Capítulo 3 - Parte II
Shuri não conseguiu dormir direito.
Mesmo sua cama sendo extremamente confortável parecia que os acontecimentos do dia anterior a perturbaram mais do que ela gostaria de admitir. Depois do incidente molhado, a princesa saiu falando todos os palavrões que conhecia, deixando o soldado no local. Shuri não conseguiu encará-lo de tanta vergonha.
Bucky estava com o dashiki colado no corpo revelando músculos potencialmente malhados. A proximidade também a condenou. Pela posição em que ambos caíram, ele acabou ficando sobre ela. Por sorte, a profundidade não deveria ser maior do que meio metro. Fazendo com que Shuri conseguisse empurrá-lo e sair logo em seguida sem nenhuma dificuldade.
O sentimento de culpa não a atingiu quando o deixou. O que ela iria fazer com ele naquele estado? Nada inteligente ou que não fosse se arrepender depois. Tudo o que ela deveria colocar em mente era ficar longe daquele monte de músculos ambulante. A sanidade de uma jovem como Shuri precisava ser mantida.
Ao sentar-se na cama, ela escutou uma batida vinda da porta. Na esperança de ser Nakia e não seu irmão - que certamente iria dar outro sermão de uma hora e meia -, ela disse "entre" em alto e bom tom. Com um sorriso alegre, sua futura cunhada entrou no quarto. Estava com uma saia preta, camisa branca e um blazer índigo com detalhes em branco e laranja dobrado até o cotovelo.
- Estava acordada? - Perguntou Nakia em uma voz doce.
- Sim - resmungou Shuri, desviando o olhar.
Nakia foi até a cama e sentou-se ao lado da princesa.
- O que aconteceu ontem, querida?
- Eu sei que devo ter passado do ponto, mas T'Challa tem culpa também! - Ela bufou. - Não quero me casar pelos próximos 15 anos!
A espiã de Wakanda não conteve o riso.
- Eu também pensava assim - confessou ela.
- Diz a guerreira que evitou casar com o príncipe a qualquer custo - contestou Shuri.
A verdade pareceu pegar Nakia de surpresa.
- Eu tinhas meus motivos - replicou.
- E eu tenho os meus!
Por que ninguém a entendia?
- Ainda estamos pensando nos candidatos, talvez - disse Nakia, animada - você acabe gostando de algum. Cai entre nós, - ela diminuiu a voz - os jovens de agora se cuidam mais.
Beleza jamais a convenceria de casar com alguém. Poderia manter o interesse por um tempo, mas não havia segurança em um relacionamento com essa base. Shuri não esperava encontrar um príncipe encantado, muito menos sonhava com um. Sua mente estava em homens reais, confiantes e com uma excelente pegada, claro.
Homens como...
Não como Bucky, por amor a Bast!
Ele era sinônimo de problema. E todo aquele suposto cavalheirismo não combinava com ele. E aquelas roupas? O acampamento era no Congo? E aquela voz séria, quase rouca, que a fazia ficar com um frio na barriga. E aqueles músculos que Shuri pôde observar melhor na noite anterior.
Bucky não é atraente!, pensou ela.
- Afinal, o que aquele soldado foi fazer ontem no palácio? - Shuri enfim perguntou.
- Seu irmão o convidou para agradecê-lo com a ajuda que prestou a você no dia do acidente - disse, sincera.
- Só isso? - Ela fez uma careta.
- Exato.
- Eu sou uma idiota - Shuri colocou a mão na testa.
Nakia riu.
- Às vezes, agimos sem pensar - ela pegou a mão da princesa e colocou sobre a colcha. - Mas não há nada que não se possa remendar.
- O que isso significa? - Perguntou, insegura da resposta.
- Shuri, quando isso acontece, o certo é pedir desculpas - disse, parecendo óbvio o que deveria ser feito.
- Não pode estar falando sério - ela estava boquiaberta.
- Estou sim. Não seja boba - Nakia deu uns tapinhas na mão de Shuri. - Vá até o acampamento e converse amigavelmente com ele.
- Eu não... - vou me aproximar daquele cara nunca mais.
- Você não...? - Nakia ficou esperando uma explicação.
- Preciso mesmo ir? - Shuri desconversou.
- Não fui eu quem gritou no jantar - a espiã deu de ombros.
- Certo, eu vou - disse, rendida.
- Ótimo - Nakia parecia bastante satisfeita. - Você terá que ir de rinoceronte - um sorriso se formou no rosto dela.
- O quê? - A princesa se perguntou se realmente tinha escutado aquilo.
- Seu carro está em concerto e T'Challa a proibiu de sair em veículos como punição do que aconteceu ontem e anteontem - explicou ela. - O que torna seu castigo menos ruim do que o da última vez.
- Um mês sem ir ao laboratório de novo iria afetar vários sistemas do reino - murmurou ela.
- Por isso, sem carro.
- Pelo visto, não tenho escolha mesmo - murmurou Shuri.
☼
A princesa decidiu iria ao acampamento à tarde. Algumas urgências haviam aparecido no laboratório que não poderiam ser adiadas. Como ela tinha receio de deixar seu espaço de trabalho somente nas mãos da equipe por mais de 48 horas, era o momento de retomar o controle das pesquisas.
Adiantou o início de outro invento de natureza pessoal. Ela ficou duas horas lendo e estudando para desenhar um pequeno protótipo, além de definir do que seria feito. Pela facilidade do fornecida pelo vibranium, outros materiais tornavam-se acessíveis ou até desnecessários, uma vez que a multi utilidade do metal rendia em grande escala.
Vendo que seu relógio do pulso marcava um pouco mais do que quatro da tarde, ela salvou tudo em seu computador pessoal. Ao sair do local, voltou para o palácio, onde Nakia havia pedido que W'Kabi separasse um rinoceronte para ela. Shuri sabia montar com perfeição o animal domesticado. Era seu passatempo favorito quando criança, além de desmontar e montar todos os eletrônicos que encontrava.
Cogitou até em trocar de roupa, mas deixou seu estilo casual de camisa curta e short ambos com a mesma estampa de triângulos em preto, branco, dourado e azul. Para ela, não havia motivo de estar produzida, afinal, era apenas um mero soldado. Em cinco minutos ela estaria voltando para casa com o maldito dever cumprido.
A princesa viu o rinoceronte logo na entrada. Uma guerreira do Dora Milaje e um homem da tribo da fronteira, o qual W'Kabi fazia parte, estavam a espera dela. Depois de agradecer aos dois, Shuri subiu a sela e partiu para seu destino. No caminho, ela pôde perceber que o vento estava forte e úmido. As nuvens estavam densas e um pouco escuras.
Nuvens passageiras, pensou ela.
Quase não chovia naquela região. Seria ainda menos provável de acontecer em pleno verão. Com esse pensamento, ela seguiu adiante. Demorou quarenta minutos para chegar no acampamento. Devido ao barulho que do caminhar do rinoceronte, as crianças que brincavam próximo ao Rio vieram ao encontro de Shuri.
- Ei - chamou a princesa. - Vocês viram um branco de um pouco mais de 1,80cm sem um braço? - Ela saiu da sela, atentando-se ao seu público receptivo de quatro crianças.
Eles se entreolharam depois apontaram para uma cabana mais afastada das demais. Ela ficava próximo ao Rio, em uma parte elevada, o que seria melhor caso o nível de água subisse. Shuri os agradeceu de bom grado, além de deixar seu animal sob a vigia dos pequenos enquanto ia até Bucky. A enorme felicidade deles com a tarefa a fez repensar se estava fazendo o certo. Porém, concluiu que não haveria mal em deixá-lo por alguns minutos.
Enquanto andava para a cabana pensou que ele estava em uma espécie de experiência de reconstrução de vida. Sem termos, era onde ele poderia encontrar rendição pelo que havia feito em décadas de sangue derramado. Uma lista tão vermelha quanto essa levaria anos para conseguir resultados favoráveis. Se dependesse de Shuri, ele teria que ficar uma eternidade ali para entender um pouco da ausência do pai dela.
Ela estava bem perto quando Bucky saiu da cabana com nada mais que uma bermuda marrom. A princesa teve que virar o rosto para esconder a vermelhidão de seu rosto com tamanha exposição de pele. Precisava de tudo isso?
- Boa tarde - disse ele, enquanto alongava o pescoço.
- Oi - respondeu, sem emoção, evitando olhar para o abdômen dele. - Deve saber o que eu estou fazendo aqui - disse, apressada. - Então, vamos logo com isso para eu voltar para casa.
- O que está fazendo aqui? - Perguntou, curioso.
Ela forçou um sorriso.
- Eu vim lhe pedir desculpas por ontem. Minha atitude não foi educada e eu espero que possa me perdoar.
Bucky notou o tom de ironia na voz dela.
- Não precisa se desculpar - ele esticou o braço para cima e começou a se alongar. - Pode ir embora agora.
Tentando não encarar o movimento do tríceps dele, ela começou a fazer cálculos aleatórios em sua mente.
- Não posso, tenho que te pedir desculpas.
- Já pediu - ele colocou o pé em cima de um tronco de árvore que estava pela metade para conseguir apoio e alongar as pernas. - Já pode ir.
- Por que quer tanto que eu vá? - Ela pareceu ofendida.
- Estou ocupado - ele trocou a perna.
Mais cálculos.
- Percebi - ela respirou fundo. - Mas não acho que minhas desculpas foram válidas.
Ele parou, confuso.
- O que espera que eu diga, princesa?
- Aceito suas desculpas? - Shuri não tinha pensado nisso na verdade. Sua mente estava cheia de outras coisas.
Bucky olhou para o céu.
- Acho que vai querer entrar, se não quiser ficar molhada de novo.
Espero que tenham gostado! Deixe seu voto e comentário para ajudar no feedback, por favor. Próxima segunda, lanço o próximo capítulo. Confesso que vai valer a pena a espera. Att
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