Capítulo 21 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
A chuva engrossara, transformando-se numa mistura de água, lama e neve. O tráfego era lento, confuso. Tinha passado meia hora quando pararam numa rua com enormes casarões de pedra. Últimos vestígios das antigas moradias dos turcos.
— Estas casas antigas foram transformadas em prédios de apartamento antes de meu avô nascer. Muitas foram reformadas, os turistas curtem essas coisas mais do que o meu povo, muitos pagam caro para dormirem dentro de uma caverna nas montanhas também. — Contou Zayn, enquanto subiam a escada de madeira e paravam diante de uma porta de carvalho. — Meu bisavô e meu avô foram conselheiros do sultão, eles eram filhos do terceiro e quarto casamento do sultão. O Palácio Dolmabahçe fica perto daqui. Eles dividiam o tempo entre as terras da família em Kars e os deveres em Istambul. O sultão teve ao todo sete esposas, mas dizem que amou somente uma na verdade.
— Só falta me dizer que foi a última esposa.
— Na verdade, os antigos diziam que ele amou somente a mulher que deu a luz a ele! — Afirmou Zayn segurando uma risada.
— Era a mãe dele entaõ, mas e...
— Os outros casamentos foram acordos comerciais entre regiões e alguns país. Na verdade o Sultão preferia os jovens militares de seu grandioso exército. Mas conte essa história para algum turco e ele vai desmentir até sobre tortura.
— Droga, não acredito nisso!
— Pode acreditar, a vida realmente não é um mar de rosas!
Quando entraram, Pilar ficou impressionada com a espaçosa sala de teto muito alto e uma lareira com tampo de mármore. Duas portas-janelas abriam-se para estreitos balcões com grade de ferro. A decoração era eclética, mistura de antigo e moderno. Alguns móveis de nogueira, entalhados, um sofá sobre um tapete turco usado, porém bonito. Nas paredes, obras de pintores impressionistas e tapeçarias persas.
— Tem certeza que sua família acha esse apartamento pequeno?
— Tenho, por quê pergunta?
— Pra mim isso está mais para um palácio.
— Diz isso por que nunca entrou num palácio de verdade. — Disse Zayn. — Aqui existe 14 palácios e mansões imperdíveis de Istambul.
— Está de brincadeira.
— Então vou fazer um breve resumo para você. Certo vou começar pelo Palácio de Topkapi: Por ser um dos lugares mais conhecidos de Istambul, o Palácio Topkapi reúne centenas de milhares de visitantes todos os anos. Construído no lado leste do distrito de Fatih, este palácio tem vista para o Bósforo e o Corno de Ouro. Como é facilmente o palácio mais importante da história otomana, você encontrará muitas relíquias otomanas interessantes e significativas, como armas, armaduras, pinturas e gravuras. Em segida temos o Palácio de Yildiz: Construído no ano de 1880, o Palácio Yildiz foi o último palácio otomano que já foi construído. Foi usado pelo sultão Abdulhamid II e foi convertido em um cassino de luxo após a fundação da República da Turquia. Mais tarde, tornou-se uma casa de hóspedes para estadistas. Hoje, é um complexo museológico com várias partes. No interior, encontram-se os apartamentos de estado, o Quiosque de Venda, o Quiosque de Malta, o Quiosque de Cadir, o Teatro Yildiz, a Ópera e a Fábrica de Porcelana Imperial.
— Nem vou perguntar quantos quartos existem neles.
— Quer parar de me interromper. O Palácio Dolmabahçe: Depois do Palácio Topkapi, o Palácio Dolmabahce é o segundo palácio histórico otomano mais famoso de Istambul. Construído no final da era otomana, este lugar é um dos edifícios mais luxuosos que você pode ver. O palácio tem 285 quartos e 46 salões, 6 banhos e 68 banheiros. Foi estabelecido em uma área de 110,000 metros quadrados. Além disso, o interior é feito de materiais muito caros, como cristal e ouro. Em seu período, foi um dos mais importantes. Espero ter saciado seu estranho desejo pelos quartos dos nossos castelos. — Disse sorrindo com cinismo. — Um Sultão com certeza saberia usufluir muito bem de tantos quartos, não acha?
Sua pergunta ficou sem resposta e Zayn continuou falando sobre os castelos de seu país.
— Palácio Ciragan: Localizado entre as margens de Besiktas e Ortakoy, o Palácio Ciragan já foi um palácio otomano que foi demolido e reconstruído várias vezes. O que conhecemos hoje foi concluído durante o reinado do Sultão Abdulaziz em 1871. Como muitos outros palácios otomanos, os materiais usados no Palácio Ciragan são raros e caros, como pórfiro, mármore e madrepérola. Hoje, é um dos hotéis mais luxuosos de Istambul sob Kempinski. Talve algum dia a leve lá, aposto que vai amar os quartos.
— Hora seu...
— Já o Palácio de Beylerbeyi: Como um dos poucos palácios otomanos que foi construído no lado asiático de Istambul, o Palácio Beylerbeyi tem um lugar significativo na história turca. Construído no ano de 1865 pelo famoso arquiteto armênio Sarkis Balyan, este magnífico local foi usado para receber estadistas estrangeiros, como o príncipe sérvio, rei de Montenegro, xá do Irã, imperatriz francesa, principalmente nos anos de verão. Depois que ele foi destronado, o sultão Abdulhamid II foi mantido aqui até sua morte em 1918. Embora seja menos conhecido do que outros palácios imperiais, é definitivamente um dos mais significativos **palácios históricos de Istambul**. Espero ter satisfeito a sua atual curiosidade sobre os castelos de meu país? Perguntou novamente.
Divertido com a surpresa de Pilar, Zayn continuou falando, enquanto iam pára a grande, mas simples, cozinha.
— Até se aposentar, há alguns anos, meu pai era membro do Parlamento em Ankara. Ficou chocado quando eu não quis saber de política também.
— Você não se interessa por isso? — Perguntou Pilar, enquanto ele punha café, açúcar e água para ferver.
— Eu prefiro as terras que perteceram aos meus pais quando ainda estavam juntos e claro, a criação de cavalos. Acho que é por causa do sangue de minha mãe, que é estrangeira e apaixoanda por cavalos de raça. Anos mais tarde descobri que minha mãe tanbém tinha sangue curdo correndo em suas veias, acredito que tenha sido um ancestral distante, mas não muda, ela carrega a genetica deles no final e eu também.
— O que é isso?
— Sempre esqueço que você não conhece a Turquia. Os curdos eram uma minoria étnica, de língua e cultura próprias, que viviam nas montanhas do leste. A animosidade entre curdos e turcos vem de séculos. Um dia conto a história do casamento de meus pais.
— Por que não conta agora? — Pediu Pilar, sabendo que aquela paz entre os dois podia acabar logo.
— Meu pai era e é um patriota turco que ama e respeita as tradições acima de tudo. Há meio século, depois da Turquia se tornar uma nação, os curdos se rebelaram mais uma vez e meu pai resolveu suavizar a animosidade com um gesto simbólico de união: ele deveria se casar com uma mulher curda pura. Mas minha mãe surgiu em seu caminho...
Enquanto falava, Zayn serviu o café em duas pequenas xícaras e foram tomá-lo na sala. Aproximou-se da lareira e acendeu-a.
— Um gesto simbólico... — Repetiu Pilar. — Quer dizer que seu pai não a amava?
A risada de Zayn continha evidente desdém.
— Pilar, você é mesmo uma ingênua. Amor romântico só existe nos livros ou foram inventados pelo seus roteiristas nos belos filmes que um dia assistiu. Viver dentro da realeza é algo totlamente diferente, nossas uniões são acordos comerciais ou de paz entre as nações.
— Tenho pena de você pensar assim. — Disse ela, corando.
Zayn largou a xícara, abriu um maço de cigarros, amassando o celofane com raiva, antes de jogá-lo no fogo.
— Eu não penso assim. Esse pais todo pensa assim. E mesmo o meu pai indo contra as tradições de seu povo por um amor que no fianl não durou mais que sete anos. Você acha que o amor pode ser forte o bastante para aguentar a pressão de uma nação inteira?
Ela ficou em silêncio novamente o fazendo suspirar.
— E você, Pilar? — Perguntou. — Depois que a série de prêmios europeus terminarem, não vai voltar para casa, para o casamento arranjado por seus pais, com um homem rico?
— Nunca! — Disse ela, veemente. — Por que pensa que quero isso para a minha vida, Zayn? Isso não me dará liberdade para escolher minha vida. Quero ser dona de meu destino.
— Destino... — Repetiu ele, pensativo. — Em turco, dizemos kismet, fado. Há coisas predestinadas, que não podemos mudar. Eu sei bem disso, como acreditar no destino, se eu tenho fugido do meu a anos?
— É por isso que está ansioso atrás de um casamento? Pois o destino não é imposto por ninguém. Ele é simplesmente a força do criador indicando o verdadeiro caminho. — indagou ela, sarcástica. — Não um gesto simbólico de compaixão ou mesmo amor dele? Pois para conseguirmos seguir o nosso próprio destino não significa que teremos um caminho fácil.
Ele riu, com expressão amarga, que marcou mais os seus traços.
— Não, Pilar. Deixo o idealismo para meu pai. Sou materialista e não vou ser subjugado pelo destino.
— Como assim? Você acredita em kismet, que as pessoas não podem alterar o destino... Então, amanhã tudo pode estar mudado!
— Tem razão. Pode. Amanhã você pode perder a corrida, Pilar. — As palavras soaram cruas, brutais. Como se seu sabgue de guerreiro otomano emergi das profundezas de sua alma inquieta.
— Não excluo a possibilidade de perder... como você pode perder!
— Isso não interessa... agora. — A voz dele tornara-se profunda, rouca de emoção.
— Agora... — Murmurou ela —, então isso significa que resolveu se casar?
— Parabéns, Pilar. — Ele riu, sarcástico. — Ficou bem mais esperta desde o dia que a conheci.
— Não consigo entender você, Zayn! — Suspirou ela, com raiva.
— Nem eu, entendendo você! — Retrucou ele visivelmente ficando desesperado. — Se você perdesse a corrida se casaria com Humberto Couto?
— Claro que não! Por que vive falando nesse homem?
— Porque vi você dançando com ele. Porque ele me mandou ficar longe de você. Por que o mesmo afirmou para mim que possui a aprovação de seus pais para um possível casaemnto. Aquele homem está aqui por que acredita que assim que você perder a corrida vai cair de joelhos a seus pés. Se ele não significa nada, por que estavam juntos?
— Isso não posso dizer, Zayn que eu vou seguir o que os meus pais acreditam ser o mlehor para mim. — Respondeu ela, maliciosa. — Não me vendo facilmente!...
— Acho que você é mais materialista do que eu, Pilar. Só que não o quer confessar. E não acredito que possa resistir tanto assim a não obedecer os desejos de seus pais. — Provocou Zayn.
— Não ligo a mínima para dinheiro! Quantas vezes preciso lhe dizer isso?
— Mesmo? — Duvidou ele. — Se eu fosse pobre, se eu não carregasse sangue real em minhas veias e pedisse que se casasse comigo, você aceitaria?
— Isso é uma proposta, Zayn? — A calma na voz dela foi traída por leve tremor que o fez tremer também.
— É só uma pergunta hipotética. Apenas a responda, por favor.
Pilar inclinou a cabeça para trás e os cabelos claros deslizaram pelos ombros.
— Não posso responder a uma pergunta hipotética.
Apenas a uma pergunta real e concreta!...
— E se eu dissesse que amo você?
— Outra pergunta hipotética, Zayn? — Disse ela, desdenhosa.
Os olhos dele brilharam como brasas a esse desafio, mas sua mão, no rosto dela, era delicada. Seguiu o desenho dos lábios com os dedos. Suas peles queimavam ao simples toque um do outro.
— Não me pergunte mais do que posso responder agora linda donzela selvagem.
— Não me satisfaço com meias-medidas ou meias-verdades. — Sussurrou Pilar.
— Você quer um mar de rosas? Mesmo eu ainda não ser capaz de lhe oferecer nem uma coisa e nem outra, pois no meu caminho só vislumbro tortuosos espinhos. — Indagou ele, irônico.
— Não caçoe de mim, Zayn... Não sou uma mulher tão frágil assim que também não sabe apreciar um bom espinho em sua própria carne.
— Meus desejos e paixões são os meus espinhos! — Afirmou sem tirar os olhos dela.
Mas o protesto morreu quando a boca de Zayn apoderou-se da dela, num beijo exigente, faminto, que a impediu de pensar. Com facilidade, ele a ergueu e deitou-a no macio tapete diante da lareira. As mãos fortes, experientes, acariciaram-lhe os cabelos, depois desceram pelo pescoço, pelos ombros, até chegarem aos seios, por cima da blusa de seda estampada.
— Por Alá, Pilar, você pede tanto carinho assim! — Murmurou.
— Ontem de manhã, quando saiu do elevador do hotel, parecia de um mundo estranho ao meu: fria, elegante, um mulher adorável, mas inalcançável . Mas agora, com seus cabelos livres, despenteados, eu...
Mergulhou o rosto na curva do ombro dela, sua barba por fazer fazendo a pele de Pilar arrepiar-se deliciosamente. Como se tivessem vida própria, as mãos dela enfiaram-se nos cabelos negros, depois tocaram a nuca de sua pele com suavidade, apertaram os ombros musculosos e desceram para o peito, desabotoando ansiosamente a camisa. Quando as mãos tocaram a pele firme, morna, do peito de pelos lisos, macios e do estômago chato, uma sensação selvagem tomou conta do corpo inteiro dela.
Suspirou, com medo e delícia, quando Zayn desabotoou-lhe delicadamente a blusa e começou a beijar-lhe os ombros. Desabotoou o sutiã de renda afastando-o enquanto beijava lenta e ardentemente o contorno dos seios túrgidos.
A respiração pesada de Pilar tornou-se um suave gemido quando os lábios de Zayn tocaram o bico do seio. Impaciente, ele tentou despi-la, enquanto unia a cabeça à dela, murmurando.
— Pilar, se você fosse minha esposa turca eu lhe daria o nome Melahat... Beleza.
Pilar não percebeu a ternura dessas palavras, chocada pelo que estava implícito nelas. Jamais desejara alguém tão loucamente, mas esfriou ao se ver diante da real situação.
— Se! — Gritou, afastando-se e cobrindo a nudez. — Sempre o "se"! Se eu me casasse com você, se eu fosse sua mulher. O que você pode me dar, além dessas frases vazias e tolas?
— Nada. Não vou mentir para você. E lhe pergunto você me maria se eu não lhe pudesse lhe oferecer nada. Ainda assim me amaria?
— Nada? — Os olhos de Pilar brilharam de lágrimas, enquanto ela passava os dedos trêmulos pelo rosto dele, como se quisesse guardar os traços, o calor do queixo forte, na memória e no tato.
Zayn ergueu os olhos para ela, tentando resistir ao carinho de suas mãos, e Pilar viu a ternura do olhar transformar-se num brilho frio e duro. Afinal, ele mesmo disse.
— A única coisa que posso lhe dar no momento é a chave deste apartamento, se você quiser.
Ela retirou as mãos, como se tocasse em brasas. Sentou-se, ajeitando os cabelos revoltos.
— Como uma de suas amantes? — Indagou com voz amarga.
Ele não respondeu, apenas ficou analisando cada movimento que ela fazia.
— É isso, não? — Insistiu, os olhos como duas opalas de fogo.
Enquanto observava a fria expressão de Zayn, algo pareceu romper-se dentro dela e não pôde impedir-se de esbofeteá-lo. O estalo da bofetada pareceu propagar-se, multiplicando-se, na sala silenciosa. Num movimento fulminante, Zayn segurou-a pelos ombros e obrigou-a a ajoelhar-se a seu lado. Aquelas mãos, que podiam ser tão ardentes e carinhosas, também sabiam ser brutais e magoar. Sacudiu-a com uma fúria incontida. O ódio de Pilar começou a transformar-se em medo. Queria escapar, mas as mãos pareciam de aço, segurando-a.
— Pilar, acha que eu a trouxe aqui para seduzir você? Para usá-la como não significasse nada mais do que um objeto qualquer? — Perguntou, rouco. — Como um perverso califa querendo carne fresca? Para ser usada e saboreada e depois jogada ao vento?... — Sacudiu-a de novo, num ímpeto de raiva.
— Sim! — Gritou ela, a voz estrangulada. — Isso mesmo! Nunca mais ponha as mãos em mim!
A aversão e o medo que havia na voz dela eram tão intensos que atingiram Zayn mais do que a bofetada. Largou-a tão inesperadamente que Pilar quase caiu para trás. Lágrimas de dor e raiva corriam-lhe pelo rosto enquanto ela erguia-se e arrumava a roupa. Zayn ia dizer alguma coisa quando soou a campainha e, em seguida, ouviu-se uma chave girar na fechadura. Logo depois uma moça morena, miúda, entrava silenciosamente no apartamento. Seu olhar foi rapidamente de Pilar para Zayn e, depois, voltou para Pilar, que reconheceu nela a mulher que esperava Zayn na estação. Imaginou que ela fazia parte do "harém" do príncipe Zayn, já que tinha chave do apartamento.
— Bonjour, mademoiselle, eu... — Disse a moça em francês, os grandes olhos negros cheios de curiosidade.
Pilar já pegara a jaqueta e estava indo para a porta quando a voz imperiosa de Zayn, gritando-lhe o nome, a fez parar. Ele ficou um instante calado, como se tentasse dominar as emoções, depois disse.
— Quero que você conheça Latifa, minha meia irmã.
Pilar voltou-se para a moça, corando por ter feito mau juízo dela.
Percebeu, então, semelhança nos traços do rosto, se bem que o dela fosse mais suave, delicado. E os olhos fossem de um acor mais indo para o claro, uma mistura indefinida até aquele momento.
— Alô... — Disse, em inglês, tentando respirar com calma.
A moça voltou-se bruscamente para o irmão e os dois falaram rapidamente em turco. Pilar teve a impressão de que ela estava fazendo perguntas a Zayn, que respondia com indiferença que parecia irritá-la. Depois, ela voltou a olhar Pilar, que estremeceu diante da animosidade que percebeu nos brilhantes olhos negros. Tão silenciosamente quanto entrara, Latifa saiu do apartamento. Estavam a sós de novo. Sem antes apontar pro irmão e dizer mais um monte de palavras incompreensíveis. Latifa estava furiosa e não escondeu isso ao bater a porta com força.
— O que foi? — Perguntou Pilar, a curiosidade vencendo a raiva que ainda sentia ferver no íntimo.
— Ela fez perguntas sobre você naturalmente. — Respondeu Zayn, acendendo um
cigarro.
— Por quê? — Quis saber Pilar.
— Curiosidade fraternal, acho. Queria saber tudo sobre você. E seu eu a atava machucando por que quando ela entrou estávamos praticamente brigando e você em lágrimas.
— Mas ela falou comigo em francês. — Pilar foi até a janela.
— Sim. Pensou que você fosse Laetitia. Eu comentei com ela certa vez que estava saindo com uma mulher francesa.
Ela voltou-se, a cor cinzenta do dia no olhar.
— Então, o casamento já foi aceito pela família, não? — Disse.
— Não podia ser de outro jeito... Latifa ficou chocada quando eu disse que você é uma americana pobre que está tentando fazer fortuna com as corridas. E está apenas de passagem por nosso país. Ela observou que você tem a pose e a beleza de uma sultana... Respondi que os Estados Unidos são um país democrático, onde riqueza não compra beleza...
Pilar olhou-o, mas a fumaça do cigarro velou os olhos dele e não pôde ver-lhe a expressão.
— Não pode comprar felicidade, também. — Disse, baixinho.
Zayn riu e Pilar ficou impressionada com a crueldade que percebeu no riso irônico.
— Vamos, Pilar. — Disse ele. — Eu a levo para o hotel. Não temos mais nada a dizer um para o outro agora.
Ela olhou mais uma vez pela janela e ia se afastar quando percebeu um vulto já conhecido na esquina. Se bem que a chuva dificultava a visão, Pilar reconheceu nele um homem que vira no trem. Era um dos dois que Saria classificara como seus guardas-costas. Estremeceu. Será que o homem achava que Saria estava ali com eles? Zayn percebeu o estremecimento e indagou, preocupado.
— Você está bem, Pilar?
— Estou, claro! — Respondeu ela, saindo da janela. — Vamos.
Quando já estavam no jeep, ela olhou para a esquina. O homem estava lá e olhava para o carro deles. Estremeceu de novo. Teve vontade de contar a Zayn, mas desistiu: ele não ligava para ela! Apesar da atração que havia entre eles, era kismet se separarem.
Por quê, então, sentia-se inquieta daquele modo? Perguntou a si mesma.
Era como se o destino estivesse brincando com os dois naquele momento.
Pilar de repente penso que o destino deveria estar os olhando com aquela cara de quem diz
"Eu tentei juntar vocês dois!..."
O destino deve estar os olhando nesse instante e pensando, decepcionado.
"Que pena, que pena..."
Que a gente estragou tudo! Porque pensamos tanto em ser perfeitos e os imperfeitos não sabem amar de verdade.
A gente estragou tudo realmente. Por apontarmos tanto os nossos erros e nossos desejos.
Os erros vão sempre estar aqui e os desejos vão sempre existir.
3375 Palavras
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