Capítulo 18 - Velhos amigos
Sirius observava-o nas sombras, com um punhado de fios azuis a escorrer-lhe dos dedos. Moveu-os lentamente, puxando-os do corpo de Bill como se fossem fragmentos de vidro prestes a partir-se.
O corpo de Bill tombou para o lado, apanhado pelas mãos suaves de Trei, que o ergueu com apenas um braço. Elliot estava ao lado deles, mas não tirava os olhos de Bell. Manteve ambas as armas apontadas à sua cabeça enquanto se aproximava com cautela.
— Posso garantir-vos que é seguro baixar as armas — afirmou Sirius, interpondo-se no caminho de Elliot.
— Como se isso soasse melhor vindo de ti. — Elliot girou as pistolas, apontando-as agora para a cabeça dele.
Sirius riu-se.
— Então prime o gatilho - provocou com um sorriso manhoso.
Elliot não o fez. Mas também não baixou as armas.
- Ninguém se arrisca tanto sem ter uma carta na manga. – Argumentou Elliot, guardando as armas. – Qual é o truque?
- Truques? – Sirius deu de ombros e revirou os olhos. – Não sei do que falas. – Com um movimento quase teatral, as mangas do seu traje formal desapareceram. – Nada nas mangas. – Respondeu com um ar despreocupado, mas um brilho malicioso no olhar. – Apesar de não poder dizer o mesmo das tuas...
Elliot estreitou os olhos, cruzando os braços.
- Não sei do que estás a falar.
- Confia em mim. Eu só falo do que sei... e eu sei bastante. – Confirmou Sirius com um sorriso enigmático. Num instante, o seu corpo desvaneceu-se, reaparecendo num piscar de olhos mesmo à frente de Elliot.
A assassina não hesitou. Em um movimento veloz, desembainhou uma lâmina curta que havia tirado de um dos guardas e cortou o ar na direção do pescoço de Sirius. O golpe foi certeiro e rápido, mas uma das mãos do inimigo agarrou a lâmina no último instante, bloqueando-a sem qualquer esforço.
Sirius sorriu.
Elliot rosnou, puxando a espada para trás e lançando um segundo golpe na lateral do corpo dele. No entanto, ele deslizou para trás como uma sombra e evitou o ataque com facilidade. Sem lhe dar tempo para reagir, ela pressionou o gatilho da sua pistola de energia, disparando um tiro direto à testa de Sirius.
O ataque foi rápido e inesperado. A cabeça de Sirius inclinou-se para trás com a força do impacto, o corpo acompanhando o movimento. Mas, antes que pudesse tombar, a sua postura voltou ao normal como se nada tivesse acontecido. O disparo de Elliot flutuava agora à sua frente, suspenso no ar, antes de desaparecer como poeira.
- Estavas quase. – Disse Sirius, divertido. – Só que não.
Antes que Elliot pudesse atacar novamente, um enorme projétil metálico rompeu a parede e envolveu-se em torno da cabeça de Sirius, esmagando-o contra os escombros.
Crainer surgiu do outro lado da sala, os olhos ardendo em fúria. Se Bill estivesse consciente, talvez não o reconhecesse. Naquele momento, Crainer havia regressado à fera selvagem que um dia desejou ser.
- Crainer, que agradável surpresa. – Murmurou Sirius, a voz abafada pelo aperto da garra metálica que o segurava.
- Deixei-te escapar uma vez. Não volto a cometer o mesmo erro. – Rugiu Crainer, preparando a outra garra para atacar.
Sirius suspirou teatralmente.
- Mesmo depois de tantos anos, ainda guardas rancor. – Comentou, sem qualquer traço de medo na voz.
Crainer apertou o punho.
- Como poderia não guardar, depois do que fizeste? - acusou Crainer indignado com a atitude indiferente de Sirius.
- Falas de mim, mas não fizeste muito melhor.
Crainer ergueu Sirius no ar com um único braço, as suas garras cravando-se mais fundo na pele do inimigo.
- Ao menos eu lutei. – Rosnou.
- Mas lutaste por ti, não por ele.
- Não te atrevas a falar dele! – O canhão no ombro de Crainer ergueu-se, apontado diretamente a Sirius.
O sorriso desapareceu dos lábios de Sirius, substituído por um olhar intenso e sombrio.
- Eu fiz o que era necessário.
As sombras à sua volta começaram a vibrar, uma energia escura e densa formando-se no ar.
Crainer rugiu, disparando um feixe de pura energia do canhão. O impacto foi avassalador, reduzindo o chão sob os pés de Sirius a cinzas. Mas, no último momento, as sombras envolveram o ataque, absorvendo a explosão como um poço sem fundo.
Sirius não hesitou. O mesmo ataque foi devolvido a Crainer num contra-golpe devastador, forçando-o a saltar para o lado. Mesmo assim, a explosão projetou-o para trás, abrindo uma nova brecha na estrutura já danificada da prisão.
Crainer levantou-se, cuspindo poeira e sangue.
- Estás cego, Crainer.
Outro disparo rasgou o ar, mas as sombras ergueram-se em muralhas vivas, protegendo Sirius. Ao mesmo tempo, um dos tentáculos sombrios envolveu Trei e Elliot, afastando-os do combate para evitar que fossem atingidos.
- Era a nossa obrigação protegê-lo. – Insistiu Crainer, recarregando a sua arma.
- E achas que eu não queria fazer o mesmo?
- Seu hipócrita! À primeira oportunidade, deixaste que ele sacrificasse a vida!
As sombras de Sirius estremeceram. Pela primeira vez, a sua postura não parecia tão inabalável.
- SACRIFICA-SE A VIDA POR QUEM?! – A sua voz ecoou pela prisão, carregada de algo que não era apenas raiva... mas dor.
Crainer não respondeu. Limitou-se a encarar o inimigo, a expressão endurecendo.
Sirius respirou fundo, recuperando a compostura.
- Todos nós sabíamos o que tinha de ser feito.
Um longo silêncio seguiu-se.
- Ainda te lembras da última coisa que ele te disse? – Perguntou Crainer, num tom mais baixo.
Sirius desviou o olhar, fechando brevemente os olhos.
- Não houve um dia em que eu não pensasse nas suas palavras.
Crainer hesitou, os dedos apertando o punho da sua arma com força.
- Ele não merecia. Nenhum deles merecia. – Disse por fim, a voz rouca. – Só de pensar que poderíamos ter feito algo mais por eles... por todos eles.
- "Podem-me chamar de louco, podem pensar que não sei o que faço, mas mesmo que me apaguem da história..."
Crainer baixou o olhar.
- "... que fique nas paredes do nosso castelo registado, que um Rei só é Rei com o povo a seu lado." – Completou ele, a voz quase sumida.
O canhão no seu ombro desapareceu.
Sirius assentiu, os olhos voltando ao tom brincalhão de sempre.
- Ele deu a vida pelo que achava certo e não se arrependeu nem por um momento. Não cabe a nós duvidarmos das suas decisões.
Crainer suspirou pesadamente.
- É melhor continuarmos isto noutra altura. – Disse, lançando um olhar a Elliot, que os observava com curiosidade. – Agradecia que não contassem nada disto a nenhum dos dois.
Sirius sorriu.
- Abro um atalho?
- Com certeza.
Num estalar de dedos, um vórtice negro surgiu no ar. Antes de desaparecer, Sirius lançou um último aviso:
- Ah, e antes que te estranhes... ele vai-se juntar à festa.
Elliot franziu a testa.
- Ele?
Mas a resposta não veio. Trei subiu nas costas de Crainer, carregando os dois irmãos desmaiados, e atravessaram o portal.
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