— E foi isso que aconteceu? — Patrícia perguntou, quando terminei de relatar o meu último dia com Ludmilla.

— Foi exatamente isso que aconteceu. — murmurei, olhando para o teto.

Estávamos deitadas na minha cama, com chocolates, balas, sorvete e todo o tipo de porcaria calórica ao nosso redor. Não falava com Ludmilla há três dias e, desde o dia em que a conheci, nunca fiquei tanto tempo sem ouvir sua voz, ou ler alguma mensagem, ou vê-la... Aquilo tudo estava me matando!

— Eu acho que estar apaixonada é pouco pelo o que estou sentindo, Bru.

— Você a ama?

— Eu não sei. Mas é algo mais do que paixão. É algo mais forte, nem por Caio eu me senti tão... Cheia de saudade desse jeito. Parece que vou explodir! — falei, pegando mais uma colher do meu sorvete.

— Realmente você vai explodir se continuar comendo desse jeito. — ela riu um pouco, mas logo parou. — Ela passou por muita coisa nega, e mesmo assim, eu estou impressionada com o modo como ela encara a vida. Ela é muito mais do que uma mulher que só fode e fode como você pensava. Ela é carinhosa, ela se importa, ela está apaixonada por você. Poxa, ela gosta de crianças! Caramba, Brunna. Uma pessoa assim você não encontra nos dias de hoje.

— Eu sei, Patrícia. Mas como eu vou ficar com uma mulher que trabalha com sexo? Pelo amor de Deus, ela transa com outras mulheres! E eu não preciso descrever tudo o que ela faz, porque você sabe muito bem. Eu jamais conseguiria aceitar a ideia de que a mulher que é minha namorada, transa com outras.

— Mas Larissa disse que ela não grava desde o dia em que fez aquela cena com você. — ela soltou, enquanto comia mais um chocolate. — Eu acho que, se você conversar com ela, falar que não aceita sua profissão, ela mudaria de ideia. Ela está louca por você, Bru.

— Ela não mudaria. É a vida dela e eu jamais pediria para que ela fizesse isso. Eu simplesmente não tenho o direito de fazê-la mudar a esse ponto.

Eu realmente não tinha. Ludmilla era uma atriz consagrada em seu ramo, uma pessoa conhecida e que cresceu por causa da pornografia. Por mais que essa ideia seja um tanto repugnante, seria muito injusto que eu a fizesse escolher entre sua profissão e a mim.

— Por falar em Larissa... Como foi a noite de vocês?

Patrícia soltou uma risadinha estranha e deu de ombros. Quando olhei para ela, pude perceber que ela estava com o rosto ligeiramente vermelho.

— Foi... Incrível! Não só a primeira, mas a segunda, a terceira... Ah, Bru! Eu acho que estou apaixonada por ela.

— Jura? — perguntei, me sentando para observá-la melhor.

— Sim e ela parece sentir o mesmo por mim. Estamos conversando ainda, mas tudo indica que iremos ficar juntas. Ela não é tão safada como eu imaginei, sabe? Ela é muito legal, encantadora e sabe usar aquela língua como ninguém... — ela riu e balançou a cabeça. — Ok, chega de falar de mim! Eu estou vim aqui para escutar você. O que vai fazer? Vai deixa-la escapar dessa maneira, sem fazer nada?

— Ah, Patrícia, eu não...

O barulho do meu celular me interrompeu e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Patrícia pulou da cama e o pegou em cima da mesinha de cabeceira, que estava próximo a ela. Primeiro ela estava sorrindo... Mas logo sua expressão se fechou e ela me encarou com uma cara nada boa.

E eu sabia exatamente o porquê de sua expressão.

— Mas que porra é essa, Brunna? Como assim você vai se encontrar com Caio essa noite e não me avisa nada?!

Ela estava indignada e eu também ficaria se estivesse no lugar dela. Mas tudo tinha uma explicação.

— Acalma-se, ok? Deixe-me explicar...

— Eu estou esperando! — falou, colocando à mão na cintura.

— Ele pediu para jantar comigo e eu aceitei. Até porque, Patrícia, o nosso último encontro foi péssimo. Ludmilla estava aqui e você sabe o que aconteceu... Eu só quero encontra-lo para colocar tudo em pratos limpos e dizer que não tem volta. Será nosso último encontro, definitivamente!

— E para isso precisa vê-lo? Um SMS resolve tudo, Brunna. Não precisa ir jantar com ele só para falar que não vai voltar para ele. Depois de tudo o que ele já fez, já era para ter tomado vergonha na cara há muito tempo!

— Eu só vou para tirar qualquer possibilidade de volta, da cabeça dele. Não será nada demais, eu prometo.

Ela balançou a cabeça e suspirou, jogando meu celular e meio aos doces que estavam na cama.

— Eu estou com um mau pressentimento. Não sei, mas acho que esse jantar vai mudar muita coisa. E você sabe que quando eu sinto essas coisas, é porque realmente acontece.

Um calafrio estranho percorreu meu corpo e eu me levantei na hora, respirando fundo. Tudo aquilo era bobagem, o que poderia acontecer? Na pior das hipóteses, só seu voltasse para ele.

E isso não iria acontecer... Não mesmo!

— Nada de ruim vai acontecer, certo? Esqueça isso, Paty. Qualquer coisa, eu chuto as bolas dele e está tudo resolvido.

Ela riu de leve e balançou a cabeça, como se dissesse que eu era louca. Mas eu nunca disse que era normal, então... A única coisa que eu tinha que fazer era ir me encontrar com Caio e acabar com o nosso relacionamento de uma vez por todas.

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Sugiro que botem colete aprova de balas.