Capítulo Único
Akemi estava sentada em um banco de praça, vestindo sua roupa de colegial, e seus cabelos soltos, voavam conforme a brisa. Como estava linda! As flores de cerejeira caíam lentamente, dando um ar agradável à praça. Ela estava esperando eu, seu amigo "cabeça de vento". Akemi andava em minha direção e percebi que ela estava sem seus óculos de grau, e visualizei melhor seus olhos castanhos, rodeados por densos cílios. Como ela estava linda!
— Que bom que você veio, Seiji! Estava te esperando. — Abria um sorriso terno para mim.
Akemi levantou-se do banco e caminhou até a mim, selando seus lábios nos meus...
... E aí eu acordei!
Esse foi um sonho estranho, e já era a segunda vez que sonhava que Akemi me beijava. Isso era algo completamente fora do comum e irreal. Não que eu não goste da Akemi, não é isso. É porque ela é a minha amiga.
Éramos amigos desde a infância, porém, eu sempre fora muito popular e galanteador com as garotas. Akemi sempre fez o tipo de menina estudiosa, quietinha, amiga e solitária. Isso nunca foi um empecilho para a nossa amizade. Gostavamos muito de jogar vídeogame juntos, de ler mangás e assistir animes. Adorava sair com Akemi.
Via nela um "melhor amigo". Isso mesmo! Melhor amigo! Eu nunca vi Akemi como uma "garota", ainda mais porque ela nunca gostou de arrumar-se ou encher a cara de maquiagem. Sempre deixava os cabelos trançados e nunca usara lentes de contato, somente óculos, o que fazia com que os meninos ficassem zoando ela na quarta série. Isso até eu quebrar os dentes de alguns. Todos duvidaram de minha amizade com Akemi. Diziam que era impossível um garoto "popular" e uma "esquisita" ficarem juntos. Eu sempre achei tal coisa uma babaquice, porque fala sério, amo a Akemi como uma irmãzinha.
Outras pessoas praguejavam que Akemi seria mais uma, da minha eterna lista de ficantes. Hum. Quebraram a cara!
Deito-me na cama, com a sensação de que esqueci algo. Pego meu celular, que estava em uma cômoda, perto da minha cama e leio as mensagens. Para minha surpresa, haviam uma centena que eram da Akemi. E havia um recado que me fez rir bastante.
«Menino irresponsável! Que vontade me deu agora de bater nessa sua cabeça de melancia!»
Cabeça de melancia?! Minha cabeça tem a protuberância normal!
E só então recordei de nosso compromisso.
Akemi estava me esperando para estudarmos álgebra, por causa dos examos seletivos da PIPIF (prova importante para ingressar na faculdade), e como todo bom aluno do terceiro ano, deveríamos estudar, até ficarmos vesgos ou loucos.
Meleca! Akemi vai me matar!
Talvez ela não se irrite tanto por minha falta de noção. Ela sempre fora tão meiga comigo. Quando eu levei um fora de Sasha, a menina que jurava que seria minha namorada para toda a vida, Akemi foi meu ombro amigo. Ela é um amor de menina.
Olho no meu relógio de pulso, já marcavam 12h30. Esse tempo tá de sacanagem!
Levanto da cama rapidamente, e começo a procurar uma camisa no meio da pilha de roupas que amontoaram-se no canto do meu quarto. Ah, qualé?! Sou como todo jovem bagunceiro de dezesseis anos. E para quê arrumar a cama, se quando eu dormir, vou bagunçar ela mesmo?
Encontro uma camisa preta, com o desenho da caveira borrada do Justiceiro — um de meus filmes favoritos — e uma calça jeans azul. Calço meus tênis, e olho novamente as horas no meu relógio de pulso: 12h56. Caraca! Tô muito atrasado! O encontro estava marcado exatamente às 10h00. Eu sou um jegue. É, eu sei.
Acabo de me arrumar, dando uma olhada no espelho, arrepiando meus cabelos pretos com gel. O cara bonitão, no espelho, de olhos azuis dá uma piscadela para mim. Sou um pouco narcisista. Deve ser defeito de fábrica.
Coloco os fones nos meus ouvidos, bloqueando qualquer som externo. Gosto de escutar rock bem pesado. Já Akemi, tem um gosto musical bem peculiar. Ela ama música clássica, se não me engano, ela ama as composições do Mozart e Bach. Pego o meu skate e vou para o lugar do encontro, a praça da cidade de Osaka.
Do jeito que o gênio da Akemi era, devia está saindo fumaça pelos olhos de tanta raiva por conta do meu pequenino atraso.
♡♡♡
Cheguei à tempo, e avistei Akemi no banco da praça, sentada debaixo de uma cerejeira. Se eu não fosse tão esquecido, poderia jurar que vi isso no meu sonho de hoje mais cedo.
A praça estava calma. Pessoas caminhavam, havia pessoas sentadas nos bancos. Desci do meu skate e andei até a Akemi, que lia um livro de aparência bem antiga.
— Você está atrasado, Seiji. — Falara calmamente, ajeitando o aro dos óculos, olhando para mim como se fosse uma juíza. — Há algo que possa ser dito em sua defesa?
Coloco minha mão direita atrás da cabeça e abro um sorriso bobo para ela.
— Desculpa, Akemi. Eu estava com muito sono, porque passei a noite em claro jogando vídeogame com o Takato, e fora isso o despertador não tocou... Tô perdoado? — Realmente eu sou muito cínico.
— Não é justo! Cheguei tão cedo aqui para nada?! — Fechara o livro no colo com força. Por um segundo achei que fosse jogá-lo na minha cabeça. — Está pronto?
— Não... Estou morrendo de medo dos números. Quanto é um mais um mesmo?
— Relaxe, Seiji, se você errar os cálculos, pode colar de mim na prova final. — Fala em tom de voz, cheio de superioridade.
É por isso que eu a amo.
Peraí... O quê?!
[...]
Depois de muito quebrarmos a cabeça estudando, e tomando altas doses de sorvete de morango, convido Akemi para a minha casa para uma partida de Street Fighter. Ela até tentou relutar, mas no fim concordou.
No caminho para a minha casa, íamos sorrindo, contando piadas, ou zuando o professor de física e eu brincava com a maria-chiquinha dela. Nisso uma garotinha de cinco aninhos apontou para nós dois e disse para a mãe dela, que segurava a sua mão, que Akemi e eu éramos namorados. E isso foi suficiente para a face da minha amiga ficar rubra, e ela ajeitar os óculos com os dedos trêmulos.
Adentrando minha casa, trato logo de ligar o console.
Akemi sempre jogava com a Chun-Li e eu jogava com qualquer personagem, pois não é querendo gabar-me, mas sou muito bom nesse videogame. Já acomodados no sofá de casa — sofá este, que é o xodó de mamãe —, começamos o bate-papo:
— Mamãe não está em casa, e vai chegar bem tarde. — Falo sem muito interesse. — Ela não me deixa mais jogar, então aproveito quando ela está fora. Acho que é por causa do meu boletim! Levei muita bomba nesse semestre.
— Não é pra menos que a tua mãe ficou irritada. Seiji, seu boletim está cheio de notas vermelhas. Se eu fosse ela, vendia o seu console, seu celular, seu notebook, e os seus videogames! — Akemi falou olhando na minha direção, com um olhar de maldade.
Ela me deixou bem assustado agora.
— Ai, que crueldade, Akemi! Se acha muito espertinha, né? Te prepara que eu vou bombardeá-la com Hadoukens e Shourikens!! — Começo a esmagar os botões do joystick que nem um doido.
— Não quero tirar sua alegria, mas estou jogando com a Chun-Li, baby! — Disse confiante — E segundo meus cálculos, ela é a mulher mais forte do mundo! Toma isso!
Em uma virada que por sinal foi espetacular, Akemi derrotou-me. Nem eu consigo acreditar neste fato. Estou pasmo! Foi a primeira vez que ela me vencia nesse jogo. A derrota tem um gosto ruim. Ela estava extasiada, pulando como uma garotinha de felicidade, fazendo caretas para mim. Que infantil! Pude perceber que as lentes do seu óculos está embaçada:
— Que comemoração sem graça, Akemi! Nada a ver! Eu deixei você ganhar, boba! — Minto só para desfaçar meu ego ferido.
— Até parece, meu filho! — Posiciona as mãos na cintura, inclinando-se para mim. — Eu ganhei porque eu sou boa! Admita! — Ela retira o óculos, limpando a lente na camisa.
— Há, há, há! — Dou uma risada forçada. — Matemática é o teu forte não videogame, sua CDF! — Opa! Acho que eu não deveria ter dito essa palavra...
— Me chamou de CDF?! — Repetiu sibilando entre dentes.
Akemi chuta a minha canela. Não doeu muito. Mentira, doeu pra caramba! Ela odiava quando alguém a chamava de CDF. Esse apelido, lembrava-a dos colegas falsos da sala de aula. Na escola, ninguém levava em conta que Akemi era uma garota necessitando de amizade. Só a usavam para tirar boas notas nas provas e projetos escolares. Bando de hipócritas!
— Você vai pagar por ter me dado esse chute! — Digo, pulando em um só pé, segurando minha canela machucada com as duas mãos.
— Ah, é? Vai fazer o quê, Seiji? Me lançar um Hadouken?! — Akemi rir com deleite e percebo que ela está sem os óculos.
Igual no meu sonho. Posso testemunhar o quanto ela é bonita.
— Não! Vou te fazer cosquinha até você implorar para que eu pare! — Avanço sobre ela.
Começo a fazer cosquinha na barriga da minha amiga, e rapidamente me lembro de quando tínhamos nove anos. Eu sempre fazia cócegas nela. Akemi era super ultra hiper mega sensível à cócegas. Ela rir tanto que seus olhos lacrimejam, enquanto uma risada gostosa emerge de sua garganta.
— Ai, Seiji, para! Tô passando mal de tanto rir!! — Exclamava entre risadas.
Caímos os dois em cima do sofá. Paro de fazer cosquinha em Akemi, por um momento, para admirar a beleza dela. Ela é muito linda. Como eu ainda não havia notado isso antes? O rosto de Akemi estava corado. Talvez ela estivesse se perguntando, por que meus olhos estavam tão vidrados nela.
Vou chegando cada vez mais perto dela, deixando-me levar por este louco desejo repentino. Ela fecha os olhos, e sinto sua respiração ficando forte.
Os meus lábios tocam os lábios de Akemi. Ah, como seus lábios são doces. Creio que talvez, este tenha sido o primeiro beijo dela, pois foi perceptível sua inexperiência. Foi um beijo que iniciou-se tímido, porém logo depois foi se transformando em um beijo amoroso. Akemi entrelaça seus dedos nos meus cabelos, puxando-me para ela, e eu embebedava-me daquela intimidade.
Oh, Akemi, por que eu te amo?
Afasto-me, contemplando a bela garota ruborizada que beijei. Passo a mão no seu rosto delicado. Akemi então, tomada por um choque de realidade, me empurra. Já sei até o que ela dirá. Falará que não quer estragar a nossa amizade:
— Está tudo errado, Seiji! Tudo errado! Desculpe, eu não devia ter vindo aqui! — Levantou-se rapidamente do sofá em um salto, catando seus livros pelo chão e pondo os óculos no rosto.
— Akemi, como assim? — Pergunto atônito. — Errado o quê? Eu gosto de você. Sempre gostei de você! Um beijo não mata ninguém.
— Não mata, porém pode partir um coração. — Sua voz foi ficando fraca, como se fosse chorar. — Eu gosto de ser sua amiga, mas não quero que a nossa amizade tome um outro rumo. — Reparei que duas lágrimas escapuliram de seus olhos.
Raios! Eu a fiz chorar!
Aproximo-me de Akemi. Ergo o seu rostinho com a mão. Seus olhos castanhos estavam urgentes, como se ela quisesse fugir de minha casa. Parecia o olhar de uma presa nas garras de um predador faminto. O meu coração estava imprensado contra o peito, querendo explodir para fora, todos os sentimentos que eu sentia por Akemi. Estava cansado de deixá-los presos.
— Eu te amo, Akemi. — Confessei, sentindo um alívio enorme. — Que outro rumo nossa amizade poderia tomar?
Akemi retira a minha mão do seu rosto, apertando seus livros escolares contra o peito.
— Seiji, eu te conheço desde menina. Você sempre foi namorador... — Ela para de falar, me olhando com um certo desprezo. — Não serei mais uma qualquer, na sua lista extensa de amores passados. Sinto muito... Eu vou para casa. — Andava até a porta, girando a maçaneta.
Tento impedi-la.
— Akemi, por favor...
Ela não responde e nem me ouve, fugindo porta a fora. Eu sei que os meus sentimentos por ela são verdadeiros. Só que entendo o lado dela. Ela não queria magoar o seu coração.
♡♡♡
Passaram-se semanas sem que eu pudesse falar com a Akemi, depois daquele beijo. Akemi sempre fugia de mim na escola, como o diabo foge da cruz. Nem mesmo pelo Facebook nós conversávamos mais. Acho que fui precipitado demais. Droga!
Mandei diversos recados para ela, via WhatsApp. Até por meio do meu amigo Takato, mandei. E nada de Akemi falar comigo.
Vendo que Akemi apenas fugia, dias depois, eu tomei uma outra atitude, um pouco desesperadora: escrevi uma carta com palavras sinceras.
Assim que bateu o horário da saída, coloquei no armário de Akemi um envelope rosa e perfumado. Me vi obrigado a fazer um pedido de desculpas à moda antiga. E como Akemi era uma romântica nata por cartas de amor, sinto que fiz o certo. Dei o meu melhor para deixar minha grafia bonita, porque cá entre nós, ela é meio... Ela é um garrancho!
Ainda recordo do que escrevi para ela, enquanto anda a caminho de casa. Não sei por qual razão, mas uma lágrima desliza pelo meu rosto.
"Quero te dizer uma coisa. É mais dificil que complicado
Como vou te falar... Vou dizer o que sinto.
Dizer que ultimamente ando pensando muito em você.
Que você não sai da minha cabeça.
Que sonho com você quase todos os dias.
Que acordo e pergunto a Deus porque penso tanto em você.
E que nunca acho respostas para essas perguntas...
Sei que parece meio estranho uma pessoa que você nem conhece vir aqui te dizer essas coisas.
Mas você não sai da minha cabeça
E Deus... Como você é linda!
E esses teus olhos são as coisas mais lindas que eu ja vi
Tudo o que eu disse deve ser estranho.
Mas...
Quando uma coisa que nunca aconteceu, acontece!
Se o que sinto é certo? Eu não sei
Tudo o que sei e quero saber
É se posso ficar com você!
Meu coração dói quando foges de mim!
Eu te amo Akemi. Sempre a amei...
Acredite em mim"
Fico triste somente por pensar que ela me odeia. Por conta de um beijo! Eu preciso de Akemi na minha vida. Não como amiga, mas para ser minha, para sempre. O mundo sem seus sorrisos, sem sua alegria, e até sem suas broncas, não tem um pingo de graça.
Oh, Akemi, por que eu te amo?
♡♡♡
Fui andar de skate na praça, mas logo fiquei enfastiado, e fui sentar-me embaixo de uma cerejeira em flor, sentindo o seu aroma. Então, eu a avisto. Linda como um anjo. Akemi estava com a sua roupa de colegial, o que a deixava fofa. Abro um sorriso que surgiu automaticamente, somente por ver a minha paixão. Ela anda em minha direção, como no meu sonho, e senta gramado ao meu lado:
— Eu li a sua carta...- Sussurrara, ajeitando os óculos com os dedos nervosos. — Muito linda. Não sabia que você era um poeta, Seiji! — Virara-se para mim, e seus cabelos voavam conforme o vento.
Céus! Quero beijá-la! Controle-se, Seiji!
— Não venho até aqui falar sobre meus dotes literários, certo? — Dou um sorriso amarelo.
— Não... Eu vim falar sobre nós, e... — Akemi interrompera-se, olhando para as mãos.
— E?! - Não vou mentir. Sentir um pouco de esperança.
— Eu tenho medo, Seiji! — Sua voz fica embargada. — Não sei o que estou sentindo nesse exato momento. Por favor, perdoe-me.
— Tá tudo bem. Eu entendo. — Falo com um pouco de rancor, enquanto levanto para ir embora. — Não posso te forçar a me amar.
— Seiji!!
Assim que levanto e dou dois passos para frente, sinto o peso do corpo de Akemi, chocando-se em minhas costas, e as suas mãos estão em minha cintura, fazendo uma corrente para que eu não vá. E ela chora. Sou um idiota! Claro que eu a magoei.
Oh, Akemi, por que eu te amo?
— Eu te amo, Seiji! — Akemi me solta, permitindo que eu fique de frente para ela. — E fiquei esperando para confessar isso há tanto tempo.
— Eu sempre sonhei com esse momento... — A abraço, protegendo-a em meus braços. — Te amo, Akemi.
— Por que nunca me disse? — Akemi suspende o rosto, encarando-me. — Por que nunca demonstrou?
— Eu sempre te amei, mas nunca disse isso, com medo de você se afastar.
— Posso te pedir uma coisa? — Seus olhos estão suplicantes.
— Peça.
— M-me be-beija, Seiji! — Akemi gagueja e suas bochechas coram. Que fofa.
Ela retira os óculos e inclino-me para seus lábios.
Um beijo longo e apaixonado foi trocado. Estou no céu.
— Gostaria que nossa história tivesse um final feliz, espero que tenha! — Akemi abre um sorriso apaixonante para mim.
— Eu não gostaria. — Replico em prontidão.
— Nossa... — Vislumbro o espanto no rosto da minha namorada. — Você não quer que tenhamos um final feliz?
— Não, eu não quero que tenha um fim. — Respondo, dando um beijo em sua testa. — Quero que nosso amor seja eterno como o sol e as estrelas... Eu te amo, minha Akemi!
Oh, Akemi, por que eu te amo?
Ah, sim. Porque meu coração sempre foi seu!
♡♡♡♡♡♡♡♡♡
Quero agradecer as minhas amigas do Wattpad:
AnnYashimuro pela paciência em desenvolver o roteiro e a SanCrys pela linda capa que fez!
Obrigada! Sem vcs, eu não teria conseguido postar esse one-shot.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro