Capítulo 17 -Conflitos entre irmãos
Bell dirigiu-se na sua direção, e Bill acordou para a realidade quando foi atirado para o lado por uma força invisível, mesmo a tempo de ver o seu irmão estilhaçar o chão por baixo deles.
- Bell... O que estás a fazer? Sou eu, o teu irmão! – Tentou chamá-lo à razão, mas sem sucesso. Em vez disso, voltou a ser alvo de um ataque, esquivando-se desta vez sem ajuda ou avisos.
- "Ele não te consegue ouvir. Tem algo a controlá-lo." – Informou-lhe a voz na sua cabeça.
- E agora estou a ouvir vozes? Este dia vai de mal a pior! – Desabafou, sem saber como reagir à situação.
Bell voltou a atacar, mais rápido do que da última vez. Bill teria levado um golpe direto se a direção da investida de Bell não tivesse sido redirecionada subitamente. Não percebeu o que aconteceu, nem teve tempo para perceber. Bell voltou-se a lançar sobre ele com as garras à vista. Desta vez, foram as barreiras de Trei que o salvaram, aprisionando Bell numa jaula em forma de pirâmide que encolhia aos poucos.
- É por este tipo de coisas que não deves agir sozinho! – Repreendeu-o Elliot, que o levantou bruscamente pelo braço.
Bell gritava à medida que as barreiras de Trei exerciam cada vez mais pressão no seu corpo, até que este já não se pudesse mover. Não interessava o quão forte fosse: não conseguia partir a barreira de Trei. Pelo menos, assim ele pensava, quando Bell começou a exercer mais força sobre aquelas pequenas resistências.
- A barreira não aguenta mais! – Expressou Trei, com a face vermelha e suada.
Um dos braços de Bell escapou da barreira e esticou-se na direção de ambos. Elliot empurrou Bill para o lado e, desembainhando a espada curta, fez descer um corte sobre o braço monstruoso de Bell. A lâmina mal lhe tocou quando partiu em duas. Trei afastou o braço de Bell com mais uma barreira que se deslocou pelo ar, empurrando o braço e juntando-o ao restante.
- Aquela coisa é feita de quê? – Interrogou-se ao ver a espada partida.
- Aquela coisa é o meu irmão! – Afirmou Bill.
Trei ficou chocado e abstraiu-se da sua função por um momento. Bell viu uma oportunidade e, fazendo uso de toda a sua força, expandiu o seu corpo. A barreira cedeu, pedaços verdes espalharam-se pelo ar e o corpo de Bell parecia estar ainda mais consumido pelo seu lado obscuro.
Os braços, à medida que caminhavam, tornaram-se mais selvagens, assim como as suas pernas. Porém, metade da sua cara ainda permanecia humana... pelo menos por mais algum tempo. Elliot disparou várias vezes contra Bell. Fosse o que fosse que estivesse a possuir o seu corpo, não gostava de projéteis mágicos. Os braços de Bell mudaram de forma; as suas garras aumentaram exponencialmente de tamanho, maiores do que o próprio corpo.
-Afasta-te do meu mestre! – Gritou uma voz.
Bill sentiu-se como se estivesse a ser virado de dentro para fora. Das suas costas emergiram várias sombras com formas humanas e, entre elas, duas mãos gigantes, tão escuras quanto as de Bell. Dois braços brancos surgiram das costas de Bill, seguidos de uma luz, como se aqueles braços rasgassem a pele de Bill. Mas, em vez de sangue, saía uma intensa luz branca. Os braços não tinham carne nem pele, eram apenas ossos. O corpo começou a sair, e as duas mãos faziam força para se libertarem da prisão de carne que era Bill.
Um rosto começou a emergir das suas costas. Trei focou-se em voltar a imobilizar Bell, enquanto Elliot estava a reviver um dos episódios mais dolorosos da sua vida. Mais sombras irromperam das costas de Bill, eliminando toda a luz que antes emergia do seu corpo. As sombras transformaram-se num manto para a figura que emergiu do seu corpo. As sombras cobriram-no e vestiram o seu corpo despojado: sapatos pretos, calças pretas, um cachecol branco à volta do pescoço, uma camisa branca por baixo do casaco preto comprido, com metade dos botões brancos apertados.
As suas mãos eram, de facto, ossos – um esqueleto vivo. Porém, a sua cara não podia ser chamada de crânio. A superfície da sua cabeça era lisa e branca, e a sua boca era quase como um risco numa tela em branco. Mesmo que olhassem de perto, os lábios pareciam ser desenhados. Em contraste, os seus olhos eram duas crateras escuras, onde se viam duas pequenas esferas brancas e brilhantes a fazer de olhos. Era como um rosto tapado por uma máscara branca e opaca. O seu crânio estava rachado, com duas fendas interrompendo a superfície lisa e perfeita do seu crânio. Uma rachadura proveniente do seu olho direito subia do olho até ao limiar da parte frontal do seu crânio, e a outra, mais pequena e fina, descia do seu olho esquerdo até ao queixo.
- Não vou permitir que isto continue! – Declarou, numa voz calma e forte.
À volta da nova entidade começaram a surgir sombras, com formas difusas e ameaçadoras. Submissas ao poder da entidade desconhecida, lançaram-se sobre Bell e, em pouco tempo, formaram uma jaula viva.
As sombras tinham todas origem neste novo ser, mas, à medida que Bell se debatia, as sombras circundantes foram atraídas por esta nova presença e forçadas a prender o inimigo. Bell ficou estático por um momento e Elliot reconheceu a serenidade do rosto possuído de Bell como algo perigoso. As sombras que prendiam Bell começaram a borbulhar, assim como a água a ferver.
Não importava quantas camadas de sombras cobriam Bell, começavam, em pouco tempo, a borbulhar. Duas mãos ossudas voaram pelo ar. Idênticas às mãos do seu novo aliado, exceto pelo facto de não estarem ligadas ao corpo dele. As mãos voadoras amarraram Bill e Elliot e juntaram-nos a Trei, que os apanhou nos seus enormes braços.
Trei hesitou por um momento, mas a voz de Elliot trouxe-o de volta à realidade:
— Trei, precisamos de algo forte! — pediu Elliot, com urgência na voz.
— Forte? — repetiu Trei, confuso.
— Deixa o Don orgulhoso. — incentivou-o com um tom de determinação.
Os olhos de Trei brilharam, tomados por uma nova motivação. Avançou dois passos, colocou as palmas das mãos juntas e começou a murmurar uma oração.
— Então agora dependemos de Deus? — ironizou Bill, franzindo o sobrolho.
— Não... agora, dependemos do Trei. — respondeu Elliot, com uma confiança quase desconcertante.
Enquanto Trei rezava, várias imagens começaram a formar-se no ar, como se uma presença divina atendesse ao seu chamado. O que parecia ser uma estátua de luz começou a emergir lentamente: uma figura ajoelhada no chão, com oito braços cruzados sobre o peito, quase como se estivesse zangada com algo. Quando terminou a primeira oração, dois dos braços descruzaram-se e estenderam-se para a frente, com as mãos abertas e os dedos afastados.
Bill ficou a observar, intrigado, mas antes que pudesse reagir, sentiu um leve deslocamento no ar. Uma nova figura tinha surgido perto do grupo, tão rápido que ninguém a viu chegar. Elliot não perdeu tempo e apontou imediatamente as suas armas de fogo à cabeça do recém-chegado.
— Quem és tu e o que queres? — questionou, com a voz firme, mas os olhos calculistas.
A figura manteve-se calma. Ignorando a ameaça representada pelas armas, ajoelhou-se perante Elliot, colocando a mão esquerda sobre o peito e inclinando a cabeça.
— O meu amo, vosso irmão necessita da vossa ajuda. — disse, numa voz serena, mas sem qualquer traço de emoção.
— Bill, conheces esta pessoa? — perguntou Elliot, sem baixar a guarda.
— Não... mas com o Crainer foi a mesma coisa. Talvez este não seja o momento mais oportuno para levantar suspeitas. — disse Bill, tentando ser racional.
— O Crainer também está aqui?! — exclamou a entidade, surpreendido.
Antes que pudessem discutir mais, um grito estridente ecoou pela floresta:
— Sirius!!!!!!!!!
A voz carregava um misto de raiva e desespero. Elliot virou-se imediatamente na direção do som.
— Ele não deve demorar a chegar. — concluiu Bill, franzindo o sobrolho com insatisfação.
— ESTÃO ALI EM CIMA! — gritou um dos guardas, quebrando o momento de tensão com o som das suas botas pesadas a ecoar pelos corredores próximos.
Bill soltou um suspiro exasperado.
— E os guardas vêm juntar-se à festa... porque não? — ironizou. Depois, virou-se para Elliot. — Consegues tratar deles sozinha?
Elliot lançou-lhe um olhar cortante.
— Isso é fácil. — respondeu, com um leve sorriso de desprezo, enquanto verificava as suas armas. — Mas não te habitues a dar-me ordens. — acrescentou, num tom mordaz, antes de avançar em direção ao perigo.
Um dos guardas chegou primeiro, correndo pelo corredor. Elliot esperou até que estivesse perto o suficiente e, com um movimento rápido, usou o coice da arma para lhe atingir o nariz. O som de osso a partir-se ecoou pelo espaço.
Outro guarda aproximava-se, mas Elliot foi mais rápida. Dois disparos precisos atingiram o seu peito antes que ele pudesse sequer erguer a espada. Ela não parou. Com passos silenciosos e fluídos, avançou pelo corredor até encontrar o terceiro guarda. Este já empunhava uma espada, confiante de que a figura esguia de Elliot não representava uma ameaça séria. Estava enganado.
Num espaço confinado e escuro, a agilidade de Elliot era imbatível. Num movimento acrobático, apoiou um pé na parede e impulsionou-se para o lado, saltando entre as paredes estreitas com uma leveza sobrenatural. Quando o guarda tentou desferir um golpe, Elliot desviou-se com facilidade, usando o impulso para desferir uma joelhada certeira no rosto do inimigo. O guarda caiu ao chão, inconsciente, enquanto a espada era arrancada da sua mão antes de tocar o solo.
Sem hesitar, Elliot guardou a arma de fogo e desembainhou outra espada curta. A lâmina reluzia, refletindo a luz fraca do corredor.
Os guardas restantes, que aguardavam mais à frente, hesitaram ao vê-la aproximar-se. Os seus passos eram tão silenciosos quanto a morte, e os seus olhos frios e calculistas faziam o ar ao redor parecer mais gelado. Um frio sobrenatural parecia acompanhá-la, como se uma força invisível tomasse o lugar.
Bill observava à distância, vendo apenas lampejos de movimento e os guardas a cair um por um. Quando Elliot desapareceu no corredor, ele voltou à realidade.
— Disseste que precisas da minha ajuda? — perguntou, tentando ignorar o desconforto crescente que sentia perante a situação.
— Sim, tenho fortes motivos para acreditar que o seu irmão está a preparar um ataque mágico de grande poder destrutivo. Se a barreira resistir, deve atacar diretamente o coração dele e fazer uso de uma descarga elétrica potente. Penso que, depois de um ataque desta escala, o seu irmão ficará paralisado durante breves momentos — sugeriu Sirius, os olhos fixos no seu mestre, mas algo na sua expressão sugeria que ele também estava a ponderar a gravidade da situação - o que lhe dará tempo para terminar o assunto.
Bill encarou-o, uma tensão visível na sua testa. A lealdade ao irmão lutava contra o medo do que poderia acontecer. Ele sabia que, se fosse necessário, teria de fazer escolhas terríveis. Mas, como poderia atacar Bell, alguém que, apesar de tudo, ainda era seu irmão? Como poderia ser a pessoa a destruir aquilo que ele mais amava? A mão de Bill tremeu ligeiramente.
— Se achas que vou matar o meu irmão para me salvar, estás muito enganado. — respondeu Bill, a voz carregada de frustração e dor. A palavra "matar" cortava-lhe a garganta como uma lâmina afiada, e por um momento, sentiu o peso da possibilidade.
Sirius observou Bill por um momento, a expressão a suavizar-se ligeiramente, como se ponderasse a dor no fundo dos olhos do seu mestre. Seria ele capaz de fazer aquilo? Essa dúvida parecia refletir-se também na postura de Sirius, que se via forçado a tomar decisões difíceis.
— Desculpe, não era essa a minha intenção. Mas talvez, com uma descarga elétrica suficientemente forte, seja possível expulsar o que quer que esteja a controlar o teu irmão... sem o matar.
Bill sentiu um calafrio. Ele já havia ouvido essas palavras antes, mas não conseguia encaixar o momento exato. E se o preço fosse demasiado alto? A angústia crescia em seu peito.
— E não podias ter sugerido isso logo? — Bill encarou Sirius com um olhar de desagrado, mas também uma pontada de frustração por não ter pensado nisso antes. Cada segundo que passava fazia-lhe sentir o peso da dúvida.
— Os riscos são elevados. Meu amo estaria a correr perigo desnecessariamente. — Sirius respondeu, sem perder a calma, embora a sua voz estivesse tingida de uma suavidade não usual. Era quase como se, naquele momento, ele estivesse tentando proteger Bill não só fisicamente, mas também emocionalmente. Mas Bill não queria essa proteção. Ele queria uma solução.
— Agora isso já não interessa. E se a barreira não aguentar? — Bill perguntou, a preocupação a invadir a sua voz. Ele já sabia que a situação estava a chegar ao limite, mas os medos mais profundos começaram a se insinuar na sua mente. E se o sacrifício fosse em vão? E se a barreira de Trei não aguentasse?
Sirius permaneceu em silêncio, uma sombra nos seus olhos. Era como se, por um breve momento, as palavras se perdessem no ar.
De repente, a figura de Bell, antes envolta em sombras, agora emergiu completamente. O ambiente parecia pesar mais, o ar espesso com a pressão de cada movimento. Bell estava ali, a presença ameaçadora pairando sobre eles, o seu sorriso torcido como uma promessa de que nada mais poderia ser feito.
— Vocês... morrem. — A voz de Bell, fria e ameaçadora, cortou o silêncio. Ele libertou-se das sombras que ainda o envolviam, o seu corpo tornando-se mais visível a cada segundo. Já estás pronto para ceder?
Bill sentiu um arrepio na espinha, o rosto de Bell iluminado por um brilho inconfundível de crueldade. Ele tentou lembrar-se de onde já havia ouvido essas palavras antes. Era tão familiar, mas de onde? As imagens do seu pesadelo emergiram na sua mente, e a resposta finalmente surgiu, com um choque brutal: o farejador, o pesadelo...
— Onde é que já ouvi isto? — Bill murmurou, a voz quase inaudível, o peso da memória a esmagá-lo. A forma, o rosto, a voz, tudo isso agora estava ali, frente a ele, como uma sombra do seu próprio medo.
Bell olhou para ele com um sorriso enigmático.
— Talvez agora me queiras ouvir. — disse Bell, com um tom provocador, como se tivesse finalmente alcançado o ponto de ruptura. A sua presença agora parecia absorver a luz à sua volta, como se o próprio ambiente estivesse a sucumbir à sua vontade.
Bill sentiu uma dor crescente, uma luta entre a razão e as emoções. O medo de falhar, o medo de perder o irmão para sempre, dilacerava-o por dentro. Ele queria desistir, mas sabia que não havia outra escolha.
— Tu... — Bill tentou falar, mas as palavras estavam presas na sua garganta. O pesadelo agora estava de volta. Cada memória que o atormentara parecia ter tomado forma, transformando-se na própria realidade.
Bell riu baixinho, como se a angústia de Bill fosse uma simples diversão. Ele continuou, com um tom que alternava entre a inocência e a ameaça.
— Como não me ouviste, tive de recorrer a outros métodos. Só queria chegar até ti. — Ele fez uma pausa, a sua voz transformando-se num sussurro ameaçador. — Mas não quiseste ouvir.
Bill sentiu o coração apertado. O medo já não era apenas pela luta física, mas pelo que estava a acontecer dentro dele. Ele estava a ser forçado a escolher. A linha entre salvar o irmão e destruí-lo começava a desaparecer. Tudo que ele amava estava a desaparecer no fogo da luta, e Bill não sabia se era possível salvar-se a si mesmo.
- Queres aproximar-te de mim? — Bill desafiou, tentando manter-se firme. O som de suas próprias palavras parecia quase vazias, mas ele não podia desistir. Ele invocou as manoplas, o brilho intenso refletindo-se nos seus olhos. E isso, por um momento, o fez sentir-se vivo. O poder corria por suas veias, eletrificando cada fibra do seu ser.
— Muito bem. — Ele fez surgir dois pequenos blocos de pedra sob os pés. Se há algo que não devias ter feito, era meter-te com o meu irmão!
As manoplas vibraram, a energia acumulando-se. As faíscas elétricas começaram a dançar ao redor de suas mãos, e Bill sentiu a magia descontrolada a correr por seu corpo como uma corrente elétrica. Era como se a própria natureza da magia o estivesse a consumir. Ele estava preparado, ou talvez... estava à beira de uma perda irreversível.
As chamas extinguiram-se num instante, como se alguém tivesse desligado a ficha de Bell. Trei já não conseguia aguentar mais e desfez a barreira.
Elliot, que tinha acabado de eliminar o último dos guardas no andar de baixo, ergueu os olhos e viu as costas desprotegidas de Bell. Sem hesitar, envolveu a lâmina numa camada fina e translúcida — um encantamento, talvez. Mas fosse o que fosse, desta vez a lâmina conseguiu rasgar a pele de Bell. No instante em que a lâmina penetrou alguns centímetros, um vapor denso e escaldante jorrou do ferimento.
Elliot recuou instintivamente, cobrindo-se com a capa, mas o calor intenso ainda queimava a sua pele. Sentiu o ardor espalhar-se pelos braços e começou a revestir a própria pele com uma fina camada de gelo para se proteger.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Duas cabeças humanas formaram-se nas costas de Bell. Em poucos segundos, abriram as suas bocas monstruosas e cuspiram, cada uma, um feixe de chamas incandescentes. O teto quase se derreteu com o impacto. Um dos ataques falhou por pouco, enquanto o outro foi bloqueado por um escudo de gelo que Elliot conjurou no último segundo.
Percebendo o perigo, Elliot largou as espadas e, antes que novas rajadas fossem disparadas, congelou as duas cabeças demoníacas.
Acima da cabeça de Bell, várias mãos fantasmagóricas pairavam no ar, idênticas às de Sirius. Delas pendiam fios azulados que se enroscavam à volta do corpo de Bell. Mesmo quando ele os rasgava com facilidade, os fios regeneravam-se e continuavam a envolver-se à volta da sua pele.
Bill sentiu um alívio imediato quando Sirius o libertou das amarras. Sem perder tempo, disparou em direção a Bell numa velocidade vertiginosa, enquanto Elliot se esforçava para impedir que o inimigo repetisse o seu ataque. No entanto, no instante em que Bill estava prestes a colidir com o irmão, Elliot saltou das costas de Bell, esquivando-se no último momento.
Bill parecia uma bala humana.
Atravessou diversas paredes, usando o corpo de Bell como amortecedor. Só parou quando atingiu a última barreira da prisão. Ao contrário das anteriores, esta parede não se desmoronou — não por falta de força, mas porque toda a energia de Bill convergiu num único ponto naquele momento.
As suas mãos estavam enterradas no peito do irmão.
Soltou um grito primal. O seu corpo brilhou intensamente, e num instante, as manoplas descarregaram toda a energia acumulada. Uma tempestade de raios explodiu no espaço confinado, destruindo pisos, paredes e celas.
O impacto foi tão violento que os próprios céus responderam ao desafio, enviando um dos relâmpagos mais ferozes que alguma vez se abatera sobre a prisão.
No entanto, Bell... sorriu.
O choque atravessou-lhe o corpo, mas não o quebrou completamente. Uma parte daquela coisa que o possuía desprendeu-se, libertando parte do seu rosto. Mas ainda assim, algo nele permanecia... errado.
Com um impulso de vento, Bell voltou a entrar na prisão, trazendo consigo o irmão. Caíram ambos, separados por alguns metros.
— Já me queres ouvir? — Perguntou Bell, a sua voz carregada de uma vibração estranha, enquanto se erguia, o corpo tremendo com os efeitos do raio.
— Depende... — respondeu Bill, tentando levantar-se. — Se isso envolver saíres do corpo do meu irmão.
— Então parece que nos vamos entender... pelo menos desta vez.
— O que é que tu queres afinal?! — Gritou Bill, farto daquela voz ecoante.
— O mesmo de sempre. — Bell estendeu-lhe a mão, rastejando ligeiramente pelo chão até ele.
Bill hesitou. Mas, por fim, agarrou a mão do irmão com força.
— Se me enganas, eu arrasto-te para o inferno comigo. — A sua voz era um rosnado de aviso.
Bell esboçou um sorriso presunçoso.
— Tu não conheces o inferno, Bill... mas eu posso levar-te lá numa visita guiada.
Antes que Bill pudesse responder, o mundo à sua volta desabou.
O ruído desapareceu.
O ar tornou-se denso.
Algo queimava-lhe as costas — não um fogo comum, mas algo mais profundo, como se uma lâmina incandescente estivesse a gravar palavras invisíveis na sua pele.
Uma dor súbita apertou-lhe o coração. O estômago revirou-se violentamente, como se tivesse engolido um copo cheio de agulhas.
A sua visão distorceu-se.
As cores inverteram-se, os contornos do mundo dançaram num turbilhão caótico. Ele sabia que estava parado, mas a sua consciência saltava de um canto ao outro, como se estivesse a ser empurrado através de sombras, paredes e distâncias impossíveis.
Sentiu uma mão no ombro.
Num instante, tudo voltou ao normal.
O peso que oprimia o seu peito desapareceu. A presença sombria que possuía o corpo do irmão... tinha-se esvaído.
Bill olhou para Bell, agora adormecido. Pela primeira vez em muito tempo, viu-lhe uma expressão tranquila, sem culpa ou preocupação. Isso encheu-o de um estranho alívio.
No entanto, ao estender a mão para lhe tocar, Bill parou.
As suas mãos estavam cobertas de manchas roxas.
Olhou para os braços. As manchas espalhavam-se. Em pânico, começou a despir-se, revelando o peito quase inteiramente coberto pelo mesmo padrão enigmático. Não doía. Não ardia. Não coçava. Mas o simples facto de não saber o que aquilo era fez-lhe o sangue gelar.
Ajoelhou-se no chão, o olhar vazio voltado para cima.
— Mas que raio... — murmurou. A fraqueza dominou-o. Num segundo, caiu inconsciente.
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