Capítulo 41 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Chegou à porta e estava olhando cuidadosamente para a direita quando sobressaltou-se ao sentir uma mão em seu ombro. Com um grito contido, voltou-se e viu o rosto inquiridor de Cam e Gaspar que vinha logo atrás. Encostou-se na parede e soltou um suspiro de alívio.
— Graças a Deus são vocês dois! Saria está no banheiro. Ela... ela não quer voltar para Moscou. — Pilar reparou na expressão sombria do jovem médico que fez um sinal para o treinador.
Cam Guzman segurava um estojo de primeiros socorros e compressas quentes. — Você já sabia? — Sussurrou Pilar. — Sabia que ela não queria voltar?
— Sim... — Respondeu ele, lacônico. — Falamos nisso quando estavamos no palácio do meu tio. E Gaspar apenas confirmou o que eu já sabia.
— E eu já imagivana que isso iria acontecer em breve, quando eu a socorri na corrida e a trouxe para o banheiro. Acho que isso está fora das minhas possibilidades. Mas talvez o sobrinho do sheik aqui possa fazer algo.
— Das minhas também. Olhe, Gaspar, fique aqui enquanto eu vejo o que se pode fazer. Cam cuide dela por favor, Saria está muito abalada emocionalmente.
Pilar foi para a área das estrebarias, sem saber direito por quê.
Por mais que procurasse, só via uma pessoa em quem confiar: Zayn.
Percorreu o longo corredor da primeira estrebaria e nunca teve tanto alívio na vida ao ouvir as vozes de Zayn e Laetitia conversando animadamente. A bonita competidora mestiça estava sentada no portão de uma baia, rindo, ao lado de Zayn, quando Pilar chegou. Quando Laetitia voltou os olhos ambarinos para ela, Pilar nمo pôde deixar de notar que a maquilagem da moça estava impecável demais para quem havia acabado de competir numa das piores competições do mundo. Era claro que a intrépida mademoiselle Laetitia Casta não passara do portão da pista interna com sua égua. Preferira o papel cômodo de espectadora a passar pelas experiências de uma corrida selvagem.
Laetitia abriu a boca para fazer um comentário ácido, mas Pilar nمo lhe deu tempo e chamou Zayn. Imediatamente ele foi ao encontro dela.
— O que foi, Pilar? — Perguntou, alarmado, ao ver a palidez dela, a respiração pesada e as roupas em desalinho.
Rapidamente, Pilar contou tudo, em voz baixa, sobre Saria.
— Que loucura! — Disse Zayn, passando a mão pelos cabelos, num gesto nervoso. — Mas vamos ver o que se pode fazer...
Quando se afastaram juntos pelo corredor, ouviram a voz de Laetitia atrás deles.
— Zayn, mon amour, eu sou uma mulher paciente, mas você está abusando dela. Se desaparecer de novo com ela é a última vez que me vê. Juro!
Zayn não parou de andar e mal olhou para trás, indiferente, por cima do ombro. Quando estavam quase na porta, encontraram Zarra e um homem simpático, que foi apresentado a Pilar como futuro noivo dela, Kerim. Zayn olhou a amiga, de porte pequeno e delicado, de alto a baixo, depois disse, baixinho.
— Pilar, tive uma ideia. Você pode pedir o carro de seu pai emprestado?
— Para quê? — Indagou Pilar, perplexa.
— Depressa, Pilar! Faça o motorista do seu pai parar na frente do carro dos russos. Depois, vá me encontrar no portão de trás da pista principal.
Zarra olhou atordoada para ele, parecia com medo, quis ir embora, mas Zayn segurou-a firme por um pulso.
Quando chegou no salão privativo dos convidados do Sheik Rashid, Pilar não encontrou o pai, nem Humberto Couto. Só Roger Fishermann estava à direção, cochilando. Sacudiu o braço dele.
— Preciso do carro, Roger... — disse, autoritária. — Vamos.
— Mas, Srta. França... — Protestou ele. — O pai da se...
— Papai não vai se importar, ande logo. — Respondeu ela, rápida. — Eu acho que tem que me obedecer também, Roger. Vamos.
Ele pestanejou, mas não disse nada e deu partida. Dois minutos depois parava o carro entre o automóvel preto e o portão de trás da pista principal, no mesmo momento em que Zayn, Zarra e Kerim entravam no edifício que tinha os vestiários.
— Fique firme, Roger. Eu não sei bem o que vamos fazer, mas precisamos de você. Vamos... Coloque os seus instintos de agente secreto e não faça nenhuma bobagem.
Saíram do carro e Zayn olhou-os quando entraram no corredor.
— Muito bem! Você agiu depressa. — Murmurou, aprovador.
— Vamos, agora.
Foi para o outro lado da porta do banheiro de mulheres, enquanto Gaspar ficava alerta, vigiando. Zarra entrou no banheiro.
Pilar foi para junto de Zayn, quando ele se postou, meio escondido, junto da porta para vigiar os russos.
— Acha que vai dar certo? — Perguntou, nervosa. — Sabe que estamos comprometendo a sua nação em um jogo bastante perigoso.
— Temos que tentar. Além disso, os russos não tem qualquer poder dentro do meu país. — Disse Zayn, sacudindo os ombros. — Acho que vai funcionar porque eles não esperam por isso. E nunca imaginaram que o herdeiro faria algo assim, ajudar a dar asilo a uma fugitiva russa.
Um leve murmúrio soou às costas deles. Voltaram-se e viram duas pequenas mulheres saindo do banheiro. Uma usava culotes, botas de montar, uma jaqueta marrom, fechada até o pescoço, gola levantada. A outra usava um capote de lã de camelo bege, botas de pelica marrom e um gorro de pele marrom na cabeça.
Zarra é que estava com as roupas meio rasgadas, sujas. Saria usava as roupas dela. A transformação fora completa!
Pilar olhou para Zayn e viu aprovação nos olhos escuros.
— Excelente! — Disse ele, baixo, caminhando para as duas. — Agora, vamos brincar de gato e rato com os homens lá de fora. E então Zarra, lembra das brincadeiras que faziamos quando éramos jovens e precisamos fugir da vigilância dos agentes do meu pai?
— E como não me lembraria, era muito divertido. Fugir para dançar e beber escondido.
Zayn, Saria e Cam ficaram ocultos junto da porta, olhando, enquanto Zarra, Gaspar, Pilar, Roger e Kerim saíram e se dirigiam para o Crysler. Zarra e Gaspar acomodaram-se atrás junto de Kerim que estava adorando a abentura inusitada, no carro, enquanto Pilar e Roger sentavam-se na frente.
O Crysler saiu e, segundos depois, o carro preto saía atrás.
Zayn voltou-se e sorriu para a russa a seu lado.
— Bem, tenente, seus compatriotas engoliram a isca. Vamos para o Consulado Americano no meu automóvel? Acho que pode ficar sossegada...
— Nem sei o que dizer... Obrigada, alteza! — Sorriu Saria.
Nervosa, Pilar olhou para trás. Os russos estavam seguindo-os de perto, determinados a não deixá-los escapar.
Zarra voltou-se e arriscou um olhar, também. Quando virou-se, Pilar surpreendeu-se: ela estava sorrindo.
— Miss França... — Exclamou, os olhos brilhando. — Não vejo a hora de contar isto a meu pai. Ele vai se orgulhar de mim, Zayn também!
Pilar sorriu, mas logo ficou séria. Será que Zarra se divertiria tanto se soubesse que aquela aventura ia custar o noivado de Zayn com Laetitia Casta?
A resposta era com certeza "SIM!..."
Zarra sempre demostrou não gostar da outra mulher. O que no início não fazia sentido para Pilar, mas vendo como a jovem olhava para o seu noivo, acabará de descobrir que o sentimento que Zarra sentia por Zayn era fraternal.
Mas por que aquele turco havia mentido para ela. Zayn havia permitido que ela pensasse o pior da garota. Que homem impossível!...
Voltou-se, incapaz de continuar olhando o rosto moreno de Zarra, que lhe lembrava tanto Latifa. Roger perguntou.
— Para onde, agora, miss França?
Ela sacudiu os ombros:
— Qualquer lugar, Sheraton, acho, para devolver o carro de papai.
Quando o carro entrou no jardim do hotel, o carro preto que os seguia acelerou, começou a ultrapassar e a jogar-se em cima. Depois da surpresa inicial, Roger entrou na brincadeira e segurou firme, deixando que o carro menor batesse no dele, acelerou e foi até a porta do hotel fazendo ziguezagues, de modo que o outro não pôde mais emparelhar. Quando o Crysler 300c preto parou na porta do saguão do hotel, o outro carro preto parou atrás e dois homens saltaram, desesperados, empunhando revólveres, que apontaram para os ocupantes do banco de trás do Crysler. Roger desceu, seguido por Zarra, que já estava tirando a jaqueta de couro marrom.
— Eu acho que há uma lei muito dura contra tentativa de sequestro de cidadãos turcos e visitantes americanos. — Disse ela, encarando os dois homens.
Confusos, eles se voltaram, como que pedindo instruções ao chefe e um momento depois Igor Ivanov estava ao lado deles.
— Por favor, desculpem o engano... — Disse, com voz despida de emoção.
Voltou-se e olhou para dentro do Crysler, encarando Pilar, a reconhecendo como filha do congressista França.
— Alô, Sr. Ivanov... — Disse ela, sorrindo, maliciosa, enquanto descia do carro. — Que bom revê-lo novamente! O senhor está bem longe de casa não é mesmo?
A única resposta do russo foi um olhar gelado. Voltava para seu carro quando um táxi chegou e Marcelo França saltou dele, seguido por dois de seus seguranças. Imediatamente viu os dois homens armados e as expressões felizes da filha.
— Pilar! Roger! — Exclamou. — Posso saber por que se apoderaram de meu carro, de meu motorista e o que está acontecendo aqui?
Pilar enfiou o braço no do pai.
— É uma história comprida, papai. Acho que Fishermann pode levar Zarra e seu noivo até o Consulado Americano também. Enquanto isso, a gente almoça e eu conto tudo.
— Tenho que concordar, acho... — Disse França, desanimado. — Parece que, de repente, você resolveu enfrentar agentes russos armados... E espero que eles tenham um bom motivo para estarem aqui na Turquia. Alguma missão diplomática?
— Só se for preciso... — Respondeu Pilar, com calma não dando tempo de Ivanov dizer nada. — Estou muito diferente da menina que saiu de Washington há dezesseis semanas, pai.
— É... percebi isso. — França sorriu, amargo.
Pilar entrou no saguão com o pai, tentando não pensar em Zayn e nos outros que estavam no consulado naquele momento. Sentia-se estranhamente apagada e depois de tudo o que acontecera. Sabia que não iria mudar mais, nem mesmo quando dissesse adeus a Zayn.
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