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Capítulo 14 - Prazer Selvagem

"Amo tudo que é selvagem. Selvagem e livre."

Enquanto Pilar e Saria esperavam o elevador descer dentro da armação de ferro, a americana pensou que, realmente, o hotel era encantador. Ambas acabaram se encontrando novamente, pois a equipe que cuidava da competidora Russa reservou um quarto no mesmo hotel que a delegação americana, enfim, todos os corredores estão juntos no final das contas. Uma escadaria de mármore subia numa série de patamares decorados com enormes vasos com palmeiras e samambaias. Tentou imaginar aquilo como havia sido no tempo do Império Otomano. Imaginou mulheres elegantíssimas em roupas típicas, hoje consideradas tradicionais, descendo a escada de mármore, entrando no salão de baile, entre o tilintar de taças de champanhe e acordes de piano flutuando no ar.

O sonho foi interrompido quando Saria lhe disse.

— Que decadência burguesa!

— Sim, mas não prefere isto a um barracão? — Retrucou Pilar, rindo e notando que a testa da companheira franzia como se pensasse naquela observação inesperada.

Pilar achou o quarto, no quinto andar, encantador, também. Tinha teto bem alto, paredes forradas com papel rosa-claro e móveis de mogno escuro. Abriu as janelas de madeira e olhou maravilhada o mar de luz da cidade. Um vento frio, vindo do estreito de Bósforo, a estreita faixa de água que separa a Europa da Ásia, envolveu as duas mulheres que nada sentiram. Permaneceram estáticas, olhando a vista empolgante até que Gaspar bateu energicamente à porta e entrou logo depois, carregando uma bandeja. Era cerveja para ele e um bule de chá de hortelã fumegante para as elas.

Depois de tomar o chá, Pilar tirou os sapatos e deixou-se cair sobre a colcha dourada que cobria a cama.

— Deus, estou no céu! — Suspirou. — É a primeira vez, depois de três dias, que me descontraio completamente. Realmente esse lugar possuí uma atmosfera completamente diferente, essa cidade tem algo de misterioso e fascinante ao mesmo tempo.

Gaspar acomodou-se numa cadeira de pés curvos, diante de Saria, que ainda segurava a xícara de porcelana com chá.

— Isso aí! É um céu, mesmo, já que eu consegui uma cerveja geladinha... — Concordou. — Mesmo que eu tenha que brigar para beber uma cerveja, por sorte sou estrangeiro.

— Vocês, cowboys, são todos iguais! Conhece o dito popular "Quando em Roma, contente-se com o papa"? — Brincou Pilar.

— Se está se referindo àquela beberagem chamada raki, esqueça! — Respondeu Gaspar, com cara de horror. — Só de pensar os pêlos do meu peito se arrepiariam... se eu tivesse algum!

Saria olhava de um para o outro. Pilar percebeu a confusão dela.

— Você deve se aborrecer com as nossas brincadeiras, Saria...

— Oh, não! Eu estava achando engraçado, se bem que não entenda tudo que vocês dizem. Acho lindo ver uma jóquei e o treinador tão amigos. Não há tensão entre vocês. e muito menos cobranças desnecessárias ou pressão para que seja alcançado o objetivo acima de tudo.

— Espere até me ver dirigindo ela e a Tempestade nos treinos! — Resmungou Gaspar. — Tensão! Você vai ver sair faíscas.

— Gaspar cowboy cabelo-de-fogo!... — Explicou Pilar, rindo. — Os cabelos dele agora estão meio sem cor por causa do tempo e da sua idade, mas o gênio continua sendo o de um ruivo raivoso e amalucado!

Ele levantou seu copo brindando ao comentário e virou a bebida gelada com satisfação.

Bateram à porta, com força. Saria pôs a xícara no pires, sobressaltada, enquanto Pilar ia abrir. Um homem gordo e sem educação, de terno marrom, entrou.

— Sou Nicolas Petrovick, representante do Consulado Soviético em Istambul. — Começou ele, os penetrantes olhos azuis fitos em Pilar. — Parece-me que a senhorita sequestrou uma cidadã nossa.

— Eu acho que "sequestrar" não é a palavra certa, Sr. Petrovick. — Observou Pilar, friamente, afastando-se para ele entrar. — Meu treinador, Gaspar Cortez e eu convidamos a tenente para vir tomar um chá, já que ninguém foi buscá-la na estação.

Havia um tom de profunda reprovação na voz dela, que aprendera a usar com a mãe, é claro e que funcionava toda vez que ela queria intimidar alguém. — Dominadoras, imperiosas era o que diziam das mulheres da família França. — E que dava resultado em momentos assim. Ignorou o brilho maligno nos olhos do homem e voltou-se para Saria, que se erguera e mantinha-se ereta, em posição de sentido, os punhos cerrados com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Petrovick e ela trocaram algumas palavras em russo, depois Saria foi para junto do homem. Parou e voltou-se para Pilar.

— Boa noite e obrigada pelo chá.

— Espere! — Disse Pilar, num impulso, remexeu a bolsa a tiracolo, pegou o estojo de maquilagem e estendeu-o para Saria. — Eu quero que você fique com isto.

— Não... — Saria sacudiu a cabeça. — Não posso...

— Por favor! — Insistiu Pilar e a russa pegou o estojo.

Pouco depois a porta fechava-se atrás dos russos e Gaspar disse irritado.

— Puxa! Por essa eu não esperava! Espero que ela não seja punida. Pelo menos, acho que não será, até a competição no fim da semana... — Foi para a porta e voltou-se antes de sair. — Mas não se preocupe. Acho que aquela jovem sabe cuidar de si. Acredito que seja eles que precisam ficar com medo caso ela resolva abandona-los.

Pouco depois, Pilar punha uma camisola e enfiava-se, com um suspiro, entre os lençóis da ampla cama. Estava cansada demais, mas mesmo assim sua mente teimava em leva-la até um selvagem competidor, Zayn Kardashev Abadi.

950 Palavras

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