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Capítulo 15 - Caminhos Tortuosos

De repente os dois começaram a rir. Era a primeira vez que Catherine via Nick assim descontraído, sem aquele ar cínico e distante. E gostou do que viu, até demais, de uma maneira que a deixou assustada.

Quando pararam de rir, olharam-se em silêncio, depois o olhar de Nick se anuviou. Catherine baixou as pálpebras, sem jeito.

— Bem... precisarei ter mais uma conversinha com aquele jovem cacique idiota. — Disse Nick, depois de instantes, — Vou falar com ele antes de ir embora na terça-feira. Talvez eu consiga convencê-lo a tomar a decisão. Ele está querendo se casar com ela, mas acha que ela é muito civilizada e que vai rejeitá-lo por achá-lo ignorante.

— E por isso que ele está aprendendo português? Para impressionar Maria?

— Esse é um dos motivos, eu acho, mas Eranê gosta de aprender tudo, quer sempre melhorar para ser um bom cacique.

— E se você disser a ele o que Maria sente... ?

— Posso tentar. — Nick franziu a testa. — Mas não sei se vou conseguir convencê-lo. Eranê é muito vulnerável em seu orgulho e não quer ser rejeitado. Maria devia demonstrar um pouco mais... pelo menos olhar para ele.

— Ah, como o amor é complicado, não é mesmo?

— É sim. — Nick lançou-lhe um olhar penetrante. — E na maioria das vezes é confundido com sexo.

Catherine ergueu-se depressa e começou a recolher a louça do café.

— Vou levar para Almerinda lavar... é ela que faz isso, não é?

— É, mas ela não está por aqui, agora. Eu a encarreguei de uma pequena tarefa. — Nick ergueu-se também, aproximou-se de Catherine por trás e colocou a mão no braço dela. — Deixe, eu cuido disso, pode ir tomar o seu banho,

Novamente ela reagiu ficando tensa com aquele contato. Só de senti-lo tão próximo suas pernas ficaram bambas.

— O que houve? — Segurou-a pelos ombros, forçando-a a encará-lo. — Você está com algum problema nervoso? Talvez fosse melhor eu examiná-la mais detalhadamente.

Catherine fechou os olhos por instantes, tentando reunir forças para resistir àquela atração física.

— Por que está com medo de olhar para mim? Não me diga que está seguindo o exemplo de Maria! Se você quer ser beijada é só me dizer...

Estavam tão perto, que ela sentia o calor daquele corpo másculo e atraente, e isso a deixava atordoada e sem fala. Nick segurou-a pelo queixo, fazendo-a encará-lo.

— Você quer me provocar até que eu perca o controle? É isso? Talvez você goste de se imaginar sendo dominada... todo mundo tem alguma fantasia. Não quer me pedir um beijo e no entanto sua atitude é de quem está pedindo muito mais do que isso.

— Não... eu não estou pedindo nada... — Mas seu olhar a desmentia, brilhando de desejo.

A barreira que erguera contra os homens parecia ter ruído completamente.

Queria o beijo, sim, mas queria que a iniciativa fosse dele. Ficaram imóveis por instantes, nenhum dos dois fazendo qualquer gesto de aproximação, até que ele quebrou o silêncio.

— A mulher que faz isso com um homem só merece desprezo! — Disse entre dentes, — Você está tentando me seduzir, querendo que eu a deseje. Por que não admite?

Com arrogância ele esperava, como se tivesse certeza de que ela faria o primeiro movimento. Catherine sabia que devia afastar-se, não agir como ele queria, mas acabou jogando fora seu orgulho.

— Beije-me... — Murmurou ela.

— Você está brincando com fogo...

Sem pressa, Nick ergueu a mão, que afundou nos cabelos dela, depois, com a outra, traçou de leve o contorno da boca, do rosto, e foi deslizando até o decote da blusa, provocando, excitando. Enfiou a mão pela abertura e acariciou-lhe os seios de leve, por cima do sutiã.

O fogo da paixão incendiou Catherine por dentro e os bicos intumescidos de seus seios revelavam sua entrega. Não tinha forças para impedi-lo mais.

Só então, devagar, Nick apossou-se de seus lábios, beijando-a de leve, numa carícia tão erótica que ela ficou maluca. Fechou os olhos, sentindo um calor gostoso aquecê-la por dentro. Passou os braços pelo pescoço dele e apertou-o contra si, entreabrindo os lábios, prolongando o beijo. Seu corpo todo clamava por ele, com um ardor e uma avidez incontroláveis.

De repente ele parou e afastou-a, deixando-a atordoada, trêmula, confusa e magoada. Demorou um instante até que ela se adaptasse àquela brusca interrupção da paixão.

Um sorriso cruel aflorou aos lábios dele, e o olhar dele era sarcástico.

— Estranho... tive a impressão de que você não queria parar. — Murmurou ele.

Catherine tentava recuperar a dignidade. Virou-se de costas para esconder dele o descontrole de suas emoções.

— Estou certo? — Insistiu ele. — Você ficou perturbada com a interrupção? Queria que eu continuasse...?

— Não, claro que não. Não nego que gostei, mas... foi só uma experiência.

— E qual o seu veredito? O que concluiu? Passei em seu teste?

Catherine respirou fundo, não adiantava querer fingir que não fora afetada.

— Bem, você passou no teste de autocontrole. Eu é que não passei.

— Ótimo, porque estou pretendendo beijá-la pra valer, quando não houver possibilidade de interrupção. Eu prometo e cumprirei com prazer.

O tom era mais de ameaça do que de promessa e Catherine sentiu um frio no estômago. Com isso, ele reuniu a louça e saiu com a bandeja.

Ela ficou parada, olhando para a porta fechada, um turbilhão de sensações fazia sua cabeça rodar. Era claro que não podiam ir além daquele beijo. Nick era muito arrogante e detestava as mulheres. Ao mesmo tempo, só de imaginar o que ele dissera, seu desejo aumentava. Além disso, sentia também uma espécie de frustração por aquele contato íntimo ter durado pouco e ter sido interrompido sem se concluir.

Como é que ele conseguira se controlar tanto a ponto de interromper naquele momento? Quando o abraçara tinha sentido o corpo dele contra o seu, quente e vibrando de desejo... No entanto foi ele quem parou de beijar e acariciar, apesar de estar carente, sem mulheres há muito tempo...

Era evidente que não iria acontecer mais nada, dali a alguns dias Nick iria embora. Pensou que fosse ficar contente com essa lembrança, mas, em vez disso, ficou inquieta e decepcionada.

Catherine foi pegar sua roupa limpa para vestir depois do banho, e instintivamente escolheu uma blusa mais feminina e uma calça comprida vermelha, que realçava seus quadris. Paulo e Henry, sem dúvida, iriam caçoar dela, mas estava pouco se importando.

Tirou a roupa que estava usando, colocou o roupão e foi para onde estava a banheira, levando toalha, xampu e sabonete.

A água estava morna, na temperatura ideal para o clima dali. Largou as coisas sobre um banquinho improvisado, tirou o roupão e afundou na água com um suspiro de prazer.

Ensaboou-se, e afundou na banheira para se enxaguar. Depois de estar enxaguando os cabelos pela segunda vez, emergiu de olhos fechados e estendeu a mão para alcançar a toalha que deixara no banquinho ao lado. Só que não encontrou nada. Será que ficara desnorteada?

— Droga! — Murmurou ela, esfregando o rosto com as mãos, para poder abrir os olhos.

— Eu lhe dou a toalha se me pedir por favor... — Disse uma voz sonora, em tom de zombaria e desafio.

Catherine ficou toda agitada, sem saber se abria os olhos, se escondia os seios ou afundava dentro da água.

— Nick! — E abriu os olhos, afinal.

— Ainda bem que você disse o nome certo. — Falou ele, agitando a toalha longe do alcance dela. — Se quiser pode gritar. Ninguém vai ouvir mesmo, estão todos longe daqui.

Ela ficou apenas fitando-o, de olhos arregalados, sem voz para falar quanto mais para gritar.

— Ah, assim é melhor. Você não tem outro jeito senão aceitar a situação.

De que ele estava falando? Será que planejara para que isso acontecesse?

Esperara os outros homens saírem na expedição para filmar o rio... talvez por isso tivesse interrompido o beijo aquela hora, estava só preparando o terreno. E ela, que tinha começado a admirar ele!

A raiva esfriou um pouco seu entusiasmo.

— Quer fazer o favor de me dar essa toalha? — Pediu com frieza.

— Não gostei do modo como falou. Se quiser a toalha venha buscá-la. — Riu, cínico. — Não vai me perguntar por que estamos sozinhos? Bem, praticamente sozinhos, a não ser pelos pacientes no posto médico.

Catherine comprimiu os lábios e afastou os cabelos molhados do rosto.

— Pelo menos não vai ser por muito tempo. Paulo e Henry nunca vão longe sem me avisar.

— Aí é que você se engana. Será que não lhe ocorreu que eles saíram ontem e não voltaram?

Catherine olhou-o, incrédula, enquanto assimilava o que ele dissera. Na tarde da véspera tinha ido até o cais, para ver Paulo e Henry saírem de barco com Gastão, seu Valdeci e o equipamento. Pouco depois tinha ido deitar de novo, sob as ordens de Nick, e na hora do jantar acreditara quando ele dissera que os dois tinham voltado. Ou será que não dissera? Mas então onde estariam?

— Eles estão bem. — Disse Nick. — Acho que eu lhe falei sobre a reserva indígena rio abaixo. Não é muito longe, só meia hora de viagem, mas é cansativo e sempre que Gastão e seu Valdeci vão até lá, eles passam a noite. — Olhou para o relógio de pulso. — Eles devem estar começando a viagem de volta. E quanto a D. Almerinda eu lhe pedi que fosse levar alguns medicamentos a aldeia logo acima e lhe dei o dia de folga. Sabe ela está precisando descansar.

Isso significava que dali a meia hora no máximo eles estariam chegando. Não era muito tempo, dava para aguentar dentro da água. Se saísse para pegar a toalha já sabia o que ia acontecer.

— Você devia ter-me contado isso ontem, Nick.

— Queria que você dormisse em paz... enquanto isso fosse possível. Por um instante ela não entendeu as implicações daquelas palavras, sua mente estava ocupada com outras coisas. Por que Paulo e Henry haviam-na abandonado daquele modo? Por que concordaram em passar a noite na outra reserva?

— Eu dei ordens a Gastão para que passassem a noite lá. Agora vamos, saia dessa banheira. Posso enxugá-la, se quiser.

— Você deve ter enlouquecido!

— Então enxugue-se sozinha, se preferir. Eu só pensei que podia ser um bom começo para nós dois...

— Se acha que vou deixar você me beijar agora, está muito enganado!

— Beijar você? Beijar é modo de dizer, não é? — E lançou um olhar sensual para o corpo dela mal escondido na água.

Catherine ficou furiosa, e ainda mais ao perceber que isso estava divertindo Nick.

— Para que se fazer de ofendida agora? Na hora do café você estava louca para fazer amor comigo.

— Estava nada! — Mentiu.

— Ah, é? — Ele ergueu a sobrancelha com ar cínico. — E quem foi que pediu um beijo?

— Você é que me fez pedir! Usou de truques!

— Quanta inocência, meu Deus! — Continuou ele. — Você está tão a fim de fazer amor quanto eu! Por que não pode admitir isso?

— Está maluco! Só pode ser!

— Se já teve casos com outros homens por que não comigo?

Era besteira tentar negar, iria apenas se irritar e perder a calma. Nick só acreditava no que queria.

— Henry é apenas um amigo. — Disse, mesmo assim. Nick fitou-a, incrédulo.

— Então, talvez esteja na hora de você arranjar outro... amigo.

Com essas palavras, ele se aproximou da banheira com a toalha na mão. Por instantes deliciou-se com o constrangimento dela, que curvada para a frente abraçava os joelhos, para esconder o corpo. Depois ajoelhou-se ao lado dela e, mergulhando a mão na água, segurou-lhe o tornozelo.

Catherine não ousava tentar libertar-se para não se descobrir. Tentava se desvencilhar com o mínimo de movimentos, mas conseguia apenas fazer Nick rir.

Contradizendo a lógica, aquele contato começou a despertar-lhe estranhas sensações.

Ignorando seus protestos, Nick puxou o pé dela para fora da água.

— Que pé mais lindo! E tão bravo!... Será que ele quer me chutar ou quer ganhar um beijo?

Aproximou os lábios e passou a língua langorosamente por aquela pele molhada e cheirosa de sabonete. Ele parecia estar usando uma habilidosa tática de sedução, e o pior é que atingia seu objetivo. As carícias leves e eróticas que fazia deixavam Catherine toda derretida, querendo mais. Com um pequeno gemido ela fechou os olhos e segurou nas bordas da banheira.

— Ainda nega que está me querendo? — E largou o pé, que ela colocou dentro da água de novo. — Você é incapaz de resistir ao desejo, como todas as mulheres.

Catherine voltou à posição anterior, escondendo-se num gesto brusco, derrubando água para fora.

— Posso muito bem resistir a você! — Afirmou ela irritada.

— Pois eu pretendo ter você, quer resista ou não. — Avisou Nick com arrogância e ergueu-se. — Em todo caso não creio que sua resistência dure além do primeiro beijo. Você já fez essa experiência comigo, lembra?

— É o que você imagina!

— Você vai estar ardendo de desejo quando anoitecer... Agora não vou começar nada porque poderíamos ser interrompidos, é melhor esperarmos a noite.

Como assim à noite? Henry e Paulo estariam lá, então, para protegê-la. E ela não pretendia cair nos braços de Nick, um homem que a tratava daquela maneira.

— Saia da banheira... — Ordenou rispidamente, entregando-lhe a toalha, afinal. — Não vou enxugar você, mas não vou virar de costas, hoje, não prometi nada. Vou ficar aqui olhando.

Catherine arrancou a toalha da mão dele, sem agradecer, enquanto ele a observava com insolência, provocando-lhe arrepios. Com ar de malícia guardou o sutiã dela no bolso da sua calça.

Felizmente a toalha era bem grande e ela conseguiu se enrolar depressa para sair da banheira. Mal se enxugou, começou a se vestir rapidamente, sem largar a toalha.

Pôs a calça, mas não conseguiu puxar o zíper com uma mão só.

— Quer que eu ajude? — Ele sorria.

— Claro que não!

— Tanto trabalho para vestir... tirar é bem mais fácil, eu vou adorar...

Afinal, Catherine conseguiu fechar o zíper.

— Você não vai adorar coisa nenhuma!

A blusa de seda, sem o sutiã, ficou bem sensual, colando-se a seu corpo, revelando a forma de seus seios bem-feitos.

— Prefiro assim, está muito mais provocante! Não foi para mim que escolheu essa roupa, minha amazona?

— Eu não posso aparecer assim em público.

— Justamente. Mas quem lhe disse para aparecer? Hoje você é só minha. Só eu vou me deliciar com essa visão. Eu eu serei todo seu também!

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