Capítulo Quarenta e Cinco ── A Primeira Tarefa
✧ Capítulo Quarenta e Cinco ──
A Primeira Tarefa
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Antes do dia vinte e quatro de novembro, data da primeira tarefa do Torneio Tribruxo, muitas coisas passaram a acontecer. Primeiro havia sido a terrível matéria da jornalista Rita Skeeter para o Profeta Diário, ao qual ela vitimiza tanto Harry e o fazia parecer tanto com um pobre coitado que as pessoas no castelo ao invés de sentirem raiva dele por estar competindo junto com Cedrico Diggory — que deveria ser o único campeão de Hogwarts — , passaram a sentir pena do garoto ou então a mexer com ele sobre o mesmo chorar todas as noites antes de dormir pensando em seus pais, segundo as palavras escritas de Rita Skeeter.
Celine estava obviamente preocupada com Harry, apesar dele sempre afirmar para ela que estava bem e que estava sabendo lidar com tudo aquilo muito bem. Ela não acreditava muito naquilo, ela sabia que a grande maioria dos alunos da Grifinória estavam felizes por terem Harry como um dos campeões, porém, a outra grande maioria da escola não estava e portanto o ignorava ou o tratavam mal. A única pessoa que Celine via Harry ultimamente era com sua colega, Hermione Granger. Parecia que até mesmo Rony Weasley havia deixado de falar com Harry e, além de tudo isso para o preocupar, havia também a prova que se aproximava a cada dia que passava, com um dragão para ele enfrentar cara a cara. Celine não podia fazer muito por Harry sem chamar a atenção, infelizmente, mas eles continuavam se encontrando algumas noites na Casa dos Gritos para que ela o ajudasse com seus Feitiços Convocatórios e em todas essas noites eles sempre conversavam sobre várias coisas, uma delas era Celine sempre o aconselhando a não ligar muito para o restante dos estudantes, que aquilo tudo logo passaria com o final do torneio.
E enquanto Celine treinava Harry a noite às escondidas, de dia, ela e Madame Maxime treinavam Fleur Delacour, que parecia muito mais confiante e apta, certa de que conseguiria passar pelo dragão que lhe fosse escolhido no dia da prova.
Certo dia numa tarde dentro do castelo, Celine deu de cara com Igor Karkaroff, que estava se mostrando uma grande pedra em seu sapato. "Preciso de apenas um pequeno deslize seu...", ele disse levantando um dedo na direção de Celine, "...de que está ajudando Harry Potter e então será o fim para os dois", o bruxo continuou tentando soar ameaçador, mas apenas ganhou um olhar cético de Celine e uma resposta vinda de suas costas, pois a mulher nem mesmo se importou em respondê-lo, o que havia o deixado verdadeiramente furioso.
Com tudo isso acontecendo, Celine se encontrava afundada até os cabelos em preocupações e deveres e, por conta disto, ela acabou se esquecendo completamente de sua conversa alguns dias atrás com Sir Nicholas de Mimsy-Porpington, ao qual ela havia dito que voltaria para mais conversas empolgantes com o mesmo.
— Senhorita Dorsey — o fantasma chamou a mesma, atravessando as paredes de pedra da sala de poções nas masmorras e a assustando onde estava.
Celine saltou próximo a bancada onde estava, largando algumas ervas que ela cortava para a poção do Mata-Cão. Já era início de novembro e Celine estava ali na sala de poções pela segunda vez, porém, naquele momento, a mesma se encontrava sozinha, já que não havia alunos cumprindo detenções e muito menos o mestre de poções de Hogwarts, que no momento, se encontrava em seus aposentos e havia deixado a sala de poções nas mãos de Celine. Não que ele parecesse confiar nela com aquilo — na verdade, Celine não acreditava nem um pouco nisso — , ela acreditava que, devido a última conversa de ambos ali naquela mesma sala, Severus Snape agora se encontrava menos inclinado a ficar numa sala solitária com Celine Dorsey.
— Me perdoe, não era minha intenção assustá-la — Sir Nicholas voltou a dizer, observando Celine levar uma das mãos ao coração devido a entrada repentina do fantasma ali.
— Sir Nicholas — ela cumprimentou depois de uma lufada e outra de ar, se recuperando de seu susto. — Mas que surpresa.
O fantasma da Grifinória fez um leve cumprimento com a cabeça, que continuou firme em seu pescoço devido aos babados grandes e pomposamente arrumados na gola de suas vestes de fantasma.
— Soube que o professor Snape confiou a sala de poções à senhorita, então vim aqui visitá-la — ele comentou. — Não é do feitio dele, o professor Snape, uma coisa dessas, imagino então que continuem sendo amigos mesmo depois da escola?
Celine soltou uma pequena risada nasalada com aquilo.
— Longe disso — ela respondeu. — Ele apenas me deve alguns favores, apenas isto.
O fantasma olhou um tanto cético na direção da bruxa.
— Entendo — ele murmurou. — Fiquei me perguntando por onde andava a senhorita, as coisas no castelo nunca estiveram tão agitadas.
— Realmente — Celine disse concordando com a cabeça. — Me perdoe por não ter o procurado, ultimamente as coisas estão realmente agitadas. São os alunos para lidar, o torneio, poções para Remus e até mesmo alguns professores inconvenientes...
— Imagino que esteja falando de Igor Karkaroff — ele comentou e Celine logo concordou com a cabeça, pensando em Severus Snape também. — Ele já sabe sobre a prova — Sir Nicholas observou. — E a senhorita também.
Celine concordou com a cabeça, não adiantava negar.
— Sim, estão todos jogando com tudo o que tem, como pode perceber.
— Realmente e, apesar de alguns de nós ficarmos sabendo primeiro qual seria a primeira tarefa — ele comentou apontando para ele mesmo, indicando que o "nós", significava os fantasmas do castelo — , não foi nenhum dos nossos que espalhou a notícia por aí.
— Fiquei sabendo primeiro por Madame Maxime, que soube por Hagrid — ela contou.
Celine se sentia confortável em conversar com Sir Nicholas e em confidenciar aquilo, afinal, ela sabia que ele tinha um grande ar para fofocas, porém, não sairia por aí fazendo mal aos outros por conta delas. Ele era apenas um fantasma muito curioso, afinal, não havia muito mais a se fazer apenas zanzando por aí pelo castelo.
— Um ótimo bruxo, o Hagrid, mas também muito empolgado com novidades, ainda mais se essas novidades envolvem criaturas enormes e perigosas — ele comentou e Celine deu uma pequena risada enquanto continuava a dar andamento à sua poção.
— E apesar disso, eu duvido muito que tenha sido ele quem contou à Karkaroff qual seria a primeira tarefa — ela disse. — Não faça ideia de como ele tenha descoberto, mas também não duvido da sede de ganhar do diretor de Durmstrang.
— Ele estava na floresta juntamente com Hagrid e a diretora de Beauxbatons, na noite em que ambos se encontraram, escondido por entre as árvores — Sir Nicholas contou e Celine olhou surpresa para ele.
— Vocês sabem mesmo de tudo, não é? — ela comentou risonha. — Não sei por que estou surpresa com isso.
Sir Nicholas flutuou até mais próximo a bancada de Celine, dando de ombros e olhando curiosamente para dentro do caldeirão, observando o que ela estava fazendo.
— Não há muito para os fantasmas e quadros nas paredes ocuparem seus tempos então, toda vez que alguém faz algo pensando estar fazendo isto extremamente escondido, a senhorita pode apostar que não está — ele disse e Celine não pôde discordar daquilo.
Realmente, os quadros e fantasmas do castelo sabiam sobre a grande maioria das coisas e o restante das pessoas nem ao menos imaginava tal coisa pois mesmo estando todos cientes dos fantasmas e quadros, a grande maioria dos alunos ou bruxos pareciam não os levar a sério, assim como os elfos na cozinha, a maioria dos alunos nem ao menos desconfiava que haviam dezenas deles ali em Hogwarts.
Mas Celine também sabia que os fantasmas e quadros não sabiam de tudo, como por exemplo; a Casa dos Gritos. A grande maioria dos fantasmas acreditava que os fantasmas que residiam por lá eram grotescos e nem um pouco amistosos, isso devido aos boatos que Celine, James e Sirius viviam espalhando na época da escola, com a ajuda de Dumbledore, é claro. E havia sido exatamente por isso que Celine havia escolhido aquele lugar para se encontrar com Harry e ajudá-lo, lá não tinha como os descobrirem.
Era difícil manter um segredo em Hogwarts, mas não era impossível.
— Harry Potter também sabe sobre a primeira prova, está treinando incansavelmente com Hermione Granger — Sir Nicholas comentou de repente e Celine fingiu ar de surpresa olhando para a imagem translúcida do fantasma. — Primeiro, achei que tinha sido a senhorita que contou, mas então, descobri que não.
Celine obviamente já estava ciente de tudo isso, mas mesmo assim fingiu não saber de nada quando Sir Nicholas começou a contar sobre tudo.
— Imagino que tenha sido Hagrid também — ela deu seu palpite.
Ela não sabia como Harry havia descoberto sobre os dragões e nunca havia o perguntado, mas imaginava que da mesma forma que Hagrid havia contado à Olímpia por ter se afeiçoado a ela, ele devia ter contado a Harry, pois a mesma sabia que ambos eram bastante próximos um ao outro.
— Também imaginei isso, porém, imagine minha surpresa quando descobri que havia sido o professor Moody — ele contou e Celine ergueu uma sobrancelha genuinamente surpresa com a novidade.
Moody? Por que Alastor faria uma coisa dessas e não a informaria? Aquilo realmente fez Celine piscar surpresa na direção de Sir Nicholas, que pareceu bastante satisfeito com a reação dela.
— Isto... é realmente surpreendente — ela comentou.
— Achei que ele não fosse de favoritismos, o professor Moody, mas por um lado eu consigo compreendê-lo, afinal, Harry Potter está em desvantagem se comparado aos demais — ele disse e Celine concordou.
Depois de conversarem mais um bocado sobre como seria a prova e sobre os dragões, terminando finalmente sua poção e enfrascando todas, Celine se despediu de Sir Nicholas e foi se deitar em seu quarto na carruagem de Beauxbatons. Em seu quarto, ela encarava o teto de madeira pensando consigo mesma nos motivos que Alastor teria para ajudar Harry e não a manter informada disso, afinal, eles estavam ali pelo mesmo motivo, certo?
O dia vinte e quatro de novembro finalmente havia chego, Celine estava sentada na arquibancada que havia sido montada nos jardins de Hogwarts para sediar a primeira prova do torneio Tribruxo que aconteceria dali a pouco. Ela havia conversado com Fleur, que parecia bastante nervosa, porém, depois de assegurar que a mesma se sairia bem na tarefa, a garota finalmente tomou coragem e rumou em direção à barraca montada para os campeões. Agora, Madame Maxime se encontrava lá com a mesma, até o momento em que a dispensassem e, enquanto isso, Celine se encontrava com os demais alunos de Beauxbatons nas arquibancadas. Depois de um pequeno tempo, ela conseguiu ver Harry Potter sair pelo castelo acompanhado da professora McGonagall, que o guiou até a barraca dos campeões onde Celine sabia que Fleur, Viktor e Cedrico já se encontravam, o único que faltava ali era Harry. Ela suspirou assistindo os dois adentrarem a barraca e sumirem lá dentro. Celine esperava que ele estivesse sentindo-se confiante, que se saísse bem na prova e que, por Merlim, nada de mal o acontecesse ali.
Pouco tempo depois, Celine viu Alastor também passar pelas portas do castelo e sair em direção dos jardins e das arquibancadas, ela logo se pôs de pé e acenou em direção do bruxo, que não perdeu tempo em mancar com sua perna de madeira em direção de Celine, pisando em um pé e outro de alguns alunos no caminho, que faziam caretas de dor e olhavam torto na direção do professor.
— Primeira prova hum — ele disse assim que chegou até Celine. — Todos parecem bastante animados — Alastor falou olhando para os alunos que se contorciam de animação nos bancos e depois para os professores sentados não muito distante dali, que pareciam ansiosos também.
Celine cedeu espaço ao seu lado no banco de madeira e então Moody se sentou ali, logo abrindo seu enorme casaco e tirando dali seu tão conhecido cantil de bolso, bebericando um pouco do conteúdo que ali continha.
— Sim, espero que comece logo — ela murmurou apreensiva. — Estive esses dias querendo conversar com você, mas parece que nós dois estamos bastante ocupados ultimamente.
E era verdade, Celine vivia com seus alunos de um lado ao outro do castelo, os ensinando o melhor que conseguia ou então, os levando até Hogsmeade para matarem o tempo. Enquanto isso, Madame Maxime orientava Fleur e, quando a mesma dava um descanso, Celine tomava seu lugar nas orientações. Depois de sua última conversa com Sir Nicholas, Celine quis muito conversar a sós com Alastor, mas nunca parecia surgir a oportunidade para tal.
— Hum, esse torneio está sendo uma grande dor de cabeça, se quer saber minha opinião — Alastor resmungou em desagrado. — Várias coisas para se fazer e, além disso, sempre manter os olhos bem alertas ao redor... se é que me entende.
Celine concordou com a cabeça, deslizando pelo banco e ficando mais próxima de Alastor. Ela se inclinou para frente e então, Moody a olhou de esguelha com uma sobrancelha erguida em confusão.
— Você já sabe sobre a prova — ela sussurrou para que somente ele escutasse. — Fez Hagrid contar a Harry.
A sobrancelha de Moody subiu mais alguns centímetros em sua testa.
— Pensei ter sido bastante sutil em minhas ações — ele murmurou. — Mas vejo que não.
— Poucas coisas passam despercebidas por mim — Celine murmurou de volta com um pequeno sorriso nos lábios. — Por que não me contou?
— Não achei que fosse necessário, afinal, nós dois queremos o melhor para o garoto.
— É, mas não imaginei que você o ajudaria nas provas — ela respondeu franzindo a testa.
Moody deu de ombros, enquanto guardava seu cantil de volta no bolso interno de seu casaco.
— Ele está em desvantagem como você mesma disse diversas vezes — ele falou baixo. — Saber sobre a prova e sobre um feitiço que o ajudasse era o mínimo que eu poderia fazer, hum?
— Foi você quem o falou sobre o feitiço convocatório?
— Sim, foi — ele respondeu e então voltou sua atenção ao gramado, dando o assunto por encerrado.
Celine também voltou a encarar a barraca dos campeões, observando Ludo Bagman sair pela entrada da tenda e ir em direção ao palanque montado para ele, que narraria a prova e aos diretores das escolas, que dariam suas notas.
Enquanto os diretores saiam logo atrás de Bagman, Celine pensava consigo mesma que no fim, Alastor ter feito aquilo tinha sido uma boa coisa, afinal, ele sabia que ela não podia ser vista por aí com Harry — não se ela não quisessem que desconfiassem ainda mais que ela o estava ajudando — e, sabendo disso, talvez, tenha sido exatamente o por que de Moody ter tido a ideia de ajudar Harry.
Olhando de esguelha para Alastor logo ao lado, Celine pensou nos tempos em que eles trabalhavam lado a lado como aurores no Ministério. Naquela época Alastor era uma das poucas pessoas com as quais Celine tinha para falar, afinal, já não havia mais James, Sirius estava em Azkaban, Peter dado como morto e Remus não falava com ela por conta de Celine duvidar da culpa de Sirius então, os únicos que ela realmente podia conversar e cintar na época eram Dumbledore e Alastor... os dois a haviam ajudado tanto na época, com a morte de seu pai ou com o estado que sua mãe havia ficado, com todas as suas perdas... Alastor era um homem bruto e desconfiado, isso era inegável, mas ele sempre fora um bom ouvinte e realmente se importava com ela, não tinha por que ela duvidar dele.
Um apito soou ao longe, chamando a atenção de Celine para o presente momento. Ludo apontou a varinha para a garganta e então deu as boas-vindas a todos, explicando novamente e rapidamente como a prova aconteceria e, depois, chamou o primeiro campeão.
"Cedrico Diggory!", ele gritou e então momentos depois o garoto saiu pela barraca, com o rosto verde e desengonçado, parecendo temeroso. Ele então se encaminhou para um cercado não muito distante dali e o adentrou e, ao adentrar o cercado, do outro lado, não muito tempo depois, um enorme dragão surgiu das sombras; um Focinho-Curto sueco.
De dentro da barraca dos campeões, Harry Potter se encontrava sentado e extremamente nervoso enquanto observava Fleur Delacour andar de um lado ao outro da barraca, enquanto isso Viktor Krum estava sentado não muito distante dos dois, observando o chão com bastante atenção.
Ao lado de fora, ouvia-se o berro dos espectadores, o que significava que Cedrico entrara no cercado e agora estava cara a cara com o modelo vivo da figurinha de dragão que havia tirado mais cedo, que o fez ser escolhido como o primeiro da prova.
Foi pior do que Harry poderia ter imaginado, ficar sentado ali apenas escutando. A multidão gritava... urrava... exclamava a todos pulmões enquanto Cedrico fazia o que quer que estivesse fazendo para tentar passar pelo Focinho-Curto sueco. E os comentários de Bagman tornavam tudo ainda pior, fazendo imagens horrendas se formarem na mente de Harry, quando ele ouviu: "Aaah, por um triz, por muito pouco"... "Ele está se arriscando, o campeão!" ... "Boa tentativa! Uma pena que não deu resultado!".
Então, uns quinze minutos depois, Harry ouviu um urro ensurdecedor que só poderia significar uma coisa: Cedrico conseguira passar pelo dragão e se apoderara do ovo de ouro.
"Realmente muito bom!", gritou Bagman... "E agora as notas dos juízes!", mas ele não irradia as notas; Harry supôs que os juízes estivessem erguendo as notas no alto, para mostrar à multidão.
— Um a menos, faltam três! — berrou Bagman, quando o apito tornou a tocar. — Senhorita Delacour, queira fazer o favor!
Fleur tremia da cabeça aos pés; Harry sentiu mais simpatia por ela quando a mesma deixou a barraca de cabeça erguida e a mão apertando a varinha. Ele e Krum ficaram a sós, em lados opostos da barraca, evitando se olhar.
E então, recomeçou o mesmo processo...
— Ah, não tenho muita certeza se isto foi sensato! — os dois ouviam Bagman dizer animadamente. — Ah... quase! Cuidado agora... meu bom Deus, pensei que já tinha apanhado!
Dez minutos depois, Harry ouviu a multidão prorromper em aplausos mais uma vez... Fleur devia ter sido bem-sucedida também. Uma pausa, enquanto os juízes mostravam as notas de Fleur... então mais palmas... então, pela terceira vez, o apito.
— E aí vem o senhor Krum! — exclamou Bagman e o garoto saiu curvado, deixando Harry completamente só.
Harry sentia-se muito mais consciente do seu corpo do que normalmente; consciente de que seu coração batia acelerado e seus dedos formigam de medo... mas, ao mesmo tempo, ele parecia estar fora do próprio corpo, vendo as paredes da barraca e ouvindo a multidão, como se estivesse muito longe...
— Muito ousado! — berrava Bagman e Harry ouviu o dragão de Krum, o Meteoro-Chinês, soltar um enorme e terrível urro, enquanto a multidão parecia prender a respiração em uníssono. — Que sangue-frio ele está demonstrando... e... sim, senhores, ele apanhou o ovo!
Os aplausos romperam o ar invernal como se espatifassem uma vidraça; Krum terminara — seria a vez de Harry a qualquer momento.
Harry se levantou, reparando vagamente que suas pernas pareciam feitas de marshmallow. Ele então aguardou. Então ouviu o apito tocar. Cruzou, então, a entrada da barraca, o pânico se avolumando dentro dele enquanto passava pelas árvores e atravessava uma abertura pela cerca.
Ele via tudo diante de si como se fosse um sonho berrante e colorido. Havia centenas e mais centenas de rostos nas arquibancadas que o olhavam e, também, havia o Rabo-Córneo, o enorme dragão, do outro lado do cercado, deitado sobre sua ninhada de ovos, as asas meio fechadas, os olhos amarelos e malignos fixos nele, um lagarto negro, monstruoso e coberto de escamas, sacudindo com força o rabo de chifres, que deixava marcas de um metro de comprimento escavadas no chão duro. A multidão fazia uma barulheira infernal, mas, se era simpática ou não a ele, Harry não sabia e nem se importava. Era hora de fazer o que tinha que fazer, assim como Celine havia o instruído... focalizar a mente, inteira e unicamente, na coisa que era sua única chance...
— Accio Firebolt! — ele grita erguendo a varinha.
Então, esperou, cada fibra de seu corpo desejando, pedindo... se não funcionasse... se não tivesse a caminho...
Nas arquibancadas, Celine observava tudo prendendo a respiração e contorcendo as mãos uma contra a outra, torcendo para que a vassoura chegasse até Harry logo. E então, eles a ouviram, cortando o ar. Harry se virou e viu a Firebolt disparando em sua direção, começando a sobrevoar a floresta, chegando ao cercado e estancando imóvel no ar, aguardando que ele a montasse. A multidão fez estardalhaço... Bagman gritou alguma coisa... mas os ouvidos de Harry não estavam mais ouvindo bem... ouvir não era importante, não naquele momento.
Ele passou a perna por cima da vassoura e deu impulso contra o chão, subindo e subindo, indo cada vez mais alto... Celine e os demais assistiam boquiabertos enquanto Harry mergulhava com sua vassoura de repente e a cabeça do Rabo-Córneo o acompanhou; mas o garoto sabia o que estava fazendo, e se recuperou do mergulho bem na hora; um jorro de fogo fora cuspido exatamente no ponto em que ele estaria se não tivesse se desviado a tempo... ele desviada como se aquele fosse apenas mais um jogo de quadribol e o fogo fossem apenas balaços atrás dele...
— Nossa, como ele sabe voar! — berrou Bagman, enquanto a multidão gritava e exclamava. — O senhor está assistindo a isso, senhor Krum?
Harry então voou mais alto, em círculo; o Rabo-Córneo continuava acompanhando seu progresso; sua cabeça girava sobre o longo pescoço. Harry se deixou afundar rapidamente na hora em que o dragão abriu a boca, mas desta vez teve menos sorte — ele escapou das chamas, mas o bicho chicoteou o rabo para o alto ao seu encontro e, quando ele virou para a esquerda, um dos longos chifres arranhou seu ombro, rasgando suas vestes... Harry sentiu seu ombro arder, ouviu os gritos e gemidos da multidão, mas o corte não parecia ser muito fundo... agora, ao passar veloz pelas costas do Rabo-Córneo, ocorreu-lhe uma possibilidade...
O dragão não parecia estar querendo voar, estava muito preocupado em proteger a ninhada. Embora se contorcesse e abrisse e fechasse as asas sem tirar aqueles medonhos olhos amarelos de Harry, tinha medo de se afastar demais dos ovos... mas o garoto precisava persuadi-lo a fazer isso ou jamais conseguiria chegar perto deles. O truque era fazer isso cautelosamente, gradualmente...
Harry começou a voar, primeiro para um lado, depois para o outro, suficientemente longo para o dragão não conseguir o perfurar, mas, ainda assim, oferecendo ameaça o suficiente para o dragão não tirar os olhos dele. A cabeça do bicho virava de um lado ao outro, acompanhando o garoto com as presas à mostra...
Harry então voou mais alto. A cabeça do Rabo-Córneo se ergueu com ele, o pescoço agora esticava-se ao máximo, ainda se movendo, como uma serpente diante do seu encantador...
O garoto subiu mais alguns palmos e o bicho soltou um rugido de exasperação. Harry era como uma mosca para ele, uma mosca que o dragão gostaria de amassar; seu rabo tornou a chicotear, mas Harry estava demasiado alto para que pudesse alcançá-lo... o dragão cuspiu fogo para o ar, Harry se desviou... as mandíbulas do bicho se escancararam...
— Anda — sibilou Harry com impaciência, fazendo voltas irresistíveis no ar —, anda, vem me pegar... levanta, agora...
Então o dragão se empinou, abrindo finalmente as poderosas asas negras de couro, grandes, enormes... Harry mergulhou. Antes que o dragão percebesse o que ele fizera, ou onde desapareceu, o garoto estava a toda velocidade para o chão em direção aos ovos, agora sem a provação das patas com garras do dragão — Harry soltou as mãos da Firebolt — , agarrou o ovo de ouro...
E, com um grande arranco, voltou a subir e parou no ar, sobre as arquibancadas com o pesado ovo bem preso sob o braço bom, e era como se alguém tivesse acabado de aumentar o volume do som — pela primeira vez ele tomou realmente consciência do barulho da multidão, que gritava e aplaudia com tanta animação, como se estivessem assistindo a Copa Mundial de Quadribol.
— Olhem só para isso! — berrava Ludo Bagman. — Por favor, olhem para isso! Nosso campeão mais jovem foi o mais rápido a apanhar o ovo! Bom, isto vai diminuir bastante a desvantagem do senhor Potter.
Enquanto os guardadores de dragões se adiantavam em direção ao Rabo-Córneo, a professora McGonagall, o professor Moody e Hagrid corriam em direção à Harry.
— Foi excelente, Potter! — exclamou a professora McGonagall quando Harry desmontou da Firebolt. Harry reparou que a mão da professora tremia quando apontou para o seu ombro. — Vai precisar procurar Madame Pomfrey antes que os juízes anunciem sua nota...
— Você conseguiu, Harry! — exclamou Hagrid, rouco. — Você conseguiu! E ainda por cima contra o Rabo-Córneo e, sabe, o Carlinhos disse que esse era o pior...
— Obrigado, Hagrid! — disse Harry em voz alta, para que o bruxo não se atrapalhasse e acabasse revelando que foi ele quem acabou falando sobre os dragões.
O professor Moody parecia muito satisfeito também, seu olho mágico dançava na órbita.
— Devagar se vai longe, Potter — rosnou ele. — Celine me pediu para avisar que depois irá falar com você, se é que me entende... e também me pediu para parabenizá-lo!
Harry concordou com a cabeça, ele entendia que ela não podia estar ali agora, provavelmente estava com Fleur e os demais alunos de Beauxbatons, mas ele estava feliz em saber que ela pelo menos o assistiu. Ele mal via a hora de poder comentar sobre tudo aquilo com ela.
— Certo, então, Potter, para a barraca de primeiros socorros, por favor — disse a professora Minerva.
Harry saiu do cercado ainda ofegante e viu Madame Pomfrey parada na entrada da segunda barraca com um ar preocupado.
— Dragões! — ela exclamou com a voz desgostosa, puxando Harry para dentro.
Lá dentro, ele se encontrou com Hermione e Rony — o que foi bastante inesperado, já que o mesmo estava sem falar com Harry desde o dia em que o nome do mesmo havia saído do cálice. Hermione o parabenizou animada, mas também parecia aliviada, seu rosto estava todo marcado com rastros de suas unhas, pois ela se arranhou enquanto assistia Harry contra o dragão e, Rony, se desculpou com o amigo com um "Quem quer que tenha posto seu nome naquele cálice, eu... eu reconheço que estava tentando acabar com você!" e então, ele se colocou a contar para Harry como os demais campeões haviam se saído na tarefa:
— Você foi o melhor, sabe, ninguém foi páreo para você. Cedrico fez uma coisa estranha, transfigurou uma pedra no chão... transformou-a em cachorro... estava tentando fazer o dragão avançar no cachorro e não nele. Bem, foi uma transfiguração legal, e até funcionou, por que ele apanhou o ovo, mas ele também se queimou, o dragão mudou de ideia no meio do caminho e decidiu que preferia pegar ele ao invés do labrador, Cedrico escapou por um triz. E a tal da Fleur tentou uma espécie de feitiço, acho que estava querendo fazer o dragão entrar em transe, bom, isso também funcionou, o bicho ficou sonolento, mas aí soltou um ronco e cuspiu um grande jorro de chamas e a saia dela pegou fogo, ela apagou com um pouco de água tirada da varinha. E Krum, você não vai acreditar, mas ele nem pensou em voar! Mas, provavelmente, foi o melhor depois de você. Atacou o dragão com um feitiço bem no olho. Só teve um problema, o bicho saiu andando agoniado e amassou metade dos ovos de verdade, ele perdeu pontos por causa disso, Krum não devia ter danificado a ninhada.
Logo após ser tratado por Madame Pomfrey, Harry saiu da barraca acompanhado de seus amigos para receber suas notas, ali, ele já não estava mais sentindo-se tão nervoso.
Madame Maxime foi a primeira, erguendo a varinha no ar e desenhando um oito, logo depois Crouch, lançando ao ar o número nove.
— Estamos indo bem! — exclamou Rony sorridente.
Depois foi a vez de Dumbledore, ele também projetou o número nove no ar e a multidão aplaudiu com entusiasmo. Ludo Bagman ergueu a varinha e deu um dez.
— Dez? — disse Harry incrédulo. — Mas... eu me machuquei... qual é a dele?
— Harry, não reclama! — berrou Rony, animado.
O último a votar foi Igor Karkaroff, que ergueu a varinha, parou por um momento e em seguida desenhou o número quatro no ar.
— Que? — Bradou Rony furioso. — Quatro? Seu bosta desonesto, você deu dez ao Krum!
Mas Harry não se importou com aquilo. No fim, ele e Krum estavam empatados em primeiro lugar.
Mais tarde, quando todos já estavam deixando os jardins, Harry, andando lado a lado com Rony e Hermione, viu Celine não muito longe dali, acenando em sua direção. Ele sorriu e deixou os amigos irem em frente, correndo em direção de Celine.
— Harry, você foi sensacional! — ela elogiou quando ele parou em frente a ela. — Uma verdadeira aula em cima daquela vassoura! — ela disse enquanto acarinhava os cabelos dele.
Harry sorriu e agradeceu.
— Mas ainda assim, eu me machuquei — ele falou mostrando o braço. — Podia ter sido melhor — disse dando de ombros.
Celine fez uma careta encarando o braço dele.
— Besteira. Como está seu braço?
— Vai ficar bem, Madame Pomfrey já cuidou dele, já não estou sentindo mais dor — ele explicou e Celine concordou com a cabeça, ainda mirando o braço machucado dele. — Hum, obrigado por ter me ajudado. Não sei se eu teria conseguido sem você — Harry sussurrou.
O rosto de Celine se iluminou com um grande sorriso.
— Besteira novamente, tenho certeza que você teria se saído muito bem sem a minha ajuda, você é um garoto muito inteligente, Harry — ela falou sorrindo e mais uma vez bagunçando os cabelos dele. — Agora, me conte sobre aquelas manobras, onde as aprendeu?
Harry sorriu grande para aquilo, logo em seguida começando a contar para Celine sobre Oliver Wood e seu primeiro ano em Hogwarts, quando ele entrou para o time de quadribol da Grifinória e que quando montou numa vassoura pela primeira vez, era como se ele já fizesse aquilo há tempos, como se tivesse nascido para aquilo.
— Idêntico ao seu pai.
E então os dois passaram uma hora inteira conversando sobre quadribol e sobre James Potter. Quando Harry saiu dali e se dirigiu em direção à Comunal da Grifinória, ele se sentiu genuinamente feliz.
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