Capítulo 17 - Prazer Selvagem
"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."
Depois, quando caminhavam para pegar a balsa, ela perguntou.
— O que é circassiana?
A gargalhada de Zayn ecoou no ar.
— Eu estava pensando quanto tempo você ia levar para me perguntar isso. Os circassianos eram uma tribo que morava junto do mar Negro. As mulheres eram encantadoras e apreciadas pela beleza totalmente diferente das mulheres daqui. Muitas delas eram vendidas como escravas aos reis e muitas acabavam por se tornarem suas concubinas favoritas ou mesmo rainhas.
— Ainda bem que isso mudou! — Disse Pilar, com os olhos faiscando.
— O quê? Você não gostaria de ter um viril turco guerreiro como seu senhor e dono? — Caçoou ele. — Muitas dariam tudo para estarem nos braços de um rei e serem cobertas de joias.
— Se isso acontecesse contra minha vontade, eu tornaria a vida dele um inferno! — Retrucou Pilar, os olhos frios.
— Alá seja louvado! Pôs uma mulher explosiva no meu caminho! Tão forte e valente que poderia domar um garanhão selvagem!... — E a gargalhada de Zayn ecoou da colina para o mar.
O restante da manhã foi como um caleidoscópio encantado: azulejos de Iznik, escritas árabes, pátios de mármore com fontes no centro, adagas com cabos incrustados de pedrarias.
Passearam pelo Palácio de Topkapi, cujas paredes da fortaleza tinham sinais antiquíssimos. Para Pilar parecia menos um castelo do que uma rica coleção de paredes separadas por pátios e jardins cheios de rosas. Quando passaram por um grupo de turistas, interessada, ela ouviu o guia contar que alguns dos sultões do século VII tinham vivido ali com uma corte de mais de cinco mil pessoas, incluindo harém, eunucos, guardas, criados e trezentos cozinheiros em dez cozinhas.
Zayn riu quando Pilar espantou-se diante do menu diário que os cozinheiros tinham que preparar para os sultões.
— Se acha muito trabalho cozinhar quatrocentos carneiros e vitelos todos os dias, imagine quando o sultão queria sorvete! Gastava-se milhões para trazer neve do monte Olimpo em caravanas de camelos. Era um luxo apenas destinado aos nobres. — Zayn comentou.
— Incrível! — Riu ela. — Mas acho que seria capaz de comer isso tudo!
— Desculpe, Pilar! Acho que tirei você do hotel antes que tomasse o café da manhã.
— Só desculpo se me levar a um restaurante bom e barato!
Quinze minutos depois Zayn a levava, pela rua cheia de gente, ao Mercado dos Temperos, que tinha no ar o odor pungente doce-ardido de especiarias conhecidas e exóticas. Entraram numa simpática lokanta. A grossa parede de pedras do pequeno restaurante não deixava passar o barulho de fora; as janelas de trás abriam-se para um estreito pátio com uma fonte. Pilar sentou-se e deixou que Zayn escolhesse os pratos. Deliciou-se com tudo, a começar pelo pepino com coalhada e alface, seguido por hamur isi, um pastel quente, redondo, recheado com carne e espinafre. Depois, Zayn informou que no final da refeição eles tomariam o famoso chá de hortelã.
— Agora, este prato é especial para você: frango à circassiana.
— Que gostosura! — Exclamou Pilar, quando experimentou o frango assado, com purê de nozes. — Quanto mais ouço falar dessas circassianas, mais fico encantada! — Riu com curiosidade.
Depois do pudim de arroz com açafrão, como sobremesa, mais uma das surpresas feitas por Zayn, Pilar recostou-se na cadeira e ficou tomando seu chá de hortelã, enquanto Zayn tomava seu café árabe.
Apesar da tarde estar começando a esfriar não quiseram tomar táxi para voltarem mais rapidamente pro hotel.
Foram andando, em amigável silêncio, pela velha cidade, atravessaram a Ponte Gálata, onde começara o passeio, depois subiram a ruazinha estreita do hotel.
— Primeiramente, a Ponte Gálata não é uma ponte bonita, entretanto é a ponte mais famosa de Istambul. Comentou ele fazendo Pilar o ouvir com atenção. — A versão atual da ponte é nova, foi construída em 1992 para substituir a antiga ponte de 1912 que pegou fogo e teve a sua estrutura comprometida. Contudo, esta é a quinta versão da ponte, que teve a primeira versão ligando os dois lados de Istambul em 1845. E antes que possa me fazer um monte de perguntas, me ouça primeiro.
— Estraga Prazeres alheios! — Afirmou ela sorrindo encantada.
— A Ponte Gálata, ao contrário do que muita gente imagina, não liga a parte européia do lado asiático de Istambul, mas as duas partes européias da cidade. Cruzando o Chifre de Ouro, o famoso estuário do Estreito do Bósforo, é a ponte mais movimentada da cidade. Explicou Zayn apontando o local que Pilar deveria olhar.
— O que faz a ponte Gálata tão famosa assim? Perguntou ela impaciente.
— Você não consegue esperar mesmo! — Disse ele sorrindo ao vê-la corar. — Primeiramente, como disse, a ponte conecta duas partes importantes da cidade. Só por essa razão já a faria bem famosa. Mas é da Ponte Gálata que temos umas das mais belas vistas de Istambul, especialmente no fim do dia. Na minha modesta opinião, o melhor lugar para ver o pôr do sol em Istambul é a Torre Gálata, logo ali ao lado. Entretanto, certamente o segundo melhor lugar é na Ponte Gálata.
Pilar olhou a torre e voltou o seu olhar para os lábios de Zayn e conteve a imensa vontade de beijá-lo.
— A ponte possui dois níveis, por cima passam veículos, uma linha do trem de Istambul e pedestres. No nível inferior, existem vários restaurantes e cafés. Sendo um bom lugar para comer peixe fresco ou tomar um belo café turco. Além disso, existem quatro mirantes de onde temos uma bela vista de Istambul e do vai e vem dos barcos que navegam pelo Estreito do Bósforo, das mesquitas e o vai e vem no porto de Istambul.
— Tudo é muito bonito mesmo.
— A ponte fica ao lado do píer de onde partem os barcos que fazem os passeios pelo Bósforo, o acesso é feito pela Estação Eminönü do trem. Contudo, se você estiver hospedado na região do Sultanahmet, poderá ir a pé até.
Zayn ficou em silêncio e sorriu se lembrando de algo que fez o seu olhar brilhar.
— O que te fez sorrir assim? Perguntou curiosa e um pouco inciumada, pois achou que ele poderia estar se lembrando de alguma conquista feminina.
— Quando comecei a correr na verdade um pouco para fugir daqui. Mas ao passar meses viajando pelo mundo, assim que retornei na minha última passagem por Istambul eu fiquei no Dosso Dossi Hotels Old City. O Hotel fica no Sultanahmet, colado na Mesquita Azul e na Hagia Sofia. O hotel tem um café da manhã fantástico, além de alguns mimos como chá da tarde e sopa no fim da noite como cortesia. — Revelou ele entusiasmado.
— Você fala com tanta paixão de sua nação que chega a entusiasmar qualquer um.
— Na minha primeira viagem eu fiquei em Yenikapi, e essa região é cheia de boas opções de hospedagem e eu escolhi o Marmara Place Old City Hotel e gostei muito desse hotel. A localização era perfeita, a poucos metros do metrô e apenas 2 quadras curtas do ponto de onde passam os trems em direção ao centro histórico. Nessa época eu era muito jovem e estava sedento por viver a liberdade que eu tinha.
— Conhecer a sua própria nação sempre é muito importante.
— Pertinho dele, e ainda mais perto do ponto dos trems, tem o Eskar Hotel, que falaram super bem dele pra mim e também é uma ótima opção de hospedagem em Istambul. Quando tiver oportunidade você deve experimentar e aposto que não irá se arrepender. — Indicava Zayn apaixonadamente as direções. — Outro hotel nessa região que estava entre os meus favoritos era o Eternity Hotel, com decoração super clean e vista incrível do salão de onde é servido o café da manhã. Quer ficar hospedado em um hotel no melhor estilo palácio vitoriano e pagando pouco? A dica é o Deluxe Golden Horn Sultanahmet Hotel e como o nome diz, ele fica no Sultanahmet, colado nas grandes atrações de Istambul.
— Quais hotéis daqui você nunca ficou hospedado afinal?
Zayn ingnorou a pergunta atrevida dela e continuou contando.
— Confessa que está mais curiosa pra saber com que eu estava hospedado nesses hotéis. — E antes que Pilar o respondesse ele continuou falando. — Agora, se você não quer arriscar e prefere ser conservador na hora de escolher onde ficar em Istambul, a dica é o Eurostars Hotel Old City. Ele fica pertinho da Ponte Galata e do Sultanahment. Outras opções no Sultanahmet, dá uma olhada no Optmist Hotel, que tem uma vista linda da Mesquita Azul, o principal ponto turístico de Istambul. Outro hotel lindinho é o Coliseum, esse com certeza é mais a sua cara... Ele fica praticamente dentro do Hipódromo e com uma vista perfeita da Mesquita Azul, Hagia Sofia e do Bósforo.
Pouco tempo depois quando pararam no corredor acarpetado, diante do quarto dela, de repente o ambiente entre os dois tornou-se tenso, constrangido. Afinal, Pilar quebrou o silêncio.
— Muito obrigada, Zayn. Tive um dia... inesquecível. Realmente você é um excelente guia turístico.
— Teve, mesmo? — Ajeitou uma mecha de cabelos dela que tinha escapado do coque.
Pilar sentiu o calor dos dedos dele e o perfume familiar de sândalo e Hortelã. Teve vontade que aquela mão lhe acariciasse o rosto e seu coração acelerou-se ao lembrar de como sabia ser sensual.
Tratou de se controlar e falar normalmente.
— Você vai estar em Istambul no fim da semana. Deve estar ansioso para ir para seu refúgio particular.
Ao ouvir isso, os olhos dele escureceram.
— Tenho muito que fazer lá, não posso demorar muito para voltar. Queria construir uma nova estrebaria com o que ganhei em Malmaison, mas acho que só vai dar para uma reforma. Além disso, eu tinha um encontro com pessoas que dependem de mim e... — Disse, frio.
Pilar sentiu o rosto arder à menção do dinheiro que o fiscal da alfândega em Edirne havia apreendido. Quisera devolver a Zayn, no momento, a nota que o homem enfiara em seu bolso, mas ele sumira. Então, pusera-a num envelope, endereçara para Zayn, na Hípica de Selimiye, onde ia ser a corrida, sem nenhum bilhete. Pelo jeito, ele não tinha recebido ainda. Levou a conversa para campo neutro.
— Zayn, combinei de encontrar Gaspar na Hípica, às cinco, para treinar com Tempestade... Tenho certeza que ele gostaria se você jantasse conosco.
— Obrigado, mas já tenho outro compromisso. — Inclinou a cabeça, cumprimentando, com o olhar outra vez frio e altivo.
— Desculpe o convite atrevido, então... — Disse Pilar. — Tinha esquecido o que me disse no baile, em Paris: está procurando uma esposa. É lógico que cumpra deveres de dia e reserve a noite para a "caçada". — O sarcasmo na voz dela era indisfarçável.
Os lábios de Zayn entreabriram-se num sorriso irônico.
— Acho que nos entendemos perfeitamente bem, Pilar. Mas lembre-se que eu tenho responsabilidades com a minha nação e o meu povo. E eu vou obedecer as leis que foi criado. — Disse, virou as costas e foi embora. A deixando confusa com suas palavras enigmáticas, pois Pilar não entendia muito bem como funcionava as leis e regras daquele país.
1880 Palavras
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