Capítulo 20 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Ergueu uma sobrancelha, inquisitiva, ao perceber que ele não acreditava na perplexidade dela. Afinal, Arif falou em voz baixa, repassada de raiva contida.
— Quando nos encontramos na Torre Gaiata, ontem, ele me disse para me manter longe de você.
— O quê? — A surpresa de Pilar foi enorme. — E o que disse a ele?
— O que qualquer homem que se respeita diria. Chamei-o de Filho da puta miserável. Como deve saber sempre sou muito educado.
A gargalhada de Pilar vibrou na confeitaria deserta, espantando Zayn e a moça de olhos sonolentos que estava no caixa. O olhar de Pilar cintilava enquanto imaginava a cena: Alguém tão arrogante enfrentando seu poderoso pai.
Indivíduos como Humberto Couto ou Marcelo França, sempre rodeados por vaquinhas de presépio, não sabem o que fazer diante de um desafio inesperado. Até mesmo seu ex-noivo, Peter Mazza, que era do mesmo nível social e financeiro de sua família, temia o poder do velho Marcelo. Compreendeu que Zayn não ligava para dinheiro nem status ou mesmo se intimidava pela influência de um homem, então sentiu respeito e admiração por ele.
Zayn seguira as mudanças de expressão de Pilar com desconfiança. Pois pela primeira vez em sua vida encontrava uma mulher que não era movida pelo status que o seu nome ou mesmo as suas condições financeiras, as outras em questão sempre se aproximavam por um ou mesmo pelas duas.
— O que é tão engraçado? — Perguntou.
Pilar sacudiu a cabeça, os olhos já se tornando sérios.
— Ia levar muito tempo para explicar-lhe. — Disse, erguendo-se da mesa.
Mas ele a segurou por um braço, obrigando-a a sentar-se outra vez.
— Sou um homem paciente, Pilar França. Conte-me tudo, por favor.
Teimosa, ela sacudiu a çabeça.
— Tenho que voltar para a Hípica. Gaspar deve estar esperando.
Zayn ergueu-se, deixando algumas notas na mesa. Saíram, montaram e voltaram pelo mesmo caminho da colina. Quando chegaram ao cimo a neblina havia se dissipado e o mar de Marmara estendia-se, luminoso, diante da cidade dominada pelas sete colinas. Ao longe, a cidade mistica parecia uma fortaleza com centenas de minaretes erguendo-se, como zagaias de prata, para o céu dourado.
Pilar fez Tempestade parar e voltou-se para Zayn.
— Você é mestre em vistas lindas. Ontem Eyüp, hoje isto!
— Venho sempre aqui quando estou em Selimiye, lembra minha terra de diferentes formas... E Alá sempre ouve as minhas preces!... — Disse, apontando a fortificação dupla de Topkapi, o aglomerado de salas com pátios internos. — Daqui o palácio parece uma serpente com mil tentáculos. O palácio que meu pai e seus irmãos disputam a anos. E que eu não faço questão de lutar para pertencer, eu amo o mundo, amo a liberdade de poder ir e vir sem dar satisfações a ninguém!... Nós, os turcos, não mudamos muito em mil anos! Mas eu me sinto diferente apesar de carregar o sangue deles em minhas veias!... — Havia ironia e certa tristeza na risada que ele deu.
Pilar voltou-se e ia fazer a égua andar quando Zayn falou.
— Espere... Não viu o resto da vista, o verdadeiro motivo que me traz a Camlica.
Viraram para trás, a cidade lá estava junto do estreito canal. Zayn apontou para um espaço vazio, muito amplo, com árvores, no limite da cidade.
— Você está olhando para a região oeste mais distante do platô anatoliano: a verdadeira Turquia, para mim. Ali também possui dois orfanatos, as crianças são alegres e amorosas.
Quando olhou para onde ele apontava, Pilar teve uma sensação diferente. Aquela terra selvagem era a pátria dele: cerca de uns mil quilômetros além, onde o platô terminava em montanhas, ficava as terras que seu pai adquiriu para viverem o amor por uma mulher estrangeira que acabou dando a luz a Zayn, uma mistura de dois mundos, de duas raças tão diferentes e que no final estão tentando se completar. Um sorriso amargo entreabriu-lhe os lábios ao imaginar Laetitia lá, amando e sendo amada por ele. O sorriso sumiu tão rápido quanto surgira. O principal não era a terra, mas o homem que fazia tudo o mais desaparecer com a forte atração de seu corpo, a sensualidade de seus lábios. Sem dúvida a herdeira rica também sentia esse encanto que emanava desse Príncipe do deserto.
Zayn interpretou mal o sorriso dela.
— Talvez seja preciso nascer aqui para apreciar isto... Não é um lindo cartão-postal, como as montanhas suíças ou um mar com praia dourada, mas tem sua beleza selvagem e agressiva.
O coração de Pilar bateu mais rápido ao ouvir as palavras orgulhosas, teve vontade de dizer que se sentia atraída por aquela terra forte, talvez até mais do que ele, que nascera lá. Mas Zayn já fizera Tornado virar-se e sair andando a galope. Seguiu-o.
Ao chegar na Hípica viu que Zayn entregara o garanhão a um de seus diversos cavalariço e estava conversando com Gaspar amistosamente como sempre. Ia passar por eles direto, mas o treinador chamou-a e ela fez a égua virar-se para eles e parar.
— Como é que foi hoje? Algum problema? — Perguntou Gaspar, com os olhos vivos observando égua e cavaleira.
— Seguimos seu conselho e tudo bem... Fizemos um passeio maravilhoso até Camlica.
Sentiu o rosto avermelhar ao encontrar o olhar divertido de Zayn. Por que sempre usava palavras como "Inesquecível" ou "Maravilhoso" quando se referia a momentos passados com o disputado prínicpe do deserto? Não queria revelar seus sentimentos a ele, pois era muito vulnerável e não estava disposta a sofrer com a superioridade arrogante daquele homem. E muito menos cair em contradição, pois sabia muito bem que se rendesse ao seu charme e desejos carnais não teria mais volta.
Sem dizer mais nada, dirigiu a égua para a estrebaria, desmontou, entregou-a a um cavalariço e foi para a pista de corrida. Sentou-se na primeira fila de cadeiras e tentou, mas não conseguiu fixar o pensamento nas corridas.
Recostou-se no espaldar de madeira e fechou os olhos, deixando as lembranças nítidas daquela manhã, do inesperado encontro com Zayn, tomar conta dela.
Tinham discutido e se acusado, os gênios teimosos se chocando como espadas numa terrível guerra onde os oposto se atraiam, mas também tinham compartilhado seus pensamentos e sorrisos.
Como podia se sentir tão atraída por um homem com quem o relacionamento era uma luta contínua, cheia de avanços e recuos, as momentâneas tréguas se transformando em novos impulsos de raiva? O fato é que cada batalha era estimulante, excitante. Estar perto dele fazia com que se sentisse intensamente viva, ousada e muito selvagem.
Instintivamente sabia que devia fugir de Zayn. Se não podia ter o amor dele, então não queria se arriscar a perder o respeito dele e o próprio orgulho entregando-se àquela violenta atração que explodia entre eles como uma profunda primavera.
Na equitação ele tinha que encará-la como uma profissional igual. Talvez vencendo ela o obrigasse a reparar em outras facetas de sua personalidade, de uma mulher também forte, mas ansiosa, carente de amor, disposta a aceitar alegrias e tristezas que ele trouxesse.
Querendo afastar os pensamentos românticos, Pilar abriu os olhos... e viu Zayn de pé à sua frente, um sorriso brincalhão nos lábios.
— Bem-vinda de volta ao mundo real, Pilar França! — Disse. — Fiquei olhando você por cinco minutos, aí, imóvel como uma esfinge egípice. Pensando no quê? Ou melhor em quem?
Ficou vermelha e encolheu-se um pouco quando Zayn sentou-se a seu lado.
— Em nada que você possa entender, Zayn.
— Por que tanto segredo, Pilar? A maioria das mulheres fala até pelos cotovelos e a gente tem que pôr mordaça para se calarem. Você mal fala e quando o faz é para me agredir... Por acaso eu te causo tanto mal assim?... — Observou ele.
— Então, por que continua insistindo? — Rebateu Pilar tentando desviar o foco de suas perguntas.
Zayn ergueu as mãos, num gesto de rendição.
— Quando um homem saudável encontrar uma mulher bonita tem que tentar, não? — Sorriu com malícia tão infantil que Pilar teve vontade de rir com ele.
Em vez disso, falou com uma frieza inesperada.
— Não está tentando com mulheres demais ao mesmo tempo? Estamos no século XX, sabia? Os haréns caíram de moda à muito tempo atrás.
O sorriso dele sumiu ao ouvir aquilo e o olhar escureceu.
— Acha que uma mulher só chega para um homem?
— Se for a mulher certa, sim... — Respondeu ela, altiva.
— Pilar...
O nome não passou de um sussurro, mas havia tanta emoção nele que provocou uma tempestade de sensações nela. Sentiu como um choque ao fitar os olhos de Zayn e perceber a fome nua que parecia muito mais do que simples desejo. Por instantes pareceram estar sós no mundo. Não viam, nem ouviam nada a não ser a si mesmos, até que uma voz alegre despertou-os em francês.
— Bonjour, mes amis! Zayn, querido, onde está seu garanhão?
Mônica Martelli, vestindo calças justas e blusa branca, parara, montada em Baronesa, junto da cerca. Desmontou e foi para junto de Zayn, beijando-o com intimidade, os seios tocando-lhe o peito.
— Bom dia, Mônica. — Respondeu Pilar, quando eles, enfim, se separaram. — Não acha que essa roupa imaculada vai ficar imprestável quando você cair deitada na lama?
Os olhos da moça fuzilaram por entre os cílios espessos ao fitar Pilar.
— Se eu fosse você, Pilar França, evitaria a palavra "deitada"... — Voltou-se para Zayn. — Querido, quando vai cansar de suas escapadinhas com essa feiticeira americana? Já estou me irritando... Sua mania de estar sempre a disposição de Laetitia também é irritante.
Furiosa com a insinuação, Pilar saiu de perto deles. Enquanto andava pelo pátio, viu Saria e garanhão executando uma série de oitos, em boa velocidade, entre dois prédios. Chamou-a, mas o ruído de vozes, risos, gritos e a atenção concentrada da russa impediram-na de ouvir. Ia se aproximar, mas pensou que talvez tivessem advertido a competidora para ficar longe dos amigos americanos e não pretendia prejudicá-la. Estava indecisa no pátio, quando Gaspar se aproximou.
— Parece de moral baixo, Pilar. Por que não volta para o centro da cidade? Não sei o que está havendo com você, mas aconselho que ponha a cabeça no lugar para a competição de amanhã... — Disse o treinador. — Foi para isso que viemos aqui. Pois se for por alguma onda de aventura é melhor fazer as malas e voltar para casa.
— Eu sei, Gaspar! — Respondeu ela, irritada.
— Então, não devia se zangar com um aviso amigo. Estou preocupado com a sua falta de atenção e foco nas competições de uns dias para cá. Se permanecer assim só vai acumular derrotas e nada mais.
— Amigo uma ova! — Explodiu Pilar.
— Palavrões e imprecações é do meu departamento, Pilar, e agradeço se deixar isso pra mim... — Disse Gaspar, começando a se zangar.
— Digo palavrões e solto imprecações quando quiser!
Gaspar cuspiu com raiva o palito que tinha entre os dentes.
— Se você fosse um pouco menor e eu um pouco maior, já estava nos meus joelhos, levando umas palmadas. Quem sabe o príncipe do deserto queira fazer esse trabalhinho por mim! Pois só ele para aguentar o seu mal humor exagerado.
— O que ele tem a ver? — Pilar quase berrou. — E faça o favor de não me tratar como criança!
— Por que não? — Retrucou Gaspar. — Está agindo como criança! Tanto nessa corrida como na vida pessoal. Se eu que sou o seu amigo estou ficando cansado, imagina os demais que estão ao seu redor. Aconselho resolver o seu lado emocional antes de tentar resolver competir de verdade.
Pilar saiu da Hípica, andando depressa para o ponto do ônibus para volar a Usküdar. Achava que Gaspar tinha razão. Fora criancice descontar no treinador o ressentimento por causa dos envolvimentos amorosos de Zayn. Uma chuva fina e fria começou a cair.
O tempo estava bem de acordo com o humor dela. De repente, um carro buzinou ao lado dela. Voltou-se e viu um jeep vermelho parar. O vidro do lado direito abriu. Zayn estava inclinado sobre o assento do passageiro. Ordenou.
— Entre, Pilar. Eu a levo para a cidade.
— Não, obrigada. Vou andando mesmo. — Respondeu, virando o rosto.
Continuou a andar, sem olhar; porém, percebia o carro, como uma brilhante mancha vermelha, deslocando-se devagar a seu lado. Os outros carros começaram a buzinar, querendo que Zayn andasse depressa.
— É melhor você entrar, Pilar, senão fico acompanhando você até chegar ao centro da cidade. — Gritou ele, para ser ouvido naquele inferno de gritos e buzinas.
Sabendo que ele era bem capaz disso, Pilar entrou no carro antes que os dois fossem linchados pelos demais motoristas que estavam irritados.
— Você é mesmo uma mulherteimosa, Pilar! — Riu ele satisfeito.
— Como pôde se separar da tal de Mônica? — Ironizou Pilar.
— Isso não é difícil, ela é só um envolvimento passageiro. e para que saiba Mônica sabe muito bem disso, nunca prometi mais nada do que algumas noites de sexo. — Replicou ele, displicente.
— Já falou com ela realmente? — Perguntou, curiosa.
— Já falei do quê? — Não desviou os olhos do trânsito.
— De casamento.
— Não. Nunca...
— Mas vai falar?
— Claro... Mas não dá maneira que imagina. Vou ser sincera e lhe falar a verdade...
Os punhos de Pilar cerraram-se.
— Detesto aquela mulher! — Desabafou. — Ela pensa que sou sua amante.
— Ela pensa coisa pior do que isso agora...
Surpreendida, voltou-se para ele, mas o rosto de pedra nada demonstrou.
— Pior? O que quer dizer? O que você disse a ela? — Perguntou.
— Ela acha que eu estou perdidamente apaixonado você! — Disse Zayn, sem emoção.
— E você está? — A voz dela parecia a de uma criança e a pergunta ficou no ar, entre os dois.
A risada que ele soltou, por fim, tinha um estranho gosto de amargo.
— Mulheres! — Exclamou. — Não faça perguntas que não posso responder ainda, Pilar. Não posso deixar você complicar minha vida nesse momento.
Por momentos só se ouviu a chuva batendo no teto do carro.
— A vida não pode ser sempre um mar de rosas para sempre!... — Disse Pilar.
— Para mim tem que ser. Há coisas já determinadas na vida de algumas pessoas. Não sei se teria forças suficiente para lutar contra o meu destino e o que o meu povo espera de mim. Estou lutando a muitos anos por essa liberdade conquistada com suor e quase sangue. Comentou Zayn, segurando firme a direção do carro.
— Como casar então com Laetitia? — Indagou ela, incrédula.
— Se não for com ela, com outra qualquer... Minha família irá escolher a melhor opção para que nosso reino passa se fortalecer. Sei que não entende as tradições da minha terra, então melhor esquecer o que eu acabei de lhe dizer.
Por quê?, ela teve vontade de gritar, mas achou que seria perguntar demais. A conversa tinha ido para terreno perigoso. Como se lesse o pensamento dela, Zayn mudou de assunto.
— Onde quer que a deixe? — Perguntou, entrando numa pontezinha.
— No bazar. Acho bom fazer minhas compras de Natal enquanto é tempo.
— Então, é melhor eu ficar com você. Lá há mais de quatrocentas lojas. Vai precisar de um guia. Meu país pode ser perigoso para estrangeiros, principalmente se for uma mulher.
— Agradeço muito, mas me arranjo sozinha. — Recusou Pilar.
— Não estou sendo gentil. — Disse ele, ríspido. — Quero ficar com você somente isso e tentar entender o que está acontecendo comigo.
Vinte minutos depois ele estacionava o mais perto possível do conjunto de lojas. Enquanto saíam do carro, Zayn brincou.
— Vou ajudar você a fazer seu dinheiro render. Se souber pechinchar pode comprar muito mais do que supõe.
— Não estou muito preocupada com isso. Determinei gastar três mil dólares no total. Sabe que não sou rica! Mas tenho encomendas para levar para conhecidos. — Mwntiu ela mordendo em seus lábios que não passou despercebido por Zayn.
— Pois é! Nem sempre a vida é um mar de rosas mesmo. — Caçoou ele com certa desconfiança.
Riram e correram sob a chuva até a escadaria do Kapali Carsi ou Bazar Coberto como era conhecido pela região. Era um enorme edifício cheio de bancas. Aquele mercado oriental oferecia tudo que se possa imaginar!
Objetos trabalhados de latão e cobre brilhavam nas bancas, onde estátuas de alabastro misturavam-se a peças turcas do século XVIII; do teto pendiam utensílios e roupas de todas as regiões. Havia até produtos vindos de outros países que comercializavam com o país.
Depois de se livrar do atordoamento causado pela imensidão de mercadorias coloridas, e os diversos cheiros das especiarias e perfumes, Pilar começou a comprar de modo organizado. Para Gaspar comprou um cachimbo de madeira nobre da região da Capadôcia; para os pais, uma pequena capa de couro pirografado em ouro estilizado para livro de orações e um par de chinelos de cobre que pretendia enviar com um bilhete agradecendo a atenção de fazer Humberto Couto procurá-la. Ainda achava graça na temeridade daquele homem, avisando Zayn para se manter longe, como se ela fosse uma criança e ele, um perigo.
Adquiriu alguns frascos de perfumes que nos EUA nunca se ouviu falar, maquiagem turca feita de produtos naturais, seda e tecidos diversos, algumas pulseiras feitas de ouro fino, como dois colares e alguns brincos.
Pensando em como Humberto Couto a havia encontrado tão rapidamente desconfiava que aquilo era coisa de seu pai, mas não podia censurá-lo num cartão de Natal. Deixaria para fazer isso pessoalmente, talvez num jantar em família quando todos fossem abrir os seus presentes, sorriu de lado só de imaginar estragado outro jantar familiar.
Zayn levou-a a uma banca de narghiles dourados e ela quase morreu de rir quando ele mostrou como os turcos fumam esses cachimbos-de-água com seus diversos sabores, que em geral há nos bares e restaurantes para alugar. Os narghiles do bazar eram só para turistas, mesmo.
Ainda rindo, continuaram andando. Mais uma vez os conflitos tinham sido suspensos por acordo tácito. Sentiam-se livres e felizes. Pilar experimentou um caftan de seda, vermelho-escuro, com bordados em verde-jade e preto. Parecia um vestido das Mil e Uma Noites, mas não comprou: não tinha dinheiro bastante para esses luxos. e as roupas típicas da mulheres da Turquia não lhe favoreciam, por ela ser um pouco mais alta de a média das mulheres naquele país.
Das lojas de seda passaram por uma banca onde vendiam espetinhos de carneiro, cujo aroma era delicioso, era algo bem inusitado de se ver por aquele lugar e Pilar descobriu que o vendedor tinha vindo do Brasil. Zayn comprou dois sis kepab e continuaram andando e comendo. Na ala das bancas de comida, Pilar quase ficou louca com tantos cheiros tentadores. Comeu charuto: arroz e carne enrolados em folhas de uva; tâmaras e um doce de abricó chamado pestil. Além de doces vindos de diversas partes do mundo.
— Como vê, os turcos são comilões e beberrões! Amamos os sabores... — Disse Zayn, rindo.
— Deu pra perceber! — Respondeu Pilar, lambendo o doce de abricó dos dedos. — Foi um almoço incrível! — Disse, parando em frente a uma grande loja. — Zayn, preciso comprar mais um presente...
— Então, vá comprar. Eu tenho que fazer umas coisas, também. Encontro você nesta loja daqui a vinte minutos. Depois podemos provar o suco de romã, tenho certeza que vai amar.
Ele se afastou, rápido, entre a multidão e Pilar entrou na loja de equipamentos para equitação. Queria comprar algo especial para Verônica Abacar, a tia adorável, dona de Tempestade. Escolheu um bonito par de cavalos de ouro com arreios medievais. Já ia pagar quando teve a ideia.
Resolveu gastar ali o dinheiro que foi obrigada a aceitar de Zayn. Ele não queria o dinheiro de volta, então teria seu cavalo como o de um verdadeiro príncipe do deserto, daqueles que os filmes de Hollyhood erroneamente produziam. Escolheu umas rédeas de couro preto com as ferragens de prata, imaginando como ficariam lindas em Tornado. Depois, luvas também em couro preto, esporas de aço banhado a prata e uma sela de couro preto e com detalhes em vermelho e pequenos luas feitas de prata. Pagou, pedindo que fosse tudo entregue a Zayn Kardashev Abadi, em sua terra particular, em Kars. Todos ali conheciam muito bem o local onde o herdeiro se refugiava quando não estava nas competições pelo mundo afora.
Feliz por ter dado um jeito de neutralizar a teimosia de Zayn, pouco depois encontrava com ele e mostrava-lhe os cavalos lindos que comprara para a dona de Tempestade que também era a sua tia. Quando estavam voltando para o carro, Zayn perguntou, com ar formal.
— Posso lhe oferecer um chá quente de hortelã ou um café amargo? Pois ficou muito tarde para o suco de romã, o suco é muito refrescante e agora está um pouco mais frio.
— Pode, sim! — exclamou ela. — Numa encantadora lokanta?
— Não... Eu estava pensando no meu apartamento. É outro refúgio que possuo para ficar longe dos holofotes por ser quem eu sou.
— Eu não sabia que você tinha apartamento aqui. — Murmurou.
— É apartamento da família há anos e que acabou ficando para mim. Pois os demais membros da família não gostavam dele por achar ser modesto demais e pequeno. — Explicou Zayn. — Anos atrás quando um de nós tinha que vir para a cidade para compras, negócios, ou para minhas obrigações militares, a gente fica nele. Mas isso também acabou ficando no passado.
3532 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro