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O Mártir

18/12/2013
Buenos Aires - Argentina

- Eu sinto muito, os bebês não resistiram.  - diz o médico.

- O quê?

- Tem mais uma coisa, a senhora não poderá engravidar novamente. Seus órgãos femininos internos foram comprometidos, sinto muito senhora.

Absorvo essas palavras em silêncio. Olho para o meu marido e nos seus olhos vejo dor e decepção. Sinto vergonha, essa decepção fui eu que causei. Ele sempre sonhou em ser pai de uma menina e agora eu acabo de perder os nossos dois filhos.
Entro no carro no estacionamento do hospital e seguimos para casa sem nos pronunciar.

Minha semana foi cercada por silêncio e dor. A dor física já não existe, mas a dor da alma, essa seguirá comigo para o resto de meus dias como uma erva daninha que aperta minha garganta a ponto de sufocar. Meu companheiro prefere não falar sobre o assunto, essa é a forma que ele tem de reagir às rasteiras da vida. Eu já prefiro acreditar, tudo tem o seu tempo.

******************************
Três Anos Depois...

Acordo me sentindo mal, sinto minha cabeça pesada e o estômago embrulhado. Me levanto da cama lentamente, mas todo o cuidado não adianta em nada. Corro em direção ao banheiro e todo o conteúdo do meu estômago é expelido. São ânsias seguidas por mais ânsias e me sinto febril. São nove da manhã e Bernardo já saiu para trabalhar, estou doente e sozinha e não posso contar com a minha família que mora ao lado.

Faço minha higiene pessoal e me deito novamente. Pensamentos errôneos vêm a minha mente. Preciso fazer uns exames e saber o que está acontecendo, não é de hoje que eu não me sinto bem.

Pego o meu celular e ligo para a minha amiga Fernanda:

- Amiga, preciso que você vá no Dr. João comigo, o Bernardo está trabalhando e eu não estou me sentindo bem.

- Biane, fica tranquila amiga, daqui a quinze minutos eu estarei aí. Beijos!

Fernanda é a minha melhor amiga. Nos conhecemos ainda na adolescência e a sua família me deu abrigo e carinho, coisas que a minha própria família deveria fazer, mas nunca fizeram. Minha mãe me abandonou quando contei para ela dos abusos sofridos pelo meu padrasto. Até hoje suas palavras ecoam na minha mente como uma melodia macabra para me atormentar.

"Porque está fazendo isso Biane? Ele sempre te tratou bem, sempre cuidou da gente e nos dá de tudo. Se aconteceu a culpa é sua, você provocou isso. Eu nunca vou te perdoar se ele me largar por sua causa."

Por anos a culpa me consumiu, mas hoje entendo que eu era apenas uma criança indefesa e que necessitava de cuidados e não merecia ser responsabilizada pelos abusos sofridos.

A mãe da Fernanda, Matilde me cuidou como uma filha. Hoje mesmo eu sendo casada com Bernardo não me mudei de cidade para poder ficar perto delas.

O interfone toca, é Fernanda anunciando a sua chegada na portaria.

- Tô descendo.

Pego minha bolsa com dinheiro e documentos e entro no elevador. Quando chego na portaria Fernanda me dá uma abraço reconfortante.

- Ai amiga, estou aqui rezando para que não seja nada grave.

- Eu também mana, eu também. - Respondo.

Fernanda me leva em seu carro e em meia hora chegamos ao consultório médico. Dr. João estava me aguardando.

- Senhora Biane, quanto tempo! Me diz o que está acontecendo?

- Bom dia Dr. João! Eu tenho andado cansada, com tonturas frequentes e muita ânsia. Isso pode ser algum problema com o estômago doutor?

- Não posso te dar nenhum tipo de diagnóstico sem fazer uma bateria de exames. Vamos começar?

- Ok.

Passo mais de duas horas nas salas de exames de Raio-x, ultrassonografias, exames de sangue, entre outros. Fernanda a todo momento segura nas minhas mãos e me tranquiliza dizendo que eu não estou sozinha. Pegando o resultado de todos os exames pedidos, voltamos ao consultório do Dr.João. Dou duas batidas na porta e sou convidada a entrar. Entrego meus exames ao doutor e ele os analisa minuciosamente. De repente ele levanta os olhos dos papéis e abre um sorriso.

- Parabéns, você vai ser mamãe!

- Isso é impossível doutor, meus órgãos foram comprometidos quando eu perdi meus dois filhos há três anos.-  Respondo já com a voz trêmula e com os olhos se enchendo de lágrimas.

- Então houve um milagre aqui, porque o que eu vejo é um feto saudável de aproximadamente treze semanas.

- Oh meu Deus! - Dessa vez é Fernanda quem diz me abraçando e caímos em prantos no consultório. Nos acalmamos para contar para o médico o meu histórico de aborto. Terminando a consulta ele me receita algumas vitaminas, me dá recomendações de como me portar de agora em diante para que eu não venha a ter problemas e marca meu primeiro pré-natal.

Fernanda fica louca e vejo quando ela muda a direção do carro em direção ao centro da cidade. Quando me dou conta estamos entrando no estacionamento do Alto Palermo Shopping. Ela desce toda animada e abre a minha porta.

- Vamos montar o enxoval amiga!

- A gente nem sabe se é menino ou menina Fernanda, tá ficando doida?

- Não importa, vamos fazer compras. - Damos risada. Sei que ela está fazendo isso para me distrair e não ficar pensando nas minhas inseguranças devido ao desastre com a primeira gravidez.

- Tá bom, mas não vamos demorar muito por que eu tenho que dá a notícia para o Bernardo.

- Mana esse homem é louco por você, ele vai ficar nas nuvens.

Concordo com um aceno de cabeça.

Almoçamos e passamos a tarde no shopping, me sinto muito cansada e peço Fernanda para me deixar em casa, o que ela prontamente faz. Ela me ajuda a subir com as sacolas de roupinhas de bebê e me dá um abraço na porta do meu apartamento.

- Qualquer coisa me liga tá mana?

- Ligo sim Nanda, obrigado por tudo, eu te amo!

- Também te amo, agora vá descansar.

Entro em casa ainda tentando assimilar as surpresas do dia. Coloco as bolsas no sofá, vou para o quarto e tomo um banho rápido e exausta vou me deitar.

Horas depois ouço a porta do quarto abrir, abro os meus olhos e vejo Bernardo entrando no quarto com lágrimas nos olhos e segurando as roupinhas de bebê nas mãos.

- A-amor, é o que eu estou pensando?

- Sim amor, nós vamos ter um bebê!

Bernardo me abraça e choramos por muito tempo. Nosso sonho está se realizando, nunca pensei que fosse ter a chance de voltar a ter alegria novamente.

As semanas se passam e eu começo a fazer o pré-natal. O bebê está muito bem e na próxima ultrassonografia já vamos poder ver o sexo do bebê. Bernardo está nas nuvens, arrumou o quarto do bebê com as cores rosa e azul, ele diz que se for menina fica do lado rosa do quarto e se for menino do lado azul. Nunca estivemos tão próximos desde a nossa grande perda.

Chega no dia de saber o sexo do bebê, estou muito ansiosa para já começar a escolher o nome. Nós deixamos para escolher quando descobrirmos o sexo. Pego um táxi em frente ao meu prédio e vou para o consultório, meu marido vai depois que resolver algo no trabalho.
Desço na entrada do hospital e vou direto para o consultório do Dr. João que está acompanhando a minha gravidez. Dou duas batidas na porta de seu consultório.

- Por favor, entre.

- Bom dia doutor.

- Como vai a minha paciente favorita?

- Estou me sentindo radiante e muito curiosa para saber se é menino ou menina.-Respondo com um enorme sorriso no rosto.
Uma enfermeira me acompanha até a sala de ultrassonografia e me auxilia na troca de roupa, coloco um Jaleco hospitalar e fico aguardando o Dr. João para que ele faça o exame. Ele entra na sala já preparando os equipamentos, ele passa um gel frio na minha barriga e posiciona o aparelho.

- Preparada? Vamos acabar logo com essa ansiedade. - Ele sorri.

Olhando para os aparelhos o seu sorriso morre e seu semblante assume um ar preocupado, meu coração acelera e imediatamente sei que tem algo errado. Ele me olha e respira fundo.

- Pode falar doutor. - Falo já com a voz embargada.

- O feto está sem batimentos, você está com um aborto retido. Uma grande infecção já se espalha pelo seu corpo, precisamos realizar um procedimento de curetagem com urgência. Eu sinto muito Biane.

- Preciso falar com o Bernardo.

- Claro, aqui. - Diz o doutor me oferecendo o seu celular.

Digito o número do meu marido e com três toques ele atende.

- Oi amor, já estou no carro indo te encontrar. Como estão as coisas por aí, já sabe se é menino ou menina?

Fico sem saber o que dizer. O doutor percebendo a minha hesitação pede para falar com o Bernardo e eu deixo, ele sai pela porta com o celular no ouvido e falando baixo. Me movo lentamente, me sinto vazia. É como se eu estivesse em um lugar sem ruídos, sem chão, incolor... Estou vazia, límpida de qualquer tipo de sentimento. O doutor entra desajeitadamente na sala e pede para que a enfermeira corra e chame a equipe de resgate para a Avenida Del Libertador que fica a 15 minutos do hospital. A enfermeira corre em direção a recepção do hospital. Sinto uma dor tão forte no meu peito que me impede de respirar, é como se o maior pedaço do meu coração acabasse de der rasgado com uma faca cega.

- Doutor, o que está acontecendo? O que houve com o Bernardo?

- Ele sofreu um acidente enquanto conversávamos, não sei os detalhes, só ouvi uma batida e rapidamente mandei chamar o resgate. Fique calma, você não pode se alterar. Fique aqui, vou chamar uma enfermeira para te fazer companhia.

Ele sai me deixando sozinha.

Sem conseguir me segurar mais aqui na sala sem fazer nada eu vou para a entrada do hospital onde uma equipe de resgate entra com uma maca. Aparentemente é um homem que está sendo carregado. Me aproximo mais e ouço um dos paramédicos dizendo:

- Bernardo Sanchez, horário do óbito 10:23.

Eu nem se quer tenho forças para chorar, olho friamente para o teto e desligo a minha mente. Todos os sons desaparecem. Vejo tudo ao meu redor mas não sei o que são essas coisas e nem quem são essas pessoas.

Profundezas... Escuridão...


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