Capítulo 32 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Voltou-se e viu Leona servindo chá de uma garrafa térmica, em xícaras de cerâmica. Deu uma a Pilar e sentaram-se à porta da capela, olhando o céu pesado de nuvens.
— Então... — Disse Leona. — O que achou do pai do meu filho e de sua aldeia?
— Fiquei impressionada! — Respondeu Pilar. — O sheik Rashid me lembrou muito Zayn.
— Também acho. — Disse Leona, parecendo satisfeita. — E Zayn é muito mais apegado ao avô, mais do que ao pai na verdade.
— O sheik Rashid é muito bem-educado para um...
— Para um monarca que seu povo considera ignorante? Era o que ia dizer, Pilar? — Indagou Leona, calma. — Educação, cultura, sempre fascinaram o soberano da Turquia. Ele aprendeu a escrever e ler sozinho quando tinha menos de cinco anos, tanto o curdo quanto o turco. Fez questão de dar educação a muitas crianças dentro do povoado, mesmo que alguns líderes fossem claramente contra a alfabetização de mulheres. Ele se inspirou na cultura dos curdos que sempre foram muito liberais quanto à igualdade dos sexos. Rashid foi quem financiou a educação de muitos jovens em Istambul e Londres. Sabia disso? Nosso filho mesmo fez faculdade em Londres. — Indagou, de modo casual.
— Não, não sabia... — Respondeu Pilar fitando-a intensamente.
— Isso foi parte do elaborado contrato de casamento feito por estas famílias. Zayn deve se unir a uma mulher que possa agregar conhecimento, além de ajudá-lo no desenvolvimento da nação. — Leona sorriu.
— Você... você o amava? — Perguntou Pilar, assustada com o próprio atrevimento.
— Eu ainda o amo muito. Mas hoje prefiro ser grata a ele por tudo que vivemos. Zayn foi o maior presente que pude ter!... — Respondeu Leona, com um suspiro, sem parecer ligar para a pergunta de Pilar. — Rashid casou com Nazira por puro idealismo; e ela se casou com ele por questões práticas. Já o nosso relacionamento foi repleto de paixão e amor. A ironia nisso tudo é que o pai de Zayn não tem tino para negócios como eu. Já o avô Osman era um grande estadista, mas quando se tratava de investimentos também era horrível... Sempre dava crédito aos grandes negócios de amigos: poços de petróleo, sempre secos... minas de cromo em Diyarbakir, que nunca produziram nada de verdade. Já a paixão de Zayn até agora era os cavalos e as competições. — Concluiu, amarga.
Pilar lembrou-se dela sempre à escrivaninha, de óculos...
— Então, é você quem administra a propriedade, na verdade.
— Zayn e eu temos tentado mantê-la apesar dos conflitos familiares, mas... — Pareceu relutante em continuar. — Desculpe, só falei em mim, Pilar. Conte-me de você.
Pilar ficou confusa com a repentina mudança.
— Bem... na verdade, não tenho muito a dizer. — Murmurou.
Leona riu e seus olhos brilharam, como um raio de sol batendo no granito.
— Zayn me disse que você é uma americana pobre, que está tentando fazer fortuna nas corridas de cavalo européias. Desculpe, querida, mas não acredito nisso! — Não havia rancor ou acusação na voz dela, apenas divertimento. — Conheci muitas mulheres como você, quando era estudante e, mais tarde, quando morei com o pai do Zayn em Ankara. Pilar, meu bem, você exala riqueza, poder e bem-estar por todos os poros. Os homens não percebem isso... talvez não sejam muito espertos ou não reparem em detalhes... mas você não engana outra mulher. Acho que está levando uma vida livre para provar qualquer coisa a si mesma. Acertei? — O olhar dela era firme, penetrante, mas bom.
— Eu... bem... — Pilar não sabia o que dizer.
— Tenho impressão de conhecer você há muito tempo, Pilar. — Havia ironia amiga e brincalhona na voz dela, agora. — Não se preocupe. Guardo seu segredo: não vai sair destas paredes... Mas não magoe o meu Zayn, ou posso me tornar a sua pior inimiga. E só mais um conselho, quando tiver os seus próprios filhos vai começar a me entender melhor. Agora tome o seu chá antes que esfrie.
— Mas Zayn... — Pilar sentia-se perdida diante daquela mulher tão forte e franca.
— Pode esquecer dele. — Disse Leona, firme. — Rica ou pobre, você não tem a menor chance com o meu filho. Eu conheço Zayn, ele busca uma mulher tão forte como ele. Forte o bastante para enfrentar essas areias escaldantes e esse frio seco. Além de essa mulher também deseje conquistar tudo isso que os seus olhos estão vendo.
— Não aceito isso. — Pilar ergueu a cabeça e teve impressão de ver um brilho de respeito nos olhos de Leona com a sua atitude.
— Zayn tem orgulho e espírito inquebrantáveis. Está pronta para aceitá-lo assim? A se tornar forte quando for necessário e submissa quando a ocasião exigir? Usando sua inteligência para vencer obstáculos e conflitos? E não aumentá-los ao querer impor a sua razão ou ego? Zayn será o monarca desse país e várias tribos, líderes esperam que ele seja forte, audaz e determinado como essas areias. — Disse Leona, lentamente. — É por isso que o admiro tanto. Você vai ter que aceitar, porque ele vai insistir nisso. Você não vai domá-lo como imagina, precisa conquistá-lo!... E depois conquistar toda essa nação!...
Pilar ergueu-se e olhou para o céu, lá fora. Leona continuou.
— Olhe, Pilar, não quero ser cruel. Estou começando a gostar de você, também. Mas amo meu filho e não quero que ele sofra com o prolongamento de um caso de amor sem esperança. Pois sinto que você não o aceita como ele é na verdade. Zayn jamais vai pertencer ao seu mundo, ele pode fazer uma ou duas concessões, mas ele é um turco de alma e coração. Poderá amá-lo e aceitá-lo assim?
Pilar voltou-se para Leona, com um brilho gelado nos olhos.
— Recuso-me a desistir sem saber por que sou rejeitada. Ele disse que nada tem a ver com religião ou dinheiro. Por quê, então?
Leona também se levantou e ficou diante de Pilar.
— Você é uma mulher lindíssima, cheia de orgulho e vitalidade. Você e Zayn são muito parecidos realmente! A verdade é muito simples e irônica. Não compete a mim dizê-la. Tem que ser uma decisão dele. Vamos para casa, agora. Temos convidados para o jantar.
Pilar saiu da capela, montou e esporeou o cavalo, que saiu disparado.
Chegaram à estrebaria, cavaleira e montaria, ofegantes e suadas. Desmontou, rápida, entregou as rédeas a um dos muitos empregados. Quando se voltou, viu Leona chegando.
Um instante depois, a mulher estava a seu lado, também ofegante pela cavalgada puxada. Tocou num braço de Pilar, com ar de entendimento.
— Cavalgar puxado é bom. — Disse. — Quanto mais depressa você se livrar da fْria e da frustração, mais depressa estará pronta para enfrentar o inevitável. Aceite um fato contra o qual não pode lutar.
— Não me subestime, Leona. — Respondeu Pilar. — Sou forte.
A bonita alemã sorriu, com um pouquinho de maldade.
— Mas meu filho é mais forte. Sua cabeça é intocável. Zayn nasceu para líder uma nação inteira. E precisa de uma mulher a sua altura.
— O coração dele, não! — Replicou Pilar e, sem esperar resposta, atravessou o pátio correndo e entrou na casa.
Nisso Leona sorriu e olhou o sol brilhando sobre as poucas nuvens.
— Ela é perfeita como um diamante, mas precisa ser lapidada antes!
Encontrou-se cara a cara com Zayn, que parecia mesmo ter voltado de trabalhar no campo. Apesar do frio, a camisa dele estava desabotoada junto ao pescoço e gotas de suor escorriam, misturadas à poeira, pelo peito abaixo.
Pilar, que não o esperava, sentiu a força da masculinidade de Zayn com toda intensidade. Ele percebeu a sensação dela pelo arfar das narinas delicadas e o escurecimento dos olhos, que mais se assemelharam a pedaços do céu.
Aproximou-se e Pilar sentiu-lhe o calor como se ondas de eletricidade saltassem de seus corpos. Devagar, Zayn ergueu uma das mãos e acariciou o pescoço dela. Aproximaram-se mais. Pilar já sentia o calor dos lábios de Zayn quando a porta abriu-se atrلs dele, fazendo com que se separassem. Leona entrou e observou-os por momentos, antes de falar com o filho.
— Alô, querido. Parece que teve um dia duro no campo. Pilar conto que fomos à aldeia de seu avô e pai?
— Eu sabia que podia contar com minha mãe para distrair você. — Disse Zayn, sorrindo, para Pilar. — O que achou deles?
— Muito parecidos com você!... — Respondeu ela, rindo também.
Zayn inclinou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.
— Quer dizer que os acha mais curdo do que turco? Mais selvagem do que civilizado? Com tendência a estouros de raiva, em vez de fria diplomacia? — Brincou ele, provocando-a.
— Isso mesmo!... — Retrucou ela o desafiando com o olhar. — Você é como um lobo feroz e selvagem que apodera-se da presa, sem pensar nas consequências.
O riso dele apagou-se ao ouvir aquilo e seu olhar cruzou com o da mãe. A tensão foi quebrada por ela, que disse rapidamente ao filho.
— Ah, eu tinha esquecido de dizer! Chegou um pacote para você de Kapali Carsi e pus no armário do hall.
— O que será? — Disse ele, curioso, enquanto tirava o volumoso pacote, de papelão, papel e barbante grosso, do armário.
Pilar e Leona olhavam, curiosas, por cima dos ombros dele, enquanto desfazia o pacote com gestos ansiosos. Uma expressão de divertimento e alarme tomou conta dos olhos de Pilar quando reconheceu as rédeas, luvas, esporas e a belíssima sela negra que comprara no bazar e mandara entregar no rancho.
Tinha esquecido daquilo.
— Que coisa mais linda, meu filho! Estou contente por você, pelo menos uma vez na vida, ter comprado algo para si mesmo! Sei que gosta de ajudar as pessoas, mas usar as premiações para ajudar os orfanatos locais, sem nunca comprar nada para si mesmo, também não é justo. — Disse Leona, enquanto ia para a escada. — Com licença, preciso me trocar.
Zayn esperou a mãe desaparecer pela escada, depois voltou-se para Pilar, os olhos negros prometendo uma tempestade intensa de emoções. Sem aviso, agarrou-a por um braço, quase a arrastou pelo corredor, fazendo-a entrar na biblioteca. Fechou a porta atrás deles.
Segurou-lhe ambos os braços junto do corpo, obrigando-a a ficar imَvel.
Inclinou-se até seus rostos ficarem quase encostados.
— Que diabo você está tentando fazer? — Disse, com raiva. — Eu não aceito presentes caros de mulheres, Pilar. Vai levar aquilo tudo de volta a Istambul! Será que me entendeu? — A voz baixa, controlada, tinha uma calma desmentida pela fْria dos olhos.
Ao fitá-lo, o medo de instantes atrás deu lugar à revolta. Ela se recusava a aceitar o arrogante domínio masculino dele.
— Não está sendo precipitado, Zayn? — Replicou, com falsa calma, os seios arfando pela emoção que sentia. — Como pode afirmar que aquilo não é presente de uma das mulheres que você está namorando... Laetitia ou Zarra? Quem sabe não é um presente de uma noiva turca... algo para adoçar a taça de fel do noivo em perspectiva? Ou mesmo uma outra pretendente estrangeira!... — Concluiu, sarcástica.
— Vá para o diabo com sua insolência! — A suavidade das palavras era mais assustadora do que a raiva solta. — Sei que foi você quem comprou, porque a deixei na frente da loja e da data de envio é a daquele dia. Vai negar, Pilar França? — Apertou-lhe mais os braços.
Percebendo que seria ridículo e infantil negar, respondeu, fria e desafiadoramente.
— Está bem, não nego. Comprei isso tudo com o seu dinheiro... com os doláres que você se recusou a receber de volta. Maldito turco teimoso, não quis! Por que não me contou que o dinheiro pertencia a um orfanato?
— Isso já era caso encerrado. E eu não lhe devo satisfação do que faço com o dinheiro das premiações. — Disse Zayn, raivoso.
— Não para mim, Zayn Kardashev Abadi!
— Você vai levar aquilo tudo de volta! Pois não foi você mesma que insinuou que eu usava o dinheiro para me divertir com as várias mulheres que cruzam o meu caminho!
— Não vou! É tudo seu! E me desculpe se feri o seu orgulho masculino. Mas queria que eu pensasse o quê, pelo modo de vida que ostenta e leva? — Teimou Pilar.
As mãos dele começaram a acariciar-lhe os braços, enquanto suspirava, com um fim de raiva.
— Você é a mulher mais teimosa que tive a infelicidade de...
— De quê? — Provocou ela. — Zayn Kardashev Abadi, você é arrog...
Os lábios dele apoderaram-se dos dela num beijo punitivo que a obrigou a inclinar-se para trás. Entreabriu a boca com um suspiro, enquanto sentia todo seu ser corresponder à paixão exigente dele.
Zayn apertou-a contra si, com força, os seios esmagados contra o peito forte e tudo o mais desapareceu para eles.
— Aşkım, Sen benim başıma gelen en güzel şeysin. Senden ِnce hayatın nasıl olduğunu düşünüyorum ve tek bir anım bile yok. اünkü sensiz hayat var olmaz. Sen benim ışığımsın, benim yolumsun, benim dünyamsın. Seni her şeyden çok seviyorum. (Meu amor, Você é a coisa mais bonita que me aconteceu. Penso em como era a vida antes de você e não consigo ter nem uma lembrança sequer. Isso porque a vida sem você não existe. Você é a minha luz, o meu caminho, o meu mundo. Te amo mais que tudo.) Declarou-se Zayn sussurrando sobre seus lábios depois do beijo.
— Zayn... Eu não compreendo o que você acabou de me dizer.
A porta da biblioteca abriu-se, trazendo-os de volta à realidade, para ver o rosto surpreso e o olhar curioso de Arzur, uma jovem turca da casa dos Abadi. Zayn soltou Pilar como se ela fosse ferro em brasa, disse alguma coisa para Arzur, que saiu correndo para a cozinha, depois aproximou-se de uma janela e ficou olhando para fora.
Pilar saiu da biblioteca e subiu para seu quarto. Sentia emoções e tinha pensamentos tumultuados. Passou os dedos trêmulos pelos lábios magoados pela fome violenta de Zayn. Como tanta ira podia dar lugar a tanta paixão?
Ao entrar no quarto, viu uma grande caixa retangular em cima da cama.
Aproximou-se, rapidamente, e ficou olhando-a por segundos, tentando imaginar que caixa era aquela e quem a pusera ali.
Curiosa, abriu-a. Afastou os papeis de seda e soltou um gritinho de surpresa: era a maravilhosa tْnica de seda que a atraíra tanto no bazar. Não precisou pensar muito para descobrir quem a comprara. Zayn estava com ela quando admirara a túnica tradicional da mulheres turcas. Sorriu.
Mas a suave alegria durou pouco. Lembrou do que a obrigara a subir para o quarto. Como ele se atrevia a pensar que ela ia aceitar um presente tão caro, tão pessoal, depois de tê-la maltratado tanto por uma situação inversa? Ele, em seu orgulho idiota, não aceitava nada dela! Bem, ia mostrar-lhe quem tinha mais orgulho!
Colocou o vestido de novo na caixa, fechou-a, pegou-a e desceu a escada correndo. Entrou na biblioteca. Ele não estava mais. Atravessou o hall e empurrou a porta da cozinha.
Zayn estava de pé junto do balcão ao lado da pia, com uma garrafa à boca.
Parou de beber e voltou-se para olhá-la. Pilar não pôde perceber se o brilho que viu nos olhos dele era de divertimento ou de ânimo para continuar a briga.
Os saltos da bota ressoaram quando se aproximou dele, com a caixa afastada do corpo, como se a temesse.
— Posso saber o que isto fazia no meu quarto? — Perguntou.
— Um presente... — Riu ele. — Um presente pelo Natal ortodoxo. Não me diga que não crê em Papai Noel agora. — Ironizou.
— Papai Noel devia ter dado presentes para sua noiva, não para uma loira intrusa que não é querida em Aysun!... — Retrucou, suave.
Zayn agarrou-lhe um pulso e puxou-a, fazendo a caixa cair.
— Eu quero você aqui e isso chega.
Largou-a e ambos abaixaram-se ao mesmo tempo para pegar a caixa.
Quando começou a dobrar o vestido, cuidadosamente, Pilar viu um colar no chão. Reconheceu o colar de oração que vira diante da fotografia dos pais dele, na cabina do trem.
— Zayn... — Indagou, surpresa. — O que o colar fazia com o vestido?
A mão morena, grande e forte, fechou a dela, com o colar.
— Eu queria que você ficasse com ele. Foi um presente dado por meu avô e ele deve ficar com... — Disse, simplesmente tentando explicar os seus verdadeiros motivos.
— Você... bandido! — Gritou, erguendo-se e livrando a mão da dele. — Como se atreve a me dar uns presentes tão... tão valiosos quando jogou o meu presente na minha cara? Não quero nada disso! Não preciso do seu dinheiro e...
Ela esperou que Zayn jogasse a caixa longe. Em vez disso, ele segurou-a com delicadeza.
— Espere, Pilar, eu... — Disse, baixinho, como se falasse com um bichinho assustado. — Esta discussão amarga já durou demais. Vamos fazer as pazes? — Perguntou, um riso alegre dançando nos olhos.
— O que quer dizer? — Desconfiou Pilar.
— Quando vi os arreios e percebi que você os comprara, fiquei louco de raiva, confesso. Escute, Pilar, fico com o seu presente se você aceitar os meus e usá-los no jantar de hoje à noite. Pelo menos por esta noite, seja minha esposa turca... — Pediu, suave.
Antes que ela pudesse responder, a porta da cozinha que dava para fora abriu-se e Arzur entrou com uma moça do lugar. Era bonita, tinha uns trinta anos e, se bem que Pilar nunca a tivesse visto, pareceu-lhe familiar. Depois de responder, sorrindo, aos cumprimentos das duas, Pilar perguntou a Zayn.
— Quem é ela?
— A mãe de Suleyman e Murat, os meninos que você conheceu ontem.
— Não, não... — Disse Pilar. — Eu estou falando da moça.
— Então! — Zayn assentiu com a cabeça. — É dela que falei.
Em seguida os meninos entraram correndo e gritando na cozinha.
Arzur os fez acomodarem-se com uma ordem, deu a cada um saco de lixo para levarem para fora e mandou a moça descascar legumes.
Pilar sacudiu a cabeça, confusa.
— Acho que não entendi... — Disse, enquanto voltava com Zayn para o hall. Ele riu.
— É muito simples. Quando Arzur fez quarenta anos, Ahmet e ela estavam casados há vinte anos. Era evidente que ela nunca iria ter filhos e ficou aflita. Arzur é uma mulher esperta e achou a solução não apenas para conseguir crianças, mas para continuar na posição de comando e poder... Arzur convenceu Ahmet a ter uma segunda esposa. E essa que você viu agora, Khadija.
— O quê? — Pilar estava chocada. — E isso é legal?
— O que é legal e o que é tradicional neste país são coisas bem diferentes. Meio século atrás Ataturk anulou todas as velhas leis que orientavam a vida dos turcos no passado, porém é preciso muito mais do que cinquenta anos para apagar velhos costumes de um povo.
— Este é um país com um pé no futuro e outro no passado. — Observou Pilar, enquanto subiam para o primeiro andar. Em cima, parou e voltou-se para encará-lo: — Zayn, em qual dos dois você está?
Ele passou a mão de leve pelo rosto delicado dela.
— É difícil responder isso... As vezes me sinto dois homens em um. — Os cílios pesados ocultaram o olhar perturbado quando ele inclinou o rosto para o dela. Teriam se beijado se a porta do quarto da mãe dele não abrisse. — Vejo você no jantar. — Disse ele e voltou-se para a mãe, que estava parada à porta.
Pilar cumprimentou ambos com a cabeça e foi para seu quarto.
3232 Palavras
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