Capítulo 2 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Enquanto conversavam, Pilar ouviu barulho de cascos. Voltou-se e viu
Tornado e o dono entrarem no pátio. O rosto moreno do cavaleiro brilhava de suor, apesar da manhã fria. Ela sentiu o pulso acelerar-se. Percebeu um leve sorriso nos lábios dele e corou, enquanto ele fazia um leve cumprimento com a cabeça, depois desapareceu na estrebaria. Forçou-se a prestar atenção nos dois homens.
— Então, está bem, não, Pilar? — Perguntou Gaspar.
Ela não entendeu nada.
— Você volta para Paris com o Sr. Emir, assim não precisa ficar me esperando. — Explicou Gaspar.
— Oh, sim! — Disse ela, mas não estava certa de querer ir embora. — Mas eu posso ir de ônibus até a estação do metrô que n]ao fica muito longe daqui mesmo. — Completou, depressa.
— Bobagem, minha jovem. — Replicou Emir, firme, levando-a para o carro. — Para que perder duas horas de ônibus e metrô se pode estar em Paris em meia hora?
Pouco depois, dirigindo o seu automóvel cinza, Emir perguntou.
— Como é que está a situação entre você e seus pais? Quando quis falar nisso com Marcelo ele ficou aborrecido.
— É. Papai sempre se aborrece quando as coisas não são como ele quer... — Respondeu ela, irônica. — Ficou zangado quando terminei com Peter. Mamãe tentou me fazer voltar atrás, como se eu ligasse para os milhões dos Mazza! E tia Verônica me deu esta chance para provar minha habilidade profissional com a Tempestade. Isso para mim significa muito mais do que ser uma bem comportada... e hipócrita... jovem da alta sociedade!
— Você e o jovem Mazza brigaram? — Perguntou Mazza.
— Acho que eu usei a briga como desculpa. A verdade é que não combinamos em nada. — Contou Pilar, lembrando do rompimento com Peter Mazza.
O rompimento tinha sido tão sem paixão quanto os seis meses de noivado. Ele demonstrara-se apenas um tanto "perturbado" pela repentina mudança de planos. Pilar sorriu, amarga. O noivado, um perfeito acordo entre os dois rebentos da alta sociedade da mesma cidade, tinha sido um outro fútil esforço dos França para pôr a filha na linha. Mas Pilar se rebelara. Assim que completara vinte e um anos rompera com Peter e se inscrevera na prova hípica européia.
Afinal, podia ser ela mesmo. Depois de tanto tempo como filha mimada e tempestiva do casal Marcelo e Karla França, achava maravilhoso ser uma moça obscura, dependendo apenas de seus próprios esforços para ser alguém. Achava difícil para Emir entender o que sentia, pois ele também era daquele outro mundo bem pior que o dela e gostava dele. Suspirou e disse.
— É difícil de explicar...
Já tinham entrado na cidade, com a familiar Torre Eiffel, as povoadas colinas de Montmartre destacando-se dos prédios comerciais de Paris.
— Onde você está hospedada? — Indagou Emir, visivelmente preocupado enquanto percorriam a avenida Marceau, que passa pelo Arco do Triunfo.
— No Hotel Bonaparte, na rua Bonaparte, perto do Boulevard St. Germain. — Explicou Pilar cansada demais para ouvir direito os conselhos de seu tio.
Quinze minutos depois, Emir parou o carro numa rua estreita. Pílar viu as sobrancelhas franzirem quando ele olhou o hotel.
— Não diga nada, tio Emir... — Avisou, rindo —, Ou vai parecer a minha mãe! O Hotel Bonaparte pode ser uma relíquia do século passado, mas é lindo e confortável. É o que posso me permitir, agora que me cortaram a mesada.
— Talvez eu possa ajudar... Sabe que posso hospedá-la no melhor hotel dessa cidade e... — começou Emir, tirando a carteira do bolso.
— Não, por favor! — Pediu Pilar, com olhar divertido e alarmado. — Não era uma queixa, apenas constatação. Pode me entender, não, tio Emir? Adoro ser pobre! Isso me faz mais determinada a vencer na vida!
Emir beijou-lhe o rosto.
— Se insiste, minha jovem. — Comentou ele, ainda indeciso se estava toamndo a decisão amis correta naquele momento. — Pego você às oito então.
— Ótimo! — Concordou Pilar, descendo do carro. — Obrigada pela carona! E melhoras para tia Verônica.
Depois de um banho e de vestir roupas quentes, Pilar saiu do velho hotel e caminhou para o Cais Voltaire, no Sena. Adorava o mundo de galerias de arte, lojas e livrarias ao ar livre que se sucediam na rua, entre a Ponte das Artes e a Ponte do Carrossel. Andava depressa no vento frio que soprava do rio e mantinha as mãos nos bolsos do agasalho pesado. O cheiro do café e das guloseimas preenchiam o ar por todos os lados abrindo o apetite dos demais turistas vindo de todos os cantos do mundo. Paris e suas atrações apaixoantes embalava os inúmeros casais apaixonados e em lua de mel.
O pálido sol dera lugar às nuvens de inverno. Paris estava cinzenta naquela tarde infelizemente. Pilar parou um instante junto à mureta e olhou o estreito calçamento de paralelepípedos que acompanhava a margem do rio. Havia apenas um ou outro clochard, ou vagabundo, sentado perto dos arcos da ponte.
No meio do rio havia uma barcaça para pescadores, com poucos homens munidos de varas de pesca.
Respirou fundo. O encontro com Emir Abacar trouxera de volta uma inquietação que julgara esquecida. Apesar do carinho por ela, Emir era parte do mundo dos França ao qual não pretendia voltar. Forçou-se a pensar no treino da manhã, no desempenho da Tempestade, nos pontos fracos e fortes da égua.
Imediatamente visualizou o cavaleiro árabe que a desafiara. Tornou a ver o rosto forte, os lábios sensuais delineados pelo belo Ghutra, os olhos negros que pareciam reluzir na alegria e na raiva. Sentiu de novo aquela estranha agitação no sangue e imaginou se ele iria ao baile da embaixada, naquela noite.
O saguão da embaixada coloria-se com os reflexos do enorme lustre de cristal que oscilava toda vez que a enorme porta de mogno abria-se para convidados entrarem. Enquanto esperava, com nervosa impaciência — sentindo a segurança do apoio firme do braço do tio Emir —, viu a própria imagem num espelho.
O vestido de seda rosa, de saia com corte de viés, era ajustado à fina cintura por um cinto largo de veludo preto e alguns detalhes dourados. Uma correntinha de ouro, finíssima, pendia do pescoço com uma lágrima de diamante sobre o colo nu, bem no início da curva suave dos seios. Quando inclinou a cabeça para ver-se melhor, percebeu o brilho dos brincos de brilhante entre os cabelos loiros.
A agradável autocontemplação foi interrompida quando tio Emir encaminhou-a para a entrada do salão e foram apresentados ao embaixador britânico e sua estimada esposa, anfitriões essa noite. Alguém aproximou-se pelo lado dela e, voltando-se, Pilar viu uns olhos negros já conhecidos.
— Miss Pilar França, deixe-me apresentar-lhe o... Bem... Disse o embaixador estranhamente nervoso. — O competidor Zayn Kardashev, que representará os pais da Arábia Saudita na competição de amanhã.
A formal apresentação do embaixador mal tinha terminado quando ela viu-se levada para o meio do salão de baile pelo competidor árabe atrevido, que estava vestido com suas vestimentas tradicionais masculinas dos Emirados Árabes.
Olhou, pedindo socorro, para tio Emir, mas ele conversava com o diplomata britânico, sem parecer notar que sua jovem companheira fora arrebatada por outro homem.
Emir Abacar foi esquecido assim que o braço de Zayn envolveu-lhe a cintura e guiou-a ao ritmo de uma valsa. Dançavam sem precisar fazer o menor esforço para acertarem os passos.
Pilar sentiu o olhar dele no rosto e levantou a vista: a expressão de Zayn era de insolente posse. Aliada pela arrogância dele, a fazendo falar com certa distância e frieza.
— É um costume do seu povo dançar sem pedir permissão?
— Eu pego o que desejo! — Respondeu, com um arremedo de riso que fez os dentes branquíssimos reluzirem em contraste com o Ghutra escuro. — E é um costume meu. Aliás... — Acrescentou, com um brilho malicioso nos olhos —, Em geral, o que eu quero me é oferecido sem que precise pedir.
Sentiu o braço dele tornar-se mais rijo quando a puxou para junto de si. Teve aguda consciência do corpo musculoso, forte e ágil. Sentiu que não havia a menor tensão naquele corpo para acompanhar o ritmo da música. De repente, Pilar sentiu que seu corpo todo reagia à atração que emanava do corpo dele, aquecendo-se, o coração batendo mais depressa.
Os olhos negros, brilhantes, de Zayn percorreram os demais pares com indiferença e Pilar lembrou-se da imagem que lhe ocorrera naquela manhã: um coiote solitário nas dunas do deserto. Olhou-o intensamente e ele a encarou, com um sorriso.
— Você é tão linda e graciosa quanto a égua que monta. — Murmurou.
No entanto, por trás do ar brincalhão com que ele disse aquilo, Pilar percebeu uma sutil nuança de cuidado, como se ele temesse a proximidade dela.
A sensação foi de um instante. Na expressão dele, de imediato, não havia mais do que o desafio à feminilidade dela, que ele já lançara naquela manhã.
— Talvez. Mas não sou chegada a encontros furtivos, como Tempestade.
Ele riu, diante da fria e irônica resposta sobre como os animais em questão se encontravam apenas para reproduzir.
— Tenho que reconhecer essa verdade. A semelhança entre a Amazona e a montaria não vai mais longe. Mas Tornado é igual ao dono em todos os sentidos... quer ser dono de tudo que vê.
Os olhos de Zayn movimentaram-se lentamente pelos ombros nus, indo parar nos seios palpitantes, cujo contorno era evidente sob o tecido macio. A paixão que brilhou naquele olhar pareceu acender uma chama dentro de Pilar.
Sentiu o calor da mão dele em suas costas, como se o vestido não existisse, quando a puxou mais para si, esmagando-lhe os seios contra o peito forte.
Instintivamente, ela recuou, dobrando a espinha para trás. Zayn relaxou o aperto, mas os olhos brilhantes continuaram a explorar-lhe o corpo.
— Sim... — Murmurou em voz baixa e roucamente macia. — Tornado sabe bem o que quer... como eu!
Pilar lutou para regularizar a respiração, temendo que ele percebesse o quanto sua pulsação acelerara. Quando falou, foi em tom frio e tranquilamente sarcástico.
— Os garanhões são caprichosos. Na certa Tornado costuma ter atrações passageiras.
Quando ele falou, a voz soou tão baixa que Pilar teve que fazer força para ouvi-lo, entre o murmúrio de vozes, risos e a música.
— Pode ser. Mas eu acho uma tragédia ver Tornado arder por um desejo destinado a não ser satisfeito.
Assustada com o rumo da conversa, Pilar resolveu mudá-la.
— Veio a este país apenas para participar da corrida, Monsieur Zayn? — Perguntou.
— Não, Srta. França. — Respondeu ele, com uma cerimônia que ela percebeu ser caçoada da formalidade dela. — Depois de me formar na Universidade de Liverpool, servi no Exército por nove anos. Só que apesar de estar na reserva, entro nas competições sob a égide militar.
— Então, morou na Inglaterra quatro anos? — Indagou Pilar, com genuíno interesse. — Notei seu acento britânico.
— Sim, todos os meus irmãos fomos enviados para aprimorar nossos conhecimentos. — Respondeu ele, sorrindo. — Fiz Administração e Ciências. Entro em competições sempre que posso, no Show Real Internacional de Cavalaria, na Fontwell, em Sussex, em Harwood Hall... A equitação me apaixona... E os cavalos são a minha atual perdição, sabe, enquanto não encontro outra paixão que seja mais forte! — E acrescentou, com um brilho nos olhos: — E claro, sexo também é uma das minhas paixões.
Pilar fingiu ignorar a última observação. Imaginava que ele teria trinta e cinco ou trinta e oito anos. Percebeu alguns fios prateados misturados entre seus escuros fios de cabelos. Ele devia ser perito em equitação, mas recusou-se a ter medo da experiência de Zayn. Ao contrário, resolveu vencer na manhã seguinte.
Sentiu os olhos dele inquisidores em seu rosto e encarou-o.
— Parece que as competições têm importância para você. Mas me disse, hoje cedo, que a corrida de Malmaison era simples passatempo.
— Eu disse isso? — Pilar sentiu os músculos do ombro forte se enrijecerem sob sua mão; Zayn vagueou o olhar pelo salão, antes de continuar o ataque.
— Acho que queria dizer que já havia cavalgado bastante. O que estou fazendo agora é procurando uma esposa.
Pilar surpreendeu-se com a afirmativa crua. Não sabia se ele estava falando sério ou brincando. Sem que percebesse, a orquestra havia começado outra música e ele apertou-a um pouco mais contra si, seguindo o novo ritmo.
— Sabe, srta. Pilar França. — Murmurou, sorrindo de modo acariciante —, Você é uma mulher diferente. Bonita, feminina e forte ao mesmo tempo. Posso apertá-la em meus braços sem ter medo que se despedace. Eu gostaria de uma mulher como você a meu lado: alta, ardente e orgulhosa. Uma verdadeira Amazona como nos tempos antigos. Uma guerreira que poderia lutar ao meu lado sem nenhum pudor ou problema por se tratar de uma mulher. Tenho certeza que o homem que souber agir acabará despertando a paixão que há sob sua aparência gelada.
Pilar encarou-o, os grandes olhos verdes com reflexos ambarinos à luz do enorme candelabro. Rezou para que seu rosto não traísse a excitação que aquelas palavras jamais ouvidas antes tinham despertado nela.
— Obrigada, Monsieur, mas não estou interessada em casamento — Retrucou, em tom que esperava fosse seco e calmo. — Acabo de romper um noivado.
Para sua surpresa, ele inclinou a cabeça para trás e riu. Uma gargalhada forte, carregada de energia e paixão.
— Coitado do noivo! Você era mulher demais para ele, não? — Os olhos dele eram tão acariciantes quanto a voz, mas quando falou de novo havia riso contido nas palavras repletas de luxúria — Só que me entendeu mal. Você é muito bonita, Pilar. Mas não preenche minhas exigências. Eu não estava lhe oferecendo casamento. Como o garanhão caprichoso, só posso lhe oferecer os prazeres da minha cama agora.
Pilar ficou pálida ao ouvir aquilo.
— Como é generoso, Monsieur Zayn! — Replicou, fria, os olhos verdes duros, gelados. — Só que não me interessa ser amante de ninguém.
Zayn riu, as narinas frementes como as de um garanhão excitado. Não parecia amolado pela recusa dela, mas mais excitado ainda.
— É uma pena, Pilar! Você parece ter sido moldada para meus braços!
— Guarde seus doces agrados para a mulher que seja mais suscetível a eles do que eu, Monsieur Zayn. — Retrucou, altiva.
— Como queira, mam'selle. — Os olhos dele faiscaram.
Sem mais uma palavra, deixou-a ao lado de Emir, com leve cumprimento
de cabeça, e misturou-se aos outros convidados.
Emir retribuiu o gesto com curiosidade e apenas permaneceu em completo silêncio, o que foi bem estranho para Pilar. Na verdade todos ao redor tratavam Zayn de modo muito estranho. Uma mistura de medo e respeito, outrora parecia um ou outro que lhe olhav acom admiração ou cobiça. Já o sexo oposto era visível a luxúria nos olhos femininos de todas as idades dentro do salão.
Depois Pilar dançou poucas vezes com Emir, que teria dançado mais, porém ela insistiu que ficasse conversando com o embaixador, pois sabia que estavam encantados um com o outro. Foi tirada para dançar por dois rapazes que não pareceram assustados com a altura dela. O primeiro foi um jovem francês magro e desajeitado que Pilar não conseguia imaginar competindo na importante corrida. O segundo foi um simpático dinamarquês com a infeliz propensão de pisar continuamente nos pés dela... Depois disso, Pilar desistiu de ser sociável e plantou-se ao lado de tio Emir com um sorriso entediado no rosto.
Numa das vezes que seu olhar passeava pelo salão, percebeu o vulto forte de Zayn. Prestou atenção. Ele parecia ter encontrado o par certo: uma mulher negra vindo das terras tropicais, tão pequena e curvilínea quanto Pilar era alta e esguia. Achara-o pretensioso demais, parecia estar certo de que ela estava pronta para entrar na cama dele. Mas sentia uma mordida de estranho ciúme ao vê-lo inclinar-se mais do que era preciso para ouvir o que a parceira dizia...
Olhando o perfil sexy, bonito, Pilar reconheceu que sua primeira impressão tinha sido certa: Zayn kardashev era homem acostumado a usar — depois livrar-se — as mulheres segundo suas necessidades. Não dissera que estava procurando uma mulher que preenchesse suas exigências? Sentiu a raiva crescer de novo. Ao mesmo tempo que o orgulho se manifestava ao lembrar da ofensa, sentia um inexplicável desejo. A força da sensualidade que ele despertara nela enquanto a tinha nos braços, tornava-se evidente de novo.
Fazendo um esforço enorme para abafar tais sentimentos, desejou que Zayn a procurasse para recusá-lo com frieza. Mas ele não procurou. Nem olhou mais para ela.
Foi com alívio que viu as luzes do salão esmaecerem, anunciando o fim do baile. Ela e Emir estavam entre os primeiros convidados a pedirem os carros aos manobristas. Quando estavam no carro, Emir comentou, com seu profundo senso de observação.
— Parece abatida. Está preocupada com a corrida de amanhã?
— Estou sim tio Emir. — Mentiu Pilar.
Na verdade, encarava a corrida como uma luta pessoal com o arrogante árabe, que tinha tanta certeza de seu poder sobre cavalos e mulheres.
— Então, que tal um chá de hortelã? Vai ajudar você a dormir bem.
— Acho uma boa ideia tio Emir. — Disse Pilar, agradecida. Enquanto Emir dirigia o carro pelas ruas de Montmartre, indagou, casualmente.
— Quem era aquela moça de cabelos crespos e escuros, na embaixada?
— Criatura linda, não? — Comentou Emir. — O embaixador chamou minha atenção para ela. Chama-se Mônica Martelli. É meio francesa, meio brasileira. O pai é um magnata do aço, aristocrata. A família tem um haras em Rambouillet.
— Sei...
Intrigado com o tom de voz, ele a olhou, rápido.
— Acha que ela pode ser uma rival perigosa?
Pilar sorriu, amarga, pela duplicidade daquela pergunta.
— Difícil dizer... — Respondeu.
Quando estavam na mesinha de mármore de um bistrô, Emir simplesmente falou.
— Olhe, querida, tenho impressão que acha que a julgo severamente por ter saído de seu lar e do esquema de vida que seus pais fizeram para você. Sei que posso aparentar ser muito tradicional por causa de onde vim, mas... Não é verdade. Nunca falei nisso... mas quando eu estava aqui em Paris, depois da guerra, iniciando minha carreira como adido da embaixada do meu país, conheci uma artista italiana. Linda, refugiada do regime de Mussolini. Nós nos apaixonamos e eu quis me casar com ela. Mas meu pai soube do caso e exerceu pressão para eu terminar, insistindo em que aquela ligação podia prejudicar minha carreira. Contra meu coração, aceitei a opinião dele...
— Oh, tio Emir! Que coisa mais triste!
Ele sorriu desanimado para a moça que o olhava emocionada.
— É tarde para me arrepender, querida. Mas queria que você só ouvisse seu coração e não ligasse para as exigências dos outros.
Pilar inclinou-se sobre a mesa e apertou a mão dele.
— Obrigada, tio Emir. Nunca vou esquecer disso.
3094 Palavras
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