não, pelo contrário. Só penso que você teria mais “utilidade” se estivesse trabalhando e não infernizando a vida dos outros. — ele simplesmente cospe as palavras na cara de Liane que sai bufando.
— Por favor, ignore este projeto de embuste. Você tem visita de uma pessoa. Quem seria?__ definitivamente não sei. A final de contas, sempre estive sozinha.
Sem me dar tempo de pensar ou formular uma pergunta, ele entra na cela retirando as algemas do bolso e as prendendo nos meus pulsos, que ainda tinham marcas por conta delas.
— Por aqui querida. — ele disse afinando a voz quando viramos um corredor. Parece-me que esse policial teria gênero trocado.
— Senhor, estarei aqui caso precisar. — ele engrossa a voz ao abrir a porta para falar com alguém que está dentro da sala em que estamos parados pelo lado de fora.
Entro dando de cara com um homem alto de barba rala e cabelos cacheados na cor castanho escuro. Aparentemente com seus trinta ou trinta e dois anos, sentado numa mesa de ferro tamanho médio. Foi aí que pude notar melhor onde estava, numa das salas de interrogatórios.
— Por favor, sente-se Srta. Thompson. — sua mão aponta para a outra cadeira em sua frente. Faço o que ele manda e me acomodo.
— Chamo-me Sebastian. Sou o investigador do assassinato de Alexandre Costta. — ele sorriu amigável.
— Você sabe de algo que aconteceu na noite passada? — Sebastian franze a testa pensativo e logo reformula a sua pergunta. — Se viu alguém ou algo suspeito?
Balancei a cabeça dizendo que não, eu vi sim, mas só de reviver a cena do assassino pedindo o meu silêncio num gesto, fez o meu corpo gelar.
— Olha, pode confiar em mim. Irei atrás do melhor advogado se quiser. — me pego pensando na possibilidade de estar longe daqui, abro uma, duas e três vezes a boca e o som não saiu de forma alguma.
Por que estou assim? Era apenas falar certo? Exatamente, porém, meu corpo dizia o quanto as pessoas podem ser desconfiáveis. Como, por exemplo, a agente Liane.
— Eu não posso. — digo gaguejando. Sebastian suspira para depois concordar comigo.
— Realmente é uma situação delicada. — ele diz ajeitando alguns papéis sobre a mesa. — Temos um vídeo comprovando tudo. Quero ajudar você, por mais que me parece errado, sinto que você é a pessoa inocente deste caso.
— Obrigada. — sinceridade brilhava nos meus olhos e Sebastian sorri. Pega o seu celular e digita algo antes de retornar a atenção para mim.
— Bom, o meu tempo acabou. — diz se levantando e indo até a porta lhe dando duas leves batidas. Victor entra e me guia de volta para a minha sela e retira as chaves do bolso.
— Está entreguei vossa alteza. — ele diz rindo e debochando, abre a grade e após isso retira as minhas algemas para que eu volte para dentro. Ouço a porta de ferro ranger antes de ser fechada.
— Obrigada. — sentei na cama pensando. Lembro-me de quando fugia para o quarto de meus pais com medo de ficar sozinha.
No dia em que me perdi deles num passeio no Shopping em pleno natal, eles estavam em casa e se eu não tivesse me lembrado do número da vizinha, não teria conseguido retornar para casa. Por conta disso, sempre fiquei sozinha, receosa, totalmente dependente deles e conforme crescia, as coisas foram piorando.
Eles gritavam um com o outro e brigavam com mais frequência nem mesmo se importando comigo presenciando tudo. Eles sempre estavam discutindo.
— Está com uma carinha triste anjo. O que foi? — Victor se acomodou sentando perto da cela.
— Não é nada. Eu... — limpei as lágrimas.
— Pode falar, às vezes só precisamos desabafar.
— Acabei percebendo que, não tenho mais nada a perder. — os olhos estavam árduos e o rosto levemente febril.
— Vem cá. Eu não aguento te ver com essa carinha murcha. — levantei da cama me aproximando das grades, sentei ao seu lado e ele colocou sua mão em minhas costas.
— Cara murcha me lembrou de bolachas. — rimos.
— Bolachas me lembrou a filmes. — começamos a nos conhecer melhor, ele me contou quando foi a uma boate pela primeira vez e bebeu tanto que voltou para casa com o barman.
— É sério Val. — ri da cara torcida dele.
— O cara tinha um... — ele fez gestos com as mãos, os olhos estreitos que lembrava a suricato.
— Legal, fez amizade com a anaconda? — de estreitos passaram para largos e assustados.
— Não garota, claro que não! — Victor quase gritou, aos poucos explicou todo o ocorrido e que o cara “absurdamente gato" só quis um copo d'água e depois sumiu.
— Sabe nas horas vagas, costumava assistir algumas séries. Pijamas, um pote de sorvete e filmes. — não lembro a última vez que fiz algo como maratona com alguém.
— Se as circunstâncias fossem outras, te levaria para uma boate. — olhei para Victor, seu corpo estava mais relaxado assim como o meu.
— Bom, agora preciso ir. — Victor se levanta apoiando uma das mãos no chão.
— É, Victor? — pronuncio antes de ele sair. — Teria um livro de romance para mim? Pode ser qualquer coisa que possa me tirar esse tédio.
— Não sei Val, se posso trazer... — faço o meu melhor biquinho de criança birrenta e ele suspira derrotado.
— Okay! Vou ver o que eu faço flor. — diz sorrindo.
— Obrigada. — agradeci e voltei para a pequena cama. Um pouco dura, mas bem melhor do que no chão. Deitei de barriga para cima e a minha imaginação vai direto para aqueles olhos verdes incríveis.
{Revisado!}
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