Capítulo 8 - Parte II
O sol nasceu em Wakanda iluminando a terra abençoada por Bast. Enquanto o som vindo dos pássaros do leste acordavam o civil wakandiano, a rotina do palácio real contava com um despertar mais cedo, pois havia inúmeras tarefas após o glamoroso evento da noite anterior.
T'Challa estava em seu escritório quando o café quente e puro foi servido logo no início da manhã. Junto ao monitor que seguia por holograma na superfície da escrivania, o rei lia atentamente os documentos que precisavam de sua aprovação.
Duas batidas na porta o interromperam, porém, foi com um sorriso que ele recebeu a visita de sua amada Nakia. A espiã não escondeu a expressão de preocupação e seguiu direto para onde T'Challa estava, não demorando para explicar a natureza da situação.
- Amor, sua irmã estava devastada ontem - disse ela ao sentar-se na cadeira à frente.
- Ontem? - Ele coçou a cabeça, pensativo. - Eu mal a vi, por isso, achei que ela estivesse curtindo na pista de dança ou conversando com o barman durante a noite inteira, como tem costume.
De certo que a princesa constantemente era encontrada naquele meio. Os tablóides estavam acostumados em retratar e repassar aquela imagem de Shuri, sendo esta não uma total verdade. Afinal, ela era muito mais do que festas e agitações.
- Temo que algo a deixou naquele estado - a imagem do estado emocional em que Shuri se encontrava rapidamente voltou em sua mente. - Ela ficou ainda mais aflita ao ver K'aran.
- O filho de M'Baku? - Estranhou o rei. - Eles se conheciam?
- Não, aquela foi a primeira vez que ela o viu. Você acha que ela deduziu que o jabari poderia ser um candidato?
Apesar de ser taxado como plano, ele jamais havia colocado em prática a ideia de listar supostos futuros príncipes para sua irmã. Aquele não era um filme da Disney, o qual se espere um candidato encantado vindo do outro lado do mundo para se apaixonar pela princesa.
Por isso, render aquela história seria apenas com o único objetivo de fazê-la acordar para suas responsabilidades. Foi assim que uma luz se acendeu nele, lembrando T'Challa da conversa que tivera com o outro líder na festa.
- M'Baku conversou sobre isso no baile -afirmou o rei. - Ele insistiu no casamento, - então, o esboço de desaprovação surgiu na face de Nakia - mas eu neguei no fim.
A espiã suspirou em alívio. T'Challa era um bom homem e ela sabia que ele nunca iria forçar a irmã a casar independentemente dos benefícios que a união possa gerar. A liberdade dela valia muito mais do que toda a fortuna que Wakanda poderia fornecer.
- Acha que ela pode ter escutado parte dessa conversa? - Sugeriu Nakia ao juntar as peças do quebra-cabeça.
- É provável, - concordou, sentando-se mais ereto na cadeira de couro - estávamos na varanda do salão - e acrescentou com certo desgosto de si: - Não é um local tão reservado assim.
- Você precisa conversar com ela e esclarecer tudo, ela vai entender - Nakia pegou a mão deles sobre a mesa. - Seu relacionamento com sua irmã está em risco se mantiver essa ideia maluca. Eu sei bem o quanto vocês dois são afetuosos um com outro - ela abriu um leve sorriso de conforto. - Não vale a pena apostar alto e arriscar perdê-la.
Como era de se esperar, Nakia sabia o que estava dizendo. O fundo de verdade era o bastante para que T'Challa também concordasse, entretanto, uma pequena parte dele alertava sobre a oportunidade de ensinamento que seria perdida.
- A responsabilidade dela...
Abruptamente, ela soltou sua mão.
- Chega dessa desculpa, T'Challa - ela falou em um tom sério. - Dê outro sermão nela, mas não continue com esse teatro.
O rei passou a mão na testa, percorrendo as rugas de cansaço e preocupação que aumentavam em seu governo. As prioridades tinham nomes, os quais não incluíam efetivamente o matrimônio de Shuri.
- Nakia, querida, por mais que eu tivesse começado isso pelo bem de minha irmã, as coisas saíram do controle - ele suspirou. - Você está certa, não posso manter essa mentira por mais tempo. Shuri é muito importante para mim.
A espiã abriu um sorriso contente quando uma batida vinda da porta os chamou atenção. A pessoa do outro lado estava impaciente e não esperou muito para entrar no cômodo devido à urgência do assunto.
- Okoye, o que aconteceu? - Indagou o rei, notando o olhar sereno da guerreira.
Ela mantinha as mãos fechadas em punho por detrás das costas, equilibrando seu racional com o estado de combate.
Para T'Challa, a primeira coisa que passou por sua mente foi:
- Onde está Shuri?
- A princesa foi ao laboratório bem cedo, meu rei.
- Mas ela está aparentemente bem? - O olhar dele seguiu para Nakia antes de voltar para Okoye.
- Acredito que sim.
Ele franziu o cenho.
- Tem algo acontecendo? Por que parece chateada?
Okoye aliviou a expressão e virou-se para a amiga.
- Ele está atento hoje, irmã.
- Não sei por quanto tempo - disse Nakia e ambas riram.
- Não se preocupe, meu rei - declarou ela. - Meu amado criou alguns probleminhas com a fazenda ontem. Nada que eu não tenha dado um jeito hoje cedo - ela deu um sorriso maroto.
T'Challa precisou rir.
- Ainda bem que os wakandianos são bem guiados por suas poderosas mulheres.
Os três estavam tão bem humorados que quando o alarme nível três - o mais catastrófico - disparou na pulseira deles, gerou uma aflição imediata. O que poderia ter acontecido para a barreira invisível que separava Wakanda do mundo não ter disparado primeiro? Isso os levou a acreditar que a ameaça estava infiltrada com antecedência. Talvez até tivesse se aproveitado da festa, quem sabe. Eles não tinham ideia do que estava por vir, mas uma coisa era certa: o perigo conhecia Wakanda na palma da mão.
☼
A concentração de Shuri era usada nos pequenos detalhes. Passo a passo em seu projeto paralelo. Mas quem diria? Ela estava construindo um braço de vibranium coberto de pele sintética para camuflar a arma e - claro - aparentar pele. Era fato de que aquilo iria ser um presente para o soldado invernal.
A princesa, por outro lado, colocou na cabeça de que aquilo era apenas um teste para novas próteses de guerreiros wakandianos. Uma desculpa que acreditou piamente durante horas, uma vez que era quase impossível afastar as sensações que Bucky havia feito-a saborear.
A cada blasfêmia em palavras sussurradas, Shuri era levada a vivenciar um momento prazeroso onde pôde sentir seu corpo todo ansiando pelo toque dele. Ela não podia negar que queria mais, mesmo que parecesse completamente contraditório.
Irritada ao ver que mal conseguia se concentrar com tamanha distração, ela afastou seu projeto para o outro lado da mesa e abaixou a cabeça na mesa, escondendo-se em seus braços. A luz do local que estava em completo silêncio pela ausência de pessoas entrava como feixes na caverna improvisada da princesa.
Péssimo dia que dei folga para todo mundo, agora não tenho distração nenhuma, confessou para si em desânimo.
O repentino instante que a tirou da melancolia foi quando seu bracelete disparou uma luz vermelha. Shuri viu uma mensagem do irmão, mas estava correndo às pressas para chegar no palácio que não viu. O que poderia ter acontecido? Saiu do prédio, seguindo em direção a seu carro que estava estacionado logo na frente do local. Em velocidade máxima, ela ultrapassava os carros na avenida que buzinavam em protesto, porém, estava ocupada demais para se importar.
Chegando aos arredores do palácio, percebeu que não havia guerreiras na entrada, o que a fez estacionar de qualquer jeito e entrar disparada pelo hall acompanhada de seu armamento bélico usual. A imagem em seguida criou pânico em cada célula em seu corpo. Havia sangue espalhado pelo chão e pelas paredes, como também corpos sem vida de guerreiras e de invasores - como ela os classificou diante das circunstâncias -, estes que usavam uniformes em amarelo dourado com preto. Ao se aproximar, viu uma tatuagem com um símbolo de sol em um deles, fazendo-a se perguntar o que significaria aquilo.
Se ajoelhando para conferir se havia algum sobrevivente, Shuri pôde escutar uma voz familiar vindo do cômodo ao lado. Sentindo o coração acelerar, ela correu ao encontro da voz, podendo, assim, avistar Okoye se arrastando pelo chão com uma grande Derrida na perna e outra menor, mas ainda tão profunda quanto, no ombro esquerdo.
- Okoye! - Gritou ela ao seguir rapidamente para o lado da general.
- Princesa! - Um sorriso se abriu em meio à dor que se espalhava nela. - É um alívio ver que está bem.
- O que está acontecendo aqui? - Shuri tocou a perna de Okoye com cuidado para ver melhor a ferida que parecia ter chegado até o osso. - Eu preciso te tirar daqui agora.
- Não perca seu tempo comigo, você precisa sair daqui antes que ele volte - ela olhava para Shuri com angústia e desespero. Duas coisas que nada combinavam com a general.
O que havia acontecido? Onde estava T'Challa? E sua mãe? Nakia?
Antes que Shuri se desse conta, passadas começaram a ecoar pela madeira do cômodo que fora palco de uma batalha sangrenta. A raiva começou a ganhar espaço no coração da princesa ao ver seis soldados inimigos na porta.
Bravejando o mais alto que pôde, ela ativou as armas que estavam acopladas aos seus punhos e as mirou para os invasores que não moveram nenhum músculo mesmo diante do perigo. A explicação veio em seguida com uma voz vinda da sala do trono chamando-os em uma língua desconhecida por Shuri.
Os seis deram espaço para que ela passasse, como se não existisse nenhum risco dela começar a atirar neles com todo poder de suas armas. Por mais que ela estivesse insana, algo dentro chamou mais alto. Shuri precisava saber se sua família estava bem. Okoye a segurou para que ela não fosse em direção à sala, porém, nada podia impedir a princesa de ver seus familiares e de enfrentar o monstro que havia atacado seu lar. A única coisa que ela rezou para Bast em silêncio foi para encontrá-los vivos.
- Onde você está? - Perguntou ela ao passar pelos invasores.
Seus olhos foram direto para Nakia que estava próxima ao trono de joelhos para um corpo imóvel ao chão. T'Challa. O rosto da espiã estava machucado e expressava raiva. A mesma raiva que consumia Shuri cada vez mais.
- Então, essa é a princesa Shuri de Wakanda - disse um homem ensanguentado com trajes rasgados em pé perto do trono. - Estou impressionado com sua ... venustidade - ele abriu um sorriso e Shuri sentiu nojo. - Se soubesse, teria vindo bem antes para desfrutar da minha juventude. Me desculpe pela minha vestimenta, seu irmão é um excelente adversário - então, acrescentou com desdém: - Pena que não é melhor do que eu.
Ele era alto e rústico como os jabari, porém, usava roupas mais leves com os mesmos tons em preto e dourado que os soldados. Em seus punhos coberto de sangue, Shuri conseguiu identificar a mesma tatuagem de sol.
- Seu monstro! - Vociferou ela ao se ajoelhar ao lado do irmão. - Por que nos atacou? - Ela gritava enquanto esperava algum sinal de vida vindo do rei. - Quem são vocês?
- Minha princesa, T'Challa ainda respira - disse Nakia, procurando palavras para se controlar. - Eles são da tribo Asani.
- Que maldita tribo é essa?
O homem riu.
- Amaldiçoada, eu diria, minha princesa - ele andou em direção à ela, mas parou quando Shuri apontou sua arma para ele. - Estranho, há poucos dias enviei uma carta bem interessante para o rei T'Challa, ele não disse?
- O rei achou melhor investigar antes - disse Nakia quando Shuri a olhou desconfiada. - Eles estão fortemente armados para uma tribo desconhecida.
Ele riu mais uma vez, fazendo o sangue de Shuri ferver.
- Claro, jamais seríamos tolos de vir ao palácio de mãos vazias.
- E, por amor à Bast, quem é você? - Ela cuspia as palavras mais para condená-lo por um nome que iria marcá-la para sempre do que interesse.
- Que mal-educado da minha parte não me apresentar - brincou ele. - Sou Thimba, líder dos asanis, Vossa Alteza. Nossa humilde tribo veio ao seu encontro para degustar das maravilhas do mundo moderno.
Shuri bufou.
- Invadindo o palácio, matando soldados imperiais e ferindo o rei?
- Como ousam... - Nakia mantém a pose de proteção com T'Challa em seus braços.
- Não fiquem tão aflitas - recrutou Thimba com tom de divertimento. - Agora podemos sentar e conversar como pessoas civilizadas.
Espero que tenham gostado! Deixe seu voto e comentário para ajudar no feedback, por favor. Próxima segunda, lanço o próximo capítulo. Confesso que vai valer a pena a espera. Att
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