Capítulo 30 - The Lettler
A noite chegou e junto com ela, um clima frio e chuvoso pairou por toda Los Angeles. A temerosa frente fria que estava sendo anunciada nos jornais, chegou com força total, fazendo com que um dilúvio caísse. Mas aquilo não era nada, até porque, nada me impediria de ir até Ludmilla.
Eu já tinha tudo em mente. Ou melhor, tudo em um papel. Se eu fosse parar na frente de Ludmilla e falar tudo o que eu sentia, eu não sairia de lá hoje, por isso, decidi escrever tudo em uma folha. Resumi tudo o que eu sentia por ela. Agora, eu só precisava ir em direção ao meu destino, que no caso, era sua festa de orgia e cachaça.
Mas tudo parecia estar dando errado. Não era só o tempo contra mim, o meu carro também estava jogando no time adversário. Ele simplesmente parou de pegar no meio do caminho. Ligava e morria logo em seguida, me deixando desesperada. A casa de Ludmilla ficava em outro bairro e eu estava a vinte quarteirões de distância. A rua estava totalmente deserta, sem um taxi passando.
E ônibus, quase às dez da noite, seria praticamente impossível de aparecer. Por isso, eu só tinha uma opção: ir a pé.
Seria terrível, eu chegaria a sua festa totalmente ensopada, mas, vamos combinar: eu já tinha passado por todos os tipos de situações nas últimas semanas; aparecer molhada, de penetra, na festa dela, não seria nada demais.
Sendo assim, larguei o carro encostado em frente a um prédio comercial e desci, sentindo a chuva forte e gelada golpear minha pele. Meus sapatos de salto se tornaram insuportáveis, mas eu continuei a andar, segurando minha carteira de festa com força, sentindo o frio arrepiar todos os meus poros.
"Apenas continue a andar, Brunna, apenas continue a andar".
A rua estava deserta, eu poderia ser assaltada, estuprada e morta, mas nada me faria desistir. Meu celular estava fora de área, ligar para Patrícia era impossível, o que me fez percebe que: ou tudo daria certo nessa festa, ou o fim entre Ludmilla e eu estava mais próximo do que eu poderia imaginar.
Levou exatamente uma hora e dez minutos para que eu visse o prédio de Ludmilla. Meus pés estavam com bolhas, massacrados. Minha pele estava gelada, eu tremia da cabeça aos pés, mas pelo menos, eu havia chegado ao meu destino. Quando parei em frente ao prédio, dei uma rápida olhada em meu celular novamente, apenas para constatar que o maldito continuava fora de área. Perguntei-me sobre como iria entrar no prédio sem ser vista, até que a porta do estacionamento se abriu, para um carro preto e luxuoso entrar.
Era a minha chance.
Discretamente, passei colada ao muro do prédio e estava extremamente mal iluminado. Assim que o carro passou, eu passei logo em seguida, correndo antes que as portas fechassem. Eu estava dentro do prédio! Agora, era só torce para que o porteiro não estivesse monitorando as câmeras do estacionamento e do elevador.
Meus passos ecoaram pelo lugar silencioso até o elevador, que chegou logo depois de eu apertar o botão. Agradeci novamente pelo mesmo estar vazio, percebendo que, finalmente, agora estava começando a dar tudo certo para mim. Apertei o botão da cobertura e segundos depois, estava no andar de Ludmilla.
Nem me atrevi a olhar o meu estado no espelho do elevador, apenas saí correndo em direção ao corredor, escutando a música eletrônica que tocava em ultimo volume. A porta do apartamento de Ludmilla estava aberta e pude ver que a sala estava toda escura, uma iluminação verde, vermelha e rosa propícia para uma boate.
O cheiro de álcool e de cigarro dava para ser sentido de longe. Várias pessoas dançavam pela sala e, podem acreditar, se esfregavam como se estivessem sozinhos em um quarto. Era tudo... Obsceno demais. Nada a ver com Ludmilla e sua personalidade.
Avistei Patrícia e Larissa perto do sofá, no centro da sala e, com certa dificuldade, consegui chegar até elas. Tenho certeza que eu havia ensopado metade do chão da sala de Ludmilla, mas eu não podia evitar. A chuva havia acabado comigo.
— Brunna! Meu Deus, por que não me ligou? — Patrícia perguntou alto, me puxando para um abraço apertado. Mas me largou assim que sentiu meu corpo molhado. — Minha nossa, o que aconteceu? Você veio a pé na chuva?
— Mais ou menos isso. — falei, sorrindo para Larissai. — Onde está Ludmilla?
— Quer mesmo saber? — Larissa perguntou e eu assenti. Ela apenas apontou com a cabeça e assim me virei, senti meu coração se apertando.
Ludmilla estava sentando no sofá com duas mulheres sentadas em seu colo. Ela beijava as duas ao mesmo tempo, enquanto elas passavam as mãos pelo seu corpo. Era nojento e triste de se ver, ao mesmo tempo. Ela dava o seu famoso sorriso safado, mordia o seio coberto das duas, uma de cada vez.
— É isso que ela está fazendo desde que a festa começou. Você precisa dar um jeito nisso, Brunna. — Larissa disse. — Você sabe o que fazer?
— Sim. — falei, ainda observando. — Você só precisa abaixar esse som e acender as luzes. O resto, deixa por minha conta.
Olhei de relance ela assistir e sair de perto da gente. Em menos de cinco minutos, as luzes acenderam e a música parou de tocar. Várias pessoas começaram a gritar e pedir por mais, mas meus olhos estavam fixos no de Ludmilla que, assim que levantou a cabeça, olhou para mim também.
Várias coisas passaram pelos seus olhos em um segundo, emoções como surpresa, dor, amor e por fim, raiva. Pura e intensa raiva, toda dirigida para mim.
— QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? — perguntou em um grito que me fez tremer. — Quem foi o filho da puta que deixou essa mulher entrar na minha casa?
— Abaixa a sua bola, Oliveira. — Larissa disse, voltando para o lado de Patrícia. — Deixe a garota falar.
— Deixe a garota falar? O caralho, Larissa! Eu quero ela fora daqui, agora! Não estraga a minha noite, Larissa, por favor. Dê o fora daqui.
— Eu não vou sair até você me escutar. — falei no mesmo tom que ela, dando alguns passos para ficar na sua frente.
Ela me olhou de cima a baixo junto com as piranhas que estavam em seu colo e, como se tivessem ensaiado, começaram a rir. E então, a festa toda riu, olhando para mim. Eles estavam rindo de mim e, pelo visto, sem motivo algum.
— O que é isso? Para chamar a atenção, você decidiu se molhar antes de vir para cá? Tudo bem, tudo bem, você está gostosa e eu até te comeria, se eu já não tivesse me enjoado dessa sua boceta. — falou, maldosamente. — Sério, pessoal. Ela é maravilhosa na cama, mas ficar com uma mulher só, não é para mim. Quem sabe um de vocês não possa usufruir desse corpinho também. Já que está aqui, Brunna, sinta-se à vontade para pegar quem quiser. Menos eu, claro, pois já estou maravilhosamente acompanhada.
Ela sorriu para as duas garotas e logo depois, beijou as duas ao mesmo tempo, de novo. Eu senti vontade de chorar, mas não iria. Aquela não era a Ludmila que eu conhecia, não era a minha Lud. E eu vim aqui para trazê-la de volta. Eu iria conseguir.
— PARA COM ISSO, LUDMILLA! — gritei, chamando sua atenção. — Para de fingir, você não é assim. Eu te conheço muito bem, eu sei que você quer fazer isso para chamar atenção. A única coisa que eu quero, é que preste atenção em mim. Eu tenho algo para te falar e espero que ouça até o final, sim?
Ela elevou uma sobrancelha e me observou abrir a minha carteira e tirar a folha onde havia escrito os meus sentimentos. Ouvi sua risada baixa.
— Que bonitinha, ela escreveu uma cartinha para mim. Que patético, Brunna. — falou, revirando os olhos.
Ignorei novamente, com as mãos trêmulas, abri o papel. Não era muita coisa, eu consegui ser breve, mas coloquei cada palavra com todo o meu amor, com toda a minha sinceridade.
— "Eu queria começar te dando parabéns — comecei, revezando meu olhar entre ela e a folha que estava em minhas mãos. Todos estavam em silencio, me ouvindo. —, e agradecer a Deus por estar te dando mais um ano de vida. Na verdade, quero agradecer a Deus por ter te colocado nesse mundo, que seria mil vezes melhor se tivesse mais pessoas como você. Quando te conheci, nunca imaginei que estaria aqui, agora, declarando meu amor. Pensei que você era só mais uma pessoa com um emprego duvidoso, que não tinha nada para ocupar a mente. Eu não poderia estar mais enganada. Como você mesmo diz, você é muito mais do que apenas uma atriz pornô. É uma mulher adorável, responsável, carinhosa, que tem o coração mais bonito que já tive a oportunidade de conhecer.
Eu não falo isso só para obter seu perdão. Eu falo isso por quero que todos saibam que você é muito mais do que uma máquina sexual, ou sei lá como eles te consideram. Na verdade, eles deveriam te considerar mais, porque é muito difícil encontrar alguém como você. Eu encontrei, amei e perdi. E estou aqui porque te quero de volta. Eu te magoei, fui estúpida, totalmente idiota e reconheço meu erro. O que fiz não é tão fácil de ser perdoado, mas também não é indigno de perdão.
Te machucar, me machucou. Ver que você está fazendo tudo isso aqui para esquecer-se de mim está me quebrando ainda mais e não importa quantas desgraças aconteçam em minha vida, porque, o que vier de você é o que vai me atingir com mais força. Se por um acaso você realmente não me quiser mais, eu imploro, não perca a sua essência por mim. Eu não mereço isso. Mas se você me aceitar de volta, eu citaria a seguinte frase de Clarice: 'Valorize quem te ama, esse sim merece seu respeito. Quanto ao resto, bom... Ninguém nunca precisou de resto para ser feliz. 'Você me completa, Ludmilla.
E eu te amo mais do que tudo nesse mundo. Eu sei que posso passar por todas as coisas se você estiver ao meu lado, porque você é minha força. Eu posso perder a todos, mas não deixe com que eu perca você. Você é o amor da minha vida, uma mulher encantadora e eu a quero de volta ao meu lado. Cada pequena parte sua me faz feliz, me faz satisfeita e eu prometo nunca mais te machucar. Perdoe-me, por favor e se você disser não... Eu prometo nunca mais voltar a te importunar. Mas deixe o seu coração falar, assim como deixei o meu falar aqui.
Volte para mim. Eu te amo com toda a força do meu coração".
Terminei com lágrimas nos olhos e o coração quase saindo pela boca. Minha voz oscilava, mas eu não perdi a determinação e, pelo visto, Ludmilla também não. Sua expressão era a mesma de quando eu havia chegado. Ela me olhava fixamente, zombando de mim com um sorriso no canto dos lábios.
— Isso tudo foi para tentar me comover? — perguntou. — Inútil. Essa é a palavra para tudo o que você escreveu. Não mudou em nada, você continua sendo uma vadia que destruiu o meu coração. Não adianta vir com essa cara de santinha machucada e nem escrever juras de amor. Minha resposta continua sendo a mesma: não. Eu não perdoo você, Brunna.
As lágrimas caíram. Meu coração morreu.
Eu não tinha mais o que falar e nem o que fazer. Acho que Patrícia começou a gritar com ela, mas eu não prestava atenção. Eu havia prometido a mim mesma que aquela seria a última vez que eu iria atrás dela. Eu citei aquilo para ela. Apenas porque eu não tinha mais o que fazer, aquela foi a minha última alternativa.
Ela não me queria mais, ela realmente me odiava, assim como todo mundo. Devia sentir nojo de mim também, eu não duvidava nada.
— Cala a boca, Patrícia! — gritou e então, seu olhar voltou para mim. — Você já teve a sua resposta, não é? Então, cai fora daqui e não volta nunca mais. E pare também de mandar cartãozinho, mensagens de texto, telefonemas. O que eu preciso fazer par mostrar que eu não quero mais você? Quantas vezes você precisa ser ignorada e expulsa do meu prédio para aprender? Suma da minha vida de uma vez por todas, eu fui clara?
— Sim. — me ouvi murmurar, no automático. — Sim, sim...
— Brunna... — ouvi Patrícia me chamar, mas única palavra que continuava sair da minha boca era "sim".
Porque eu estava aceitando a tudo. A rejeição de Ludmilla, a humilhação, a dor, a morte... Qualquer coisa que viesse até mim, eu estava aceitando.
Eu não me lembro de muita coisa, apenas queria sair daquele lugar, sumir, realmente desaparecer.
Como prometi a Ludmila que iria fazer.
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