Capítulo 25 - Big Day (Part II)
Eu sorria de leve quando meu tio falava alguma coisa, murmurava algumas palavras em resposta e só. Minha cabeça e meu coração estavam um turbilhão. Ora concordavam com o meu casamento. Ora discordavam de tudo, me deixando cada vez mais confusa.
Observei Patrícia e todas as madrinhas se posicionarem e uma música lenta – que eu mesmo escolhi, mas simplesmente não sabia mais qual era – começou a tocar. Elas entraram lentamente e quando se posicionaram no altar, as portas se fecharam novamente.
— Brunna, querida. Está na hora. — meu tio disse, apertando minha mão levemente.
Sorri fraco de novo e o observei sair e dar a volta no carro. Ele abriu a porta para mim e saí, ajeitando o vestido ao meu redor. Estaria mentindo se dissesse que não olhei discretamente ao redor, procurando por Ludmilla. Queria muito que ela estivesse ali e me impedisse de casar; mas era óbvio que isso não iria acontecer. Isso não é um filme de Hollywood, onde o cara aparece do nada e rouba a noiva antes do casamento.
Mas no meu caso, não seria um cara. Seria uma mulher. Uma fodida mulher.
Sendo assim, enlacei meu braço ao braço de meu tio e os primeiros acordes da marcha nupcial começaram a ecoar pela Igreja. Alguns segundos se passaram e então, a porta se abriu. Lentamente, meu tio e eu começamos a andar pelo tapete vermelho. A igreja estava lotada, minha tia chorava ao lado da Sra. Rodrigues e Caio exibia um sorriso gigante no rosto, que nem de longe, era um espelho da minha expressão.
Eu estava séria, superficialmente centrada, enquanto me perguntava o que diabos estava fazendo naquele lugar.
— Você está incrivelmente linda, Brunna. — Caio disse, antes de beijar minha mão e me levar para o altar.
O padre começou a falar algo sobre o amor e união de almas, mas usas palavras vinham sem nexo para o meu cérebro. Simplesmente não filtravam nada, a não ser os meus pensamentos.
Por que eu estava participando daquele circo todo? Automaticamente, a voz de Patrícia entrou pelos meus ouvidos, ditando todo o meu futuro. Realmente, eu não seria a mulher mais infeliz do mundo me casando com aquele cara. Por que diabos eu iria entregar a minha vida inteira de bandeja para ele? Caio não amava ninguém além de si mesmo, ele não mudaria por nada no mundo, seu ego jamais permitiria.
Porra, por que eu era tão burra?
Havia deixado uma mulher maravilhosa por causa de nada! Ludmilla era uma atriz pornô, seu emprego não era o mais digno do mundo, nem o mais correto, mas e daí? A alma, o coração e o caráter dela eram o que realmente importavam para mim. Ela é uma pessoa boa, honesta, verdadeira, que já havia sofrido muito na vida. E eu fui mais uma pessoa que a fez sofrer, por conta da minha idiotice sem precedentes.
Eu precisei subir ao altar, quase colocando uma aliança no dedo, para perceber que aquilo não era o que eu realmente queria. Finalmente, minha mente e meu coração deram as mãos e, junto a mim, decidiram em uníssono, dizer um alto e poderoso:
— NÃO! — gritei.
Nem ao menos sabia se já estava na hora de dizer isso, apenas... Disse. Apenas gritei o que todo o meu ser estava implorando para dizer em voz alta.
— O quê? Não o quê, Brunna? — Caio sussurrou.
Olhei ao redor e toda a Igreja olhava assustada para mim. Acho que até a imagem da Virgem Maria me olhava espantada, mas simplesmente não me importei.
— Não, eu não vou me casar com você, Caio! — falei, me levantando e me afastando do altar.
— Como assim? Ficou louca? — Tia Grace me perguntou, olhando-me com terror.
— Sim, é isso que ouviram. Eu não vou me casar com esse homem. — falei ainda mais alto, escutando o murmurinho que começava a se formar na Igreja. — Eu não vou passar o resto da minha vida ao lado de um homem que, com toda certeza, apenas me fará sofrer.
Patrícia ria e batia palminhas silenciosas no altar, me olhando com admiração. Em toda a Igreja, apenas ela – e eu, claro – estava feliz pela minha decisão.
— Eu vou te fazer sofrer? — Caio perguntou, saindo do altar e parando na minha frente. Pensei que ele choraria, imploraria, daria seu teatrinho típico, mas ao invés disso ele riu. Ele soltou uma gargalhada alta, chocando a todos que estavam ali dentro. — E quem vai te dar uma vida boa, Brunna? Aquela atrizinha pornô?
— Atriz pornô? Do que ele está falando, Brunna? — meu tio perguntou, me olhando com o cenho franzido.
— Ah... Então vocês não sabem? Ninguém aqui sabe? — ele olhou ao redor. O murmurinho aumentou. — Não se preocupem, eu mostro a vocês.
Ele tirou o celular do bolso e começou a mexer nele com um sorriso diabólico no rosto. Uma expressão que eu nunca tinha visto até então.
— O que você vai fazer, Caio? — perguntei baixinho, olhando do celular para ele.
— Vou mostrar a sua bela atuação a todas as pessoas. Elas precisam saber que estão diante de uma estrela pornô, Brunna. — ele murmurou, voltando a olhar para todos. — É disso aqui que estou falando. Dessa pouca vergonha que essa mulher fez. Eu nunca, em toda a minha vida, pensei que você faria algo como isso, Brunna. Eu ia te perdoar, na verdade, já tinha perdoado, mas agora que você não quer mais casar comigo e ainda me coloca como culpado de toda a história? Não fui eu que gravei um filme pornô, querida.
Ele levantou o celular e o murmurinho cessou rapidamente. Ouvia-se apenas uma cosia dentro da Igreja: meus gemidos. Eles ecoavam por cada parede daquele lugar, em alto e bom som, enquanto os olhos de todos estavam vidrados na tela grande do celular de Caio. Minha cena com Ludmilla estava ali e todos poderiam ver tudo.
Meus olhos se encheram d'água. Eu não sentia vergonha de estar contracenando com Ludmilla, mas eu sentia dor por conta da decepção que via nos olhos das duas pessoas mais importantes para mim e que estavam naquele lugar. Meus tios me olhavam horrorizados, assim como os pais de Caio e o próprio Caio, que tinha uma falsa mágoa no olhar.
— Você está idêntica a uma puta aqui, Brunna. Ou talvez seja isso que você seja: uma verdadeira puta. Porque é só essa palavra que eu tenho para designar o que faz uma atriz pornô.
— Olha aqui, seu filho da puta! — Patrícia gritou, saindo do altar e parando ao meu lado. — Não vem dar uma de bom moço, de puritano e inocente, porque isso é tudo que você não é. Você traiu, Brunna, você magoou a minha amiga e vem chamar ela de puta? Você que é um canalha, Caio. Um falso! Foi só ela dizer "não" e você colocou esse vídeo para todos verem, mas, se ela tivesse dito "sim", você jamais mostraria isso, não é mesmo? Você, de todos os canalhas que já vi, é o mais filho da puta!
— Ora, Patrícia. O que eu cometi foi apenas um deslize, algo bobo que jamais iria se repetir. Agora, o que sua amiga fez, está aí na internet para todos verem. Ela deveria se envergonhar, na verdade, ela é uma vergonha para todos nós! Manchou o nome de sua família desse jeito, nem para colocar um nome artístico para colocar um nome artístico para dar uma camuflada na putaria você serviu.
— Estamos na casa de Deus, por favor, parem com os xingamentos! — o padre tentou, mas foi em vão.
— E sabe o que é pior de tudo nessa história? — Caio gritou. Ele olhou para todo mundo e logo depois olhou para mim. — Ela esta apaixonada pela atriz pornô. Melhor dizendo, ela está apaixonada por uma mulher com um pau — ele riu com desdém e eu soltei um pequeno soluço em meios às lágrimas — Sim, vocês não ouviram errado, uma mulher com um pau. Uma aberração! Acreditam nisso? Ela está apaixonada por uma aberração que fode com todos os tipos de mulheres por aí. Uma aberração que não tem o mínimo de escrúpulos, que é uma suja, uma safada e depravada!
— CALA A SUA BOCA! — gritei, limpando as lágrimas que estavam caindo. — Cala a porra da sua boca, Caio. Não a chame dessa forma e nem fale de Ludmilla dessa forma, porque ela não é nada disso. Você não a conhece!
— Eu não disse? Olha só como ela defende a atrizinha! — disse, balançando a cabeça. — Isso é deprimente, Brunna.
— Deprimente é você. Eu não posso acreditar que eu deixei uma pessoa maravilhosa como Ludmilla, para vir participar de todo esse circo. Não me olhem como se eu tivesse feito a coisa mais errada do mundo, porque eu não fiz! Eu gravei sim essa cena com Ludmilla e gravaria mais de um milhão de vezes, só para conhecê-la novamente. Ela é a mulher mais íntegra, carinhosa e afetuosa que já conheci. E eu estou sim apaixonada por ela, por uma mulher, na verdade apaixonada é pouco... — falei, abrindo um sorriso e deixando a tristeza de lado. — Eu a amo. E ela me ama também! E não importa o que você diga ou faça, Caio. Mesmo que ela não fosse intersexual, ela sempre será mil vezes melhor do que você!
— Ah, é mesmo? Ela fode com milhares de mulheres por aí, ganha para isso e ela é melhor do eu, que sou um advogado íntegro e respeitado por toda Los Angeles? Me poupe, Brunna.
— Ela é melhor sim. Você é um mentiroso, Ludmilla nunca mentiu para mim. Você é um canalha, Ludmilla é a pessoa mais sincera que já conheci. Você é respeitado por metade de Los Angeles? Caio, a Ludmilla, só com as cenas dela, é uma das atrizes pornôs mais respeitadas do mundo, do ramo da pornografia. Você nunca me amou, Ludmilla me ama de verdade...
— Até agora você não me falou porra nenhuma, Brunna. — ele riu baixinho.
— Você nunca me deu um orgasmo e nunca daria, com essa vareta que tem no meio das pernas. Já Ludmilla me deu não só um milhão de orgasmos, como também já me deu várias ejaculações. E ela nem precisaria ter um pau enorme para isso, porque ela sabe dar prazer de verdade a uma mulher, já você... — sorri, vendo sua cara desmoronar e a Igreja romper em uma gargalhada alta. Quando se acalmaram, eu disse: — Ou seja, ela é sim melhor do que você. Melhor em tudo e eu não vou perder mais um segundo da minha vida, tendo que aturar essa sua... Cara de virgem. Com licença.
Virei-me e Patrícia me acompanhou, rindo alto e a bom som comigo. Quando saímos da Igreja, ela me abraçou com forçar.
— Eu não acredito, Brunna, oh meu Deus! Eu deveria te dar uma surra, mas a única coisa que consigo fazer é rir. Você acabou com ele, amiga! Eu estou tão orgulhosa. — me soltou e segurou minhas mãos. — Por um momento, pensei que você fosse jogar sua vida em uma lata de lixo e logo depois... Você fez tudo isso. Eu estou explodindo de tanta felicidade!
— Eu também pensei que iria jogar minha vida no lixo, mas minha mente se abriu totalmente. Viu do que eu me livrei? Eu ia ter que aturar esse cara de virgem para sempre! Eu não acredito que pude ser tão burra!
— Mas você mudou de ideia e isso é o que importa. Aliás... Cara de virgem? Que porra é essa?
— Ludmilla que inventou... Só peguei emprestado. — ri de leve, dando de ombros.
— Ah sim, Ludmilla. Ela é realmente muito criativa. Por falar nela... Acho que temos que ir atrás de certa atriz pornô de coração partido, não é? — ela riu. Vamos, eu estou com meu carro.
A segui, arrastando meu vestido de noiva por quase um quarteirão, até chegar a seu carro. Durante todo o percurso até o apartamento de Ludmilla, Patrícia passou todos os sinais vermelhos e ultrapassou o limite de velocidade, eu só rezava para que – Além de chegarmos inteira – Ludmilla me perdoasse por toda a merda que eu havia feito.
Seria difícil, mas eu ia conseguir.
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