Capítulo 10 - Parte I
O coração de Shuri estava palpitando a todo o vapor.
Naquela manhã, ela havia recebido a notificação de que os asanis haviam feito uma pichação na entrada do Museu de História Nacional de Wakanda durante a madrugada. Em vermelho, fora escrito "mentirosos". Obra ousada e peitadora de Thimba, mais um alarme para deixar o reino em estado de alerta. Mesmo com as fronteiras reforçadas, o inimigo circulava pelo território como se o conhecesse bem. Bem até demais.
Enquanto isso acontecia, a princesa focava-se no laboratório. Precisava terminar seus projetos o quanto antes. A ameaça batia na porta dela a cada minuto, deixando-a impaciente. Felizmente, conseguiu dar uma adiantada que bastou dar alguns retoques que tudo estava nos trinques. A esperança voltou por fim para a vida de Shuri.
Nakia trouxe também boas notícias ao ligar para ela na noite anterior. As duas conversaram durante horas sobre a coroação e a responsabilidade que estava sendo jogada para cima da princesa. Eram aquelas as últimas horas que seria alteza, pois logo receberia o título de rainha. Temporário não diminuía o fato de que iria ser colocada uma coroa sobre sua cabeça, assim como, iria receber o poder da Pantera Negra.
O quarto iluminado de Shuri ficou até abafado com o pensamento.
Serei a nova Pantera Negra, pensou ela com a curva da boca levemente acentuada.
Sonhar com o título nunca passou por sua cabeça, entretanto, agora que parou para refletir, a ideia era convidativa. Quem nunca pensou em ser um super herói? Em salvar o dia e voltar para casa com um sorriso no rosto por mais uma vitória ganha? Em seu interior, Shuri começou a julgar que talvez poderia tirar proveito da oportunidade. Usar o uniforme que ela mesma criou com todas as artimanhas que uma jovem geek poderia sonhar em ver em um traje heróico.
Completou ainda, como uma promessa à Bast, ao dizer para si que jamais substituiria o querido irmão. T'Challa nasceu para ser o Pantera Negra. Ele voltaria em breve saudável para governar Wakanda, o que estava predestinado desde que nasceu, enquanto Shuri retomaria seu trabalho no laboratório.
Um leve batida na porta a assustou.
Okoye abriu a porta, fazendo-a atentar-se ao horário. A general estava arrumada para o evento com a roupa formal das Dora Milajes e uma pele bem maquiada que realçava sua beleza. Shuri, por outro lado, estava com uma saia longa azul marinho e um top repleto de conchas. Seu busto estava pintado em lama, retratando um colar mais feminino do que o do irmão. Os pulsos levavam pulseiras em ouro, as quais seguiam até os dedos, representando sua tribo. No rosto, a maquiagem nos olhos lembravam a de uma pantera, feroz e dominante. Cordas finas prendiam seu cabelo em tranças que davam espaço para mais um item que estava por vir: a coroa.
- Minha princesa, você entrará em 5 minutos - Okoye abriu um sorriso, porém observou que Shuri estava séria. - Está tudo bem?
- Estou nervosa, só isso - confessou ela. - Sinto que vou desmaiar.
Shuri riu de puro nervosismo.
- Você já participou de eventos mais problemáticos como a coroação do seu irmão - apontou a general. - Desta vez, todos estarão ao seu lado.
Assim como, os holofotes de Wakanda.
- Nakia e T'Challa não estarão lá - recordou Shuri.
- Mas a Rainha sim.
A princesa passou pelas cadeiras, seguindo até Okoye.
- Ainda a chama assim? - Falou com tristeza.
- Até o último segundo - ela abriu um pequeno sorriso. - Fique tranquila, minha futura rainha - a mão dela tocou o braço da outra. - Os olhos de Wakanda estarão virados para você nesta tarde.
- Obrigada pela pressão, Okoye - Shuri riu mais uma vez. - Ajudou muito.
- Tenho certeza que o antigo rei está orgulhoso de você - reforçou ela.
Seu pai, seu guia. Estaria olhando para ela naquele momento? Estaria orgulhoso da mulher que ela havia se formado?
- Sei que está tentando ajudar, mas sinto que minhas pernas tremem cada vez mais que você menciona outra pessoa importante em minha vida.
A aprovação de seu pai era algo que Shuri contou desde pequena. Esperava tê-lo ao seu lado em cada enrascada que entrasse, porque sabia que seria salva pelo rei. Gentil e justo, a figura paterna representava segurança que, após a morte de T'Chaka, nunca voltou a ter novamente.
- Então, guardarei meus comentários para outro momento. Darei apenas alguns minutos, porém, não extrapole - alertou Okoye. - M'Baku está impaciente na primeira fileira.
Uma novidade ele não se atrasar, pensou a princesa.
- Se ele resmungar outra vez, eu irei pessoalmente dar um jeito naquela cara de gorila zangado.
☼
A nave que sobrevoava o rio levava uma Shuri séria, cheia de expectativas e medos. Do lado de dentro, ela escutava o som dos tambores e a melodia dos wakandianos que ansiavam por aquele momento. Era sua vez de ficar à frente do povo e liderá-los contra os asanis.
Eu consigo, pensou ela, como um mantra.
A porta se abriu e, ao descer, sua plateia foi a loucura. Shuri fez uma reverência em respeito aos que ali estavam. Foi assim que avistou sua mãe entre as guerreiras reais. Ramonda estava em azul, tal como Shuri, usando um vestido longo e rodado, além de um chapéu zulu de mesma tonalidade.
Quando a nave foi partiu, o novo cerimonialista andou até seu lado. Ele estava ali para substituir Zuri que havia falecido no ataque de Erik há quatro anos. O homem em trajes roxos parecia bastante com o anterior, o que fez Shuri questionar como alguém tão jovem estava assumindo o cargo.
- Eu, Unyan, filho de Zuri, apresento a princesa Shuri da tribo do ouro - começou ele em uma voz clara e serena. - Em uma situação como esta, ela teria a força do Pantera Negra removida, entretanto, esta pertence ao rei T'Challa que encontra-se ausente.
O estômago de Shuri começou a remexer com a lembrança.
- Que vossa majestade seja louvado pelos seus ancestrais! - Continuou ele. - Ainda que tenham sido feito arranjos, é meu dever manter as tradições quanto a este ritual, uma vez que assim seja o desejo de Bast.
Shuri arqueou a sobrancelha, descontente do que poderia estar por vir.
- A vitória do ritual de combate vem por rendição ou morte - disse Unyan. - Se alguma tribo desejar indicar um guerreiro, eu tenho uma oferta. Um caminho para o trono.
Fique calma, Shuri. A decisão foi feita. Você será coroada.
- A tribo mercante não irá desafiar hoje - disse Hwebo com um sorriso no rosto.
- A tribo da fronteira não irá desafiar hoje - falou M'Kathu por seguinte.
O coração dela pulsava em seu peito com cada pausa dos líderes.
- A tribo do rio não irá desafiar hoje - brandou o velho Echibi, animado.
- A tribo da mineração não irá desafiar hoje - disse N'Kampani.
Os olhares seguiram para a última tribo que ali estava. Os jabaris. M'Baku estava com roupas de pele, como de costume, ao seu lado estava K'aran, também com as mesmas vestimentas, revelando um corpo sarado que Shuri até duvidou que ele tivesse.
- A tribo jabari não irá desafiar hoje - disse M'Baku por fim, contudo, não demorou muito para acrescentar: - Exceto por uma condição - uivos começaram a vir dos quatro cantos em protesto. - Sim, podem dizer o que quiserem, - rugiu o líder - mas minha tribo foi ignorada por anos. Ainda assim, ajudou o rei T'Challa quando mais precisou há quatro anos. Deu abrigo para a Rainha e a princesa que está na frente de vocês, wakandianos - ele olhava para o público que parecia mais silencioso. - Eu só peço uma simples coisa em troca. O matrimônio da princesa Shuri com meu filho, K'aran.
Ouviram-se blasfêmias que Bast ficaria horrorizada. Unyan foi para a frente, tentando acalmá-los.
- Pelo amor de Bast, M'Baku - Shuri cuspiu as palavras com raiva. - Você só pode estar brincando com a minha cara.
Todos começam a protestar mais uma vez.
- Silêncio! - Gritou M'Baku, fazendo-os ficarem insanos. - Essa é minha única condição para não indicar meu melhor guerreiro hoje.
Shuri andou até o jabari com toda a coragem que lhe restava. Sentia a raiva ao líder em suas veias, assim como sentia que poderia praguejá-lo até o amanhecer.
- Não serei obrigada a me casar! - Recrutou ela de punhos fechados. - Principalmente por um louco pelo trono como você. Se T'Challa estivesse aqui...
- Mas ele não está, minha princesa - rebateu ele. - Você é jovem demais para governar um reino como Wakanda sozinha.
- E, por acaso, ter ao meu lado um garoto com a mesma idade que eu é a melhor solução? - Disse ela. - Suas ideias não fazem qualquer sentido por não passarem de puro interesse próprio.
Echibi se levanta, encarando diretamente o jabari. Shuri se cala ao ver o mais velho se pronunciar.
- A decisão já foi tomada - sentenciou ele. - A princesa não irá lutar pelo trono.
- Essa é sua decisão, velho. - M'Baku estava claramente bravo com traços expressivos no rosto. - A minha é outra e não irei declinar até que Shuri aceite - ele olhou para o novo cerimonialista. - Estou dentro das normas, Unyan, filho de Zuri?
Um tenebroso silêncio tomou o ambiente, deixando apenas o barulho da cascata embalar os ouvidos do reino.
- Sim, jabari - disse Unyan com certo receio. - A decisão final de lutar ou não é da Princesa, assim como, suas consequências por negá-la.
Os olhares seguiram para Shuri que estava blasfemando.
- É lógico que eu não vou me casar com K'aran - disse ela. - Pensei que tivesse deixado isso claro da primeira vez.
- Então, irá desafiá-lo - M'Baku deu de ombros.
Ela bufou.
- Maldito - vociferou Shuri. - Pode vir, então, jabari. - Ela ofereceu um espaço ao lado dela para K'aran que a fitava embasbacado como se não soubesse que iria lutar. - Só não vale correr para o papai no meio da briga - debochou ela.
O líder jabari virou-se para o filho na espera de que ele revidasse à altura. Por dentro, o jovem estava inquieto.
- Pode deixar que isso não vai acontecer, princesa - foi tudo o que K'aran disse antes de atacar abruptamente a princesa.
Espero que tenham gostado! Deixe seu voto e comentário para ajudar no feedback, por favor. Afinal, se está lendo até aqui é porque gostou, certo? Não seja um leitor fantasma (: . Próxima segunda, lanço o próximo capítulo. Confesso que vai valer a pena a espera. Att
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