12 . Incentivo Lésbico
Descobri que meus parentes se organizavam para ir no riacho da Vista Alegre. Esse era o motivo da agitação infernal naquela casa. Tive que me arrumar às pressas e engolir o café da manhã. No portão da frente, o buggy já estava estacionado e meu pai buzinava sem parar.
Vários carros estacionados na passarela do jardim começavam a encher de gente. Quando cheguei no portão, subi no carro do Eli.
— Letícia! Jeniffer! Vem com a gente! — ele gritou.
Elas vieram. Nós três ficamos no banco de trás.
— Espera! Também vou com vocês! — Uma voz nova surgiu por ali.
Olhei para o lado. Na casa da frente, saiu uma garota, vizinha da vó Lucia.
— Droga, a Naty, não! — resmungou a Jeniffer.
— Naty? — Olhei para Jeniffer.
— Nossa prima.
Outra prima, pensei. A Naty subiu, ficamos os quatro espremidos na traseira. Ao lado do Eli, iam a esposa dele com meu meio-irmão no colo. A Naty começou a conversar com a Jeniffer, ela tinha uma voz muito sexy. Olhei para a boca dessa prima nova, tão carnuda quanta a minha, usava um biquíni vermelho, os peitos não eram grandes, mas eram firmes, atraentes e ficavam ótimos naquele corpo esbelto.
Partimos.
Quando chegamos, nos amontoamos em uma barraca com uma cobertura de palha seca. Logo, o pai pediu algumas cervejas e as crianças se jogaram na água. Peguei um copo de cerveja e antes de levantar até a boca, tive que ouvir merda primeiro.
— Tu vai beber, é? — Eli me encarou com aquele ar repreensivo.
— É o que tem. Na verdade, eu prefiro cachaça. Cerveja me dá sono.
— Então não bebe, rapa!
— Ei, sô, vamos tomar banho — o João interviu.
Matei a bebida com um gole e bati o copo na mesa. Me virei e fui com o João. Caímos no riacho, nos afastamos — ele foi nadando e eu andando — um pouco e paramos em baixo de uma ponte de madeira.
— E aí, sô? Pegou a Letícia?
Aquele pergunta me incomodou.
— Não tenho nada pra dizer.
— Diz, sô! O assunto morre aqui. Pegou, ou não pegou?
— Beijei ela.
Ele abriu um sorriso largo e jogou água na minha cara, gargalhando.
— Sô! Tu conseguiu mesmo! Acho que ela nunca beijou ninguém na vida.
— Também não exagera, porra. E essa Naty?
— Viiiixe! Primo, ela é puta, puta. — Ele ergueu e desceu as sobrancelhas várias vezes. Notei que o "puta" não era um elogio, vindo do João. — Todo mundo já pegou, sô.
Aquela voz dela era um anzol poderoso.
— Isso não é problema, João. Até eu quero pegar, ela é um tesão, e fala como uma atriz pornô. Quantos anos ela tem?
— Quinze.
— Caralho... Beleza então.
— Ei primo, quer que eu chame ela?
Joguei água na cara dele.
— Não, porra. Me ajuda com a Letícia, entendeu?
— Despistar a tia é complicado, mas vou te ajudar.
Ele nadou até a barraca. Fiquei atrás de uma das colunas da ponte. Olhei em volta, estudando o terreno. Ali era um bom bloqueio visual. Espiei a barraca, vi a Naty mantendo a Jeniffer ocupada. Agradeci a Deus. Depois vi a Letícia e o João caindo no riacho. Eles se aproximavam aos poucos, demorou bastante até. Saí das colunas e fiquei à vista para que ninguém notasse minha falta. Eu, a Letícia e o João ficamos se divertindo.
Quando me esgueirei até a coluna, ela me acompanhou.
— Fico de vigia — meu primo sussurrou.
Ela sorriu. E senti um beijo molhado. Abracei ela, começamos a se tremer juntos. A minha pele encostada na dela, comecei a passar minha mão pela coxa, costas e braços. Aproveitei cada segundo, meus sentimentos se embaralhando como cartas de um mágico. Ela puxou um Às de copas do meu peito e rasgou. Os olhos negros me fitavam como um abismo, sugando a esperança dos meus.
Só dois dias, pensei.
Beijei ela com mais intensidade, esperando que os pedaços da carta se colassem e que uma surpresa fosse arrancada da minha falta de fé. Conversamos.
— Você vai embora amanhã?
— Vou ter que ir, eu não queria.
Segurei a mão dela.
— Eu também não. Nunca imaginei o que aconteceria aqui — eu disse.
— Sempre venho nas férias de julho, mas essa foi diferente. Você apareceu.
Senti a martelada no peito. Abracei ela. Continuei, só que sussurrando.
— Aconteceu algo diferente comigo. Não sei dizer o quê, exatamente. Mas foi bom.
Ela segurou meu rosto, tirei os cabelos molhados do dela. Outro beijo, nossas mãos apertavam um ao outro. Queria segurar ela, possuía-la de alguma forma. Que porra era aquilo? Eu detestava essa palavra... Possuir. Mas era como se unir. Sim! União. Dois átomos em uma fusão explosiva!
— Ei, a tia tá chamando — o João alertou.
Descolamos os corpos. Olhei para barraca. A mãe dela estava de pé, varrendo os arredores com um olhar bruto.
— Deixa ela chamar — Letícia me puxou e me tacou um beijo. Continuamos.
— Pessoal, eles estão vindo pra cá.
Rapidamente, nos juntamos ao nosso primo. Nós três conversávamos sobre qualquer coisa, quando os adultos chegaram. A Jeniffer e a Naty também vieram. Minha tia ficou criticando os meus brincos, meu cabelo grande e eu entrei no modo passivo. Concordando com tudo que ela falava, e pensando com frieza: "eu beijei tua filha, pode me criticar à vontade."
O João morava em Paulino Neves e na casa dele tinha internet. Depois do passeio pela Vista Alegre, eu e a Letícia fomos para casa dele, junto com meu pai e a mãe do João, minha outra tia.
— Tu tem Facebook, Caio? — minha prima perguntou.
— O que é isso?
— Uma rede social nova, tá tudo mundo usando.
— É tipo Orkut?
— É melhor. Vamos... Vou te ajudar a fazer uma conta.
Nos sentamos em frente ao computador e ela me ajudou com o cadastro. Vi um botão de "cutucar" e uma opção para encontrar amigos. Quando ela escolheu essa última. De alguma maneira sobrenatural, eu já possuía quatro amizades no Facebook: a Milena Morrigan, mais duas garotas e um carinha simpático.
— Olha só, você já tem amigos.
— Acho que são o pessoal do Orkut, que tem Facebook.
No mesmo instante, adicionei ela na minha lista de amizade. Ela aceitou. Naquela plataforma nova, senti falta de saber quem visitava o meu perfil. E aquele botão de "cutucar" me parecia inconveniente.
Largamos o computador e ela me mostrou os jogos do celular dela, que era bem mais avançado que o meu. Me ensinou a jogar pôquer, aprendi sobre um par, dois pares, trinca e por aí vai. Gostei, e perguntei sobre como funcionava esse negócio de "blefe" que eu via nos filmes. Ela explicou que era baseado na quantidade da aposta. Perdi algumas partidas, antes de entender isso.
Quando chegamos na casa da vó Lucia, nos metemos no quarto dela, mas a porta ficou aberta. O pai e a mãe da minha prima ficavam passando pelo corredor na frente, a todo instante. Ficamos sentados na cama da vó.
Letícia quis ver a minha lista de músicas. Peguei meu celular e mostrei, só tinha rock pesado de vários artistas diferentes, um álbum da banda A Day To Remember e uma música do Teatro Mágico, Sonho de Uma Flauta.
Escutamos a música If It Means Alot To You, da A Day To Remember. Ela gostou e passou o arquivo MP3 para o celular dela.
— Ei, vamos deixar mensagens salvas no celular um do outro — ela propôs.
— Tá bom.
Trocamos os celulares. Pensei um pouco e digitei.
"Você me marcou com fogo, senti algo novo e inexplicável. As queimaduras me trouxeram alegria. Como se o impossível se rasgasse até alguém gritar: agora é possível! As estrelas caíram e minha certeza quebrou, quando nos beijamos perto do balanço, meu coração...
Apaguei a palavra "coração", nesse contexto, eu detestava usá-la como metáfora.
coraçã| coraç| cora| cor|
...corpo balançou até o céu."
Salvei nos rascunhos e devolvi o celular. Ela já tinha terminado.
— Demorou, hein?
— Uma palavra me incomodou.
— Qual?
— Coração.
Ela abaixou a cabeça e foi procurar a mensagem. Peguei meu celular e li a que ela tinha feito.
"Primo, gostei muito de te conhecer. Você é uma pessoa interessante e misteriosa, seus olhos me encantaram, rir com você, me diverti com você e me senti bem com você. Te desejo tudo do melhor, um forte abraço e um grande beijo.
Da sua prima, Letícia."
Misteriosa? Nunca entendi porque as pessoas podiam me considerar "misteriosa", mas não queriam aceitar que eu era tímido. Tudo era uma questão de situação, existiam situações que levantavam a minha confiança e eu agia. Mas na maior parte do tempo, ficava calado e pensativo. Observando muito e agindo pouco.
— Suas palavras... elas são fortes — Ela pôs os olhos em mim.
— O que eu senti foi forte.
Ela sorriu e pegou na minha mão.
— As garotas de Fortaleza já leram algo do tipo ou você diz isso para elas?
— Não. Eu estou até impressionado. Não sou de escrever esse tipo de coisa, muito menos dizer. Mas sou um cara sincero, e quando minhas palavras são fortes é porque tenho algo forte esmurrando meu peito.
— O que é tão forte?
— Prefiro não dar um nome pra isso. Não cabe em uma palavra.
A mãe dela passou pelo corredor, Letícia tirou a mão da minha. Eu sorri e ela colocou If It Means Alot To You para tocar outra vez.
— Sabe qual nome ficaria melhor pra essa banda? — perguntei.
Ela sorriu e não disse nada.
— Dois Dias para Relembrar — respondi.
Ela gargalhou.
— Eu sabia que tu ia dizer isso!
— Que triste! Estou perdendo minhas forças e ficando óbvio. Talvez, eu não te impressione mais.
— Nem tanto, pensei que falaria em inglês, Two Day to Remember.
A esposa do meu pai tentou, outras tias tentaram e a própria Letícia tentou. E ninguém convenceu a mãe dela a deixá-la por mais tempo em Paulino Neves. Minha prima teria mais uma semana de férias antes das aulas começarem. Mas sua mãe não cedeu. Quando queríamos saber o porquê de tanta resistência, minha tia crente desconversava.
Todos tinham suas suspeitas, mas ninguém tinha a certeza do culpado. O tal culpado que já tinha feito muito, com a mãe dela presente.
Imagina sem?
Letícia voltou para São Luiz com os pais, e eu fiquei mais alguns dias. Me senti um vaso quebrado. Fiquei pensativo, parado e olhando para o tempo. Minha vó Lucia me via naquele estado e berrava:
— Tá pensando em quê? Cuidado! Quem pensa muito não se casa!
Morria de rir, até que aquilo fazia sentido.
Anoiteceu. Minha prima Jeniffer veio me chamar para sentarmos em frente à casa da Naty, na calçada. Eu fui. As duas me bombardearam com perguntas sobre eu e a Letícia. Me esquivei sem descanso. Não gostava de mentira, mas aquilo era muito invasivo. Então eu mentia mesmo. Não por mim, eu não dava a mínima se alguém soubesse o que eu sentia pela Letícia e que nós havíamos se beijado. Mentia por ela, para protegê-la da mãe super protetora e do pai esquisito.
Ali qualquer boato corria na velocidade da luz. Se meus tios soubessem de algo, não saberia dizer o que aconteceria com ela, então decidi prevenir. Logo, comecei a cultivar outros assuntos, quando repentinamente, uma mulher passou na moto.
— Olha lá, Jeniffer... é a Marcela — a Naty indicou a motoqueira.
As duas iniciaram um assunto sobre a Marcela e o fato dela ser lésbica. Não sabia porra nenhuma sobre essa tal de Marcela, então me foquei no assunto lésbica.
— E vocês duas, nunca beijaram uma mulher?
Elas negaram.
— Eu já! E posso dizer que vocês estão perdendo tempo com marmanjos.
— Como assim? — A Naty deu um sobressalto.
— Mulher é melhor.
— Claro que não! Você diz isso porque gosta de mulher. Mas nós gostamos de homens. — Jeniffer falou pelas duas.
— Vocês tem mal gosto, isso sim! A tal da Marcela que tá certa. E posso provar o que estou dizendo.
— Como? — A Naty se inclinou para frente, interessada.
— Vocês se beijam, e depois me falam como é bom.
As duas riram e eu fiquei empolgado.
— Nem pensar! — Jeniffer foi firme.
— Hum... Não sei, prima... — enxerguei uma brecha na Naty.
— Então, não me venha com essa de que homem é melhor. Vocês duas podem saber o que é bom, agora mesmo, é só um beijo. Isso não mata ninguém.
— Então porque você não beija nós duas — a Jeniffer propôs.
Olhei para a Naty.
— O que acha disso? Por mim, tá tudo bem — incentivei ela.
Ela pensou um pouco.
— Tudo bem eu te beijo também.
— Beleza, vamos lá! Vocês se beijam primeiro, depois eu entro no meio, atrapalhando as duas.
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