Capítulo 33 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Horas depois...
Parou diante do espelho, satisfeita com o efeito da tْnica que lhe delineava maciamente o corpo. Escovara os cabelos, deixando-os cair como cascata dourada sobre o ombro esquerdo e prendendo-os com uma fivela de ébano atrás da orelha direita. Pôs o colar que Zayn lhe dera, depois pendurou os brincos triangulares, de jade, nas orelhas. Examinou melhor o próprio reflexo: cobre, jade e ébano contrastavam com o ouro dos cabelos e o marfim da pele.
Minutos depois descia a escada. Encontrou Leona que subia. A mãe de Zayn observou a transformação de Pilar com interesse. Aproximou-se e tocou delicadamente um dos brincos.
— Pelo que vejo, eles aceitaram você como uma mulher curda. Assim como fizeram comigo no passado também. Isso é excelente!... — Disse, os olhos maternais não refletindo calor, nem frio.
A atitude de fria distância magoou Pilar, que respondeu em tom corajoso.
— Quando eu for embora daqui, vou levar parte da Turquia comigo, Leona, porque tudo está me afetando profundamente. Mas acho que também vou deixar uma parte de mim em Aysun. Nada que aconteça vai poder mudar isso.
Encarava Leona com frio orgulho, os olhos claros brilhando de paixão e tristeza. Algo naquela serena e altiva atitude pareceu tocar a mulher. Mais uma vez uma expressão de respeito passou-lhe pelos grandes olhos da mãe de Zayn.
Cada uma continuou seu caminho, sem dizer mais nada. Ao atravessar o hall, ouviu a voz modulada e culta de Osman na sala de estar. Ao entrar, ficou surpresa: a sala não estava fria como durante o dia. Brilhantes candelabros iluminavam os quadros e os mosaicos das paredes, parecendo acentuar a riqueza dos móveis de carvalho. Havia várias pessoas, servindo-se de ponche ou escolhendo os seus pratos preferidos entre ampla variedade de canapés.
Como não viu Zayn, Pilar aproximou-se do avô dele. Osman olhou-a encantado, enquanto se aproximava, parando de conversar para apresentá-la.
Apertou a mão de um advogado, de um oficial do Governo local e suas três esposas. Todos falavam um pouco de inglês. Depois, voltou-se para Osman.
— Como foi conhecer o pai de Zayn, meu filho pode ser teimoso a maioria das vezes, mas cumpre com as suas promessas, assim como o meu neto. — Disse, sorrindo.
— Foi melhor do que eu espera, o Sr. ficou o tempo todo em silêncio, posso saber porquê? Ela perguntou com curiosidade.
— Meu filho mais velho... Um bom homem... — Disse Osman, com calor. — Ele e eu viemos de culturas diferentes e tempos, de nível social mais diferente ainda, mas temos as mesmas devoções: a terra e nossa fé religiosa. Aliás, na verdade, temos três devoções hoje em dia minha jovem.— Corrigiu, sorrindo. — Gostamos de jogar gamão. E foi durante um jogo de gamão que tivemos a ideia de unir as terras de Kardashev e de Abadi. Ideia que deu certo por quarenta anos. Agora... — O velho político suspirou. — Bem, isso não é problema seu, não é, miss França? Vai ficar pouco tempo aqui.
Ele começou a falar de seus dias de parlamentar, mas Pilar já não ouvia.
Estava desanimada de novo, ao ser lembrada que estava ali temporariamente. A observação de Osman não tinha sido intencional, nem maldosa, ao contrário do que acontecera com sua ex-nora e a neta. Mas o efeito fora o mesmo.
Um vento frio varreu a sala quando a porta foi aberta. Pilar voltou-se e viu Zayn entrar com mais dois convidados. Ele estava com uma camisa branca, de seda, que acentuava a força do torso e dos ombros, assim como o moreno da pele. A calça escura modelava as pernas longas e musculosas, fazendo Pilar lembrar da força que pulsava nelas. Parecia um moderno e tranquilo cavalheiro, entrosado em suas terras, cavalos e o gosto pela equitação. Mas sob aquele aspecto calmo escondia-se uma vitalidade animal que o ligava intimamente à selvageria daquele país. Era a essa faceta de Zayn Kardashev Abadi que os sentidos de Pilar respondiam assustadoramente mesmo naquele momento, através da sala cheia de gente.
Assim que entrou, Zayn a viu e caminhou para ela, os olhos percorrendo a silhueta esguia e elegante.
— Estou como queria, meu senhor? — Perguntou ela, brincando. — Sinto-me como uma daquelas escravas circassianas diante do monarca turco.
— Está, sim. — Os olhos dele brilhavam. — Se você fosse minha escrava, fortuna nenhuma seria o bastante para lhe devolver a liberdade minha cara. — Acrescentou, entre brincalhão e carinhoso.
O momento íntimo foi rompido por convidados que se aproximaram.
Pilar sorriu ao ser apresentada a um homem baixo e acima do peso, simpático, Adib Rachid, e ao rapaz alto, de olhos azuis, que conhecera no café, em Kars. Cumprimentou Cam Guzman Abadi rapidamente, pois Zayn logo levou o jovem médico para perto do ponche, a fim de conversarem. Ela imaginava do que poderiam estar falando, quando Ali Saad falou.
— Acho que você conheceu a minha sobrinha.
— Sua sobrinha? — Surpreendeu-se Pilar. — Quem é?
— Ela não está aqui. Você a conheceu em Istambul. — Riu ele. — É Zarra Saad.
— Ah, sim! A cirurgiã plástica. — Lembrou Pilar. — Ela é uma pessoa muito interessante.
— É, sim! — Concordou ele, feliz. — Temos orgulho dela. Zarra é uma das melhores médicas de Istambul. Pode vir aqui e comprar tudo que temos, pondo-nos para fora. — Riu de novo. — Agora, ela só precisa casar.
— Já tem alguém em vista? — Indagou Pilar, com ar inocente.
— Acho que ela sempre se interessou por Zayn, mas tenho impressão de que ele a vê como irmã somente. Ela e Latifa são muito amigas, sabe?
Pilar não pôde deixar de pensar se não seria por isso que Latifa antipatizara tanto com ela. Depois, lembrou que não tivera a mesma reação com Laetitia.
Quando Leona Fisher, que vestia uma simples túnica de seda branca. — Que realçava o tom lindo da sua pele, os olhos e o cabelo levemente grisalhos. — Entrou para anunciar o jantar, Pilar admirou-a. Era uma mulher inteligente e orgulhosa. Na certa seriam grandes amigas, principalmente por gostarem tanto de cavalos e de equitação. Mas as circunstâncias impediam isso.
Como ambas amavam Zayn de, maneiras diferentes, estavam destinadas a serem talvez até adversárias.
O jantar foi simples e delicioso, à base de carneiro assado. Sentada entre
Osman Abadi, como gostava de ser chamado o avô de Zayn e o dr. Ali Saad, bem longe de anfitrião, de quem de vez em quando podia apenas vislumbrar o perfil, à certa altura Pilar sentiu-se esquisita, desolada, como se aquilo não estivesse acontecendo, como se fosse uma lembrança ou um sonho. Depois, o jantar terminou e todos voltaram à sala, para o café turco e frutas.
Alguém ligara um aparelho de som. Suaves músicas turcas alternavam-se com trechos românticos de clássicos americanos. Depois de se servir de uma xícara de café forte, Pilar viu-se sentada ao lado de alguns líderes da região, que lhe sorriram, alegre.
— Oi! Não tive muita chance de falar com você hoje. Adoro estas reuniões, mas ainda não aprendi a gostar de música turca. Disse uma francesa que desfilava pelo salão.
— É uma música estranha, mas de alto nível. — Respondeu Pilar, sorrindo também. — Acho que se você visse alguém dançando, ia ajudar.
Começou a contar a dança da jovem curda, mas teve de novo a impressão de que a mulher Francesa não a ouvia. Percebeu que Zayn olhava para ela, mas quando seus olhos se encontraram ele voltou-se para um dos líderes que havia vindo especialmente para conversar com ele, como se não a tivesse visto.
— O seu vestido é lindo! — Disse Cam se aproximando de Pilar, os olhos percorrendo-a de alto a baixo.
— Obrigada. Foi presente de Zayn... — Respondeu ela, intencional.
— Ah, sim... — Disse o rapaz, com uma careta engraçada. — Eu estava pensando em nos encontrarmos, quando voltarmos a Istambul...
— Acho que não dá. — Pilar sorriu para suavizar a recusa. — Não vou ter tempo livre, com os treinos para a corrida.
Imaginou brevemente o que ele queria dizer com o "voltarmos a Istambul", quando seus olhos foram atrás dos bela figura de Zayn, de novo. Deu uma desculpa e caminhou para ele. Tinha impressão que Zayn a ignorava de propósito e isso a deixava irritada.
Os cinco Líderes estavam em volta de Zayn o ouvindo sobre a história do Akhal Teke. Uma das raças que a família real da Turquia fazia questão de criar.
Muitos desses líderes e mais dois grandes empresários das principais competições de Istambul também o ouvia.
— A origem da raça tem início há cerca de 3.000 anos atrás, na região da Ásia Central conhecida atualmente como Turcomenistão. Não existem dados específicos de como os cavalos eram no começo e como se deu a sua subsequente evolução, pois aquela era uma época em que não se faziam registros de raças como hoje: os animais eram identificados apenas por nomes locais.
— Que pena, poderíamos ter mais dados e informações para chegarmos a uma conclusão melhor.
— Na minha opinião, a beleza majestosa dessa raça vale os riscos. Disse Jamal bebendo o seu licor.
Os demais ficaram ponderando enquanto Zayn continuava a falar.
— É a partir dessa prática que o termo "Akhal Teke" nasceu: os cavalos eram criados exclusivamente pelos nômades turcomenistãos de mesmo nome. Essa raça, que é descendente próxima dos tradicionais cavalos de guerra da região, foi escolhida pois mostrava um grande potencial de se desenvolver em velocidade e resistência, características essenciais para a vida no deserto.
— Compreendemos bem a sua paixão herdeiro. Ponderou Azend pensativo.
— Por favor, me chame apenas de Zayn. Meu pai ainda é o monarca, sou apenas um administrador da nação. Explicou Zayn com seriedade.
— Notaram como não mencionamos que as tribos valorizam a característica principal da raça, a sua pelagem dourada e metalizada? Pois é, na época, a beleza dos animais não tinha muita relevância para os criadores (afinal, estavam no meio do deserto), mas ela já servia para camuflar a raça em meio à areia. — Revelou Osman vendo como o neto comandava a reunião.
— Correto, vô... As últimas informações que existem sobre a sua época de origem é que as tribos usavam os cavalos Akhal Teke para práticas de lazer (corridas e provas de salto) e para o transporte no relevo extenso, árido e difícil da região. Depois, disso, a história da raça tem uma guinada completamente diferente.
— Realmente acredito no potencial dessa raça! Afirmou o Sr. Saad.
— Foi em 1881, guerras entre a China e a Rússia resultaram na invasão russa da região do Turcomenistão, que ficou severamente impacta.
— Como sempre os conflitos. Disse Guzman, desanimado.
— As tribos remanescentes foram propositalmente separadas de seus cavalos, com o objetivo de abalar a sua autoconfiança e orgulho. Os animais foram transferidos para fazendas estatais russas, onde a pureza da raça sofreu atentados.
— Como sempre os Russos fazendo as suas experiências sem proposito algum. Disse Cam novamente interrompendo a conversa.
Zayn resmungou irritado e os demais líderes ficaram em um silêncio constrangedor.
— Lá, os cavalos Akhal Teke receberam transfusões de sangue da raça Puro-Sangue Inglês (PSI) numa prática russa intencional de prejudicar a raça asiática. Para retaliar isso, em 1932, os turcomenos usaram os exemplares puros da raça para provar o seu valor numa viagem de Asgabate a Moscou, que levou 4.800km e 84 dias para ser concluída. Isso não mudou a posição russa e, depois de repetirem o feito, as tribos não puderam mais entrar em contato com os seus cavalos Akhal. O governo soviético seguiu aplicando sangue PSI na raça e realizando inseminações artificiais para aumentar o seu atrativo em corridas de curta distância com fins de entretenimento, o que eliminou de vez a pureza da raça.
— Como foram fazer algo tão abominável! Acabou falando um dos líderes indignado.
— A última égua Akhal Teke pura morreu em 1991, enquanto o último ganharão foi em 1998. Atualmente, existem cerca de 1.200 exemplares da raça do cavalo dourado, encontrados principalmente em eventos de exposição, hipismo e outros esportes equinos. O emblema do Turcomenistão ainda é o Akhal Teke. Terminou contando à todos.
— Zayn, poderiam nós falar um pouco sobre as características do Akhal Teke? Pediu o Sr. Saad.
— Claro... Aceitou Zayn com satisfação. — Apesar de sua trajetória, os exemplares de mestiços do Akhal Teke que existem hoje carregam o menor nível de polimorfismos genéticos (em torno de 60%) já vistos em uma raça de equinos. Com isso, diversas de suas zootécnicas foram mantidas, misturando-se com as novas desenvolvidas no ocidente.
— Meu jovem, somos homens velhos e poucos sabemos sobre a tecnologia usada na criação ou mesmo no reconhecimento das raças. Poderia ser mias claro, mas de uma maneira mais simples, por favor.
Os demais acabaram rindo e Zayn também.
— A sabedoria que todos possuem sobre essa terra e nossa nação ainda se sobressai sobre muitas coisas.
Os líderes ficaram felizes e agradeceram a consideração.
— Os cavalos possuem os olhos grandes e narinas abertas, que provocam uma expressão audaciosa; Focinho fino; Pernas magras, longas e de juntas altas; Cabeça elegante num ângulo de 45°... Um perfil num formato retilíneo; Corpo estreito, tubular e longo; Pescoço fino, comprido, alto e mais vertical; Porte médio (chega a 1,70 de altura); Pelo muito fino e colado ao corpo que dá um aspecto metalizado; Pelagem alaza-dourada, castanha ou tordilha; Pele fina e resistente ao calor.
— Realmente uma espécie magnífica!
— Exatamente, cavalos dignos de reis e rainhas. Outro líder disse feliz.
— É necessário nós unir para fortalecermos a criação dessa raça dentro de nossa nação. Contra disse Osman orgulhoso de seu neto e de sua liderança perante dos demais.
— Além de sua cor e brilho inconfundáveis, a raça tem outras características de grande relevância, como a sua capacidade de percorrer muitos quilômetros em terrenos árduos, sobreviver com pouquíssimos cuidados no verão, rusticidade e versatilidade de alimentação e criação. Completou Zayn satisfeito com o rumo da reunião.
Quando chegou perto, o dr. Cam Guzman passou imediatamente a falar em inglês e ela compreendeu a empolgação de zayn: estavam conversando com entusiasmo sobre os planos de Zayn de construir nova estrebaria.
— Zayn... — Disse Pilar, a certo momento. — Eu acho que você podia tirar vantagem daquele bonito pasto que fica do lado norte da estrebaria. Digo isso porque a estrebaria de Imperial dos Abadi incorpora uma colina e isso tem sido muito vantajoso para os animais que são treinados lá.
Zayn e o doutor olharam para Pilar, admirados. Aurélio Casilhas, líder do povoado ao norte e o terceiro criador de cavalos disse pensativo.
— Isso é que eu chamo de uma mulher com verdadeiro senso administrativo! —
E riu, animado.
Zayn sorriu e Pilar notou o brilho de seus expressivos olhos.
— Obrigado, Pilar. — Sussurrou, baixo. — É uma ótima sugestão.
Antes que voltassem a falar, Osman parou no meio da sala e disse, bem alto.
— Está na hora da dançar! Nenhuma festa é completa sem a dança dos turcos!
Os convidados deixaram o centro da sala livre. Zayn e outros homens reuniram-se e Pilar assistiu, fascinada, a dança num ritmo de pavana, lento, depois rapidíssimo, com saltos e vôos que lembravam um show de cossacos.
Um por um os homens foram saindo do centro, até que só restaram Zayn e um dos jovens líderes de cidades próximas, um diante do outro. Osman explicou a Pilar, que estava de pé junto da cadeira dele, que ia começar a dança da adaga.
Era mais do que dança, os homens movimentando-se e brandindo uma imaginária adaga, atacando-se com incrível rapidez. Pilar logo percebeu que o drama e a beleza da "dança" eram os homens não recuarem um milímetro quando atacados pelo adversário. O Avô Osman suspirou de prazer quando a dança acabou.
— Esse Zayn tem a honestidade, a coragem e crueldade de um lutador, não, miss França?
Pilar sorriu polidamente, concordando, mas no íntimo estremecia.
Lembrou da conversa com Leona na capela armênia. Ela descrevera o filho mais ou menos da mesma maneira. Um homem para quem a força de vontade devia prevalecer para ser respeitado diante dos demais lيderes das outras tribos e de seu país.
De repente, sentiu-se sufocar ali dentro. Desculpou-se rapidamente e saiu da casa. A noite estava fria, mas ela aspirou o ar gelado com satisfação. Aos poucos, foi se descontraindo. Algumas estrelas brilhavam por entre as nuvens. Com um suspiro, Pilar disse a si mesma que logo estaria longe dali. Ouviu passos e voltou-se.
— Pilar! — Disse Zayn. — Eu estava com medo de não conseguir ficar a sós com você hoje. Os líderes das tribos menores queriam falar comigo e com o meu avô.
Ela ficou surpreendida, mas antes que pudesse falar Zayn tomou-a nos braços e beijou-a com urgência, com aflição e desespero.
Os pensamentos apagaram-se diante dos desejos de seu corpo jovem e ela correspondeu ao beijo com abandono. Abraçou-o pelo pescoço, enquanto as mãos dele percorriam-lhe o corpo, numa longa e agoniada carícia, como se quisesse guardar na memória cada curva daquele corpo quente e macio. Com uma das mãos Zayn apertou-a mais contra si, enquanto a outra subia ao longo da espinha dela, até o pescoço delicado. Os dedos envolveram-se nos cabelos longos e, de repente, puxaram-nos para trás com violência, fazendo o corpo esguio de Pilar arquear-se. O beijo tornou-se brutal e exigente, fazendo-a gemer de dor e prazer.
Depois, a violência do beijo foi diminuindo, como se o fogo que havia nele se tivesse consumido e apagado. Pilar gemeu baixinho quando os lábios se separaram e a cabeça dele desceu na direção dos seios arfantes. Mas, antes de tocá-los, ele endireitou o corpo e soltou Pilar.
— Zayn... — Murmurou ela, rouca de emoção.
Ele não a deixou continuar, tapou-lhe os lábios, suavemente, com os dedos.
— Vim avisar que você vai embora de Aysun daqui a dois dias. — Disse ele, num tom quase cruel, como se quisesse esmagar os sentimentos.
— Quando isso foi decidido? — Indagou ela, estremecendo.
— Hoje. Pedi ao Guzman que arranjasse lugar para você no avião que vai levar o pessoal do hospital de volta a Istambul.
— Sei... — Virou-lhe as costas e fitou o céu escuro; por isso, ele conversara com o Sr. Saad. — E Maktub?
— Ele chega depois logo após, de trem.
Tudo já tinha sido resolvido! Estava sumariamente demitida... Ergueu a cabeça, escondendo a vergonha que sentia de ter se submetido ao beijo violento, quando ele já sabia que tudo ia acabar no dia seguinte. Maldita arrogância daquele homem! O silêncio começou a pesar. Se Zayn esperava que ela implorasse por seu amor, enganava-se.
— Pilar, inferno! Diga alguma coisa! — Murmurou ele, com ódio, passando a mão pelo cabelo.
Pilar não quis olhar para ele, com medo que visse em seus olhos, não orgulho, mas sim o desespero daquele amor impossível.
— É melhor eu ir logo, mesmo! — Sussurrou, cada palavra machucando terrivelmente. — Há coisas importantes me esperando em Istambul.
— O que quer dizer?
— Não se lembra da profecia da cigana? — Disse, tentando sorrir.
Surpreendeu-se ao ouvi-lo rir baixinho.
— Tenho impressão de conhecer você há muito tempo, Pilar, no entanto, sei tão pouco a seu respeito...
— Que interessa isso? — Era uma provocação e um desafio.
Ele sacudiu os ombros, com pretensa indiferença.
— Nada, acho.
— Então, não temos mais nada a nos dizer.
Caminhou para a entrada da casa, com medo que a emoção a traísse. Os olhos dele seguiram-na e estremeceu quando ela se voltou para olhá-lo, já na luz que vinha da casa. Uma mulher loira, linda. Uma orgulhosa ocidental vestida de oriental.
— Boa noite, Zayn Kardashev Abadi... ou devo dizer adeus?
Quando entrou correndo no hall, teve a impressão de ouvir uma explosão de imprecações jorrar dos lábios apertados dele em turco.
Subiu a escada, ainda correndo, as lágrimas impedindo de ver onde pisava.
3266 Palavras
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