Capítulo Quarenta e Quatro ── O Feitiço Convocatório
✧ Capítulo Quarenta e Quatro ──
O Feitiço Convocatório
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No jantar daquela noite, Celine percebeu pela primeira vez — já que havia passado boa parte do dia fora do castelo — , como havia uma quantidade absurda de alunos utilizando os distintivos para apoiar Cedrico Diggory, que era dito o verdadeiro campeão de Hogwarts. Celine também reparou em Harry mais isolado na mesa da Grifinória, como se não tivesse vontade de falar com ninguém.
Ela suspirou vendo aquilo, ela entendia, devia estar sendo realmente complicado para ele, afinal, Harry Potter não deveria estar competindo e sim apenas Cedrico Diggory, aluno da Lufa-Lufa. A Casa quase nunca tinha seus destaques na escola e quando deveria ter, aparecia alguém da Grifinória para bater de frente. Celine levou seu cálice com vinho dos elfos aos lábios e sorveu um pouco do conteúdo. Ela gostaria de falar mais com Harry, mas tinha noção de que uma boa quantidade de pessoas sabia que ela era madrinha de Harry Potter e, sendo professora de Beauxbatons, as pessoas logo desconfiariam dela, que talvez ela estivesse tentando ajudar Harry ou algo do tipo... Celine não queria que as coisas piorassem para o lado do garoto, já não parecia estar sendo muito fácil.
Celine também se arrependia do que havia feito mais cedo; ela não devia ter feito o que fez com Severus Snape. Não que ele não merecesse, mas todos os alunos viram aquilo e ela obviamente estava tentando proteger Harry e seus amigos... ela imaginava o que os alunos não deveriam estar falando por aí depois daquela cena de mais cedo nas masmorras. Ela devia ter deixado para depois, quando estivesse sozinha com Snape, para o fazer se arrepender do que fez, mas infelizmente sua impulsividade tomou a melhor. Ela não podia deixar que aquilo acontecesse novamente.
— Você andou sumida hoje — Alastor murmurou ao lado, tirando Celine de seus devaneios.
— Andei ocupada com meus alunos — ela disse enquanto observava os alunos de Beauxbatons na mesa da Corvinal. — Por que, sentiu minha falta, Alastor?
Moody rolou seu olho bom enquanto o outro continuava a ir de um lado ao outro dentro da cavidade ocular, observando tudo ao redor.
— Claro que não, apenas achei estranho — ele resmungou enquanto dava um gole em seu cantil.
Celine se virou em seu assento e semicerrou os olhos em direção de Alastor, soltando um pequeno sorriso.
— Se não te conhecesse, diria que está me vigiando.
— Pfft, não seja tola, criança — ele rugiu mal-humorado. — Eu tenho coisas melhores para fazer e outras pessoas mais preocupantes para vigiar.
Ela estava prestes a responder com algo que fizesse a careta do rosto do homem piorar, mas então Dumbledore a chamou a atenção logo ao lado.
— Celine, será que poderíamos conversar depois do jantar em meu escritório? — ele perguntou.
— Depois do jantar eu estarei na sala de poções — ela respondeu e Dumbledore ergueu uma sobrancelha grisalha em surpresa. — Preciso preparar uma poção complicada e não tenho todos os recursos necessários em meus aposentos — explicou.
Dumbledore apenas deu um pequeno aceno de cabeça em forma de entendimento, mas Celine viu um pequeno sorriso surgir nos lábios finos e escondidos pela longa barba.
— É algo sério? — ela perguntou, imaginando se algo grave tivesse acontecido.
— Oh, não — ele disse. — Não se preocupe, podemos conversar sobre isso depois.
Ela concordou com a cabeça, Celine sabia que se fosse realmente algo grave, Dumbledore não hesitaria em lhe dizer. Logo após isso, Madame Maxime logo ao lado dos dois murmurou sobre como Celine poderia sair das poções, mas as poções nunca saiam de Celine, pois a mesma não importa onde estivesse sempre levava seu kit junto consigo, o que retirou uma risada leve e verdadeira de Dumbledore, que concordou com Olímpia enquanto Celine voltava a tomar seu vinho e observava Harry na mesa da Grifinória.
O restante do jantar se desenrolou normalmente e, quando a maioria dos alunos deixou o Salão Principal e Celine seguiu com seus alunos até aos jardins que ficavam atrás do castelo, deixando-os na carruagem de Beauxbatons, ela então pegou todos os ingredientes que precisaria e sempre levava consigo — pois sua maioria eram ingredientes raros — e então se retirou mais uma vez da carruagem, voltando para o castelo.
Quando desceu as escadas das masmorras, sendo cumprimentada pelo clima frio dali, ela chegou até a porta de madeira que dava para a sala de poções e deixou duas leves batidas na porta.
"Entre", a voz grossa e forte de Severus Snape respondeu, ao qual ela não demorou em abrir a porta e se deparar com a sala de poções. As aulas de poções costumavam ser suas favoritas quando mais nova, naquela época quem os ensinava era o professor Slughorn que, apesar de ser irritantemente mesquinho às vezes com suas festas privadas apenas para os alunos que ele julgava os melhores, era um ótimo professor de poções.
Naquela época a sala parecia mais viva nas mãos dele, com fotos dele e de seus alunos preferidos, que ele gostava de mostrar orgulhosamente, e uma decoração mais aconchegante em sua mesa e suas coisas. Porém, com a sala agora nas mãos do atual mestre de poções, a sala parecia mais sombria e normal; haviam potes de vidro transparentes contendo todo tipo de corpos de animais possíveis expostos nas estantes nas paredes, àquela hora da noite, as velas ali pareciam ter sido esquecidas de serem substituídas, pois algumas pareciam já ter queimado por inteiro, o que deixava algumas partes da sala de poções bastante escura, completamente encobertas pelo véu da escuridão. A mesa do professor mais ao fundo não tinha nada de interessante, era apenas uma mesa de madeira extremamente bem organizada e limpa, sem nada para ser exposto ou visto em especial.
— Com licença — Celine murmurou, percebendo que não havia apenas Severus Snape ali, mas também outros dois alunos.
Eram altos e ruivos, extremamente iguais, gêmeos, ela pôde reparar, eles se pareciam muito com o amigo de Harry, Rony Wesley e então, ela também percebeu algumas várias semelhanças com Arthur e Molly, provavelmente também eram filhos deles.
Os dois garotos limpavam caldeirões, o que a fez perceber que muito provavelmente estavam ali cumprindo uma detenção. Um deles deixou a escova que estava usando para limpar o fundo de um caldeirão cair dentro do mesmo quando a viu entrar na sala, o que fez o barulho ecoar pelas paredes da sala e até mesmo das masmorras ao lado de fora, já que a porta ainda se encontrava aberta.
— Tome mais cuidado com isso, Weasley — Snape resmungou apontando um dedo na direção do garoto em sinal de aviso, que não pareceu dar muita importância, visto que continuou a olhar de esguelha na direção da porta.
Severus se ergueu de sua mesa, deixando suas anotações de lado e indo em direção da porta e de Celine Dorsey. Ela vestia um vestido acetinado preto, o mesmo de mais cedo, porém, agora na luz das velas que haviam ali, o vestido parecia brilhar e ondular com a luz pacata; ele também reparou que ela havia se desfeito do penteado de mais cedo, que mantinha seu cabelo longo preso em um penteado elaborado. Agora, os cabelos dela se encontravam meio soltos e ele pôde perceber que sim, os cabelos dela batiam mesmo nos quadris, ondulando feito cascatas escuras e brilhantes.
Ele fechou a boca que percebeu ter aberto e então lambeu os lábios secos em nervosismo.
— Entre, senhorita Dorsey — ele pediu, flexionando as mãos ao lado do corpo e a guiando em direção de sua mesa aos fundos da sala. — A maioria dos caldeirões estão sendo limpos, mas a senhorita pode usar o meu bem aqui, se isso não for incomodo.
— Não há incomodo algum — ela murmurou enquanto apoiava a pequena maleta que trazia consigo na mesa e a abria.
— Sinta-se à vontade e não se preocupe com esses dois — ele disse, enquanto ao fundo dava para escutar os dois garotos murmurando entre si. — Eles não serão um problema — confirmou, lançando um olhar de aviso aos dois garotos.
Celine deu um pequeno sorriso de lado e levantou os olhos da maleta na mesa, observando os garotos com as mangas das blusas brancas dobradas até os cotovelos e com os cabelos bagunçados e testas molhadas de tanto esfregar caldeirões.
— Eles não me incomodam — ela falou sorrindo para eles. — Olá, rapazes.
"Oi", "Olá", os dois responderam ao mesmo tempo e, mais uma vez, o garoto de mais cedo deixou a escova cair novamente dentro do caldeirão enquanto acenava na direção de Celine, ganhando mais um olhar perigoso de Severus Snape.
O sorriso no rosto de Celine Dorsey morreu enquanto ela terminava de retirar suas coisas de dentro da maleta, quando percebeu que Severus Snape ainda continuava ali, ao seu lado.
Ela se apoiou na mesa e lançou ao homem um olhar desconfiado.
— Tenho alguns ingredientes em meu estoque que poderão ajudar também — ele murmurou dando de ombros. — Se a senhorita quis...
— É muita gentileza, mas não será necessário — ela respondeu o cortando. — Muito obrigada.
Retirando um óculos quadrado de dentro da pequena maleta, Celine o colocou na ponte do nariz e então logo em seguida retirou também uma adaga de prata bem afiada, que reluzia com a luz das velas ao redor; ela começou a cortar o acônito na bancada, um ingrediente extremamente raro e também absurdamente fatal se não tratado da maneira correta, pois é extremamente venenoso.
Enquanto Celine parecia extremamente concentrada e imersa em fazer a poção, Severus Snape logo ao lado tratou de pegar seus pergaminhos, tinta e pena e ir se sentar em uma das mesas dos alunos, já que havia cedido a sua para que Celine trabalhasse. Ele se virou e percebeu que Fred e George Weasley conversavam entre si ao invés de estar limpando os caldeirões, que é o que deveriam de fato estar fazendo.
— Os deixarei aqui a noite toda se não terminarem logo com isso — ele alertou, o que fez os garotos pararem de falar entre si e voltarem a esfregar os caldeirões.
Severus depositou suas coisas em uma das mesas e então seguiu caminho até uma pequena saleta logo ao lado, abrindo a porta e sumindo lá dentro.
— Duvido que mesmo em duas noites nós consigamos limpar essas coisas — George murmurou irritado, esfregando sem parar uma crosta de sabe-se lá Merlim o que, no caldeirão, que não saia por nada.
— A professora McGonagall podia ter nos mandado cumprir detenção com o Filch — Fred disse enquanto jogava uma espécie de líquido limpador de caldeirões, que fazia de tudo, menos o ajudar a limpar caldeirões ali.
Era verdade que nenhuma detenção era algo fácil, porém, as piores com certeza eram as que o professor Snape ficava como responsável. Não era a primeira vez que ele mandava Fred e George limparem caldeirões sem o auxílio da varinha, apenas de modo braçal e, aquilo era verdadeiramente terrível! Pois os alunos pareciam fazer todo tipo de coisas naqueles caldeirões e os resíduos pareciam ficar impregnados nos objetos. Da última vez os gêmeos passaram horas e mais horas da noite esfregando aqueles caldeirões, apenas voltando para suas comunais de madrugada, quando o professor Snape se deu por satisfeito com a limpeza deles.
— Use isso, vai ajudar com as crostas — a voz da professora Celine se fez presente de repente e então, ela jogou um pequeno recipiente na direção dos garotos.
Fred foi quem agarrou o pequeno pote e, quando o abriu, observou uma pasta mal-cheirosa e de cor acinzentada. Ele fez uma careta com o mal-cheiro, mas mesmo assim mergulhou um dos dedos na pasta e passou em uma das crostas no caldeirão que ele estava tentando limpar.
— Mas usem com moderação, duvido que se usarem muito ainda sobrará para os outros — ela falou apontando para os outros doze caldeirões que eles ainda precisavam limpar logo atrás.
A pasta começou a borbulhar e soltar uma leve fumaça na crosta e então, a sujeira se soltou, caindo com um baque surdo no fundo negro do caldeirão.
— Funcionou! — Fred exclamou baixinho, olhando para trás para ver se Snape estava ali. — Aqui — ele falou passando o pote com a pasta na direção de George. — Obrigado!
Celine sorriu enquanto adicionava água e Muco de Verme-Cego no caldeirão, acendendo o fogo com o auxílio de sua varinha e então, voltando ao balcão e começando a amassar uma Vagem Soporífera com o lado plano de sua adaga, logo em seguida escorrendo a seiva em abundância em um pequeno vidro e reservando.
Um instante depois, o professor Snape voltou à sala, carregando mais pergaminhos e os largando na mesa junto aos outros, ele deu uma olhadela em direção aos garotos Weasley, percebendo que eles pareciam estranhamente entretidos na limpeza dos caldeirões, mas resolveu deixar aquilo de lado, visto que havia muito trabalho para ele naquela noite e, também, por que se sentando e fingindo estar prestando atenção na correção das atividades de seus alunos, ele podia observava Celine de canto de olho em sua mesa, preparando a poção.
Celine parecia preparar a poção com facilidade, como se já tivesse feito aquilo milhares de vezes antes — e ele não duvidava que ela realmente tivesse. Os cabelos dela caiam sobre os ombros quando a mesma se inclinava sobre a mesa, longos como ele nunca havia visto antes. Severus se lembrava que Celine sempre gostara de deixar os cabelos curtos quando mais nova, ela até mesmo uma vez havia o dito que um dos motivos, além da praticidade, era por que os cabelos não caiam em seu rosto quando a mesma estava preparando uma poção. Mas agora lá estava ela, anos depois com os cabelos tão longos que chegavam a bater em sua cintura, não parecendo se importar nem um pouco com os mesmos enquanto preparava a poção Mata-Cão. Ele também se recordava que fora da escola, nas poucas vezes que se encontrou com Celine fora de Hogwarts, ele sempre a vira em roupas claras, saias e vestidos, nada escuro e nunca usava calças, mas lá estava ela agora, usando um vestido de cetim preto, tão diferente de quando era mais nova...
Ela realmente parecia ser outra pessoa, mas ao mesmo tempo, Severus sentia dentro de si que Celine Dorsey também continuava a mesma, pois ainda era o mesmo sorriso, a mesma voz e a mesma personalidade forte com a qual ele se lembrava. Ele imaginava se ela pensa o mesmo sobre ele, se ele havia mudado tanto quanto ela através dos anos que se passaram... Snape imaginava que não. Ele ainda continuava sendo o mesmo homem miserável e atormentado de sempre, e, quanto a sua aparência, Severus temia que até mesmo tivesse pior do que quando mais jovem, afinal, Celine sempre fora conhecida por ser uma garota deslumbrantemente bonita, além de muitíssimo inteligente e, agora, era uma mulher deslumbrantemente bonita, além de muitíssimo inteligente... quanto a ele, bom... Severus nunca fora chamado de bonito, apenas uma única vez, e a pessoa que o elogiou havia sido Celine. Ele nunca fora conhecido por sua aparência, mas sabia que era um homem inteligente... Snape se sentia um tolo por dentro por estar pensando uma coisa dessas, mas de alguma forma, ele gostaria que Celine o olhasse como quando mais nova, ele queria que a aparência dele a agradasse... ele queria tanto que ela olhasse em sua direção...
E como se conseguisse ler os pensamentos do homem, Celine Dorsey levantou os olhos dos ingredientes em sua bancada e mirou Severus Snape do outro lado da sala. Ele arregalou minimamente os olhos e voltou a mirar o pergaminho na mesa, voltando a riscá-lo com sua pena que já estava com a tinta seca.
Ela havia conseguido ler os pensamentos dele? Por um momento ele havia ficado tão distraído com a paisagem que era Celine Dorsey em sua sala e usando sua bancada que ele havia esquecido de fechar sua mente e deixado então sem querer algo escapar? Severus Snape sentiu o rosto esquentar enquanto escrevia qualquer coisa no pergaminho a sua frente. O cabelo negro que batia em seus ombros caia como castatas sobre seu rosto, o que o ajudava a se esconder minimamente.
Quando levantou os olhos novamente, ele percebeu que ela já o havia deixado de lado, voltando sua atenção para o preparo da poção. Severus, sendo um homem ganancioso e curioso, se concentrou em Celine do outro lado da sala, pois ele queria tanto saber o que ela pensa, o que ela vê quando olha para ele ou então quais eram seus pensamentos naquele exato momento... porém, não havia nada. Os pensamentos de Celine Dorsey eram mantidos tão trancafiados quanto os dele, havia apenas silêncio vindo da direção dela e aquilo o atormentou.
Mas é claro que ele não conseguiria invadir os pensamentos dela, afinal, Celine Dorsey não era uma tola aluna adolescente dele, ela era uma bruxa poderosa e que fora treinada por Dumbledore na arte da Oclumência. É claro que nenhum tolo hediondo conseguiria simplesmente adentrar em seus pensamentos sem que ela antes percebesse... e ele preferia cortar a própria língua e queimar os dedos ao deixar Celine Dorsey saber que ele havia tentado adentrar seus pensamentos... ela com certeza o mataria por isso.
— A senhorita é muito boa nisso — Snape ouviu de repente e então levantou os olhos, apenas para ver um dos garotos Weasley se aproximar do balcão de Celine, carregando consigo um dos caldeirões que ele limpava. — O que é essa poção?
Os caldeirões pareciam ter se limpado com rapidez, o que surpreendeu Snape, já que ele havia propositalmente dito para que os garotos limpassem tudo à mão, confiscando até mesmo as varinhas de ambos para ter certeza de que eles não tentariam nada de engraçado, os fazendo passar horas ali. Porém, contrariando tudo o que ele pensava, os gêmeos Weasley pareciam já ter limpado boa parte dos caldeirões.
— Não atrapalhe a senhorita Dorsey, Weasley, volte já para o trabalho! — Snape exclamou se levantando e indo conferir os caldeirões.
— Ele não está me atrapalhando — Celine murmurou, girando o líquido no caldeirão com sua concha também de prata, no sentido horário. — Qual é o seu nome?
O garoto se aproximou ainda mais com seu caldeirão, enquanto de fundo Snape olhava para dentro de todos os caldeirões restantes e o outro gêmeo escondia o pote com a pasta dentro das vestes rapidamente.
— Fred Weasley — ele respondeu. — Eu vi a senhorita ao lado de fora da cabana da minha família na Copa Mundial de Quadribol.
— Um dos filhos de Arthur e Molly — ela disse e ele concordou. — É um prazer, Fred Weasley, sou Celine Dorsey.
— Eu sei, Harry me contou tudo sobre você.
Celine sorriu verdadeiramente para aquilo, feliz em saber que Harry falava sobre ela. Os olhos de Fred Weasley se mexeram da bruxa para o caldeirão fumegante, reparando na poção ali dentro que, em um momento estava com a cor de um verde-musgo, mas no momento seguinte, quando Celine deixou de girar no sentido horário e passou a girar no sentido anti-horário, a poção tomou uma coloração levemente azulada.
— É a poção Mata-Cão — ela explicou para os olhos curiosos. — Ela auxilia nos sintomas da licantropia.
— Como fizeram isso? — a voz de Snape surgiu de repente. — Usaram magia? E não minta para mim, senhor Weasley — ele dizia apontando um dedo acusador na direção de George Weasley.
O garoto apenas negou com a cabeça, dando de ombros.
— Foi apenas trabalho braçal, professor.
— Tenho minhas dúvidas quanto a isso — Snape murmurou com os olhos semicerrados.
— Foi um trabalho braçal muito árduo — ele continuou, massageando um dos braços. — Sinto até mesmo cãibras nos braços...
Snape olhou para George e depois para Fred em frente a mesa onde Celine estava, o garoto largou o caldeirão e levantou as mãos, mostrando que ele havia apenas uma escova velha e suja ali com ele.
— Então, licantropia, você disse, professora — Fred voltou a dizer enquanto esfregava o caldeirão, depois de Snape mandar George voltar a fazer o mesmo. — Isso cura um lobisomem? — perguntou apontando com o queixo na direção da poção azulada.
Celine apontou a varinha de nogueira preta em direção ao caldeirão e deixou a poção ferver a fogo baixo.
— Infelizmente não. Ainda não existe uma cura para a licantropia, mas esta poção auxilia nos sintomas antes da transformação, o lobo se acalma e a mente não se nubla com a transformação, ou seja; o licantropo acaba não perdendo completamente a cabeça nas noites de lua-cheia.
— Saberia disso se prestasse atenção às minhas aulas, senhor Weasley. A poção Mata-Cão foi assunto no início deste ano letivo — Severus murmurou logo atrás, parecendo nem um pouco satisfeito com o fato de Fred Weasley não saber sobre algo como aquilo.
Fred resmungou imitando o professor, porém estava de costas para o mesmo, então Severus não viu a cena.
Celine riu daquilo e observou o garoto continuar a esfregar emburrado o caldeirão, enquanto isso ela esperava a poção chegar ao ponto certo.
— Você gosta das aulas de poções, senhor Weasley? — ela perguntou, o que fez o garoto levantar o rosto surpreso na direção dela.
— Eu até gosto, mas... — ele sussurrou, olhando de rabo de olho para Snape e fazendo uma careta. — ... apesar disso minhas notas até que são boas. Mas eu sou um bom fazedor de poções sim.
— Se isso fosse mesmo verdade, senhor Weasley — a voz de Severus Snape se fez presente novamente. — Você saberia que a bruxa a sua frente é a inventora da poção Mata-Cão, o que não é o caso.
Fred pareceu surpreso por um instante, mas então deu de ombros na direção de Celine e sorriu.
— Bom, não tem como nós sabermos de tudo, não é? — ele disse risonho e no instante seguinte Snape surgiu atrás dele com um rolo de pergaminhos em mãos, batendo com as folhas na cabeça do menino.
— Pare de importunar e volte ao trabalho, Weasley!
George riu mais ao fundo, o que logo se arrependeu de fazer, pois o professor logo foi em sua direção também, para verificar os caldeirões.
— Eu te entendo, senhor Weasley — Celine murmurou e olhou rapidamente na direção de Snape, logo em seguida, rolando os olhos.
Fred terminou de limpar mais um caldeirão e o deixou de lado, puxando um dos últimos a serem limpos logo em seguida.
— Sou um admirador do seu trabalho, professora.
— Acabou de descobrir que criei uma poção, então imagino que não me admire por ser pocionista — ela disse com uma sobrancelha erguida.
— Oh, não. Admiro por um trabalho antes deste.
— Como auror, o senhor quer dizer?
— Não, admiro muito seu trabalho como Penas.
Por um segundo, Celine não entendeu. Ela iria dizer que talvez ele estivesse a confundindo com outro alguém, pois ela nunca trabalhou com pena alguma, ou então com aves, mas então, ela se lembrou de seu apelido antigo da época da escola... Merlim... há quanto tempo ela não ouvia aquele apelido...
— O que? — ela perguntou confusa, se aproximando mais da bancada e olhando o garoto do outro lado dela em dúvida.
— Penas, Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas — ele murmurou baixo. — Vocês já salvaram as nossas peles um quintilhão de vezes — Fred falou olhando para o irmão mais ao longe, que parecia discutir ao fundo da sala com o professor Snape. — Nunca pensei que acabaria conhecendo um de vocês...
O garoto parecia realmente feliz dizendo aquilo, enquanto isso Celine o olhava embasbacada, pois, de muitas coisas que ela já havia feito em sua vida, O Mapa do Maroto era uma das últimas que ela esperava receber conhecimento... na verdade ela nunca pensou nessa possibilidade.
— Como vocês... — ela começou a dizer, mas não sabia bem por onde começar.
Como vocês acabaram conseguindo esse mapa? Como você sabe que Penas sou eu? E por que, em nome de Merlim, ele parecia tão feliz olhando para ela como se ela fosse uma espécie de entidade divina?
— Pegamos na sala de Filch — ele contou. — Mas ano passado entregamos a Harry, já que eu e George já temos tudo decorado — falou apontando para a cabeça. — Foi Harry quem nos contou sobre você também. Eu adoraria saber como vocês fizeram para achar todas aquel...
— Falei para parar de importunar, Weasley! Me faça repetir mais uma vez e arranjarei mais caldeirões para vocês limparem — Snape resmungou aparecendo como um vulto às costas do garoto, batendo mais uma vez com os pergaminhos na cabeça ruiva de Fred Weasley, que reclamou baixo e voltou a esfregar raivosamente.
Celine estava surpresa, ainda olhando para a cabeça abaixada e ruiva de Fred Weasley. Então eles pegaram o mapa que Sirius havia perdido? E agora estava com Harry... ela gostou de saber que ele falava bem dela por aí, só não sabia como se sentir por ele estar falando sobre algo como ela mais jovem transgredindo milhões de regras por aí e criando um mapa altamente perigoso que mostrava com precisão todas as passagens visíveis e até mesmo as não visíveis do castelo, ou então todos que punham os pés em Hogwarts, afinal, nada passa despercebido pelo Mapa do Maroto...
Agora mais velha e sendo uma professora, Celine não sabia ao certo dizer como se sentia sobre aquilo...
Quando a poção ficou finalmente pronta e Celine começou a derramar o líquido em vários frascos pequenos de vidro, à essa altura os gêmeos já haviam também terminado de limpar os caldeirões. O professor Snape conferiu os caldeirões, se impressionando e desconfiando no quanto os mesmo estavam limpos, mas dizendo aos dois que eles poderiam ter feito um trabalho melhor, ao invés daquele trabalho soberbo, porém, apenas os liberaria pois não gostaria de passar a noite toda ali com eles e, também alertou, que se caso eles aprontassem mais algumas coisa, da próxima vez a detenção seria mil vezes pior.
Os dois garotos saíram da sala desejando uma boa-noite para a professora Celine e, antes de ir embora, Fred Weasley mais uma vez tentou se aproximar da mesa onde a bruxa estava, mas foi impedido por Snape, que o segurou pela gola do uniforme e o espantou para fora da sala de poções juntamente de seu irmão.
Severus soltou um suspiro, aliviado por tirar aqueles dois dali. Ele olhou de esguelha para Celine do outro lado da sala e percebeu que a mesma já parecia estar terminando... a cabeça e pensamentos de alunos adolescentes muitas vezes conseguiam ser mais turbulentas e de fácil acesso do que as das crianças dos primeiros anos. Não que ele precisasse da Legilimência para saber o que estava passando pela cabeça de um dos gêmeos Weasley, afinal, estava estampado no rosto do garoto atrevido... mas era bastante incômodo a forma como ele não parava de pensar em Celine, o garoto parecia realmente admirado... ainda mais pela beleza da mulher...
— Professor Snape, posso conversar com o senhor antes de me retirar? — a voz de Celine se fez presente de repente, o que fez Severus a olhar surpreso.
— Claro — ele respondeu rapidamente.
Snape se mexeu inquieto e nervoso enquanto observava Celine caminhar até ele com sua maleta em mãos.
Ela parou na frente dele e o olhou nos olhos, com aqueles olhos verde-azulados o encarando com determinação. Ali, a respiração de Snape se tornou errática e ele engoliu em seco, por um momento ele pensou que não poderia julgar os pensamentos do garoto Weasley, já que os seus eram bastante semelhantes aos dele.
— Sobre esta tarde, eu peço perdão por ter feito aquilo em frente aos alunos.
Aquilo retirou uma reação honesta de Severus, que logo negou com a cabeça.
— Não há necess...
— Deveria ter deixado para agora, quando estivéssemos apenas nós dois — ela voltou a dizer, o cortando. — Vou dizer apenas uma vez, professor Snape, então preste bastante atenção.
Ela falou aquilo em sinal de aviso e, apesar de estar falando tudo tão suavemente, era obviamente um alerta.
— Se eu o ouvir falando mal de Harry Potter ou imaginar que o senhor está inventando falácias sobre o mesmo novamente, eu corto sua língua fora — ela avisou com um sorriso suave no rosto. — Se eu ver ou ouvir que o senhor o tratou da mesma maneira que hoje de tarde, ou então, pior, se eu souber que o senhor armou ou participou de algo que o faça ou fez mal...
Celine se aproximou de Severus e com a mão livre que não segurava a maleta com suas poções agora prontas, ela então tocou o peito de Severus por cima das suas várias camadas de roupas e o puxou pela capa, o fazendo se desequilibrar, mas a olhar de igual para igual, olhos pretos de ônix nos olhos verde-azulados...
Severus prendeu a respiração com a proximidade.
— Eu irei te matar... irei te fazer sofrer ainda mais! Não mexa com Harry Potter, nem ao menos pense em Harry Potter, você está me entendendo? — ela perguntou e ele rapidamente concordou com a cabeça. — Eu estou ciente do que fez à Remus no ano passado também... você é odioso.
— Eu...
— Eu deveria ter sumido com você! Te mandado para Azkaban com os outros — ela murmurou entre dentes. — É curioso como Dumbledore repentinamente se tornou apegado à você... — murmurou e então finalmente o soltou, se afastando. — ... mas não se engane, nem mesmo ele conseguiria te defender se um dia eu resolver acabar com você com as minhas próprias mãos, então fique alerta, Severus Snape. Se for um homem inteligente mesmo, andará na linha enquanto eu estiver por perto.
Celine Dorsey disse isso e então saiu da sala de poções, deixando um Severus Snape parado ao meio da sala com as pernas um tanto bambas e o coração disparado, o rosto mais branco do que o de costume.
Snape levou uma das mãos ao peito coberto, mais exatamente onde Celine havia o tocado... ela havia o tocado... e também havia dito seu nome...
Sim, é verdade que ela também havia ameaçado cortar a língua dele fora e o matar, mas no momento não era bem nisso que o cérebro de Severus estava focado, ele estava mais focado em como o hálito dela cheirava a suco de abóbora e o perfume continuava a ser doce, como o cheiro de cerejas recém colhidas e que o toque dela, apesar de ter sido acima de camadas e mais camadas de roupas, fora o suficiente para o aquecer por inteiro.
— Inferno... — ele murmurou para si mesmo, se sentando sobre uma das mesas ali próximas.
Mais um pouco e ele provavelmente teria mesmo morrido e Celine Dorsey não precisaria nem ao menos ter o jogado um feitiço ou uma maldição, apenas com aquele olhar e tão próxima assim dele... Severus mal dormiu aquela noite, encarando o teto de seu quarto enquanto tentava guardar na memória o cheiro doce de cerejas e o hálito quente de Celine Dorsey batendo contra seu rosto.
Já Celine, mesmo sentindo-se furiosa, não teve tempo de pensar demais no assunto, pois assim que chegou na carruagem de Beauxbatons, Madame Maxime a agarrou pelos ombros parecendo animadíssima, ainda acordada esperando por Celine.
— A primeira tarefa serão dragões — ela falou animada em francês, esfregando uma mão na outra. — E estamos um passo à frente!
Olímpia então contou como saiu para um passeio com "Agrid", ao qual o mesmo a mostrou as enormes, surpreendentes e magníficas criaturas. Ela parecia realmente animada, pensando ser a única a saber daquilo, porém, no dia seguinte ambas descobriram que não eram as únicas a estarem por dentro de qual seria a primeira tarefa.
Igor Karkaroff obviamente já sabia sobre os dragões e, não era por que ele havia dito algo sobre, mas sim por que ele não sabia esconder na cara velha e deslavada dele, toda vez que o mesmo encarava Madame Maxime, Celine e Fleur, parecendo contar vantagem sobre elas.
Celine obviamente alertou Harry sobre a primeira tarefa, para ela, já era injusto o bastante ele estar participando de tudo aquilo sendo forçado e ainda sendo o mais novo entre os competidores, ela simplesmente não podia o deixar chegar na primeira tarefa despreparado para o que viria, mas ela ficou bastante surpresa e intrigada quando Harry respondeu seu bilhete dizendo que já sabia sobre os dragões e que até mesmo já tinha um plano sobre o que faria contra o dragão, isso depois de Celine dizer a ele que o ponto fraco de um dragão são os olhos.
Ela ficou se perguntando o que ele faria, queria muito conversar com o garoto, porém, seria extremamente complicado se ela fosse pega conversando em particular com Harry Potter... afinal, todos já sabiam que a mesma é a madrinha dele — assim como Igor Karkaroff havia relembrado a todos — , se Celine fosse pega passando informações ou ajudando Harry, ou se alguém ao menos desconfiasse disso, as coisas apenas pioraram para ele.
Naquele mesmo dia Celine recebeu uma carta de Sirius, dizendo que conversou com Harry na Sala Comunal da Grifinória, através do Pó de Flu — ao qual ela ficou extremamente irritada com Sirius, pois ele era um fugitivo, como ela o relembrou, aquilo era se expor ao perigo e ainda colocar Harry em perigo também — , na carta ele dizia que não havia tido tempo suficiente para informar a Harry o que fazer contra o dragão, então pedia para Celine de alguma forma o auxiliar no assunto.
Pensando então que não poderia ser vista com Harry dentro do castelo, Celine enviou outro bilhete ao garoto, o pedindo para encontrá-la na Casa dos Gritos, o informando como passar pelo Salgueiro e pedindo que ele fosse com a Capa da Invisibilidade que um dia fora de James.
Debaixo da Capa da Invisibilidade, Harry atravessou os jardins e fez como Celine havia dito a ele, apertou o nó próximo às raízes do Salgueiro Lutador com o auxílio de sua varinha e andou pelo túnel subterrâneo sob o Salgueiro até chegar à Casa dos Gritos, que se encontra no vilarejo de Hogsmeade. Harry retirou a capa e olhou ao redor, ele não havia posto os pés ali desde o ano passado, com o acontecido com Sirius, Remus, Peter e o professor Snape. Ele subiu as escadas e adentrou o quarto velho e empoeirado da casa, dando de cara com Celine sentada na cama aos pedaços, olhando para a parede mais ao fundo do quarto, parecendo perdida em pensamentos.
— Olá, Harry — ela cumprimentou sorrindo, percebendo que ele estava ali e deixando seus pensamentos para lá. — Não deixou ninguém te ver, não é?
Harry então mostrou a capa nas mãos, o que fez o sorriso de Celine aumentar.
— Ótimo, agora, eu sei que é contra as regras, mas estou preocupada com você e não queremos que levantem ainda mais acusações contra você se nos virem conversando no castelo — ela explicou. — Você já sabe o que vai fazer contra o dragão?
O garoto se remexeu um tanto inquieto no lugar, a prova estava próxima e é verdade que ele estava tendo certas dificuldades com seu plano.
— Acho que sei — ele murmurou. — Sei que você me falou sobre os olhos do dragão, mas sinceramente... acho que sou melhor com uma vassoura.
Celine olhou confusa para Harry.
— Me conte sobre isso — ela pediu.
Harry sabia que só podia levar sua varinha para a prova, assim como havia sido dito, portanto, sua vassoura teria que continuar em seu quarto, na Torre da Grifinória, mas havia um feitiço que poderia o ajudar com aquilo e esse era exatamente esse o problema...
— Estava pensando em um Feitiço Convocatório — ele disse — , mas estou tendo problemas em executá-lo. Tenho treinado todos os dias com Hermione, mas mesmo assim...
Ele pareceu um tanto tímido em confessar aquilo em voz alta, mas Celine não pareceu julgá-lo por aquilo.
— Feitiços convocatórios são um tanto quanto complicados mesmo — Celine murmurou, se levantando da cama e parecendo pensar. — Eles são ensinados no quinto ano, então não se sinta mal por não conhecê-lo ainda. Venha até aqui, Harry.
Harry andou até o outro lado do quarto, onde Celine estava, ficando ao lado da mesma, que encarava a cama.
— Os Feitiços Convocatórios ficam mais fáceis quando os objetos já nos pertencem e mais complicados quando não temos tanta familiaridade assim com o objeto em questão — ela explicou e então apontou para a cama com um dos dedos, em direção de uma almofada velha e rasgada. — Tente convocar aquela almofada.
Harry se mexeu logo ao lado, deixando a capa em cima de uma cadeira de madeira roída próxima a ele, e então puxou a varinha de um dos bolsos de sua calça. Ele então se remexeu mais uma vez no lugar enquanto apontava a varinha em direção da almofada, ele estava nervoso em não conseguir e passar vergonha na frente de Celine, mas ele também tinha que confessar para si mesmo que mesmo que passasse vergonha ali, ele não estava em posição de negar ajuda de Celine, que parecia entender do assunto muito mais do que ele ou Hermione, afinal, ela era uma professora.
— Não pense muito, Harry — ela alertou de repente. — Se ficar pensando que não irá conseguir, então não irá conseguir. Apenas se concentre em fazer com que a almofada chegue até suas mãos.
Ele concordou com a cabeça e então apertou a varinha em mãos, pensando sem parar em sua cabeça "Venha até aqui, venha até aqui..."
— Accio! — ele gritou e então a almofada levitou na cama e se encaminhou para fora dela, indo em direção dele.
Harry olhou surpreso para a almofada velha e desgastada e depois, sorriu para aquilo, porém, a almofada não chegou até onde deveria chegar, que eram as mãos dele, ao invés disso, ela chegou até o pé da cama, levitou até mais um pouco longe e então, caiu com um baque surdo no chão empoeirado do quarto.
— Droga... — ele murmurou encarando a almofada.
É, provavelmente ele morreria engolido por um dragão...
— Tudo bem, não desanime, é apenas a primeira tentativa — Celine murmurou logo ao lado, acarinhando as costas dele numa tentativa de o fazer se sentir menos mal. — Agora vamos tentar com outra coisa.
Ela disse isso e então caminhou até a cadeira onde estava a Capa da Invisibilidade. Celine pegou a capa e então caminhou até a cama, depositando a mesma onde antes estava a almofada.
— Agora, você verá que convocar um objeto que lhe pertence é bem mais simples. Eu aposto que você já deve ter usado essa capa diversas vezes, sabe até mesmo como é a textura dela de cabeça, não é? — ela perguntou e Harry concordou. — Então será simples você vai ver.
Celine andou novamente em direção à Harry e voltou a ficar do lado dele enquanto o mesmo apontava a varinha na direção da capa.
— A capa é sua, Harry, ela lhe pertence e antes disso pertenceu ao seu pai, o lugar dela é em suas mãos. Pense nisso, tudo bem? Ela é sua, portanto você tem que ter a certeza de que ela virá até você.
Harry olhou determinado em direção da capa. Celine tinha razão, Harry tinha e usava aquela capa desde que tinha onze anos de idade, quando ele a ganhou de natal da mulher logo ao seu lado, sua madrinha. Ele sabia que podia fazer aquilo, ele sabia que era possível!
— Accio!
E dessa vez, a capa não apenas flutuou em uma velocidade mediana em direção à Harry, como a almofada velha havia feito, não, a capa se jogou com velocidade em direção à ele, que a pegou no último segundo, antes que a mesma o acertasse no rosto.
— Ótimo, Harry! — Celine elogiou batendo palmas. — Está vendo? Não é tão complicado assim quando o objeto já lhe pertence, portanto imagino que com sua vassoura será a mesma coisa, porém, você terá que fazer com que ela venha mais depressa em sua direção.
— Aquilo não foi depressa o suficiente? — ele perguntou exasperado.
— A capa estava logo à sua frente, a vassoura vai estar na Torre da Grifinória, terá que vir bem mais depressa em sua direção se quiser que ela chegue a tempo de lhe ajudar.
Harry concordou, Celine tinha razão. Ele ficou pensando consigo mesmo que se havia sido simples com a capa, ele imaginava que seria ainda mais simples com a Firebolt, assim como Celine havia dito, afinal, Harry tinha ainda mais afinidade com sua vassoura. Ele até pensou em sugerir a Celine que eles tentassem convocar a vassoura dali, mas então se lembrou que eles estavam na Casa dos Gritos e que ninguém poderia desconfiar que Celine estava ali com ele, o ajudando a treinar para a próxima tarefa.
— Vamos tentar mais uma vez com a almofada agora, tudo bem? Apenas para ter certeza e seria ainda melhor se você saísse daqui conseguindo convocar não apenas seus objetos, mas aqueles que não são seus também, apenas para termos certeza.
Celine voltou a falar e então ela mesma, ao lado de Harry, convocou a almofada com uma das mãos e então a jogou de volta na cama. Harry percebeu que ela fez aquilo sem o auxílio da varinha, o que o deixou um tanto impressionado, já que ele não estava conseguindo nem mesmo com a varinha em mãos.
Harry ficou treinando seu Feitiço Convocatório por um bom tempo naquela noite com o auxílio de Celine e, quando ele conseguiu convocar com precisão a almofada umas seis vezes seguidas e numa velocidade bastante boa, Celine julgou que ele já havia pego o jeito, então decidiram encerrar por ali.
— Ótimo! Realmente ótimo, Harry — ela elogiou, deixando um carinho nos cabelos do garoto que parecia orgulhoso de si mesmo. — Mas não pare de treinar, tudo bem? Quando voltar ao castelo, tente fazer o mesmo com sua vassoura. Agora, acho que deveríamos voltar, já está ficando tarde.
Os dois então andaram juntos escada abaixo e lado a lado no túnel que daria para fora do Salgueiro Lutador e nos jardins de Hogwarts.
— Obrigado por me ajudar, Celine — Harry disse de repente, enquanto os dois caminhavam lado a lado.
— Não foi nada, Harry. Se ainda tiver alguma dúvida sobre o Feitiço Convocatório, pode falar comigo e eu irei lhe ajudar com o que puder.
Harry concordou com a cabeça logo ao lado, ajeitando os óculos na ponta do nariz.
— Hum, na verdade, eu não estava apenas agradecendo por hoje, mas pelo dia com o Cálice de Fogo também — ele murmurou. — E também pelo outro dia nas masmorras, ajudando Mione e lidando com o professor Snape — ao se lembrar daquele dia, Harry deu uma risada — , ele pareceu apavorado, nunca o vi daquela forma.
Celine sorriu de lado.
— Eu não devia ter feito aquilo, não daquele jeito, pelo menos. Aposto que deve ter te trago mais problemas, não é?
Harry lembrou consigo mesmo como Draco, Crabbe, Goyle e alguns alunos da Sonserina após isso ficaram mexendo com ele, dizendo que o mesmo estava tentando se esconder nas saias de sua madrinha, porém, ele não se sentiu nem um pouco mal com isso, na verdade, ele adorou a sensação de vencer de alguma forma contra o professor Snape e principalmente contra Malfoy que, apesar de o acusar de se esconder nas saias de sua madrinha, ele mesmo se escondia sempre nas costas do pai ou então naquela capa ridícula do professor Snape, que o fazia se parecer com um velho morcego habitante das masmorras.
— Não tiveram problemas, não — ele respondeu sorridente. — Você também me presenteou com a capa do meu pai e com vários outros presentes. Obrigado por isso também — ele continuou a dizer. — Nunca recebi tantos presentes assim antes.
— Quando sua mãe me disse que eu seria sua madrinha, eu a prometi que te encheria de presentes — ela disse sorridente, parando no meio do caminho, o que fez Harry parar também. — Me desculpe por nunca ter ido te visitar na casa dos Dursley, mas eu tenho uma restrição que me impede de chegar perto deles ou da residência. Sempre imaginei que você me odiaria por isso.
— Uma restrição? — Harry perguntou confuso.
— Sim, eles nunca te contaram? — ela perguntou e ele apenas negou com a cabeça. — Bom, quando foi decidido definitivamente que você ficaria com os Dursley e não comigo, já que não consegui sua guarda, eu decidi então que te visitaria frequentemente, o que acabou não dando muito certo, pois Petúnia e aquele marido dela odeiam bruxos e... — Celine parecia raivosa enquanto contava, mas se refreou, olhando para Harry e dando um pequeno sorriso — ... uma coisa levou a outra e um dia me deixei levar pela minha raiva e acabei azarando sua tia.
Harry arregalou os olhos por detrás dos óculos redondos na direção de Celine.
— Você azarou ela?
— É, eu sei, terrível, eu não deveria ter feito aquilo, é só que... às vezes eu deixo meu mal-temperamento levar a melhor e acabo fazendo coisas como essa. Na época isso me custou uma restrição, é claro, e também quase o meu emprego como auror. Apesar de que, sendo sincera, não liguei muito em perder o emprego, mas me arrependo profundamente pela restrição, afinal, eu não podia mais ir lhe visitar.
Celine suspirou e olhou para Harry.
— Sinto muito por isso.
— Que tipo de azaração você usou? — ele perguntou animado, com um sorriso ainda mais animado no rosto.
— Furúnculos — Celine respondeu e Harry riu, imaginando a tia com furúnculos crescendo por todo o corpo.
— Eu queria ter visto isso — ele revelou ainda rindo. — Não precisa me pedir desculpas, na verdade, fico feliz que você tenha azarado ela, já que eu nunca tive a oportunidade — murmurou dando de ombros. — Você disse que tentou ter minha guarda? Eu nunca soube sobre isso também.
— Eles nunca te contaram nada, não é? — Celine perguntou e Harry apenas concordou com a cabeça, aquilo a fez se sentir tão triste por dentro.
Ela então se encostou numa das paredes de terra do túnel onde eles estavam sob o Salgueiro Lutador, Harry fez a mesma coisa do outro lado, encarando Celine, que parecia perdida em pensamentos do passado.
— Na época em que você nasceu, eu estava tendo que me manter escondida, já que estavam me caçando a peso, o que se tornou perigoso não somente à mim, mas as pessoas ao meu redor também — Celine começou a contar e Harry se lembrou do que Hermione havia contado a ele, Rony, Fred e George na Copa Mundial de Quadribol, sobre Celine e seu passado como auror.
"Não podia sair de onde estava, então infelizmente nunca cheguei perto de você quando era pequeno, apesar de conseguir te ver por conta de um meio que eu e seu pai usávamos para continuar nos comunicando. Naquela época ele e sua mãe fizeram de Sirius seu tutor legal caso algo acabasse acontecendo a eles. Eu não estava por perto para assinar os papéis já que estava me escondendo, então depois, com tudo o que aconteceu com você e seus pais e a prisão de Sirius... eles não confiavam em mim para me dar sua guarda, ficou ainda pior quando fui uma das únicas pessoas, na verdade a única, que tentou fazer com que Sirius Black tivesse pelo menos o direito de ser interrogado antes de sua prisão, o que foi negado", Harry olhou surpreso para aquilo.
— Você ficou ao lado de Sirius?
Celine soltou um longo suspiro.
— Não, não fiquei exatamente ao lado dele, mas as coisas não batiam... Sirius havia me escondido, ele me mandou para a casa de Andrômeda Tonks, prima dele, e fiquei escondida lá e, durante todo o tempo em que fiquei na casa dos Tonks, nenhum Comensal veio atrás de mim — ela contou. — Então imaginei o por que disso, se fosse mesmo Sirius Black o autor da morte de James e Lílian, por que ele também não havia me entregado para Voldemort? Ele era o único que sabia onde eu estava.
"Mas antes de tudo acontecer, Sirius havia contado a Dumbledore e Remus que ele era o Fiel do Segredo, era o que todos acreditavam e, naquela época, quem cuidava dos interrogatórios e prisões dos Comensais era Bartô Crouch. O Ministério estava a um passo de ruir, as coisas estavam feias, por isso a maioria dos que eram acusados justamente eram enviados a Azkaban, sem interrogatório ou qualquer coisa do tipo. Sirius tinha tudo contra ele. Dumbledore não confiava nele, Remus também não e, por eu ter pedido a ele o direito à um interrogatório, muitos me julgaram louca, disseram que minha mente estava instável por conta da morte de James e Lilian, que eu não estava aceitando as coisas muito bem", Celine levou uma mão a testa e afastou os cabelos, soltando mais um suspiro.
— Todos se negaram a me dar sua guarda, disseram que você estaria mais seguro com seus tios.
— Eu não acho isso — Harry murmurou baixo. — Eu gostaria que tivessem dado minha guarda a você.
Ele imaginou como teria sido crescer ao lado de Celine. Todos diziam que ela era a pessoa mais próxima de seu pai, que os dois se consideravam irmãos, então ela seria realmente como uma tia para ele, não é? Uma tia que realmente iria gostar dele. Harry também saberia desde sempre ser um bruxo, talvez Celine até mesmo ensinaria a ele alguns feitiços ou truques e então ele teria chegado em Hogwarts já sabendo de algo... ele saberia de tudo sobre seus pais também, Celine provavelmente o contaria tudo sobre eles e sobre histórias que eles viveram juntos, ela devia ter um monte delas para contar... Ela o levaria para morar junto com ela na França também? De repente Harry sentiu a vontade dentro de si de visitar a França, Celine devia conhecer vários lugares legais por lá...
— Eu com certeza estaria mais seguro com você.
Celine engoliu em seco e por um momento encarou os sapatos na terra suja.
— Ou talvez não, Harry — ela murmurou baixo. — Não tem como saber.
Harry quis rebater aquilo, dizer que pelo o que ele ouvia dizer sobre ela, ele duvidava que alguém fosse capaz até mesmo de mexer com ela, afinal, em pouco tempo ali Celine já havia o defendido em uma sala cheio de bruxos e bruxas e até mesmo fez o professor Snape retirar cinquenta pontos da própria Casa apenas com poucas palavras vindas dela, mas antes que ele pudesse abrir a boca para colocar seus pensamentos para fora, Celine voltou a falar:
— Acho melhor voltarmos, Harry, já está ficando tarde e amanhã será um longo dia — ela falou sorrindo minimamente para ele e o abraçando pelos ombros.
Os dois voltaram a andar lado a lado, com Celine o mantendo por perto o caminho inteiro. Antes que chegassem ao fim da passagem, Harry fez uma última pergunta que vinha martelando em sua cabeça...
— Foi você quem contou a Sirius sobre os dragões, não é?
Celine olhou para ele e fez uma careta com aquela pergunta.
— Sim, eu contei, mas não imaginei que ele fosse tentar se comunicar com você pela rede de Flu — ela disse parecendo agora um tanto irritada. — Às vezes me esqueço o quanto Sirius Black pode ser impulsivo. Mas não se preocupe com ele, Harry, Sirius está bem.
— Você tem se encontrado com ele?
— Não, eu ainda não o vi. Nós apenas trocamos cartas — ela respondeu e então eles chegaram ao final da passagem.
Celine parou um pouco atrás e alcançou a capa de Harry, a colocando sobre os ombros do garoto.
— Vá na frente, Harry, eu vou logo depois — ela disse. — E cuidado quando for voltar à sua comunal. Me esqueci de dizer para você trazer consigo também o Mapa do Maroto.
Harry então retirou o mapa de um dos bolsos.
— Fred Weasley me contou — ela disse quando percebeu o olhar indagador de Harry. — Agora preste atenção nos nomes quando estiver voltando e, Harry, tome cuidado com este mapa, nas mãos erradas ele pode ser extremamente perigoso — alertou.
Harry concordou com a cabeça e então, com uma despedida rápida entre eles, Harry se cobriu com a capa e saiu pelo Salgueiro, indo em direção ao castelo. Quando já estava um tanto distante, ele olhou para trás e observou Celine caminhar em direção à carruagem de Beauxbatons.
Ele estava aliviado que agora sabia usar e entendia melhor o Feitiço Convocatório. Harry se sentia mais confiante agora, talvez ele tivesse alguma chance contra o dragão... ele não via a hora de tentar utilizar o que aprendeu em sua vassoura.
Celine era realmente uma boa professora, ele tinha muita sorte em tê-la ali para o ajudar.
Pessoal, fiz uma nova playlist lá no Spotify da história, já que infelizmente perdi o acesso a outra playlist, então, deixem aqui músicas que vcs acham que combinem com a história que estarei adicionando lá, inclusive, já adicionei algumas lá que alguns de vcs me recomendaram ;) vou deixar aqui a playlist, no primeiro comentário, mas vcs também podem achar o link na minha bio, sigam lá e deixem suas recomendações ❤️
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