Capítulo Quarenta e Três ── As Fofocas de Sir Nicholas
✧ Capítulo Quarenta e Três ──
As Fofocas de Sir Nicholas
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Celine se remexeu nos lençóis da cama, ao longe, havia o choro agudo de uma criança que parecia reverberar dentro de sua cabeça. O choro era incessante e agonizante, ela se remexeu e então, abriu os olhos para o teto de madeira.
A luz da lua batia na janela ao lado da cama enorme de dossel, as cortinas estavam amarradas às colunas, então a lua iluminava todo o ambiente. Celine olhou ao redor e logo percebeu que não estava na carruagem de Beauxbatons, que estava estacionada ao lado de fora de Hogwarts, nos jardins, logo ao lado da cabana de Hagrid, não... ela reconhecia aquela casa, era a mesma casa em que ela costumava morar há dois anos atrás... de supetão, Celine se ergueu, ficando sentada na cama e então, mirou o outro lado do quarto escuro e, como ela esperava, lá estava ele.
Sentado numa poltrona num canto escuro do quarto, havia um homem de meia-idade, cabelos já um tanto grisalhos, pele clara e lisa como a cera de uma vela; ele vestia um colete de lã e uma blusa fina de algodão por baixo, calças de alfaiataria e sapatos marrons. Por um momento ele parou de olhar para o bebê que ele ninava no colo e então pousou os olhos castanhos gentis e bondosos em Celine na cama... era exatamente desse jeito que ela costumava se lembrar dele.
Aquilo era um sonho obviamente, ela sabia disso, mas mesmo assim, não conseguiu fazer seu coração desacelerar ou sua respiração não sair em lufadas rápidas e desconexas para fora de sua boca. Celine afastou o lençol que a cobria e tentou se afastar, ir para o mais longe dali possível, mas assim que se colocou de pé, a voz do homem na poltrona falou em sua direção:
— Se continuar fazendo tanto barulho, ele irá acordar.
A voz dele soou baixa, mas era exatamente como ela recordava; suave e sonoramente agradável de se escutar. Um tom tão suave que a fazia sentir-se segura...
— Não há nada para acordar ai — ela murmurou e deu o primeiro passo em direção à porta do quarto, porém, parou mais um vez, sentindo uma dor excruciante em seu baixo ventre.
Ela gemeu de dor, se dobrando e caindo sentada mais uma vez na cama. O homem se ergueu de onde estava, ainda carregando o bebê inerte e calado no colo e então se encaminhou até onde Celine estava.
— Você tem razão, ele não faz barulho, não chora — ele murmurou. — Me pergunto de quem é a culpa.
Ele disse aquilo olhando diretamente para ela com aqueles olhos amáveis, mas ao invés de se sentir segura, mais uma vez uma dor excruciante se fez presente fazendo-a soltar um grito mudo. Olhando para baixo, sangue começou a escorrer por entre suas pernas e a manchar e tingir os lençóis brancos da cama, assim como a camisola que ela vestia naquele momento, do branco mais puro, mas que agora se encontrava manchado, maculado.
— Não, não, não — ela murmurou uma e outra vez, tentando se levantar, mas não conseguindo. Sentindo o sangue descer cada vez mais forte, tão forte que começava a pintar o chão aos seus pés e aos do homem também, formando uma poça que brilhava a luz do luar.
"Se ele não chora, me pergunto então de quem é esse lamurio na escuridão", ele murmurou enquanto o sangue escorria cada vez mais, começando a se acumular por entre o vão nos tacos de madeiro ao chão.
— Me pergunto de quem é a culpa — a voz veio mais uma vez, forte e acusadora agora.
Celine acordou num sobressalto, engasgando com o próprio ar enquanto lançava os cobertores que a cobriam para longe de seu corpo. Olhando para baixo, o lençol da cama se mantinha intacto, não havia sangue nem nada ali. Ela levou uma mão à testa molhada de suor e olhou ao redor, reparando na decoração do seu pequeno quarto na carruagem de Beauxbatons. Tudo se mantinha perfeitamente como ela se lembrava antes de ir se deitar na noite anterior.
Ela suspirou e se levantou, secando o rosto molhado de suor numa pequena toalha que havia ali próximo. E, abrindo uma pequena gaveta na cômoda logo ao lado da cama, Celine retirou de lá um relógio prata de bolso, abrindo-o, haviam doze ponteiros, mas nenhum número, ao invés disso, haviam planetas girando à volta. Era um relógio bastante estranho, mas Celine parecia entendê-lo, pois logo deixou o relógio que havia sido um presente de Dumbledore para ela de lado e rumou em direção ao guarda-roupas, retirando do cabideiro o vestido que vestiria naquele dia.
Celine se vestiu, arrumou os cabelos e então pegou a carta que havia escrito ontem de noite e saiu de seu quarto, se deparando com a carruagem ainda vazia de alunos; todos ainda em seus quartos e ela imaginava que Olímpia também, afinal, ainda era muito cedo. Ela rumou até a porta da carruagem e a abriu, sendo cumprimentada pelo ar frio daquela manhã cinzenta. Havia apenas o chilrear dos pássaros e o som do vento batendo contra a copa das árvores quando Celine desceu o primeiro degrau e percebeu mais um barulho ali perto.
— Bom dia, Hagrid — ela cumprimentou, observando Hagrid brandir um enorme machado em mãos; parecia pronto para cortar lenha.
— Ora, bom dia, Celine — ele cumprimentou de volta. — Não está muito cedo ainda? Aposto que ainda estão todos dormindo lá no castelo.
Celine sorriu para Hagrid e mostrou a carta que carregava em uma das mãos.
— Preciso enviar esta carta com urgência e estou sem coruja — ela explicou. — Pensei em usar o corujal. Será que teria problema?
— Mas é claro que não — ele falou espantando aquela ideia com uma das mãos. — Tenho certeza de que Dumbledore não se incomodaria.
— Que bom — ela murmurou, indo em direção ao castelo. — Nos vemos mais tarde então, Hagrid!
Celine atravessou o gramado úmido rapidamente, chegando até o piso de pedra da entrada do castelo e limpando a sola de seus sapatos antes de entrar e pisar no mármore. O castelo por dentro se encontrava totalmente quieto, os alunos e professores ainda dormiam, mas Celine reparou num balde e esfregão logo ali perto, o que indicava que muito provavelmente Filch já estava acordado e trabalhando. Percebendo isso, Celine apressou o passo e começou a subir as escadas, tentando subir depressa para chegar o mais rápido possível no corujal e não encontrar Filch, o zelador, no caminho, pois ela tinha certeza de que ele não seria tão amigável quanto Hagrid.
Ela conseguiu chegar momentos depois no corujal sem encontrar ninguém no caminho, apenas aos olhos dos quadros nas paredes, que olhavam curiosos em sua direção. Quando chegou ao corujal, Celine levou uma das mãos ao nariz, se deparando com o lugar cheio de penas e titica das corujas espalhadas pelo chão. Merlim, ela sempre odiou aquele lugar e sempre preferiu usar a própria coruja, mas precisava urgentemente enviar a carta que havia escrito na noite anterior para Sirius Black e, já que o mesmo estava de volta ao país — e ela não fazia ideia de onde ele poderia estar — , Celine havia achado prudente da parte dela utilizar outra coruja que não fosse a sua própria para que não chamasse tanto a atenção onde quer que Sirius Black tivesse inventado de se enfiar.
— Aqui — ela falou enquanto atava a carta numa das patas de uma coruja-da-igreja, com penas brancas e marrons, que a olhava parecendo animada por ter sido ela a escolhida. — Pronto.
E dando um último nó, a coruja não esperou nem mais um instante ali, logo abrindo suas asas e içando voo para o céu cinza e ainda sem sol. Celine não fazia ideia de onde Sirius Black poderia estar, mas esperava que aquela carta não demorasse de chegar até ele, pois nela, Celine relatava todos os eventos da noite passada. Ela também esperava que ele não fizesse nada estúpido, como ela mesma havia dito para ele na carta.
Soltando um suspiro e ajeitando alguns fios de cabelo que haviam se desprendido de seu penteado devido ao forte vento ali no corujal, Celine voltou a descer as escadas, mas dessa vez escutando vozes aqui e ali, os alunos pareciam começar a acordar em suas Comunais.
— Celine Dorsey!
Celine parou sua caminhada e virou nos calcanhares em direção à voz que a chamava. Virando-se, ela se deparou com um homem de aparência acinzentada e transparente, flutuando acima do chão e vindo em direção à ela. Era Sir Nicholas de Mimsy-Porpington, ou, Nick-Quase-Sem-Cabeça, como era chamado pela grande maioria, conhecido por ser o fantasma da Grifinória.
— Sir Nicholas — ela respondeu com um sorriso.
— Ora, como é bom ouvir alguém me chamando pelo meu nome corretamente — ele disse sorrindo e ajeitando a gola pomposa de suas vestes que mantinham sua cabeça no lugar. — Soube que estava de volta e, acredite em mim, nunca estive tão feliz em rever uma aluna assim antes.
— Ora, me sinto lisonjeada — ela respondeu com uma risada. — É bom vê-lo novamente também, Sir Nicholas. Como o senhor tem estado?
— Ah, apenas o mesmo de sempre — ele murmurou. — Está indo para o Salão Principal? Deixe-me acompanhá-la até lá.
E então Celine voltou a descer as escadas, enquanto Sir Nicholas flutuava logo ao lado dela.
— Não me diga que as coisas continuam as mesmas. Faz anos que não ponho os meus pés aqui e tudo parece tão mudado — ela voltou a dizer. — E quanto a Caça dos sem Cabeça?
O rosto fantasmagórico de Sir Nicholas se contorceu numa careta ao escutar aquilo.
— Acredite, continua a exata mesma coisa — ele respondeu e Celine imaginou que, assim como há muitos anos atrás, Sir Nicholas ainda continuava a ser rejeitado na Caça dos sem Cabeça por ser um fantasma quase decapitado e não um fantasma completamente decapitado.
— Que pena.
Sir Nicholas concordou com a cabeça logo ao lado, o que fez a gola pomposa em seu pescoço se mexer e sua cabeça começar a escorregar para o lado contrário, mas ele logo ajeitou a gola, antes que a cabeça pendesse para fora de seu pescoço.
— Frei sendo Frei, Helena continua a não gostar muito de conversas, o Barão ainda arrasta suas correntes pelas masmorras e bom, o Pirraça continua sendo o Pirraça — ele começou a contar. — Hoje em dia não é mais como em sua época, isso é verdade. Não consigo conversar com uma criança ou adolescente neste castelo sem ser destratado. Realmente não fazem mais crianças ou adolescentes como a senhorita.
Celine segurou uma risada. Conhecendo Sir Nicholas, o destratar dele com certeza significava alguma criança o chamando pelo apelido que todos o chamavam, mas que ele odeia ser chamado.
— Sendo professora, sei muito bem ao que o senhor se refere — ela disse. — Algumas crianças são realmente mais difíceis do que outras.
— Fiquei contentíssimo em saber que se tornou professora de poções. Meus parabéns muitíssimo atrasados! — ele desejou e Celine sorriu agradecida para ele. — É apenas uma pena que a senhorita tenha ido para tão longe. Beauxbatons, não é? Na França. Como é lá?
— Bastante diferente de Hogwarts, se quer saber, portanto demorei um pouco para me adaptar, mas é uma excelentíssima escola. Meu pai foi estudante de Beauxbatons, então foi e é muito bom estar no local onde ele já me contou várias histórias sobre.
— E quanto ao trabalho?
— Tem seus dias de luta e seus dias de glória — ela confessou sorrindo. — Mas amo meu trabalho.
— Ano passado, Remus Lupin foi professor de Defesa Contra as Artes das Trevas aqui em Hogwarts — ele contou e Celine sorriu ainda mais com aquilo. — Ele foi um excelente professor, a grande maioria dos alunos gostava dele. Foi uma pena ter acontecido o que aconteceu...
Celine concordou com a cabeça.
— Ele não deveria ser julgado tão injustamente por conta da condição dele — ela disse. — Remus é um homem bastante inteligente e esforçado, tenho certeza de que teria se tornado o professor mais amado se tivesse continuado.
— Eu concordo. Mas o professor Snape sempre quis o cargo de professor de Defesa Contras as Artes das Trevas, e ele também nunca pareceu gostar de Lupin, então era natural qu...
— Snape? — Celine perguntou de repente, um grande vinco na testa. — O que Snape tem haver com isso?
— Ora, você não ficou sabendo? — Sir Nicholas murmurou espantado e ao mesmo tempo animado. Parecendo excitado em começar uma fofoca com Celine, como nos velhos tempos. — O professor Snape no fim do ano letivo espalhou por aí o segredo de Remus Lupin, sobre você sabe o que... pensei que a senhorita já soubesse, por ser tão amiga de Lupin, então imaginei que...
Sim, Celine também imaginou que ele contaria para ela tudo o que havia mesmo acontecido no ano passado, mas pelo jeito estava enganada. Remus havia sim a enviado diversas cartas ao longo do ano que se foi, sempre contando para ela os acontecimentos nos mais mínimos detalhes e, quando ele mesmo resolveu se demitir no final do ano letivo, Remus havia apenas contado para Celine que ele havia se esquecido de tomar sua poção por conta de tudo que estava acontecendo e por conta disso havia se transformado nos terrenos de Hogwarts, colocando Harry, Hermione e Rony em perigo — mas eles acabaram saindo ilesos — , e que logo após isso, ele, em sua forma lupina, se refugiou na Floresta Proibida, porém, o estrago já estava feito, ele dizia que alguém — provavelmente um aluno — , havia o visto se transformar também e então no dia seguinte todos sabiam sobre sua condição.
Mas ele nunca havia dito nada sobre Severus Snape... talvez ele tenha se esquecido de contar esse pequeno detalhe para Celine.
— Snape... aquele homem...
Celine murmurou para si mesma em raiva, enquanto Sir Nicholas logo ao lado assistia o rosto dela mudar de branco para vermelho.
— ... odioso! — ela exclamou. — Como ele pôde!
E ele ainda queria o posto de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? Rá! Celine nunca achou algo tão irônico e risível em toda sua vida.
— Bom, ele é um ótimo mestre de poções, mas não é atoa que seja tão impopular entre os alunos — Sir Nicholas voltou a dizer, observando que eles já estavam quase chegando ao Salão Principal.
— Ah, é? — Celine perguntou interessada. — Por favor, me conte mais, Sir Nicholas.
— Mas é claro, apenas não conte a ele que fui eu quem disse — ele murmurou animado. — O professor Snape apesar de ser um ótimo mestre de poções e um homem bastante inteligente, é um professor odioso, é claro que quem diz isso são os alunos e não eu, mas quase nenhum deles gosta dele, a não ser os da Sonserina, é claro, já que ele é o diretor deles.
— E quais são os motivos de todos pensarem isso dele?
— Bom, os alunos dizem que ele é bastante mal-humorado e sempre retira pontos das demais Casas por coisas mínimas, mas não trata os alunos de sua Casa da mesma forma, não, os da Sonserina ele trata de forma privilegiada.
— É mesmo? — Celine perguntou interessadíssima.
— Ah, sim, é mesmo — Sir Nicholas respondeu balançando a cabeça também animadíssimo com aquela conversa, nem ligando para sua cabeça que deslizou um tanto na gola de babados por conta do movimento. — Observei também que ele tem um apego especial por Draco Malfoy e um desagrado descomunal por Harry Potter.
— Harry Potter?! — Celine murmurou irritada. — O que ele já fez a Harry Potter?
Sir Nicholas pareceu parar para pensar um instante.
— Bom, já deve ter retirado um pouco mais de trezentos pontos da Grifinória só por ele espirrar ou aparecer com os cadarços mal-amarrados em todos esses três anos — ele contou e Celine contorceu o rosto. — Ah... chegamos no Salão Principal — ele murmurou parecendo desanimado de repente, por ter que parar sua conversa. — Venha conversar mais comigo depois, senhorita Celine. Essa foi a conversa mais animada que já tive em anos!
Olhando ao redor do Salão Principal, ele ainda estava meio vazio, se não fosse por alguns alunos que já chegavam ainda com cara de sono, Filch mais ao fundo varrendo o chão emburrado e Dumbledore e Alastor Moody, que já se encontravam na mesa dos professores.
— Eu com toda certeza irei, Sir Nicholas — ela respondeu de prontidão. — Por favor, me conte mais sobre isso, se ficar sabendo, é claro. Eu adorarei estar por dentro de tudo.
— Mas é claro! Os quadros e os demais fantasmas não são tão bons ouvintes quanto a senhorita. Se este cavalheiro souber de algo, pode ter certeza de que será a primeira a saber — ele disse sorridente e Celine sorriu de volta antes de se despedirem e Sir Nicholas a desejar uma boa refeição, enquanto flutuava para longe murmurando o quanto gostaria de ser capaz de provar a torta de morango.
Celine então se encaminhou em direção à mesa dos professores, sentando-se ao lado de Alastor e próximo a Dumbledore.
— Bom dia — ela desejou enquanto se sentava e encarava as opções de comida servidas à mesa.
— Muito bom dia, Celine — Dumbledore desejou enquanto deslizava em direção dela um prato de ouro com um pedaço de torta. — Experimente a torta, está muito boa.
— Não estou com muita fome — ela disse encarando a torta e fazendo uma careta.
— O café da manhã é a refeição mais importante do dia, vamos lá, coma — ele insistiu e Celine cedeu, dando uma garfada na torta.
— Você já estava no castelo — Moody observou logo ao lado, dando um gole e outro do conteúdo líquido em seu cantil de bolso. — Estava perambulando por aí sem sono?
Celine mastigava a torta que Dumbledore havia a oferecido enquanto Alastor falava e ela tinha que confessar, aquela torta estava realmente muito boa.
— Tive que enviar uma carta à Beauxbatons, contar sobre nossa campeã.
Alastor soltou um pequeno resmungo de entendimento, enquanto isso, logo ao lado, Dumbledore retirava uma migalha e outra de torta de morango de sua longa barba grisalha.
— Tenho certeza de que vocês devem estar muito satisfeitos com a senhorita Delacour, ela aparenta ser uma bruxa extraordinária. Assim como os outros três campeões — ele comentou enquanto se servia com mais uma pedaço de torta.
Isso arrancou um olhar de esguelha em direção de Dumbledore, tanto de Celine quanto de Alastor.
— Krum e Diggory, sim, eu tenho que concordar, mas Harry? — Celine falou incrédula. — Ele tem apenas catorze anos. Esse negócio de contrato mágico não deveria incluí-lo nisso, mas sim descartá-lo, já que é menor de idade.
— Você parece ter pouca fé nele, Celine — Dumbledore murmurou tomando um gole do suco de abóbora em seu cálice.
Alguns outros professores vinham chegando; Minerva McGonagall, Filio Flitwick e Severus Snape entraram juntos no salão.
— Não tenho pouca fé nele, acho apenas injusto — ela murmurou de repente irritada, olhando para os três professores que vinham em direção à mesa. — Ele está no quarto ano, portanto sabe menos feitiços do que os demais.
— Eu concordo com Celine — Alastor disse de repente. — Quem fez isso não tem intenções boas.
"É bom saber que compartilhamos do mesmo pensamento, Alastor", ela murmurou enquanto os professores se sentavam e então Madame Maxime, Igor Karkaroff e os alunos de ambas as escolas entraram logo atrás de seus diretores e professor, sentando-se nas mesas.
— Tome, experimente também os pãezinhos açucarados — Dumbledore murmurou arrastando mais um prato na direção de Celine.
Quando Olímpia e Igor sentaram-se à mesa, logo desataram a conversar com Dumbledore, que pareceu focar agora em outra coisa e deixou de lado a ideia de empanturrar Celine com doces. Ela passou o restante do café da manhã calada, apenas respondendo monótonamente algumas perguntas que eram feitas diretamente para ela de vez em quando. Mais tarde, quando percebeu alguns de seus alunos se levantaram da mesa da Corvinal, Celine também se pôs de pé e, ao passar por trás das cadeiras dos professores, ela passou por detrás da de Severus Snape e torceu um dos pés no meio do caminho, dando um encontrão nas costas do professor de poções que estava com o cálice a meio caminho da boca, mas que com o impacto acabou caindo de suas mãos e derramando todo o conteúdo em sua roupa preta e impecável.
— Oh! Mil perdões, professor — ela murmurou rapidamente e não deu tempo para que ele respondesse, logo saindo dali.
Enquanto Severus Snape olhava perplexo na direção das costas de Celine com sua roupa pingando suco de abóbora, do outro lado, onde ele não pudesse ver, ela sorria para si mesma, bem satisfeita em ter feito o que fez.
Após passar boa parte da manhã e início da tarde com seus alunos em Hogsmeade, pois todos eles estavam muito animados para conhecer a vila local, Celine, após os levar para conhecer boa parte da vila e aproveitar para revisitar boa parte de seus lugares favoritos também, voltou ao castelo com seus alunos e foi em direção da carruagem que estava nos jardins de trás de Hogwarts. Chegando lá, ela se deparou com Hagrid e Madame Maxime muito entretidos em uma conversa, porém, assim que avistou Celine, Olímpia a avisou que uma carta havia chegado para ela e, com isso, Celine correu para dentro da carruagem, imaginando ser a carta resposta de Sirius para ela.
Celine, minha boa amiga, como você está? Espero que esteja bem e que sua volta a Hogwarts esteja sendo agradável. Sei que deve estar muito ocupada, imagino o quão difícil deve estar sendo ajudar em relação ao torneio e ainda ter que administrar seus alunos, mas, por favor, mande-me notícias suas e de Harry, me conte como estão as coisas por aí desde que chegou.
Sei que deve estar muitíssimo ocupada, e me perdoe por ter que adicionar mais isto à sua lista que já deve estar acumulada, mas poderia me mandar mais uma poção para esse mês, por favor? Já sinto o início dos sintomas e não gostaria de ter que sair de casa, na verdade, confesso que não tenho um local para passar a lua-cheia em segurança, então terei que lhe pedir mais isso, me perdoe por ter que colocar mais em suas costas também.
Tenho completa noção de que todo mês você me manda as poções sem falta e que, também, nós sempre trocamos cartas semanais, por conta disso me preocupo pois imagino que algo grave deva ter acontecido para você não ter mantido contato. Mas prefiro imaginar que você apenas está bastante ocupada, minha amiga.
Por favor, me mande notícias.
Remus Lupin
Celine levou uma mão à testa e logo se sentou em sua escrivaninha, preparando pergaminho, tinta e pena para responder a carta de Remus.
Ela começou sua carta resposta se desculpando bastante por ter esquecido de o mandar uma carta com todos os acontecimentos, e depois, se desculpou mais ainda por ter se esquecido de o mandar a poção Mata-Cão. Celine sempre enviava a Remus Lupin a poção, todo mês sem falta. A única vez em que ela ficou sem o mandar as poções foi quando o mesmo passou a ser professor em Hogwarts, pois Severus o fazia a poção, porém, antes disso, bem antes disso, ela sempre foi quem as preparou e o enviou.
A poção, ela não cura a doença, porém acalma o lobo, fazendo-o menos agressivo durante a transformação. A poção tem ingredientes raros, sendo um deles acônito, além de ser muito complicada para ser produzida, portanto, não era muito barata no mercado. Mas Celine sempre assegurou Remus de que ele não precisava se preocupar com custos, pois ela sempre o mandaria a poção, afinal, ela criará a poção Mata-Cão justamente para ajudar seu amigo em sua complicada condição.
No final da carta, depois de contar também a Remus sobre o que havia acontecido com o Cálice de Fogo e sobre suas preocupações e de Moody, ela afirmou que no final desta noite ela o prepararia a poção e amanhã de manhã, ela já estaria nas mãos dele.
Após enviar a carta através de sua própria coruja, Celine soltou um suspiro exasperado pensando que sim, ela havia trago consigo mesmo todos os ingredientes necessários, porém, seu pequeno kit de poções não era o suficiente para preparar uma poção tão complicada quanto aquela em sua pequena cabine na carruagem de Beauxbatons.
Antes de chegar em Hogwarts ela já havia até mesmo pensado nisso e chegado a um acordo consigo mesma de que usaria a sala de poções da escola, é claro que com o consentimento do mestre de poções, porém, depois de sua conversa de mais cedo com Sir Nicholas, Celine duvidava e muito de sua capacidade de se manter no mesmo local que Severus Snape e não o tratar da pior maneira possível.
Soltando mais um suspiro, Celine olhou seu relógio de bolso e percebeu que dali a pouco seria horário de troca de aulas, ou seja, os alunos estariam saindo de suas aulas atuais e indo para as seguintes, o que dava um curto período de tempo para os professores e, pensando que ela gostaria de ter aquela conversa calorosa com o atual mestre de poções de Hogwarts sozinha, Celine logo se apressou em deixar a carruagem e rumar mais uma vez em direção ao castelo e então, em direção às masmorras, onde ela se lembrava ainda com excelência onde ficava a sala de poções.
Celine estava descendo as escadas das masmorras quando escutou um grande murmurinho de vozes, umas mais altas que as outras, mas com toda certeza absoluta estava acontecendo alguma comoção ali e, terminando de descer as escadas, Celine teve a certeza de que algo realmente estava acontecendo ali de frente a sala de poções.
Haviam alunos da Sonserina e Grifinória ali, Celine reparou nos botões, como distintivos, pregados nos uniformes da maioria dos alunos da Sonserina:
Apoie CEDRICO DIGGORY —
o verdadeiro campeão de Hogwarts.
E então, depois de alguns segundos, a mensagem sumia e outra aparecia no lugar:
POTTER FEDE
Aquilo por si só já havia deixado Celine de boca aberta, mas quando ela reparou em Harry e o amigo dele brigando com Snape e logo em seguida a garota que estava com eles se virar chorando com as mãos no rosto e sair correndo em direção às escadas, Celine sentiu que seu queixo podia cair ao chão.
Hermione Granger corria para longe da sala de poções com as mãos tampando o rosto o máximo que conseguia, indo em direção das escadas, porém, bateu contra alguém no meio do caminho, o que a fez parar de supetão.
— Oh, Merlim! Que terrível — Celine murmurou segurando a garota pelos ombros quando a mesma bateu contra ela em seu rompante. — Deixe-me ajudá-la com isso, querida.
Celine sacou a varinha de uma das mangas de seu vestido de seda escuro e apontou na direção do rosto da garota, mais especificamente em direção da boca dela, que estava com os dentes da frente saltando para fora da boca, tão grandes que chegavam a bater em seu decote. Com um balançar simples da varinha, os dentes de Hermione começaram a diminuir e a voltar ao seu estado normal, quando Celine julgou estarem no tamanho correto novamente, ela voltou a guardar a varinha.
— Pronto, está feito.
— O-obrigada — a garota murmurou secando os olhos rapidamente e levando as mãos até a boca, arregalando os olhos quando percebeu que os dentes não estavam mais em sua forma natural e avantajada, eles agora estavam retos e nivelados aos demais. — Não precisava — ela continuou, parecendo tímida.
— Era um contrafeitiço simples — ela respondeu e então se dirigiu até os alunos.
Celine encarou o rosto vermelho de Harry Potter e de seu colega logo ao lado, Harry carregava a varinha em uma das mãos e ela imaginou que ele devia estar prestes a usá-la, ou já deveria ter usado antes da mesma chegar ali, pois o mesmo a segurava com força em uma das mãos.
— O que está acontecendo aqui?
Era uma cena estranha e pitoresca, mas ela não esperava que os dois logo se virariam em direção à ela e desatariam a falar ao mesmo tempo, o que a fez entender só metade do que eles tentavam contar a ela.
— Atacamos um ao outro ao mesmo tempo! — Harry gritou e apontou para um garoto loiro vestido com a capa da Sonserina.
— Malfoy atingiu Hermione! — Rony Weasley gritou também apontando para o garoto.
— Snape retirou cinquenta pontos da Grifinória!
— Goyle estava com o rosto cheio de furúnculos!
— Mas ele foi para a enfermaria e Hermione não e...
— Certo, certo — Celine falou cortando os dois e colocando uma das mãos no ombro de Harry, que parecia tremer de raiva. — Vim até aqui para lhe pedir um favor, professor Snape, mas vejo que está ocupado... O que está acontecendo?
Dessa vez ela perguntou diretamente a Snape, erguendo uma sobrancelha em direção ao homem, que arregalou os olhos por um segundo e abriu a boca e a fechou diversas vezes, parecendo não saber o que dizer.
Os alunos ao redor pareciam embasbacados com a reação do professor, afinal, ele sempre era afiado como uma faca, sempre sabia o que responder e nunca deixava ninguém ousar falar daquela forma com ele...
Harry olhou para o rosto impassível de Celine e depois para o embasbacado de Snape. Aquilo trouxe um sorriso maldoso aos lábios do garoto, pois pela primeira vez, ali, na frente dele, o professor Snape parecia assustado e sem palavras. Ele até mesmo o lembrou do diretor de Durmstrang na noite em que ele deu de cara com Celine e Olho-Tonto.
Talvez a fama de Celine fosse mesmo grande, grande o bastante para fazer Snape se tremer diante dela assim como Igor Karkaroff.
— Eu e Malfoy nos atacamos ao mesmo tempo, mas o meu feitiço atingiu Goyle e o dele atingiu Hermione, mas quando o professor Snape chegou, apenas acreditou na palavra de Malfoy, retirando pontos da Grifinória e mandando apenas Goyle para a enfermaria, dizendo que não via nada de errado com Hermione — Harry disse brandamente, para que Celine escutasse e o professor também e, conforme ele ia falando, o rosto de Snape apenas ia piorando.
Primeiro ele o olhava sem reação e então, passou a olhá-lo ameaçadoramente, apenas para depois voltar seus olhos para Celine e depois levá-los ao chão, parecendo não ter coragem para encará-la depois daquilo.
— Isto é... — Celine murmurou horrorizada, lançando o pior dos olhares na direção de Snape. — Tenho certeza de que o professor Snape tem consciência de que isso é absolutamente intolerável e injusto, não é, professor?
Os alunos da Sonserina e Grifinória olhavam de um adulto para o outro; Celine enquanto olhava impassível na direção do professor de poções, recebia em troca um olhar completamente perdido e, no fim, a resposta de Severus Snape fora a seguinte:
— A senhorita tem total razão, isso foi uma situação intolerável — ele disse e todos olharam boquiabertos na direção do mestre de poções. — Menos cinquenta pontos para a Sonserina.
No final da frase, a voz dele até mesmo tremeu um tanto por estar retirando pontos de sua própria Casa — aquele era um evento que nunca tivera acontecido antes. Os alunos de verde olhavam embasbacados para o professor de poções, que também era o diretor da Casa deles.
— Mas professor...
— Assunto encerrado, Malfoy — Snape murmurou irritado, parecendo odiar aquela situação. — Acredito que estejam atrasados para a próxima aula de vocês, saiam todos daqui! — ele mandou e os alunos da Sonserina e Grifinória logo começaram a caminhar para fora das masmorras, não querendo testar ainda mais a paciência de Severus Snape.
Enquanto os alunos saiam, Celine tentava conter o sorriso de satisfação que queria surgir em seu rosto enquanto observava Severus Snape obviamente desconfortável na sua presença; ele levou as duas mãos para a frente de suas vestes e esfregou as mãos no robe preto, logo em seguida ajeitando sua capa e coçando a garganta.
— Mencionou que gostaria de falar comigo, senhorita Dorsey?
Celine não conseguiu, ela teve que soltar um sorriso de canto com aquilo.
— Sim, eu gostaria, professor Snape — ela murmurou. — Será que mais tarde poderia me emprestar sua sala de poções? Preciso urgentemente preparar uma poção, mas infelizmente irei necessitar de uma bancada preparada para isso, visto que é uma poção um tanto quanto complicada e não tenho como fazê-la em meu pequeno aposento na carruagem.
Severus olhou surpreso na direção de Celine, mas disfarçou o melhor que pôde, apenas concordando com a cabeça.
— Mas é claro — ele disse. — Que tal após o jantar? Sinta-se à vontade para utilizar a sala de poções como bem preferir.
— Ótimo, agradeço, professor Snape — foi tudo o que ela disse antes de se virar nos calcanhares e caminhar para fora das masmorras.
Severus deixou um suspiro escapar enquanto assistia Celine partir com seus saltos batendo no piso de pedra das escadas, ele sentiu um momento depois a tensão em suas costas melhorar, o que o fez abaixar os ombros tensos. Ele não acreditava que com apenas menos que meia-dúzia de palavras Celine Dorsey havia o feito tirar cinquenta pontos de sua própria Casa... e o torneio nem ao menos havia começado ainda, as coisas estavam distantes de acabar e nem ao menos haviam começado. Ele tinha medo do que mais ela poderia incitá-lo a fazer até lá e, por mais desanimador que parecesse, Severus Snape sabia que era incapaz de negar qualquer coisa que fosse àquela mulher.
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