Capítulo 20: Relações duvidosas
Apesar de Merlot ser uma cidade bela também tinha os seus lados mais pobres, o que facilitou a fuga dos irmãos. Ao contrário do que eles pensavam a cidade ainda não estava completa, nos poucos momentos em que eles estiveram às cavalitas do familiar de Bill, Crainer pôde explicar que a cidade havia sido atacada por Vánir á alguns anos e que uma parte da mesma ainda precisava de ser reconstruída e, portanto, estava abandonada, logo seria um bom local para eles se esconderem até os ânimos acalmarem. Não lhes foi difícil encontrar um local onde se pudessem esconder a maioria das casas estava danificada o suficiente para que eles pudessem entrar. Apesar dos vidros partidos, do cheiro a mofo e daquilo que podiam ser pequenos excrementos de algum animal que tivesse passado por lá, até estava aceitável.
-Esta foi por pouco - Suspirou Bell depois de se sentar no chão frio e húmido.
-Eu podia ter saído de lá sem a tua ajuda - comentou Bill muito convencido de sí.
-A sério que vais começar com isso, quantos anos é que tens? - Perguntou Bell indignado.
-Eu tinha um plano, ia correr tudo bem - Disse muito confiante.
-Ele estava para te arrancar os intestinos – Bell fez uma pausa e respirou fundo - Francamente, porque é que tens sempre de arranjar confusão.
-A culpa não foi minha, o Emiel apareceu do nada e começou a inventar mentiras sobre mim, e depois mandou o criado atacar-me com um búfalo com três chifres - Defendeu-se imitando um búfalo usando as mãos para fazer os chifres da criatura.
-Hahahah!!! - riu-se Bell das figuras do irmão.
Não era costume de Bill fazer figuras como aquelas mas para ver o sorriso do irmão ele dava tudo, e ver o irmão a rir quando a maior parte da cidade andava á sua procura enchia-o de determinação.
Ao ouvir o som de passos a pisar o chão velho os risos cessaram, e foram substituídos por pequenas chamas em forma de flecha e por duas figuras semelhantes a enormes cães feitos de eletricidade que rosnavam ameaçadoramente para a única porta existente.
-Então é por causa de vocês que a cidade está uma confusão - Comentou um homem, muito provavelmente a rondar os quarenta anos, com os óculos na ponta do nariz e o cabelo grisalho despenteado e com uma farda preta com apenas os dois botões de cima apertados de modo a que os dois irmãos pudessem ver as duas armas de fogo e a bainha de uma espada que estavam coladas á camisola cinzenta por debaixo daquela farda já muito usada.
-Vais denunciar-nos? - Perguntou Bell tentando ver melhor a cara do homem.
-Porque haveria eu de fazer isso? - perguntou o homem aproximando-se mais um bocado de uma das chamas de Bell - Importas-te - Disse apontando para um pequeno rolo que tirou de uma caixa branca - não tenho lume.
-Não, esteja á vontade - Respondeu Bell diminuindo a intensidade da chama para que o homem pudesse acender o seu cigarro.
-Obrigado, agora será que podemos acalmar os ânimos - Disse olhando impressionado para os cães de Bill, antes de soltar uma nuvem de fumo que obrigou os irmãos a tapar o nariz.
-Deve estar a pensar que sou idiota ao ponto de... - Bill não terminou a frase pasmo pelo irmão ter apagado as suas chamas, deixando que os cães de Bill iluminassem a divisão - O que estás a fazer - sussurrou Bill para Bell.
-Ele é boa pessoa - Respondeu Bell sem entender a preocupação de Bill.
-E se for uma assassino, ou um ladrão, ou um caçador de recompensas – Disse desesperado.
-Ele não tem os olhos de um assassino - Respondeu Bell muito confiante na sua intuição - alma sim, mas não esta com expressão de quem vai matar duas crianças - completou muito inocentemente.
-Achas mesmo que é o momento para isso – Disse quase a meter-lhe as mãos ao pescoço.
-Muito prazer eu chamo-me Bell - Disse estendendo a mão e deparando-se de imediato com dois punhais junto ao pescoço e uma figura pequena e coberta com múltiplas camadas de roupa agachada á sua frente.
-Bell!!!!
-Agora sim estes são os olhos de um assassino – Disse muito convencido.
-ACHAS QUE É ALTURA PARA FAZER PIADAS – Disse quase tendo um ataque.
-Doreán, muito prazer - Disse guardando atrapalhadamente o pacote de cigarros no bolso estendendo a mão e cumprimentando Bell.
-Prazer em conhecer te - Disse Bell voltando-se para a figura encapuzada.
-Elliot podes por favor deixar de ameaçar cortar o pescoço a este rapaz - Pediu Doreán lançando um olhar rígido ao vulto.
Sem lhes dirigir uma única palavra a figura encapuzada afastou lentamente os punhais do pescoço de Bell e tratando os dois cães de Bill como uma ameaça menor virou costas e saiu da sala, desaparecendo poucos passos para lá da porta. Mesmo que Bill não o visse sabia que ele ainda continuava ali, escondido.
-O que o Elliott tem? - Perguntou Bell depois de passar os dedos pelo pescoço á procura de algum corte superficial.
-Não é muito dado a conversas - Explicou Doreán - E o teu irmão não se vai apresentar?
-Ele não é muito de apresentações, é meio desconfiado para isso.
-Ele até que tem razão em ser desconfiado - Começou Doreán quase como se fosse dar um sermão a Bell logo após de o conhecer.
-Só para deixar claro ainda não confio nele - afirmou Bill depois de desfazer o feitiço e de se ter juntado ao irmão, com a mão perto do punhal embainhado nas calças.
-E não te julgo por isso - Concordou Doreán estendendo a mão a Bill, mas o mesmo parecia que não ia cumprimenta-lo e logo desistiu da ideia.
-Se me fizerem o favor de me seguir - Disse Doreán depois de lhes voltar costas e se dirigir para a saída, com Bill e Bell atrás dele.
Enquanto caminhavam Bill não parava de fitar as paredes como se a qualquer momento o companheiro de Doreán fosse saltar de uma delas para os degolar. Enquanto que Bell muito mais relaxado com este estranho do que deveria observava atentamente as figuras que Doreán desenhava no ar com o fumo do cigarro.
Depois de terem subido para o segundo andar da casa, acabaram por entrar em um quarto onde uma das paredes tinha cedido dando uma visão predileta da parte cidade que ainda não havia sido reconstruída. Elliott estava sentado a observar através de uma luneta se havia mais convidados surpresa.
-Então Elliot mais alguém? - Perguntou Doreán aproximando-se de Elliot que lhe passou a luneta - Parece que não vos seguiram - Afirmou Doreán surpreendido.
Bill preparava-se para responder a Doreán quando foi envolvido por dois braços enormes que o pressionaram contra aquilo que devia ser quem o estava a amarrar, e mesmo debatendo-se para se libertar, aqueles dois braços não cediam.
-Trei!! - Chamou Doreán de braços abertos.
-Doreán - Respondeu o rapaz num tom lento e meigo.
Bill sentiu-se descomprimido quando Trei o largou e correu em direção a Doreán abraçando-o com força suficiente para fazer os seus ossos estalar. Bill caiu no chão atordoado com a força com que Trei o havia apertado e com dificuldade em respirar.
-Ele queria-me matar - acusou Bill apontando para a enorme figura risonha, que envolvia Doreán nos seus braços assim como fizera com Bill. Além de ser grande Trei também era um pouco gordinho, o que deu a Bill a impressão de ter sido esmagado por um gigante.
-Não sejas assim, ele só queria um abraço, devias experimentar depois da dor até que se torna bastante relaxante.
-Por mim ele não me volta a pôr os braços em cima - Desafiou Bill chateado.
Trei largou Doreán e voltou a encaminhar-se para Bill para o abraçar, mas desistiu da ideia a meio do caminho e preferiu abraçar Bell, que lhe pareceu muito mais receptivo a um abraço do que o irmão.
Bell não se importava muito com a questão dos abraços o único problema é que sem saber Trei não o deixava respirar. Bell tentava a custo soltar-se sem que ninguém se apercebesse, o que era difícil uma vez que Doreán se divertia bastante com as expressões de Bell.
- Trei gostar de rapaz de cabelo branco - Exclamou por fim Trei antes de soltar Bell que lhe agradeceu com um sorriso.
-Também gosto de ti Trei, és um rapaz muito amigável.
Elliott levantou-se ao ouvir o elogio de Bell e saiu pela porta fora, sem mesmo se desviar de Bell, que teve de sair do caminho para não ser abalroado.
-Qual é o problema dele!! - Reclamou Bill para Bell, sabendo que o irmão não se incomodaria com uma coisa destas.
-Não se preocupem com ele, normalmente não gosta de estranhos - Doreán parou para saborear o seu cigarro e puxou uma cadeira para se sentar.
-Normalmente? - Repetiu Bill - Se isto for ele a gostar de nós nem me cabe pela cabeça se não gostasse.
-Eu não disse que ele gostava de vocês, só posso dizer que numa situação normal as vossas cabeças já estavam encostadas a um canto - Explicou Doreán num tom grave e amedrontador, que logo substituiu por uma face sorridente para disfarçar a ameaça que pairava sobre as suas cabeças.
-Jogar com Trei? - Perguntou a Bell apontando para um tabuleiro de xadrez.
-Claro - Respondeu Bell ao ver as maçãs do rosto de Trei ficarem vermelhas com o entusiasmo.
-Como é que podes aceitar as coisas tão facilmente!!
-Prefiro-me arriscar a ser atacado por eles do que ser perseguido pela cidade inteira - Respondeu Bell deixando Bill de boca aberta.
-Corres perigo á mesma.
-Então estas me a dizer que preferes enfrentar uma cidade inteiro a lutar contra um anão de farrapos, uma criança gorda e um velho fumador.
-EI!!! - Exclamou Dorean, Trei limitou-se a rir e Elliot nem deu sinais de vida - Eu ainda nem passei dos quarenta e dois.
-Desculpa, não devia ter te chamado de gordo Trei, e nem de anão a ti Elliot – convencido de que ele o ouviu.
-E eu? - Chamou Doreán.
-Queres que eu seja sincero?
Sim, quero - respondeu confiante.
-Tu pareces um padre que engoliu um incenso e que só come peixe nos últimos dias - respondeu sem receio das consequências.
-Tu sabes que ainda te posso cortar a cabeça - Doreán fez uma pausa onde cheirou o seu alito - Esquece.
Enquanto Bell e Trei jogavam xadrez animadamente, Bill limitava-se a encarar Doreán que olhava pensativo para fora da habitação em direção á cidade.
-Então porque vocês não nos mataram? - Disse farto do silencio de Dorean.
-Ouvi dizer que fizeste o Emiel se borrar nas calças, há pessoas que te pagavam uma rodada ao saber disso, outras eram capazes de te matar só para receberem uma recompensa.
-E qual dos dois és tu?
-Nenhum, não tenho dinheiro para pagar uma rodada a ninguém, mas admiro a vossa ação.
-E esse foi o único motivo de não nos denunciares?
-Bem acontece que á alguns anos eu fui acusado de algo muito grave sem provas tal como tu, e como sei que a maioria dos nobres são uns mentirosos sem escrúpulos deduzi que vocês eram a vítimas.
-E tu és o que?
-Eu? um fugitivo, sabes como eu não queria ser preso e torturado até á morte eu fugi. Acabei por mais tarde encontrar o Elliot e pouco tempo depois o Trei, até que acabei por vir aqui parar e agora encontrei-vos.
-Então és procurado e não tens nenhum sítio para onde ir? - Atreveu-se Bill a perguntar quando ouviu Bell a anunciar Xeque.
-Por acaso, nós tínhamos um plano e um sítio para ir, mas correu pessimamente e agora estamos presos neste país.
-E para onde planejavam ir?
-Para Eleia, o maior dos continentes que é dominado por semi-humanos e as mais variadas criaturas.
-Mas porque Eleia? - Perguntou Bell distraindo-se da partida e deixando que Trei lhe derrubasse a torre.
-Pelo o simples motivo de lá não haver nobres e muito menos a comunhão dos sacerdotes, um grupo religioso que acredita «que todos os semi-humanos e criaturas não humanas devem se submeter á vontade dos humanos porque eles são o ser perfeito desde muito» - Explicou usando uma das suas frases de campanha com uma voz entediante.
-É que só podem estar a brincar - Bill atingiu a parede atrás de si com um murro, fazendo-a ceder como se fosse um monte de papel.
Nem Bell ou Trei desviaram os olhos do jogo por um segundo ao contrário de Elliot que apareceu no exato momento em que a parede desmoronou por completo. Doreán estava pasmo com a força de Bill, ao ponto que deixou o cigarro fugir-lhe da boca para o chão.
-Essas pessoas põe me fora do sério - Explicou se.
-Eu tive uma brilhante ideia - Disse Doreán chegando-se ao pé de Bill muito animado - Nós vamos escoltar-vos até á capital e em troca vocês levam-nos a Eleia.
-E porque ou como haveríamos de fazer isso? - Desafiou Bill soando um pouco mais arrogante do que queria transparecer – E como sabes que iriamos para a capital?
-Isso não interessa já como nos levariam lá é algo mais fácil de responder, todos os anos por volta desta altura são realizados os exames de caçadores, na capital de cada país, e como o nome já diz é um exame para saber se estas pronto para receber a tua licença ou não.
-E para que serve essa licença?
-Primeiro é o único método de conseguires viajar entre países sem problemas, para viajar entre continentes é mais complicada, mas quando chegarmos a isso tratamos do assunto, depois é uma condição essencial se te quiseres juntar a uma guilda, com uma licença dessas tens acesso a zonas que cidadãos comuns não tem, e claro cada caçador recebe uma quantidade mensal de dinheiro correspondente ao seu rank e ao número de missões que realizou, em um resumo rápido torna a vida mais fácil.
-Olha bem para mim rapaz - Acentuou Doreán numa voz fria e sem emoção - Eu estou habituado a fugir e desaparecer sem deixar rasto, mas para ganhar isso custou-me vários anos, duvido que sem ajuda vocês consigam durar mais do que duas semanas lá fora.
-Não acredito!! - Gritou Bell subitamente assustando todos os presentes, dando a Bill a esperança que o irmão se apercebesse finalmente da situação em que estavam - como é que eu não reparei no bispo, suponho que seja Xeque-Mate - admitiu Bell tristemente.
-MAS DÁ PARA PRESTARES ALGUMA ATENÇÃO!! - Gritou Bill irritado com a falta de interesse do irmão.
-Por mim, aceitamos a ajuda deles - Respondeu Bell preparando-se para uma nova rodada.
-Mas para que precisam de nós para isso? é que eu não estou a ver como nós vos pudemos ajudar - Disse Bill desconfiado.
-Nós os três somos bastante populares de certa forma e existem umas boas recompensas pelas nossas cabeças, aparecer num evento desses era pedir para ser enforcado em praça pública.
-Desculpa se estou a interromper, mas a cidade inteira também anda á nossa procura provavelmente não demora muito a termos as nossas cabeças a prémio - Interrompeu Bell enquanto tentava perceber como Trei lhe acabara de comer duas peças.
-Duvido por aquilo que percebi, o Emiel não tem provas para vos acusar de serem espiões do Vanir - Respondeu muito friamente desviando os olhos para a cidade como se algo lhe tivesse vindo á cabeça - Era só uma desculpa para vos eliminar - Concluiu depois de breves segundos.
-Doreán - Chamou Bell para que tivesse a sua atenção - Disseste que foste acusado injustamente de algo grave não foi.
-Sim - Respondeu Doreán distraidamente.
-De certeza que foi "injustamente"? - Começou Bell dando sinal a Trei que queria fazer uma pausa e dirigiu-se para a beira do irmão que pelo seu sorriso que durou um segundo estava muito confiante no irmão.
-O que queres dizer com isso? - Perguntou Doreán apagando o cigarro com a bota.
-Tenho a sensação que ainda não contaste tudo - Afirmou Bell observando o comportamento do homem que o focava com os olhos descontraídos.
-Não, é só isto mesmo foi acusado por algo que não fiz - Repetiu com um pouco de insegurança na voz, algo que nem ele percebeu o motivo, nunca se havia descuidado quando se tratava de situações de vida ou de morte, então porque a voz não lhe soava tão descontraída como sempre
-De que foste acusado Doreán? - A voz de Bell parecia ecoar na sala, vibrando repetidas vezes nos ouvidos de Doreán - É difícil confiar em alguém quando não se conta tudo.
-Se continuares assim não tenho dúvidas que sejas um espião de Vanir - Ameaçou Elliot com uma arma apontada á cabeça de Bell e outra a Bill que nem se mexeu com receio que ele se dispara sobre o irmão.
-Não estás com medo? - Perguntou Doreán calmamente olhando para os olhos de Bell.
-Eu sei que ele não vai disparar - Provocou Bell dando motivo a Elliott para encostar ainda mais a arma á sua cabeça, quase empurrando Bell contra o chão - Se ele disparar o meu irmão facilmente provoca uma grande confusão, será fácil para os guardas vos acharem no meio dos destroços.
-Rapaz esperto, mas algo que tu não sabes é que...
-O Trei só usa magia protetora, barreiras por outras palavras- Completou Bell atiçando ainda mais Elliott a dar-lhe um tiro - Pelas marcas que tem nas mãos diria que é um usuário bastante experiente mesmo tendo só vinte e três, estas a espera que o Trei use um conjunto de cinco barreiras para conter o meu irmão agora que viste um pouco da sua força.
-Desta não estava á espera - Deixou fugir Doreán olhando para Trei que ainda se entretia a olhar para o tabuleiro.
-Além disso ele não iria disparar sem a tua ordem não é ? - Aquela foi a gota de água para Elliott que não hesitou em apertar o gatilho.
-E desta não estava de tudo á espera - Disse Doreán ao ver Trei segurar na arma de Elliott com uma mão apontando-a para o teto onde tinha ficado uma marca escuro no local onde o disparo atingiu o teto.
-Bell bom, Bell simpático - Argumentou Trei tirando a arma das mãos de Elliot e atirando-a para trás - Arma má, tiro barulhento, doer em ouvidos.
Elliot podia não o demonstrar, mas estava furioso pela atitude de Trei, e pelo ânimo de Doreán quando começou a rir apesar da situação. E Bell sentado no chão pasmo com a sua atitude, como se fosse a coisa mais improvável a acontecer.
-Tu ias mesmo disparar contra mim - Disse ainda no chão com uma gota de suor a descer-lhe pela face e com um ar muito surpreendido.
Elliot não lhe respondeu, limitou-se a fitá-lo com aqueles olhos azuis que mal se distinguiam da roupa que ele usava. Bell estava com receio que Elliot volta-se a pegar na arma, talvez tivesse ido um pouco longe demais, mas nada que nunca tivesse feito antes.
-Não acredito que possas ser tão sangue-frio - Opinou desiludido.
-Não sou eu que tem um familiar a apontar-me uma flecha á cabeça desde o início da conversa – Afirmou Doreán olhando para Bell.
-A que distancia?
-Em cima da muralha pendurada por uma corda, quarenta e três graus perpendicular á parede, espírito arqueiro, com uma ótima visibilidade, a favor da lua, ajustou a mira ao pouco vento de hoje, que atirador rigoroso.
Bell fez sinal a Stella, que da muralha ficou impressionada com as capacidades daquele humano.
-Bem antes que as coisas fiquem descontroladas preciso de uma resposta, querem se juntar a nós? - Perguntou Doreán inclinando-se para os irmãos.
-Por mim tudo bem - respondeu Bell ignorando a tentativa falha de o assassinar.
-O teu colega tentou matar o meu irmão - Disse Bill fitando Doreán - e se eu te tentar matar.
-Desculpa, desiludir-te, mas não me vejo a ser morto por um par de crianças.
-O meu irmão podia ter sido morto agora.
-E eu podia ter te matado assim que te vi - Disse Doreán elevando a voz - Por aquilo que vi o teu irmão tem uma boa capacidade para ler as pessoas, se não confias em mim pelo menos confia nele.
-Desde que ele não volte a tentar matar nos eu alinho - Concordou Bill, algo na voz de Doreán fê-lo repensar sobre que tipo de pessoa Doreán seria, e a sua desconfiança tornou-se em curiosidade.
-Muito Bem!! agora que já decidimos que estamos do mesmo lado precisamos de um plano, ainda falta bastante tempo para o evento começar e vocês não podem ir para a capital... assim - Gesticulou Doreán para ambos os rapazes.
-" Assim" - Retorquiu Bill ofendido.
-Suponho que não estejam muito bem de recursos se for assim estamos no mesmo barco - Afirmou olhando para as roupas básicas dos rapazes - temos de ir a um sítio onde possamos encontrar recursos e claro melhorar as vossas habilidades.
-Que tal a masmorra no vale das montanhas - Sugeriu Bill quando Elliot estendeu um mapa no meio do chão, lembrando-se de imediato da conversa que tivera com os donos da loja de armamento e poções.
-É um sítio interessante - Disse Doreán traçando uma linha imaginária com o dedo desde o lugar onde se encontravam até ao vale das montanhas - Mas infelizmente demoraríamos semanas só para chegar a metade do caminho, e isto com montaria.
-E se formos por aqui - Sugeriu Bell indicando uma figura estranha no mapa.
-Sempre seria um atalho, mas o que estás a sugerir é cortar caminho pela cova dos uivadores.
-Não gosto lá muito do nome - Opinou Bell desconfiado.
-Se o nome fosse o menor dos problemas - Doreán olhou fixamente para o mapa para as letras quase apagadas por baixo da figura estranha - Esse sítio está infestado de farejadores.
-Farejador...feio - Chiava Trei com as bochechas vermelhas.
-Sim, realmente são feios - Doreán permitiu-se a um sorriso talvez para tranquilizar os rapazes, mostrando que a situação não estava tão complicada como parecia.
-Eu acho que conseguimos dar conta de uns quantos cachorros sarnentos - Afirmou Bill confiante.
-Elliot, Trei preparem tudo vamos sair daqui - Elliot saiu da sala seguida de Trei desta vez muito menos relutante do que da primeira vez quase como se estivesse entusiasmado por finalmente saírem daquela cidade mas claro sem deixar que isso transparece-se.
-Espera aí segundo o mapa são quilômetros até á próxima cidade, nunca que vamos fazer este percurso num dia? - Perguntou preocupado e batendo com a mão na mesa.
-Nunca disse que íamos fazer isto num único dia - Doreán ajeitou os óculos e afastou a mão de Bill do mapa - No tempo em que eu andava a ser perseguido pelo exército vi me forçado a encontrar um sítio onde me pudesse esconder, sorte a minha enfiei me neste ninho de morte sem saber o que me estava á espera, todos os meus perseguidores morreram para os farejadores enquanto eu por sorte escapei e no meio tempo que não estive a ser perseguido construí um abrigo onde pudesse ficar até as coisas acalmassem, com o passar dos anos comecei a entender que túneis evitar e construí mais alguns abrigos caso um deles fosse descoberto.
-E como fizeste isso sem que os farejadores te encontrassem? - Perguntou Bell fascinado pela história de Doreán.
-Segredo - Sorriu-lhe - Agora eu preciso de saber se tu tens algum familiar?
-Porquê? - Perguntaram em uníssono os irmãos.
-Nós só temos dois cavalos, e dava jeito que um de vocês tivesse um familiar que suportasse o peso do Trei, para não termos de parar de dez em dez minutos para os cavalos descansarem, e eu duvido que um espírito arqueiro mesmo que útil não nos consiga ajudar nesta situação - Explicou Doreán.
-É assim eu tenho o Crainer e ele aguenta com bastante peso - Sugeriu Bill lembrando que o familiar podia não achar muita graça ao ser tratado como um burro de carga.
-Se já está tudo resolvido, venham comigo vou vos ensinar como é que isto vai funcionar.
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