Notas iniciais

E esse é o último capítulo!

Nos vemos nas notas finais lá embaixo <3

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"And I'll gamble away my fright

And I'll gamble away my time

And in a year, a year or so

This will slip into the sea

Well it's been a long time, long time now

Since I've seen you smile"

Nantes, Beirut

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A M O R

Saltou do telhado para o muro, seu olho amarelo brilhante com a luz do luar. Os passos leves seguiram em linha reta, até a bancada e olhou para dentro, sua cauda se movendo lentamente.

O menino-perdido-em-seu-próprio-mundo estava lá, sentado no piano, tocando uma música. Os olhos verdes pareciam menos apagados, mais brilhantes, as mãos pequenas movendo com maestria, os sons ganhando a noite.

Nas outras bancadas outras pessoas ouviam. A mama que havia perdido seu filho há alguns meses sorria pela primeira vez desde então.

O papa que sentia falta dos filhos que nunca vinham lhe ver, estava sentado na poltrona, bebendo chá e apreciando a música.

As duas irmãs que estavam brigadas haviam voltado a se falar e estavam rindo enquanto bebiam vinho.

A garotinha que não conseguia dormir a noite com medo de monstros, dormia tranquila ao som do piano no sofá.

A música e as notas podiam ser ouvidas de formas tão diferentes, mas agora elas praticamente falavam por si só: amoramoramoramor.

E o amor era escutado.

Sentou na mureta, voltando os olhos ao apartamento enquanto lambia sua pata.

O homem-triste-com-olhos-de-guerra estava feliz. Os olhos pareciam menos assombrados, ele quase não gritava mais durante a noite. E quando ele gritava, o outro homem-dos-olhos-coloridos estava lá, junto ao menininho. O homem-dos- olhos-coloridos iria o ajudar, como agora. Estavam sentados juntos, a cabeça de um deles recostada no ombro do outro, a mão do homem-dos-olhos-coloridos acariciando os cabelos pretos em um gesto natural, enquanto o outro começava a cochilar.

Amoramoramor. A M O R.

Com um último ronronar satisfeito, saltou da mureta para o balcão.

Não precisavam mais dele ali, tudo ficaria bem, só tinha que fazer uma última coisa.

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Êtes-vous contents?

Ela o viu enquanto olhava a vitrine do outro lado da rua. Havia passado pelo menos três vezes nessa semana, vendo os livros sendo exibidos.

Às vezes entrava e perguntava quantos haviam sido vendidos, tinha que admitir. Lembrava de Franz Kafka, que havia entrado em uma livraria e perguntado quantos livros seus haviam sido vendidos.

'11' disse o atendente.

'Bem, 10 deles foram eu, isso quer dizer que uma pessoa comprou meu livro.'

Sua irmã havia rido quando falou isso pelo telefone.

Esperava não chegar a isso. Nessa semana havia saído 13 livros.

Admitindo que 3 haviam sido ela mesmo que comprou, estava indo melhor do que Kafka, e talvez não tivesse que esperar morrer para ter sucesso.

As cópias ela havia enviado ao café antes de se mudar, uma para a moça, as outras duas para o menininho do éclair de limão, e o homem dos post-its laranja. Junto com as duas cópias, um bilhete simples em agradecimento, uma breve explicação sobre um certo gato que gostava de se meter na vida alheia e ajudar, sobre um éclair de limão, post-its e mensagens que passavam por ela, como testemunha de uma história que havia gerado a sua própria.

Uma história sobre gestos de amor, superação dos medos, um gato mágico que saia mudando a vida das pessoas a seu gosto, unindo fios, embaralhando e desembaralhando-os a seu gosto.

Falando em gato.

-Ah, então você apareceu, vagabond. O que faz aqui, tão longe, hn? Quer conhecer meu apartamento novo? Está muito frio aqui fora, gato bobão.

Ele a olhava do outro lado da rua, da sua forma de sempre. De alguém que sabia um segredo próprio e que não iria contar.

Atravessou a rua naquela tarde fria, e se agachou, tocando no pelo mesclado. O sentiu vibrar na sua mão, se esfregando nela, até que visse o bilhete na coleira.

Um post-it na forma de gato, de cor rosa vibrante. A letra infantil e conhecida.

-Ah, então eles já receberam as cópias?

Estava ali as curvas nos 'o's, em caneta azul brilhante.

Êtes-vous contents?

Sorriu.

Com sua resposta, Vagabond se esfregou em sua mão, lhe lançando um último olhar ao virar a esquina.

Nunca mais o viu.

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Au revoir

Êtes-vous contents?

'Oui. : - ) '

O menino-antes-perdido, e o homem-antes-triste sorriram, os olhos seguindo a figura mesclada por cima do muro, até ele saltar o telhado, com um último fitar do olho amarelo em direção aos dois que acenavam pela última vez.

Seu trabalho ali estava terminado.

-Au revoir, vagabond.

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Notas finais

Bonjour!

Obrigada por participarem de mais uma aventura. Essa história foi escrita como meu projeto no Camp NanoWrino, com uma ideia que, sinceramente, não tenho certeza de onde surgiu. Talvez do gato que sempre mia perto da minha janela a noite? Quem sabe.

Agora, algumas observações sobre a história:

- O gato caolho é mágico? -Quem sabe! O que vocês acham? Talvez ele seja um gato como todos os gatos, o que bem, já o faz bem especial. Talvez ele seja como o gato que a escritora imagina, uma entidade mágica que entra na vida das pessoas quando elas mais precisam e faz seu trabalho de as unir. 'Rindo do planejamento dos humanos.'

-A escritora tem parte com José Saramago? – Quem aí percebeu que em mais de 10000 palavras o nome de nenhum personagem foi citado? Pois é, eu só percebi nas 8k e resolvi continuar sem os nomes haha. Alguém tinha percebido?

-Do que se trata o livro da escritora? – 'Uma história de como o amor vence o medo' e de 'como pequenos gestos fazem a diferença'. Gosto de imaginar que a história dela pode ser sobre cada um de nós, então a imaginem como quiserem.

-E esse francês aí? – Não estudo Francês há 5 anos, então perdoem e corrijam qualquer erro dessa pobre alma.

-A escritora é baseada em você? – Em mim, em várias. Na verdade, eu gosto de pensar que tenho um tantinho do homem dos posts-its laranja, do menininho do éclair de limão, da escritora, do homem dos olhos coloridos, da moça do café, do gato vagabond...Todos nós temos um pouco deles, não acham?

Espero que tenham gostado dessa viagem! Fiquei muito satisfeita com essa história. Aceito feedback! Tenho uma trilha sonora que ouvi enquanto as escrevia, o link está na minha página, mas aqui direi o nome das músicas, caso estejam interessado(a)s:

-Nantes, Beirut

-Elephant Gun, Beirut

-À Fleur de Toi, Versão do Slimane

-For Emma, Bon Iver

-La Vie en Rose, Versão de Louis Armstrong

-Ordinay World, Versão de Joy Williams

-Pillow Talk, Wild Child

-Creatures, Shannon Saunders

-Bitter and Sick, One two

<3 Au revoir <3